Português: Análise das 4.ª e 5.ª partes da crónica 1 de Assassinos da Lua das Flores

sábado, 3 de fevereiro de 2024

Análise das 4.ª e 5.ª partes da crónica 1 de Assassinos da Lua das Flores


    A relação entre os Osage e os homens brancos é, como não poderia deixar de ser, complexa, oscilando entre a procura de acordo e amizade e a traição. Rapidamente, os indígenas, ao contrário de outras tribos nativas, aprendem que é crucial manter o máximo de poder possível para si durante as negociações com o governo central. É assim que decidem comprar o território para onde irão viver quando são forçados a mudar pela terceira vez, possivelmente porque compreenderam que a propriedade privada poderia trazer-lhes um nível de proteção, mesmo que insipiente ou modesta, contra a ambição da jovem nação por terra. Quando conseguem adiar a distribuição de terras como o governo pretendia inicialmente e, em vez disso, impõem cláusulas específicas aos acordos, a sua decisão anterior revela-se acertada e a tribo consegue ficar com todos os direitos sobre aquilo que existe debaixo do solo, que é o mesmo que dizer sobre as jazidas de petróleo que sob ele aguardam em silêncio quem as explore. Não obstante, a opinião sobre o crude entre a tribo não é consensual, visto que há quem o considere de forma negativa, embora ele traga riqueza e conforto para todos. Por outro lado, estamos na presença de um grande passo que a tribo dá em direção à cultura norte-americana, visto que até então a sua existência se organizava em torno da caça anual ao búfalo e não de grandes mansões e carros modernos e luxuosos.

    É neste contexto que indígenas e exploradores começam a construir uma nova relação, caracterizada pelo desejo mútuo de enriquecer, tendo-se espoletado uma situação análoga à que ocorreu com a Corrida do Ouro da Califórnia, que teve início em 24 de janeiro de 1848, quando foi descoberto ouro em Sutter’s Mill, e durou até 1855, levando mais de 300 000 pessoas, oriundas dos Estados Unidos e do exterior, a deslocarem-se para aquele estado. De facto, a descoberta de ouro negro atraiu uma grande variedade de pessoas para a região dos Osage, uma parte delas de má índole. Por seu turno, o governo dos EUA impôs algumas condições à tribo, supostamente destinadas a proteger os seus membros de atos fraudulentos por parte dos exploradores, que passavam por colocar um indivíduo branco a gerir as questões financeiras dos nativos. Como é evidente, este sistema de tutela implicava a existência de um grau elevado de confiança nas pessoas responsáveis pelos trusts, o qual foi claramente negado pelo chamado Reino do Terror, um período de cerca de uma década durante o qual diversos membros osage foram assassinados por indivíduos que ambicionavam o seu dinheiro. Este clima de terror e desconfiança generalizada foi exponenciado pelo facto de também pessoas brancas fazerem parte do rol de vítimas, de que é exemplo o assassinato de Barney McBride, um proeminente empresário branco que estava disposto a defender os nativos em Washington DC. Se um homem branco, poderoso e rico não estava a salvo, muito menos o estariam os indígenas.

    Os capítulos IV e V da primeira parte da obra destacam as extremas dificuldades de negociação existentes entre os Osage e o governo norte-americano, marcada por promessas quebradas, assimilação e submissão forçadas, mudanças de cláusulas e princípios contratualizados e pressão constante para proceder à renegociação de acordos que, entretanto, se tornavam menos favoráveis para o Estado. Assim sendo, os nativos viam-se constantemente forçados a acomodar a voracidade e a ambição desmedida dos colonos brancos.

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