A ação do conto decorre nas
Astúrias. A parte inicial localiza-se nos Paços de Medranhos, enquanto a
central na mata de Roquelanes. Por seu turno, o episódio do envenenamento através
do vinho é situado num local mais longínquo: a vila de Retortilho.
Os Paços de Medranhos são
descritos de forma negativa e evidenciam a miséria que rodeia os três irmãos: “…
a que o vento da serra levara vidraça e telha…”; a cozinha não tem lume nem
comida, e eles dormem na estrebaria, “para aproveitar o calor das três éguas
lazarentas”.
Os três fidalgos circulam
exatamente apenas entre a cozinha e a estrebaria, os locais menos nobres de um
palácio, o que evidencia bem o grau de decadência económica em que vivem. Essa
miséria é acompanhada pela degradação moral: “E a miséria tornara estes
senhores mais bravios que lobos.”
De modo semelhante, o espaço
exterior, a mata de Roquelanes não é um simples cenário onde a ação decorre. De
facto, as descrições da natureza são bastante simbólicas. Assim, a “relva nova
de abril”, que constitui a manifestação visível do renascimento da natureza,
sugere o renascimento espiritual que os protagonistas não são capazes de
concretizar. A “moita de espinheiros” e a “cova de rocha” simbolizam as
dificuldades, os sacrifícios, que é necessário enfrentar para alcançar o que se
pretende.
A natureza, calma e pacífica,
renascente (“… um fio de água, brotando entre as rochas, caía sobre uma vasta
laje escavada, onde fazia como um tanque, claro e quieto, antes de se escoar
para as relvas altas.”), contrasta com o interior das personagens, que
facilmente imaginamos inquietas, agitadas e perturbadas pela visão do ouro e,
em simultâneo, ansiosas por dele se apoderarem de modo exclusivo. Ao mesmo
tempo, as “duas éguas retouçavam a boa era pintada de papoulas e botões-de-ouro”.
Ora, é evidente um contraste entre humanos e animais, que já havia sido
destacado depois de os três irmãos terem contemplado o ouro: “… estalaram a rir,
num riso de tão larga rajada que as folhas tenras dos olmos, em roda, tremiam…”.
Quando Rui e Rostabal aguardavam, emboscados, o irmão Guanes, “um vento leve
arrepiou na encosta as folhas dos álamos”, como se a natureza sentisse o horror
do crime que estava prestes a ser cometido. Depois de o assassinar, os dois
regressam à “clareira onde o sol já não dourava as folhas”.
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