Português: Personagens de "Famílias desavindas"

sexta-feira, 20 de março de 2020

Personagens de "Famílias desavindas"

I. Caracterização

As personagens centrais do conto distribuem-se, essencialmente, por duas famílias: a dos médicos e a dos «semaforeiros».

A família dos semaforeiros é constituída por quatro elementos, cujo traços de união são (1) a inimizade pelos vizinhos médicos e (2) o amor e a dedicação ao instrumento de trabalho.
Por seu turno, a família dos médicos é constituída por três, representando cada um deles um traço diferente:
» João Pedro: o impositivo;
» João: o inseguro;
» Paulo: o teórico.
O que os une é a inimizade pelos «semaforeiros».


No que diz respeito à caracterização das personagens, os traços principais são os seguintes.

Família dos semaforeiros

1. Ramon:
» é o primeiro «semaforeiro»;
» é galego, isto é, originário da Galiza;
» não sabe pedalar, no entanto é o escolhido para o lugar através do compadrio (é familiar do proprietário de um bom restaurante);
» é esforçado, empenhado e cheio de boa vontade no exercício da sua profissão, que exerce com prazer e orgulho, tal como os seus descendentes;
» pertence à geração da I Guerra Mundial;
» sente-se magoado, triste e ofendido com o Dr. Bekett, por isso dificulta-lhe a tarefa;
» inicia o conflito com a família dos médicos.

2. Ximenez:
» é filho de Ramon;
» é o segundo «semaforeiro»;
» pertence à geração da II Guerra Mundial.

3. Asdrúbal:
» é filho de Ximenez;
» é o terceiro «semaforeiro»;
» pertence à geração do 25 de Abril;
» insulta o Dr. Paulo, com o qual quase chega a vias de facto.

4. Paco:
» é bisneto de Ramon;
» pertence à geração do início do século XXI;
» é simpático e prestável com os condutores, com quem tem uma relação personalizada;
» mantém o conflito com o médico;
» sofre um acidente e é socorrido pelo médico, que também o substitui no semáforo enquanto recupera no hospital.

Não obstante nos serem dados a conhecer os nomes de todos os quatro semaforeiros, estes constituem uma personagem coletiva, que se caracteriza pelo amor quase obsessivo e irracional pelos «seus» semáforos, o que justifica que, ao contrário dos médicos, apenas o primeiro «semaforeiro» tenha direito a uma caracterização individualizada, e apenas para justificar a sua escolha para o cargo.

Família dos médicos

5. João Pedro Bekett:
» é oriundo de Coimbra;
» é um médico singular: queria tratar toda a gente de doenças que eventualmente teriam, mesmo que os próprios não quisessem ser tratados;
» percorre as ruas à procura de pessoas que queria convencer a consultar por, na sua opinião, terem aspeto de doentes;
» é um «pai de filhos»;
» tem boa fama enquanto médico;
» possui elevado espírito de missão;
» não gostou que o semaforeiro lhe impusesse limites à sua circulação, o que, segundo ele, ia contra a sua liberdade (não poder atravessar a rua quando quisesse).

6. Dr. João:
» é filho de Pedro Bekett;
» é um médico muito inseguro e modesto: considera que os seus diagnósticos estão provavelmente errados e aconselha os doentes a procurarem uma segunda opinião;
» é um mau profissional: em vez de se aperfeiçoar, dada a sua insegurança, passava o tempo livre à janela, a encadear Ximenez com um espelho colorido;
» herda do pai o ódio pelos «semaforeiros»;
» intensifica o conflito com eles;
» raramente acerta no diagnóstico.

7. Dr. Paulo:
» é filho do Dr. João;
» adormece os seus pacientes com explicações muito pormenorizadas sobre as suas doenças, mostrando-se pouco ou nada interessado em ouvir as suas queixas;
» insulta o semaforeiro Asdrúbal;
» quase chega a vias de facto com o semaforeiro;
» mantém uma relação conflituosa com Paco;
» socorre-o quando assiste a um acidente sofrido por Paco, deixando de lado os ódios antigos;
» é solidário: assume o posto de Paco como «semaforeiro» para se redimir e à sua consciência pesada enquanto aquele se encontra hospitalizado.

Outras personagens

8. Gerard Letelessier:
» é um engenheiro francês;
» fracassou no seu país e em Lisboa;
» tem sucesso no Porto com uma invenção inútil.

9. Autarca do Porto:
» é o símbolo de todos os autarcas da província;
» fica mais entusiasmado com as garrafas de vinho do que com o invento;
» fica deslumbrado por um projeto porque é estrangeiro;
» é entusiasta de situações experimentais que se tornam definitivas.

10. Transeuntes e motorista do Porto:
» representam o gosto da população portuguesa pelo facilitismo, pelos «brandos costumes», pelo tráfico de influências.


II. Representatividade

• Os semaforeiros são um grupo de trabalhadores ciosos da sua profissão, que exercem com grande zelo e entusiasmo, mesmo que não tenha qualquer importância ou relevância social.

• Os médicos pertencem a uma classe social superior. Desempenham uma atividade imprescindível, mas revelam ou prepotência (Dr. João Pedro Bekett), ou insegurança (Dr. João) ou conhecimentos apenas teóricos (Dr. Paulo).


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