Português: O fingimento poético: Ricardo Reis, o poeta «clássico»

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

O fingimento poético: Ricardo Reis, o poeta «clássico»

 
Neoclassicismo: revivalismo da cultura da Antiguidade Clássica (sobretudo, a grega).

 
▪ Influência greco-latina: de acordo com a sua biografia, Ricardo Reis foi educado num colégio de jesuítas, onde recebeu profundas influências da cultura greco-latina, daí poder afirmar-se que se trata de um poeta clássico, um helenista e latinista.

 
▪ Nos seus poemas, transmite ensinamentos (uma filosofia de vida) para os indivíduos saberem enfrentar as adversidades da vida e do mundo.

 
▪ Entre essas adversidades contam-se a fugacidade do tempo e da vida, a velhice, a doença, a certeza da morte, a ação inexorável do Destino (Fado) e outras situações que acarretam o sofrimento e a dor.

 
▪ Assim, Reis procura a sabedoria dos antigos (gregos e latinos) para resolver os seus problemas e evitar a dor e o sofrimento, sendo influenciado por duas escolas filosóficas gregas (o Estoicismo e o Epicurismo) e pelo poeta latino Horácio.

 
Neopaganismo:

▪ reaparecimento dos antigos deuses na arte ou na literatura – adoção de uma visão pagã do mundo, em que o Homem vive em comunhão com a Natureza e em que existem deuses, uma mitologia e o Fado/Destino e aqueles estão presentes no seio da Natureza;

▪ renascimento da essência pagã, pela eliminação da racionalidade abstrata e pela rejeição da metafísica ocidental;

▪ cosmovisão hierarquizada e ascendente dos seres: animais, homens, deuses e Fado, que a todos preside

 
Epicurismo:

▪ procura da felicidade e do prazer relativos;

▪ atitude imperturbável e de distanciação face aos males que atormentam a existência humana (passagem do tempo, morte, etc.): ataraxia – ausência de perturbação ou inquietação;

▪ altivez e indiferença (egoísmo epicurista) – abdicação voluntária;

▪ fruição tranquila do momento presente (carpe diem), de uma felicidade suave e tranquila dos prazeres serenos e moderados;

▪ aceitação de uma vida simples, sem grandes ambições e em contacto com a Natureza – aurea mediocritas;

▪ aceitação do Destino, da morte e das contrariedades da vida;

▪ perceção direta da realidade e do ciclo da Natureza.

 
Estoicismo:

▪ aceitação racional das leis do Tempo e do Destino;

▪ resignação perante a frágil condição humana e o sofrimento;

▪ culto da contenção, da autodisciplina, do autodomínio na vida e na escrita e despojamento dos bens materiais;

▪ culto da abdicação voluntária e da indiferença perante as paixões e os sentimentos intensos e compromissos, como forma de evitar ceder à força dos impulsos;

▪ busca da apatia (a = ausência de + pathos = sofrimento), um estado de indiferença e de ausência de sofrimento e dor como forma de o indivíduo enfrentar com determinação as contrariedades, a doença e a morte;

▪ procura, também, da ataraxia.

 
Horacianismo:

▪ visão estoico-epicurista da existência;

▪ perceção aguda da transitoriedade do tempo, da brevidade da vida e da inevitabilidade da morte e do Destino;

▪ inutilidade do esforço e da indagação sobre o futuro;

carpe diem: fruição moderada do momento e entrega moderada ao prazer;

▪ culto da aurea mediocritas (preferência por uma vivência calma num local recatado, em contacto com a Natureza);

▪ presença do locus amoenus (lugar aprazível);

▪ autodomínio que evita as paixões e aceitação voluntária do Destino.

 
• Contemplação da Natureza e desejo de com ela aprender a viver; afastamento social e rejeição da práxis (proatividade).

 
• Classicismo como máscara poética.

 

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