Este
capítulo contrapõe a riqueza e o poder dos homens brancos ao terror instalado
entre a tribo osage, tudo derivado da descoberta de petróleo na região, que se
transformou numa autêntica certidão de morte para os seus membros. Os jornais
da época retratam-nos como indivíduos perdulários e inconsciente que não
merecem a riqueza que lhes caiu no colo, sendo evidente os traços de racismo e
discriminação que pautam esses relatos, não obstante também estar em causa o
valor que a sociedade americana atribuía ao trabalho e ao seu papel na obtenção
de riqueza. Fica claro que o objetivo passa por pintar os Osage como uma tribo
que teve apenas a sorte em se mudar para terras prenhes de petróleo, pelo que a
riqueza não foi fruto do seu trabalho denodado, antes de um mero golpe de
fortuna, logo a tribo não é digna dessa mesma riqueza. Os media
pareceram esquecer, no entanto, o facto de os Osage terem chegado àquele
território somente por terem sido expulsos pelos colonos brancos da vasta
região onde viviam anteriormente. Assim sendo, estamos perante mais um caso em
que os mitos culturais optam frequentemente por escolher o lado da ficção aos
factos puros e duros (quem não se lembra, noutro contexto, de O Homem que
Matou Liberty Valance?). Por outro lado, a correlação entre o mérito de
obter algo e o trabalho e esforço necessários para atingir tal desiderato
constituem uma trave-mestra do princípio do self-made man, representado
por William Hale. Por contraste, os Osage eram retratados como selvagens
preguiçosos e afortunados que não mereciam a riqueza de que dispunham, mas, em
simultâneo, também como aristocratas perdulários que não pertenciam aos Estados
Unidos. Deste modo, fosse qual fosse o ângulo de análise da situação, os
nativos jamais poderiam triunfar.
Ao
socorrer-se da expressão Reinado do Terror para designar o período que é
analisado na obra, David Graan baseia-se na Revolução Francesa, nomeadamente no
período entre 1793 e 1794, em que mais de dezasseis mil pessoas foram
executadas, sem julgamento ou prisão, ocorrendo cerca de duas mil seiscentas e
trinta e nove apenas em Paris, embora os investigadores desta época admitam que
o número de vítimas terá sido superior. Ora, essa fase ficou exatamente
conhecida como Reinado de Terror, uma expressão que pretende traduzir a
violência brutal e aparentemente arbitrária a que os Osage foram sujeitos.
Com a
morte do seu último irmão na explosão da casa, Mollie vê-se sozinha e, sabendo
que também ela é um alvo a abater, questiona-se quanto tempo de vida lhe
restará. A única relação de proximidade que lhe resta é a sua família nuclear,
Ernest e os seus três filhos. Acossada pelo medo do que lhe possa suceder e aos
familiares, envia a filha mais nova, Anna, embora, para a proteger do perigo e
da dor que se instalou. Quando era mais nova, foi casada durante um breve
período de tempo com Henry Roan e, presentemente, após a morte deste, receia
que o atual marido fique a saber desse anterior relacionamento e matrimónio,
que sempre escondeu dele. Por outro lado, o assassinato de Roan reveste-se de
especial importância por trazer a figura de William Hale para a ribalta: os
dois eram tão próximos que este último carrega o caixão daquele durante o
funeral. Os crimes podem ocorrer em qualquer lugar e a qualquer momento,
contudo os laços que unem os diversos protagonistas constituem uma teia tão
intrincada que parece tê-las capturado por completo.
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