Note-se, porém, que a abordagem do
tema da morte é feita de forma comedida. Em versos livres e brancos, o «eu»
poético exprime o seu apelo pela irmã, apelidando-a de anjo.
No primeiro verso (“Quando a minha
irmã morreu”), seguido de outro entre parênteses [“(Devia ter sido assim”), o
sujeito poético apresenta a sua hipótese sobre a morte da irmã: “Um anjo
moreno, violento e bom / brasileiro” veio guardá-lo, veio cuidar dele e, de
seguida, “voltou para junto do Senhor”, ou seja, morreu.
O adjetivo “brasileiro” é destacado
no poema, sendo disposto mais à direita e aproveitando criativamente o espaço
em branco da folha, possibilitando assim sugerir a descida do anjo, que “veio
ficar ao pé de mim”. A imagem da figura angelical é brasileira; o anjo é “moreno,
violento e bom”. Estes dois últimos adjetivos constituem um paradoxo, dado que
aproximam dois conceitos contrários. No entanto, eles irmanam-se, dado que “violento
e bom”, ligados pela conjunção coordenativa copulativa «e», realçam a forma
como o «anjo» impõe os seus cuidados. Por outro lado, é possível associar a
imagem do anjo à forma dedicada e intensa (violenta) como a irmã se dedicava a
cuidar do sujeito poético. De seguida, o sorriso do «anjo» tranquiliza-o, pois
anuncia a sua ascensão, isto é, a imagem da irmã funde-se com a do anjo, que
sobe em direção a Deus.
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