Português: 2025

quarta-feira, 9 de julho de 2025

Caracterização de Zezé (capítulo I da 1.ª parte)

 
i) Caracterização física

A epígrafe que antecede a narrativa coloca o leitor na pista: vai ler uma obra que constitui uma memória dos tempos de infância do protagonista – a “história de um meninozinho que um dia descobriu a dor”.
 
Assim sendo, é clara uma relação autobiográfica entre o autor (José Mauro de Vasconcelos) e o pequeno Zezé (este nome é um diminutivo de José).
 
Zezé é uma criança pequena, com cinco anos, de constituição franzina e aparência frágil, como o indiciam, além da sua tenra idade, o facto de ser protegido pelo irmão, com quem vai de mão dada.
 
ii) Caracterização psicológica
 
É uma criança precoce e muito inteligente: aprende a ler sozinho, faz perguntas filosóficas (“Idade da razão pesa?”), escuta os adultos com muita atenção, para tentar compreender o que dizer.

É muito curioso: faz muitas perguntas sobre as circunstâncias com que se vai deparando no seu dia a dia e não aceita explicações rasas, antes insiste nas perguntas.
 
É muito imaginativo e sonhador: inventa histórias, cria mundos paralelos para fugir da realidade dura que vive.
 
iii) Caracterização social
 
Pertence a uma família pobre e numerosa que mora num bairro simples.
 
É o penúltimo de vários irmãos.
 
A família enfrenta dificuldades financeiras: o pai está desempregado, o que gera tensão em casa; a família não tem como pagar a luz, tem o aluguer da casa atrasado.
 
A sua educação é moldada pela família, mas também pela comunidade e pela liberdade que encontra fora de casa.
 

Análise de O Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos

 I. Vida de José Mauro de Vasconcelos


II. Obras


III. Obra


IV. Época


V. Ação

        1. Resumo

        2. Estrutura

        3. Resumo dos capítulos

                3.1. Primeira parte

                        3.1.1. Primeiro capítulo

                        3.1.2. Segundo capítulo

                        3.1.3. Terceiro capítulo

                        3.1.4. Quarto capítulo

                        3.1.5. Quinto capítulo

                3.2. Segunda parte

                        3.2.1. Primeiro capítulo

                        3.2.2. Segundo capítulo

                        3.2.3. Terceiro capítulo

                        3.2.4. Quarto capítulo

                        3.2.5. Quinto capítulo

                        3.2.6. Sexto capítulo

                        3.2.7. Sétimo capítulo

                        3.2.8. Oitavo capítulo

                        3.2.9. Último capítulo


VI. Análise dos capítulos

        1. Título da 1.ª parte

        2. Capítulo I

                2.1. Título

                2.2. Ação

                2.3. Caracterização das personagens

                        a) Zezé

                        b) Totoca


Ação do capítulo I da 1.ª parte de O Meu Pé de Laranja Lima

    A ação da obra abre com o recurso a uma analepse, cuja função reside em introduzir na narrativa a primeira grande descoberta do narrador: ele revela à família que já sabe ler e que aprendeu a fazê-lo sozinho.

    De facto, o capítulo inicial começa com Totoca a acompanhar Zezé e a ensinar-lhe o caminho até à escola. Nesse momento, a narração recua alguns dias, concretamente até ao momento em que a criança dera a entender que já sabia ler, primeiro ao tio Edmundo e, de seguida, a toda a família. Todos ficam incrédulos e testam-no. Confirmada a situação, decidem que, como sabe eu, Zezé deverá entrar na escola rapidamente, mesmo sendo necessário mentir quanto à sua idade (dado que tinha apenas cinco anos) até porque, assim, daria menos trabalho em casa.

Análise do título do capítulo I da 1.ª parte de O Meu Pé de Laranja Lima

    O título do primeiro capítulo é “O Descobridor das Coisas” e remete pra um dos traços do protagonista: a sua curiosidade, a vontade de compreender tudo o que o rodeia, desde como atravessar a rua até conceitos tão profundos como “idade da razão” ou questões do quotidiano como “aposentadoria”. Neste contexto, o nome «coisas» é propositadamente vago, pois designa tanto um qualquer objeto (uma rua, um comboio, etc.) quanto o invisível (os sentimentos e as emoções suscitados pela música, a dor da violência física, o mistério de aprender a ler sozinho, etc.). Zezé enfrenta uma realidade dura: a violência doméstica, a pobreza, a falta de afeto e amor, por isso uma forma de sobreviver e enfrentar essa realidade consiste em transformar tudo em descoberta. Porém, reside aqui um paradoxo: ele é uma criança que descobre algumas coisas cedo demais, como confessa nas linhas finais: “A verdade, meu querido Portuga, é que a mim contaram as coisas muito cedo.”

Título da 1.ª parte de O Meu Pé de Laranja Lima

    O Meu Pé de Laranja Lima está dividido em duas partes, dois momentos que caracterizam o crescimento do protagonista, Zezé.

    A primeira parte tem o subtítulo “No Natal, às vezes nasce o Menino Diabo”, o qual configura “uma desconstrução satírica da imagem de esperança e redenção que se atribui emocionalmente ao «Menino Jesus»” (Miguel Neves Santos, op. cit., pág. 8). Por outro lado, remete para a imagem de “Menino Diabo» que Zezé vai, ao longo da narrativa, criando de si próprio a partir do modo como os outros se lhe referem, o caracterizam e reagem às suas partidas e travessuras.

Resumo do último capítulo - 2.ª parte - de O Meu Pé de Laranja Lima

    No capítulo final, muito breve, uma espécie de confissão, é já o narrador Zezé-adulto que se dirige a Manuel Valadares, mais de quarente anos depois dos acontecimentos, e lhe confessa o impacto que ele teve na sua vida.

    De facto, Zezé relembra, com ternura e saudade, o vínculo afetivo que manteve com o Portuga durante aquele breve período da infância. Em simultâneo, confessa que, apesar de tantos anos volvidos, por vezes ainda parece sentir-se criança e espera que ele reapareça com presentes simples, como figurinhas ou bolas de gude, os quais simbolizavam o afeto, o cuidado e a atenção que recebia de Valadares. Além disso, reconhece que foi o português quem lhe ensinou a ternura da vida, um sentimento que tenta manter vivo até ao presente, compartilhando afeto com os outros, mesmo quando erra ou se engana, porque, afinal, “a vida sem ternura não é lá grande coisa”.

    Por outro lado, num tom melancólico, admite que foi precocemente atingido por detalhes da realidade dura e cruel que chocam com a inocência e a esperança que devem ser preservadas no decurso da infância. É com essa reflexão sobre a dureza de ter conhecido as dores da vida demasiado cedo, relembrando uma frase de Dostoiévsky para expressar a tragédia de uma infância interrompida pela dor e pela perda.

    A obra termina, pois, de forma poética e dolorosa, mostrando que as marcas da infância permanecem vivas na memória e no coração de Zezé. É um adeus simbólico ao Portuga e à criança que um dia foi, uma criança que conheceu o peso da vida antes do tempo, mas que também conheceu o valor do amor verdadeiro.

segunda-feira, 7 de julho de 2025

Resumo do capítulo VIII - 2.ª parte - de O Meu Pé de Laranja Lima

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    Zezé recupera e recomeça a sua vida, apesar do vazio enorme que sente. É já quase restabelecido que escuta a novidade do pai: fora nomeado gerente da Fábrica de Santo Aleixo, o que significa que a situação financeira da família irá melhorar. É precisamente isto que o pai promete: pegando nele ao colo e falando-lhe com carinho, garante-lhe uma vida melhor, com presentes no Natal, viagens e uma nova casa com muitas árvores. Além disso, tenta resgatar o vínculo afetivo, relembrando a medalha do índio e prometendo devolvê-la num novo relógio.

    No entanto, Zezé, apesar das palavras otimistas do progenitor e do seu gesto de carinho, de aproximação, afasta-se, confuso e magoado, e reflete que aquele homem não é seu pai – o seu verdadeiro pai, na sua perceção afetiva, tinha partido no dia em que o Portuga morreu, símbolo do afeto e compreensão. Quando seu Paulo tenta consola-lo, dizendo-lhe que, no futuro, poderá escolher novas árvores, acrescentando que não haverá motivo para temer o corte do seu pé de laranja lima, visto que não acontecerá a curto praxo, Zezé desaba. Em lágrimas, assume simbolicamente, sem que o pai compreenda o alcance e o significado das suas palavras, que a sua árvore já fora cortada há mais de uma semana, associando-a, assim, ao desaparecimento do seu amigo Portuga.

Resumo do capítulo VII - 2.ª parte - de O Meu Pé de Laranja Lima

    É neste capítulo, intitulado “O Mangaratiba”, que tem lugar a última peripécia da obra. Numa aula, já perto do final do ano letivo, enquanto Zezé brilha no quadro e encara, entusiasmado, a proximidade das férias, um colega, Jerónimo, entra atrasado e explica que tal se deveu a um acidente entre o comboio Mangaratiba e o automóvel de Manuel Valadares. O narrador fica perturbadíssimo e sai da sala a correr, guiado pela urgência de confirmar com os próprios olhos o que acontecera ao seu querido Portuga. Ao chegar à confeitaria, procura com o olhar o automóvel, mas não o vê. Volta a correr, até ser intercetado por seu Ladislau, que o impede de prosseguir. Convém recordar que a amizade entre Zezé e Valadares era praticamente um segredo, por isso, com exceção de seu Ladislau da confeitaria, todas as outras pessoas estranham a reação da criança, nomeadamente quando entra de tal forma em choque que adoece gravemente. Entretanto, o homem procura acalmá-lo, afirmando que o português está internado no hospital e que o levará a vê-lo quando for possível. Desorientado e arrasado, o menino recusa voltar para casa ou para a escola e vagueia sozinho pela cidade, chorando, até que chega a um lugar simbólico – a estrada onde o Portuga o deixara chamá-lo assim e o deixara «morcegar». Aí, dirige um lamento profundo ao Menino Jesus, questionando por que razão está a ser castigado. De facto, ele sente-se injustiçado, visto que tem tentado ser um bom menino, mudou o comportamento, estudou, deixou de dizer palavrões e, ainda assim, continua a sofrer. Recorda então outra perda que se avizinha: o corto do pé de laranja lima. Imerso na sua dor, exige ao Menino Jesus que lhe devolva o Portuga. É nesse momento que ouve uma voz doce e suave, talvez saída da própria árvore onde se sentara, que lhe diz que o seu amigo foi para o céu.

    É encontrado por Totoca sentado nos degraus da casa de Dona Helena Villas-Boas, completamente esgotado, febril, sem forças nem para chorar. Totoca tenta confortá-lo e levá-lo para casa, mas Zezé recusa, afirmando que já não tem mais nada em sua casa, pois tudo na sua existência perdeu sentido. O irmão, preocupado, leva-o ao colo até casa e deita-o na cama, percebendo a gravidade do seu estado. Inicialmente, Jandira desvaloriza a situação, pensando que o menino está a fingir, porém, durante três dias e três noites, mergulha num estado de febre alta. Glória, a irmã que mais o acarinha e o protege, muda-se para o seu quarto, mantém a luz acesa e permanece sempre ao seu lado. Toda a família, normalmente ríspida, passa a tratá-lo com doçura. O Dr. Faulhaber é chamado e conclui que Zezé sofre de um choque traumático intenso. A família e os vizinhos associam erradamente o estado de Zezé ao comentário feito por Totoca sobre o eventual abate do pé de laranja lima. A própria vizinhança, antes crítica, mobiliza-se para o apoiar: trazem-lhe doces, ovos, orações e palavras de afeto. A criança sente-se tocada, mas continua entregue à dor, até que recebe a visita de Ariovaldo, o vendedor de folhetos, que lhe implora que não morra. Esta visita comove o menino e marca o início da sua lenta recuperação.

    Zezé começa a conseguir reter alimentos, mas continua a ser assolado por imagens do Mangaratiba esmagando o Portuga, e pede a Deus que ele não tenha sofrido. Glória continua a tratar dele com todo o carinho e chega a oferecer a sua mangueira do quintal, mas o irmão responde que nem a planta dela nem o pé de laranja lima serão mais importantes. Totoca sente-se culpado por ter contado a notícia que, supostamente, desencadeou a crise e chega a emagrecer com o remorso. A vida da família volta, gradualmente, à normalidade, mas Glória não abandona a cabeceira da sua cama, pois o narrador continua a ostentar um estado de debilidade, oscilando entre momentos de melhora e outros de recaída e sempre mergulhado numa sonolência.

    Num dos momentos de febre alta, Zezé tem um sonho que marca o fim da doença. Nesse sonho, o seu pé de laranja lima aparece pela última vez no texto, iluminado: entra no quarto com um presente – Luciano, o pássaro, todo enfeitado com penas prateadas – e leva-o a cavalo pelas ruas, até chegar aos locais que partilhara com o Portuga e, em particular, até encarar o sinistro som do Mangaratiba e enfrentar definitivamente  a morte do seu amigo. De facto, Minguinho transforma-se num cavalo voador e Luciano acompanha-os alegremente ao ombro do narrador. O percurso traz uma breve sensação de alegria e a tristeza afasta-se por instantes. No entanto, um som familiar e assustador irrompe à distância: é o apito de um comboio. Zezé reconhece imediatamente o ruído do Mangaratiba e o pânico apodera-se dele, convencido de que o comboio quer agora matar o seu outro amigo, Minguinho. Grita desesperadamente e tenta impedir que a árvore seja esmagada também. O trem passa com um enorme barulho, fumo e violência e a criança grita várias vezes «Assassino!», revivendo o trauma da morte do Portuga. A certa altura, o próprio Mangaratiba parece falar, repetindo entre risos e gargalhadas o seguinte: “Eu não sou culpado... Eu não fui culpado...”.É neste momento que Zezé acorda, como se despertasse também para a realidade, em sobressalto, gritando, a vomitar. A mãe abraça-o, tentando confortá-lo, dizendo que foi apenas um pesadelo. Glória, em lágrimas e esgotada, relata que acordou com os gritos do irmão a chamar «assassino» a alguém e a falar de morte e destruição.

    Poucos dias depois, a doença chega ao fim. Numa manhã, Glória entra no quarto com uma flor na mão – é a primeira flor de Minguinho, símbolo de que a árvore está a crescer, mas também marca o fim da inocência de Zezé, que compreende que a flor representa uma despedida simbólica – o pé de laranja lima deixa de pertencer ao mundo da imaginação e passa a fazer parte do mundo real e doloroso. Depois, Glória propõe-lhe tomar um pequeno-almoço leve (um mingau) e dar uma volta pela casa, o que simboliza o regresso à normalidade. Luís convida o narrador a brincar: quer visitar o jardim zoológico, a Europa, a selva amazónica, e brincar com Minguinho. Zezé não quer desiludir o irmão e aceita. Glória observa, emocionada, a cena, aliviada por o ver regressar ao mundo da fantasia. Quando Luís pergunta pela pantera negra, símbolo de uma das fantasias partilhadas entre ambos, o narrador hesita, mas acaba por manter viva a ilusão do irmão e responde que o animal foi passar férias na Amazónia. Por dentro, todavia, tem consciência da realidade, isto é, que nunca houve pantera nenhuma, apenas uma galinha velha que acabou num caldo. A selva do Amazonas, por outro lado, não passava de algumas laranjeiras do quintal.

    Por fim, Zezé, cansado, decide terminar a brincadeira, prometendo retomá-la no dia seguinte. Luís, por causa da sua tenra idade, não compreende que aquela flor branca que Glória trouxe representa o adeus definitivo a Minguinho – e, com ele, à infância, à fantasia e à inocência do narrador.

Resumo do capítulo VI - 2.ª parte - de O Meu Pé de Laranja Lima

    O início deste capítulo é marcado pela continuação do diálogo entre Zezé e o Portuga. Este explica ao menino que, na sua infância, não teve árvores que falassem consigo, e fala-lhe com carinho das vindimas e das tradições rurais de Portugal, evidenciando, assim, toda a ligação afetiva que mantém com o torrão natal, nomeadamente a Trás-os-Montes. A partir deste momento, a narrativa é marcada pela perda e pela tristeza. O primeiro coincide com a confissão do desejo, por parte de Manuel Valadares, de um dia regressar a Portugal (mais concretamente a Folhadela) para viver a sua velhice. Esta revelação entristece profundamente Zezé, que só então percebe que o amigo é mais velho que o próprio pai. Além disso, a criança é invadida por uma sensação de vazio, decorrente da consciência de que o construiu com o amigo poderia desaparecer. Em resposta, o Portuga assegura-lhe, com ternura, que o menino estará sempre nos seus sonhos, porém também o alerta, com tristeza e realismo, que não se deve apegar demasiado às pessoas, porque tudo é passageiro.

    A sequência seguinte é caracterizada por um diálogo entre Zezé e o pé de laranja lima. A criança revela-lhe que o pai, agora, o trata der forma mais carinhosa e próxima e acrescenta que gostaria de ter 24 filhos – os primeiros 12 seriam sempre crianças e nunca seriam castigados, enquanto os restantes cresceriam escolhendo livremente o que queriam fazer. O narrador imagina-se a oferecer-lhes objetos simbólicos das profissões que escolherem: machados, fardas, selas, bonés. Minguinho interrompe-, questionando sobre como seria o Natal. A criança fantasia que será muito rico, ganhará a lotaria e comprará toneladas de castanhas, brinquedos, nozes e doces para os filhos e também para os vizinhos pobres.

    Outro momento representativo da perda e da tristeza é suscitado por Totoca, que pede 400 réis ao irmão. Este, porém, recusa o empréstimo, mesmo tendo o dinheiro e só aquiesce quando Totoca elogia o pé de laranja lima, comparando-o com o seu próprio pé de tamarindo. Em troca, o irmão dá duas notícias: o pai conseguiu trabalho como gerente na fábrica de Santo Aleixo, o que permitirá à família sair da miséria; por outro lado, anuncia a possibilidade de Minguinho ser cortado, visto que a prefeitura projetava obras de alargamento da estrada, o que implicaria destruir alguns quintais. Esta segunda notícia atinge profundamente Zezé, que chora, entrega a Totoca uma moeda de quinhentos réis para que este vá ao cinema ver um filme do Tarzan, usando o troco para comprar rebuçados, e suplica-lhe que o ajude a impedir o abate do pé de laranja lima, chegando até a falar de guerra.

    Zezé regressa para junto de Minguinho, ainda bastante emocionado. Recorda que já viu o filme do Tarzan e decide contar a Manuel Valadares. Este pergunta-lhe se queria ir ao cinema, mas o menino responde que não pode entrar no Cinema Bangu durante um ano como castigo por uma travessura passada e que tal só poderá suceder se for acompanhado por um adulto. Quando chegam à bilheteira, a moça que atende o público diz-lhes que tem ordens para não deixar entrar o narrador. O Portuga assume a responsabilidade pelo menino, argumenta que agora está mais maduro. A jovem, hesitante, acaba por ceder, especialmente pelo gesto de carinho da criança, que lhe sopra um beijo e lhe sorri com ternura, mas adverte-o de que, se ele se comportar mal de novo, ela perderá o emprego.

Resumo do capítulo V - 2.ª parte - de O Meu Pé de Laranja Lima

    Zezé precisa de cerca de uma semana para começar a recuperar fisicamente. Psicologicamente, fica devastado e interioriza a ideia de que não tem qualquer valor e de que talvez nem devesse ter nascido, pois todos à sua volta o castigam e insultam. Perde a vontade de brincar e sente-se vazio, passando o tempo a observar, em silêncio, Luís a brincar. Decide então mudar os seus interesses: deixa de se interessar por filmes de cowboys e passa a ver apenas películas de amor, os quais lhe mostram pessoas que se amam e são felizes. Trata-se, no fundo, de uma forma de compensar a falta de afeto que sente.

    Mal sente forças para sair de novo, procura o seu amigo português. Encontra-o numa confeitaria. Zezé mostra-se triste e, ao aperceber-se dessa tristeza, Manuel Valadares convida-o para dar uma volta de carro. No trajeto, o narrador desabafa toda a dor acumulada dentro de si, dando nota da violência sofrida em casa, da pobreza da família, e chega a confessar que tinha decidido atirar-se para baixo do Mangaratiba nessa noite, para terminar com todo o seu sofrimento. O Portuga, profundamente comovido com o que acabar de ouvir, consola-o, dizendo-lhe que é uma criança inteligente, sensível e querido. Além disso, promete-lhe um passeio a dois até ao Guandu, no sábado, para pescar. Preocupado com a desculpa que terá de inventar para justificar a sua ausência e com as possíveis consequências se for descoberta a mentira, Valadares questiona-o sobre o assunto, mas Zezé tranquiliza-o, dizendo-lhe que toda a família prometeu a Glória não lhe bater até ao final daquele mês.

    No dia combinado e durante o caminho, a criança reflete sobre o seu próprio comportamento: apesar de se mostrar carinhoso e bem-comportado quando está na companhia do amigo português, por exemplo, reconhece que é travesso e que gosta de pregar partidas e fazer travessuras. Para ilustrar o que acaba de dizer, conta uma das suas traquinices mais ousadas: um dia, ao ver Tio Edmundo a dormir numa rede nova que acabara de comprar, aproveitou um momento de distração do homem e, com fósforos e pedaços de jornal, fez uma pequena fogueira debaixo da rede, causando um enorme susto no indivíduo, que acordou sobressaltado, pensando que o responsável pelas chamas tinha sido ele mesmo e o seu cigarro.

    Chegados ao destino, escolhem um espaço aberto, com uma árvore enorme e imponente, para assentar arraiais. Manuel Valadares diz que a planta se chama Rainha Carlota e que deve ser tratada com respeito e reverência, como se fosse uma majestade, no que parece ser uma alusão à rainha D. Carlota Joaquina. Juntos, deixam os seus objetos à sombra da árvore, preparam os apetrechos de pesca, e o Portuga explica ao narrador onde poderá brincar sem perigo, enquanto ele se dedica à pescaria. A criança delicia-se com o ambiente que o rodeia, mergulha os pés na água, observa os sapos, as folhas e os seixos arrastados pela corrente e, enquanto o faz, recorda os versos ditos por Glória, compreendendo que a poesia se manifesta nas pequenas coisas.

    Quando chega a hora do almoço, Valadares pede-lhe que se lave antes de comer, porém Zezé mostra-se renitente, porque não quer que o novo amigo veja as marcas e cicatrizes deixadas pelas sovas que tem levado. O homem percebe a hesitação da criança, por isso não o força e apenas lhe diz, com a voz embargada, que, se a higiene lhe causa dor, não precisa de entrar na água, porém o menino retorque que as feridas já não lhe doem.

    Terminada a refeição simples (pão, salame, ovos, mariolas e bananas), aproveitam a sombra da grande árvore. Manuel Valadares deita-se para dormir a sesta, com o narrador preso nos seus braços, visto que receia que, endiabrado como é, se envolva nalguma confusão. Nesse momento, Zezé pergunta-lhe se é verdade que gosta muito dele, como afirmara na confeitaria a seu Ladislau. Perante a resposta afirmativa, levanta a possibilidade de ser adotado, ou mesmo comprado, pelo português. Na sua opinião, a família aceitaria bem a ideia, visto que seria uma boca a menos para alimentar, tal como já tinha sucedido com uma irmã, que fora «dada» para viver com uma prima no Norte. Manuel Valadares fica profundamente emocionado, com lágrimas a escorrer dos olhos, e explica-lhe que isso não será possível, que a vida não se resolve dessa forma e que ele não poderá tirá-lo à família, mas, em contrapartida, promete-lhe que, a partir daquele momento, passará a tratá-lo como se fosse, realmente, seu filho. Ao contínuo, Zezé beija-lhe o rosto, selando, desta forma, um vínculo profundo entre ambos.

domingo, 6 de julho de 2025

Resumo do capítulo IV - 2.ª parte - de O Meu Pé de Laranja Lima

    Zezé aprende com Totoca a fazer balões de papel, mas o irmão cobra-lhe a ajuda prestada nas etapas mais difíceis, nomeadamente querendo que o narrador lhe dê bolas de gude ou figurinhas. Determinado a fazer o seu balão sem depender de Totoca, a criança vai pelas ruas tentando vender as suas bolas e figurinhas para angariar dinheiro e comprar papel de seda. Porém, apesar de todo o esforço que emprega, ninguém lhe compra nada. Já desanimado, encontra Biriquinho, que, após uma breve negociação, adquire alguns dos itens à venda. Deste modo, a criança consegue parte do dinheiro (duzentos réis) de que necessitava para concretizar o seu objetivo. De imediato, vai â venda do Miséria e Fome e compra papel de seda cor-de-rosa e cor de abóbora, mesmo não sendo as que queria. Animado, volta para casa e começa a construir o seu balão, na companhia do irmão Luís. No entanto, demora-se a descer para o jantar e a sua irmã Jandira descontrola-se, não só pelo atraso, mas pela reação de Zezé, que a insulta, chamando-lhe puta. Com efeito, a rapariga chamara-o diversas vezes, mas, focado em terminar o balão, ele demorara-se e não atendera ao seu chamado. A irmã perdera a paciência, puxara-o pelas orelhas, arrastara-o e destruíra o balão, rasgando-o em pedaços. Desesperado e dominado pela raiva e pela dor, o narrador insulta-a repetidamente, o que, por sua vez, desencadeia uma reação violenta da parte dela: espanca-o sem piedade com uma correia. Entretanto, chega Totoca e, em vez de defender o irmão mais novo, bate-lhe também no rosto, especialmente na boca, para o tentar calar. A situação só termina com a chegada de Glória, que separa os irmãos e leva o menino para o quarto, onde trata os ferimentos e o tenta acalmar. Ao mesmo tempo, revolta-se contra Totoca, humilhando-o ao revelar que ainda faz xixi na cama. Por seu turno, Zezé, profundamente magoado, lamenta não apenas as dores do corpo, mas sobretudo a perda do seu balão, que queria construir para impressionar os seus dois amigos, o Portuga e Minguinho. Glória tenta consola-lo e promete ajudá-lo no dia seguinte a comprar novo papel de seda para fazer um balão ainda mais bonito, no entanto o irmão acredita que o encanto do que estava a construir e fora destruído nunca mais seria recuperado. A irmã promete-lhe, então, que um dia fugirão para um lugar melhor, onde possam viver felizes, livres e sem violência.

    Novo episódio de violenta agressão sucede dois dias depois, quando o pai, que continuava desempregado e deprimido, não compreende a intenção do filho quando este começa a cantar uma música de Ariovaldo para o animar. De facto, o que sucedeu foi o seguinte: após a violenta sova que levou de Jandira e de Totoca, Zezé passa dois dias sem sair de casa, tendo sido inclusive impedido de ir à escola, para que ninguém visse os seus ferimentos e se apercebesse da brutalidade de que tinha sido vítima. Ocupa esse tempo na companhia de Luís e de Minguinho, encontrando refúgio e proteção na sua imaginação, nas figurinhas que Manuel Valadares lhe dera e nas brincadeiras com o irmão. Não obstante, sente saudades do português, de quem não se conseguiu despedir e que certamente estranhará a sua ausência.

    Certa noite, com a casa quase vazia, o menino apercebe-se de que o pai está pensativo e triste, sentado numa cadeira de baloiço, olhando fixamente para a parede. Ao observar aquele quadro, o menino sente pena de seu Paulo, compreendendo o quão é difícil a sua vida, desempregado, dependendo da esposa, que chega tarde a casa por causa do seu trabalho no Moinho Inglês. Numa tentativa de o animar, começa a entoar um tango que aprendeu com Ariovaldo, porém, a música, de conteúdo impróprio para uma criança, irrita profundamente o pai, que entende que a letra é uma provocação e o obriga a repetir a canção. A cada repetição castiga-o com sucessivas bofetadas e Zezé, dominado pela dor e pela revolta, deixa de cantar e enfrenta o progenitor, chamando-o «assassino». Louco de raiva, o pai tira o cinto e espanca brutalmente o filho e só para após a chegada de Glória, que segura o braço paterno, pedindo-lhe que pare e oferecendo-se para ser sovada no lugar do irmão. Nesse instante, o pai toma consciência da sua atitude, atira o cinto para cima da mesa e, cheio de remorsos, chora.

    Glória levanta a criança do chão , mas esta desmaia devido à dor e ao cansaço. Quando acorda, está a arder de febre, rodeado pela mãe, por Glória e Dindinha. As dores são tão intensas que mal se consegue mexer ou engolir a sopa que a irmã lhe preparou. O ambiente é de grande preocupação, porém a família decide não chamar o médico, para não expor a situação publicamente. A mão vela-o toda a noite, até sair para o trabalho. Antes, o narrador confessa-lhe que não deveria ter nascido, que lhe deveria ter acontecido algo semelhante ao que sucedeu ao seu balão – algo que não chegou a concretizar-se, que não veio ao mundo. A mãe, emocionada, não sabe o que lhe responder, acaricia-lhe a cabeça e apenas murmura que todas as pessoas nascem por algum motivo.

sábado, 5 de julho de 2025

Resumo do capítulo III - 2.ª parte - de O Meu Pé de Laranja Lima

    Este capítulo abre com uma longa conversa entre Zezé e Minguinho. O menino conta-lhe que descobriu onde mora o Portuga, concretamente na Rua Barão de Capanema. Ao chegar lá, encontra-o a fazer a barba no quintal, bate as palmas para lhe chamar à atenção e oferece-se para lhe engraxar os sapatos. Simpaticamente, Valadares convida-o a entrar enquanto acaba de se barbear. Ao ser questionado sobre a escola, responde que é feriado e que aproveitou o feriado para ganhar algum dinheiro. O português convida-o para entrar e tomar café, o que dá a oportunidade ao narrador para observar a organização e a limpeza do espaço, que contrasta com a sua casa, pobre e menos bem cuidada. A criança interrompe o assunto, ao notar o silêncio do pé de laranja lima, e questiona-o. A árvore responde que se sente desprezado pelo menino desde que passou a encontrar-se com Valadares.

    Zezé retoma a descrição do encontro com o Portuga, nomeadamente o momento em que lhe confessou que não estava realmente a trabalhar e que só tinha levado os apetrechos de engraxador como pretexto para sair de casa, já que apenas tinha autorização para se ausentar para longe para trabalhar. Isso evita que lhe batam tantas vezes, visto que a família acredita que, trabalhando, não fará travessuras. Valadares fica admirado com tanta malícia vinda de uma simples criança, e Zezé começa, então, a listar as suas traquinices e maldades, afirmando que é mau e que alguém como ele nem deveria ter nascido, segundo ouviu da boca de uma irmã, e acrescenta que é sovado constantemente. Dessa lista fazem parte as seguintes maldades: incendiou a cerca da vizinha Nega Ifigénia, ofendeu outra mulher chamando-lhe Pata Choca, partiu um espelho com uma bola de pano, quebrou lâmpadas com a baladeira, apedrejou a cabeça de um miúdo, arrancou mudas de plantas de outra vizinha e fez o gato de Dona Rosena engolir uma bola de gude. O português procura esconder o riso, mas repreende-o pela traquinice feita ao gato. De seguida, narra o episódio mais embaraçoso: no cinema, para não perder a parte de um filme, urinou num canto da sala. Todavia, as outras crianças aperceberam-se e imitaram-no, criando um «rio» dentro do cinema. Descoberto, foi culpado pelo incidente e foi proibido de entrar no Cinema Bangu durante um ano. Para piorar a situação, o dono contou tudo ao pai, que lhe deu uma sova com um tamanco, mesmo estando a criança já a dormir.

    No final, Minguinho continua amuado por se sentir rejeitado. Zezé tenta convencê-lo de que há espaço no seu coração para todos. Perante o silêncio da árvore, decide ir jogar bola de gude, dizendo que ela está muito enjoada.

    Zezé e Manuel Valadares passam a encontrar-se frequentemente, crescendo entre eles uma amizade com contornos familiares. De facto, o narrador aproveita todos os momentos e oportunidades para estar com o português, que, por sua vez, lhe proporciona algumas das coisas com as quais a criança poderia apenas sonhar. De início, porém, mantém a amizade entre ambos em segredo, primeiro por vergonha, depois por diversão. Durante os seus encontros, Zezé fala sobre a sua família, as suas dificuldades e os seus sonhos. Tudo isto faz com que a relação entre ambos se fortaleça, a ponto de o menino lhe pedir para o tratar por «você», pois soa mais íntimo e carinhoso entre amigos e o chamar «Portuga», que considera mais carinhoso e representativo da amizade entre ambos, em vez de «senhor» ou «Manuel». Valadares aceita, demonstrando um afeto paternal. Ele emociona-se com os relatos da criança acerca da sua miséria familiar (conta que a mãe é filha de índios, trabalha muito para sustentar a casa e sofre com uma hérnia; apesar de ser rígida e, às vezes, lhe bater, Zezé reconhece que é uma boa mãe, apenas cansada demais; fala também sobre a irmã mais velha, que vive a fugir para encontrar namorados, contrariando as ordens maternas), e ela fica impressionada com o carinho, a preocupação e o afeto que o português lhe dedica, em todos os momentos. Os dois combinam que tudo o que é do Portuga, incluindo o carro, pertence também, de certa forma, ao menino, que lhe conta que pensava que Valadares era um antropófago (um canibal), coisa que ouvira por aí, e explica o significado do termo com surpreendente clareza para a sua idade.

    Zezé revela que tem oficialmente cinco anos, mas diz ter seis para poder frequentar a escola. Além disso, mostra ao português uma medalhinha antiga, na qual está escrita a palavra «carborundum» e que fazia parte do relógio de seu pai, o qual teve de ser vendido para fazer face às dificuldades económicas da família. A medalha constitui, para a criança, a herança que restou do progenitor. Para o deixar ainda mais feliz, Valadares deixa-o pendurar-se no pneu sobressalente na traseira do carro enquanto conduz devagar, realizando, assim, o sonho da criança. Para terminar, conversam sobre o modo como Zezé justificaria junto da família o tempo passado fora de casa – astuto como habitualmente, diz que inventará que estava no catecismo. No caminho de regresso, muito emocionado, o narrador encosta-se ao braço do Portuga e faz-lhe uma declaração tocante: nunca mais se quererá afastar dele, porque, na sua companhia, sente-se protegido, amado e feliz.

    Enquanto a amizade entre Manuel Valadares e o narrador evolui e se cimenta, passa existir algum distanciamento entre este e Minguinho.

Áudio do Exame Nacional de PLNM 2025 - 1.ª fase

Correção do Exame de PNLM 2025 - 1.ª fase

"Will You Love Me Tomorrow", The Shirelles


1960

Exame de Português Língua Não Materna - 12.º ano - 2025 - 1.ª fase

quarta-feira, 2 de julho de 2025

A origem dos dias da semana

Estrutura interna de O Fantasma de Canterville

    O Fantasma de Canterville é um conto fantástico com elementos e paródias do chamado romance gótico.

    No que diz respeito à sua estrutura interna narrativa, segue o modelo comumente aplicado aos contos tradicionais.


Situação inicial: este é o início da história, da sua contextualização:
• localização no tempo;
• apresentação das personagens;
• localização no espaço;
• apresentação da ação.
A situação é equilibrada, o que significa que não há razão para que mude.
 
● O fantasma de Sir Simon assombra a mansão de Canterville (Canterville Chase) há séculos e é universalmente temido.

Acontecimento perturbador: é um acontecimento / problema que altera a situação inicial e desencadeia a história.

● A família Otis muda-se para Canterville Chase e não se deixa intimidar pelas tentativas de Sir Simon de a assustar. Este aspeto contraria o que é normalmente esperado de uma história de fantasmas.

Peripécias: é o conjunto de acontecimentos causados pelo acontecimento perturbador, que levam o herói a tomar medidas para resolver o problema.

● O fantasma de Sir Simon sofre por causa da indiferença da família e das piadas e travessuras das crianças da família, sem renunciar ao desejo de as assustar, e começa a ficar desesperado. É nesta fase que a dimensão paródica do texto é mais visível.

Resolução: é o evento que põe fim ao problema.

● Sir Simon conquista Virgínia, que o ajuda a encontrar a paz. Com esta resolução, o fantástico triunfa sobre o paródico, uma vez que os sentimentos e o mistério dominam o desfecho da ação.

Situação final: é o desfecho da ação, com o restabelecimento do equilíbrio. A situação é novamente estável, ta como a situação inicial, mas sofreu algumas alterações.

● O fantasma é libertado e agora repousa em paz no cemitério de Canterville. Muitos anos depois, Virgínia, que entretanto casara, continua a honrar a memória do homem que salvou.


segunda-feira, 30 de junho de 2025

Resumo do capítulo II - 2.ª parte - de O Meu Pé de Laranja Lima

                Nos dias seguintes, Zezé toma precauções (por exemplo, sair mais cedo de casa, caminhar pela sombra) para não se encontrar com o Portuga, figura que lhe provocava uma grande raiva, a ponto de desejar matá-lo futuramente, porém, com a passagem do tempo, o medo e a hostilidade diminuem, sobretudo porque o português desaparece por alguns dias, o que lhe traz alívio.

                O tempo vai passando, a vida da rua segue o seu curso normal. A estação muda e o menino afasta-se um pouco de Minguinho, que continua a crescer, assim como a criança, que se aproxima dos seis anos. A cumplicidade entre ambos continua a estreitar-se e as conversas tornam-se sobretudo relevantes após as sovas que Zezé apanha. O narrador detalha o modo como decora a árvore, usando tampinhas de garrafa e pedaços de linha, e admira como o vento as faz baterem umas nas outras, dando uma imagem poética e vívida. Por outro lado, a vida na escola decorre bem: já conhece vários hinos nacionais de cor, destacando o da Liberdade como o seu preferido. Todas as terças-feiras falta às aulas para se encontrar com Ariovaldo e venderem, juntos, os folhetos do músico. Durante os recreios, gosta de jogar bola de gude, jogo que lhe granjeou o epíteto de «rato» por causa da sua boa pontaria, que lhe permitia ganhar muitas bolinhas. A professora vê-o como um menino especial e sente grande carinho por ele. Conhecedora da pobreza em que vive, à hora do lanche, chama-o à parte e dá-lhe dinheiro para ele ir comprar um sonho recheado. Além disso, não acredita que seja travesse ou diga palavrões. Em contrapartida, ele porta-se bem nas aulas (“... eu era um anjo.”), não tem qualquer repreensão e torna-se o oferecido das professoras por ser um dos alunos mais pequenos.

                Certo dia, Manuel Valadares regressa, passa lentamente por ele de carro e buzina-lhe, enquanto sorri. A partir daí, diariamente, a caminho da escola, Zezé continua a cruzar-se com o veículo do Portuga, que continua a buzinar-lhe, porém o menino não quer dar-lhe importância, visto que mantém o desejo de se vingar no futuro. Como é evidente, corre a contar estes eventos ao amigo Minguinho, que continua a crescer, daí que a criança necessite de um caixote para lhe subir.

                Numa tarde, não consegue resistir ao aroma das goiabas que lhe chega da casa da vizinha Ifigénia e decide tentar roubar alguma. No entanto, é surpreendido pela mulher, que lhe grita da janela da cozinha. Ato contínuo, ele foge e salta para dentro do valão, porém magoa-se num pé com gravidade (espeta um pedaço de vidro no pé), mas omite as dores intensas que sente com medo de ser castigado. Astutamente, procura Glória – Godóia – na cozinha, a irmão de quinze anos, que fica muito preocupada não só com a profundidade do corte, mas também com as palavras de desalento do irmão, que chega a referir a possibilidade de se suicidar ao atravessar a Rio – São Paulo. Ao jantar, Glória disfarça a ausência da criança, dizendo que se fora deitar, porque tinha dor de cabeça, em resultado das sovas constantes que apanhava (naquele dia tinham sido três).

                Na manhã seguinte, ao ir para a escola, cruza-se novamente com o português, que se apercebe do ferimento no pé e se oferece para o ajudar. Zezé, inicialmente, ignora-o e procura seguir o seu caminho, mas Manuel Valadares corta-lhe a passagem com o automóvel, desce e fala-lhe docemente, o que deixa o narrador espantado com aquela atitude de alguém que, alguns dias antes, lhe tinha batido. De seguida, oferece-se para o levar à escola, mas Zezé só aceita depois de o Portuga lhe prometer que o deixará antes de chegar à escola, pois a criança sentirá vergonha se os colegas – que sabem da sova que o homem lhe deu – o virem na sua companhia. Esta é a peripécia que irá transformar o curso da ação, na opinião de Miguel Neves Santos (op. cit., p. 20), dado que o português o leva a uma farmácia para tratar a ferida, antes que apanhe tétano, dá-lhe força e coragem para enfrentar as dores e leva-o até perto de casa. Zezé fica tão impressionado com a atitude do antigo inimigo que passa a nutrir um forte apreço e gratidão por ele: “O Português tinha se tornado agora a pessoa que eu queria mais bem no mundo.”

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domingo, 29 de junho de 2025

Resumo do capítulo I - 2.ª parte - de O Meu Pé de Laranja Lima

    As primeiras sequências narrativas desta parte centram-se na vivência quotidiana de Zezé, fazendo sobressair em definitivo o seu caráter e a sua tendência para ser reconhecido por todos como o “danado do menino de seu Paulo”, o principal agitador da rua.

    A criança toma o pequeno-almoço, enquanto Glória o apressa para não chegar atrasado à escola. Zezé e Totoca saem com as suas sacolas, cheias apenas de livros, cadernos e lápis, sem lanche. Aquele leva também as suas bolas de gude e os ténis nas mãos, que calçará apenas quando chegar à escola. Zezé, depois de o irmão o ter deixado para trás, pensa em «morcegar» o carro de Manuel Valadares, o único que lhe faltava apanhar e o mais bonito, embora constasse que o seu dono aplicava castigos severos a quem se aventurasse a apanhar aquele tipo de boleia clandestina. Na verdade, o menino sente-se fascinado pela estrada Rio – São Paulo e pelo «morcegar», uma atividade perigosa. Até então, já tinha conseguido fazê-lo até com o carro de um sujeito conhecido pela sua severidade, o sr. Ladislau, por isso agora está fixado no seu novo desafio, o automóvel do português, um homem temido, de aspeto carrancudo e com fama de agredir quem ousasse aproximar-se do seu veículo. O menino partilha esta informação com Minguinho e revela-lhe o seu plano de se agarrar ao carro de Valadares quando este parar no bar “Miséria e Fome” para comprar cigarros. Apesar do medo que sente, Zezé quer provar que é corajoso.

    No dia em que decide concretizar o seu plano, esconde-se, espera o momento adequado e agarra-se ao carro, todavia fá-lo cedo de mais, antes de o português ligar o motor e é apanhado por Valadares, que o puxa pela orelha, o repreende e lhe dá uma fortíssima palmada, à frente de toda a gente. O menino, apanhado de surpresa, nem consegue reagir, permanecendo calado, tal a humilhação e a raiva que sente naquele momento. Mais do que a dor física, ele sente vergonha por ser castigado diante das pessoas e pela zombaria destas. Nas poucas palavras que dirige a Manuel Valadares, Zezé explica que vai esperar até ficar crescido e, nessa altura, vingar-se-á, matando-o. Quando se afasta, chora e tenta aliviar a dor. O seu maior receio é que os colegas da escola descubram o que aconteceu e façam troça de si.

    Nesse mesmo dia, Totoca pede a Zezé que enfrente um outro rapaz, Bié, mais velho, muito maior e mais forte, que queria apanhá-lo no final das aulas para lhe bater. Apesar de Zezé explicar ao irmão que não terá qualquer hipótese de vencer aquela luta, Totoca convence-o e elogia-o. O menino atende o pedido, transferindo a raiva acumulada que sente pelo português para essa luta. Todavia, durante o confronto, apanha bastante pancada, enquanto Totoca e outros colegas incentivam à distância, e fica bastante magoado. Só não apanha ainda mais, porque o dono da confeitaria e admirador da sua irmã, seu Rozemberg, intervém e os separa. Apesar da sova que apanhou, Zezé sente-se aliviado por ter descarregado parte da sua raiva e frustração.

    Na sequência deste episódio, a criança desabafa com Minguinho e relativiza aquela luta, que resultou num olho roxo. Sente-se envergonhado e é repreendido pelo pai, que bate a Totoca, o que deixa Zezé magoado, pois apercebe-se de que é sempre considerado o culpado de tudo. A árvore ouve tudo atentamente e sente-se revoltado, apelidando seu Paulo de agressor e cobarde. O menino, por sua vez, sonha com a vingança, idealizando um plano que envolve armas e armadilhas, inspirado em filmes do faroeste. No entanto, a raiva acaba por passar e os dois mudam o assunto da conversa.

    De facto, a criança diz-lhe que ganhou um livro como prémio de ser bom aluno (A Rosa Mágica), o qual narra a história de um príncipe e da sua rosa encantada, e expõe ao amigo as suas dúvidas relativamente aos pressupostos muito irrealistas da ação, manifestando algumas reservas acerca da forma como se tentava por vezes impingir às crianças contos de fada que não se coadunavam com a realidade. De facto, ele considera a história infantil e sem graça, visto que prefere aventuras reais e perigosas, como as dos heróis do faroeste (Tom Mix, Buck Jones, Fred Thompson, etc.), e reflete sobre o pormenor de os adultos subestimarem a inteligência das crianças. Esta conversa, todavia, termina após a chegada de Luís para não destruir as fantasias do irmãozinho. Zezé mostra-se protetor e carinhoso para com Luís, afirmando que os sonhos das crianças devem ser preservados.

    Subitamente, com a chegada do vento – elemento que simboliza a fantasia e a liberdade –, o menino mergulha numa brincadeira de faz-de-conta: transforma o ambiente e Minguinho num cavalo de ouro, imaginando-se vestido como um xerife, numa planície cheia de índios apaches, bisões, tiros e galopadas a cavalo. Este faz-de-conta configura um momento de imaginação e fuga à dura realidade que vive. No entanto, Zezé é interrompido por Luís, que, com medo dos índios, lhe pede que mude de brincadeira. O irmão tenta acalmá-lo, afirmando que os Apaches são amigos, mas acata o pedido. Este episódio evidencia a sua sensibilidade em lidar com os sentimentos do irmão, bem como a importância que a imaginação e a fantasia assumem enquanto válvula de escape para a dor e os conflitos familiares.

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sábado, 28 de junho de 2025

O trio tóxico

Putin e más companhias

    O cartune, assinado por Kusto, de seu verdadeiro nome Oleksiy Kustovsky, é uma sátira de cariz geopolítico que expõe as atuais tensões internacionais, envolvendo três nações associadas ao poder repressivo e à ameaça nuclear: Rússia, Irão e Coreia do Norte.

    No centro da imagem, deparamos com três figuras humanas que representam três líderes políticos mundiais e que compartilham um míssil transformado em trenó, que desliza sobre um chão gelado. A figura da frente, um homem com um nariz muito comprido, capacete vermelho com listas brancas, um fato cinzento com uma braçadeira vermelha semelhante à suástica nazi (com o centro redondo e branco registando a letra Z, uma clara referência a Vladimir Zelenski, o líder ucraniano que combate o invasor russo há três anos), de olhos arregalados e olhar assustado, é Vladimir Putin, o atual dirigente da Rússia. A do meio é um homem idoso, de barba grisalha e comprida (símbolo do poder teocrático), usando um turbante preto (outro símbolo do poder teocrático) e óculos, olhar penetrante e astuto, olhando na direção do leitor / observador do cartune, e sorriso aberto, sugerindo frieza e maldade, concretamente o aiatola iraniano Ali Khamenei. Por último, a figura de trás é um homem de rosto redondo, sorriso largo e cabelo característico, com uma expressão relaxada e confiante, sugerindo despreocupação e até escárnio. Trata-se de Kim Jong-Un, líder da Coreia do Norte. A união das três personagens, reunidas no mesmo veículo, sugerem a aliança tácita entre os regimes que lideram e representam, norteados por interesses bélicos e postura desafiadora relativamente à ordem mundial.

    O veículo em que se deslocam é um trenó em forma de míssil que desliza num solo gelado, relembranco a modalidade olímpica conhecida por Bobsled. Na parte da frente da viatura, encontra-se o tradicional símbolo nuclear, o que significa que o míssil é uma bomba atómica. Na lateral esquerda, estão inscritos os nomes, em inglês, das três capitais dos países que as figuras humanas representam pela ordem que elas ocupam no interrior do trenó / míssil: Moscow, Tehran e Pyongyang. Por baixo destas inscrições, encontram-se as bandeiras das três nações, sendo que de cada uma escorre um pouco de tinta vermelha, representando o sangue derramado pelos três regimes opressivos. Por outro lado, os nomes das capitais estão separados entre si por caveiras, reforçando a colagem aos três homens e respetivos países das ideias de perigo iminente, destruição, toxicidade e morte. Além disso, a escolha do míssil como veículo contrasta ironicamente com o formato de trenó, associado a um desporto (que indicia saúde, vida, entretenimento) ou a uma atividade lúdica. O efeito que se atinge com esta representação é profundamente perturbador e inquietante: os três líderes mundiais, possuidores de ogivas nucleares, são retratados como figuras que «brincam» com armas de destruição massiva, de forma irresponsável e insensível.

    Prosseguindo a análise, outro elemento extremamente simbólico é o facto de a base do trenó ser composta por duas foices. Ora, a foice, juntamente com o martelo, é o principal símbolo do comunismo, pelo que a sua presença remete para a ideia de dois dos três países - Rússia e Coreia do Norte - serem os herdeiros do comunismo da antiga União Soviética, enquanto o Irão também se lhe associa, porquanto mantém estreitas relações privilegiadas com a Rússia, como o comprova, por exemplo, o fornecimento de material bélico aos russos durante o conflito com a Ucrânia. Por outro lado, a foice é um instrumento de ceifar e, por extensão, um objeto que pode tirar a vida, reforçando, assim, o tom ameaçador do engenho nuclear: o trenó em forma de míssil não é somente um veículo de destruição, mas uma m´quina de ceifar vidas em massa. Além disso, da parte da frente do trenó sai um fio de fumo negro, que se acumula no ar, formando uma nuvem de tons negros, azuis e amarelo-esverdeados, parecendo possuir ao centro um olho, constituindo, portanto, mais um elemento que representa a ameaça de destruição e morte.

    À direita da imagem, é visível uma árvore antropomorfizada, isto é, os ramos maus pequenos e as folhas são o globo terrestre. Abraçada e escondida atrás da árvore, está a Morte, com a sua túnica negra e a sua foice, dois elementos tradicionais da sua representação icónica. Quer a túnica quer a foice apontam para a destruição e a morte e o facto de a figura da Morte estar escondida e agarrada à árvore sugere que constitui uma ameaça para o planeta e que espera pacientemente o desfecho, ou seja, está pronta para atuar assim que o míssil eclodir e ceifar vidas. Como já foi referido, a árvore contém o globo terrestre no seu topo, o que significa que a ameaça representada no cartune possui uma dimensão planetária.

    As cores predominantes na imagem têm também uma dimensão significativa. Assim, o verde do trenó / míssil está tradicionalmente associado ao militarismo e ao armamento, representando, neste caso, a base da ameaça. Por sua vez, o vermelho, presente no capacete usado por Putin e nas bandeiras dos três países, é a cor do sangue (que escorre dos três estandartes), da guerra e do comunismo, enquanto o amarelo e o preto presentes no símbolo nuclear, situado na parte da frente do míssil, representam o perigo extremo que ameaça a Terra. Por último, o cinzento, o preo e os tons amarelos e verdes visíveis nas roupas e no fumo contribuem para a construção de um ambiente sombrio e ameaçador. Ou seja, as cores selecionadas contribuem para reforçar a atnosfera de tensão e ameaça que paira em toda a imagem.

    Em suma, o cartune configura a crítica à ameaça representada pela colaboração entre regimes autoritários e belicistas, simbolizados pelos seus líderes, tendo como pano de fundo a guerra declarada pela Rússia à Ucrânia, na qual intervêm o Irão através do fornecimento de armas ao regime de Putin e a Coreia do Norte por meio do envio de soldados norte-coreanos para o campo da batalha, para combater a resistência ucraniana, bem como os recentes ataques desferidos por Israel contra o Irão, a pretexto de destruir ou atrasar o programa nuclear iraniano.

Na aula (LIV): Pedro Álvares Cabral é o primeiro rei de Portugal

     Contexto: aula de Português, estudo do episódio de Inês de Castro.

    Professor: face ao desconhecimento generalizado da História de Portugal por parte dos alunos, pergunta: "Quem foi o primeiro rei de Portugal?"

    Alunos: silêncio geral, mas... passados uns segundos...

    Â. Patrício: Pedro Álvares Cabral.

domingo, 22 de junho de 2025

Resumo do capítulo V de O Meu Pé de Laranja Lima

    Zezé decide faltar às aulas, porque é terça-feira, o dia em que um vendedor ambulante de folhetos que é também músico, chamado Ariovaldo, costuma aparecer no bairro. Para passar o tempo, entra na igreja, onde encontra Zacarias, o sacristão, que troca as velas dos castiçais. A criança finge ter ido à escola e mente sobre a sua idade para conseguir os toquinhos de vela, dizendo que são para encerar a linha do seu papagaio, quando, na verdade, os quer para fazer alguém escorregar. Zacarias concorda e, como recompensa, o menino promete começar o catecismo.

    Zezé esfrega a cera no chão da calçada, na esperança de ver alguém escorregar. Após uma longa espera, vê Dona Corinha (amiga da sua mãe) cair e xingar, o que o diverte. No entanto, é descoberto por seu Orlando, que o repreende, mas não denuncia, pedindo-lhe apenas que não volte a repetir a travessura, pois alguém poderá magoar-se a sério.

    Zezé encontra finalmente Ariovaldo, que há já algum tempo o vinha encantando com a sua voz poderosa e com as suas versões de canções populares da época, cujas letras vende em folhetos. O pequeno fica especialmente emocionado com a canção “Fanny”, que o toca profundamente, A criança aproxima-se dele e mostra-se interessada em o acompanhar e vender os folhetos, sem qualquer pagamento em troca. Ariovaldo acha graça ao facto de o menino o abordar com tanta convicção e lucidez, por isso aceita que o acompanhe nas suas vendas e atuações, um dia por semana. Ariovaldo percebe que Zezé é esperto, sensível e educado. Leva-o a lanchar num boteco e divide com ele uma sanduíche e limonada.

    Zezé consegue convencer a irmã glória a deixá-lo faltar às aulas uma vez por semana, argumentando com o seu bom desempenho escolar e a sua dedicação, mostrando os cadernos impecavelmente mantidos, as boas notas e exaltando o facto de ser o melhor na leitura. Além disso, afirma que as aulas são repetitivas e que aprende muito mais a cantar e a ler os folhetos que Tio Edmundo lhe dá. Assim, todas as terças-feiras a criança encontra-se com Ariovaldo na estação de caminho de ferro. Os dois vendem folhetos de músicas pelas ruas. Zezé entusiasma-se com as canções, especialmente a nova, intitulado “Malandrinha”, que acredita ser um sucesso de vendas. Ao almoço, dividem sanduíches e refrigerantes num boteco. O menino, com os seus trocos, paga a refeição, o que deixa Ariovaldo impressionado com a sua honestidade e solidariedade. O vendedor ambulante decide, então, deixar que Zezé fique com o dinheiro que ganhar, considerando que, a partir daquele momento, passarão a formar uma dupla musical. O menino fica orgulhoso, sente-se valorizado e propõe cantar a parte mais sensível da canção “Fanny”. Esse momento acaba por ser interrompido por D. Maria da Penha, uma beata, que os acusa de indecência por Zezé estar a cantar letras que ela considera imorais e ameaça denunciar ao padre, ao juiz de menores e à polícia. Ariovaldo, indignado, defende-se com firmeza e chega a puxar uma faca para a intimidar, afirmando que odeia pessoas que se metem na vida dos outros. A mulher vai embora enfurecida, mas o episódio revela os preconceitos sociais e morais da época.

    De tarde, em conversa com o companheiro, Ariovaldo reconhece a sorte que Zezé lhe trouxe nos negócios. Posteriormente, dialogam sobre Maria da Penha e o homem entrega-lhe um folheto para Glória. A conversa prossegue com humor e cumplicidade, mostrando a amizade sincera e o afeto entre ambos. Quando se despedem, Ariovaldo chama a criança de «anjo», mas este ri, consciente de que não é tão inocente quanto parece.

sexta-feira, 20 de junho de 2025

Resumo do capítulo IV de O Meu Pé de Laranja Lima

    A família muda para a nova casa. O trajeto é simples, mas cheio de pequenos momentos de alegria: a carroça desliza suavemente quando entra na estrada principal, passa por um carro bonito, o de Manuel Valadares, e Zezé reconhece ao longe o apito do Mangaratiba. Quando chegam à casa, a criança oferece ajuda, mas é dispensado com delicadeza para brincar. Assim, vai falar com Minguinho, o pé de laranja lima, e fala-lhe da viagem, promete enfeitá-lo e imagina o «valão» próximo, a que deram o nome Amazonas, cheio de canoas indígenas.
    Nos primeiros tempos após a mudança de casa, Zezé opta por não incomodar a nova vizinhança, mas certa tarde não resiste a construir uma figura semelhante a uma cobra, usando uma meia preta e linha de papagaio, com o objetivo de assustar alguém que passasse na rua. Ele põe o plano em prática e acaba por assustar uma mulher grávida, que entra em pânico e se sente tão mal que receia perder o filho. O alvoroço causado faz com que os vizinhos saiam de casa para procurar a cobra com paus e machados, mas logo descobrem que se trata de uma brincadeira. Ao perceberem que a «cobra» vem do quintal, a família desconfia da criança, que se esconde no cesto de roupa suja. Descoberto, leva uma valente tareia da mãe.
    Na manhã seguinte, vai procurar a «cobra», pois quer reutilizá-la, mas não a encontra, o que o deixa frustrado. De seguida, desloca-se até casa de Dindinha à procura de Tio Edmundo, convicto de que, por ser cedo, ainda não teria saído para as suas atividades quotidianas habituais: bicho e jornais. Encontra-o na sala a fazer paciências. Durante a conversa que entabulam, Zezé tenta explicar que recentemente se apercebeu de que não precisa de verbalizar em voz alta, por exemplo, uma cantiga, para que esta exista dentro de si, e quer saber se o homem é capaz de cantar por dentro, sem emitir som. Zezé acredita que dentro dele vivia um passarinho que cantava. Tio Edmundo compreende a metáfora e explica-lhe que esse passarinho simboliza a infância e a imaginação, acrescentando que, à medida que for crescendo, a ave se vai embora e dá lugar ao pensamento – um processo natural do amadurecimento. Deus, então, recolhe o passarinho e entrega-o a outra criança especial. O tio explica-lhe, assim, que está a desenvolver a sua capacidade para pensar, e a criança percebe, emocionado, que esses «pensamentos» fazem parte do crescimento e anunciam a chegada da “idade da razão”.
    Ao sair da casa de Dindinha, Zezé recorda um episódio triste: o dia em que Totoca se esqueceu do seu coleirinha – um passarinho real – ao sol e, por isso, ele morreu. Desde esse episódio, prometeram mutuamente nunca mais prender passarinhos. Dominado por essa recordação e pela conversa com o tio, a criança decide despedir-se do seu passarinho interior, vai falar com Minguinho e pede-lhe que esperem por uma nuvem que atravessa o céu. Ao avistá-la, abre a camisa como se soltasse o passarinho do seu peito, pedindo que voe até Deus e vá cantar para outra criança. Essa despedida representa a transição de Zezé da infância para o início da maturidade, que o deixa vazio por dentro e com uma grande tristeza com a partida do passarinho – a sua inocência, imaginação e infância.
    Acompanhado pela irmã Glória, Zezé matricula-se na escola, fingindo ter seis anos, e inicia uma nova etapa de descobertas. A irmã do protagonista explica à diretora que a mãe de ambos não pôde comparecer porque estava a trabalhar, e Zezé, orgulhoso, afirma que o nome completo da progenitora inclui «Pinagé», destacando, deste modo, as suas origens indígenas. A diretora apercebe-se da pobreza da família ao reparar nos remendos das roupas da criança e encaminha-o para receber dois uniformes, que o deixam muito feliz. Ele passa a viver com grande entusiasmo os seus dias, mantendo sempre Minguinho a par das novidades. É um bom aluno, atento e respeitador, muito valorizado pela professora, D. Cecília Paim. Certo dia, fica curioso ao ver uma menina a levar flores à docente e descobre que esse é um gesto comum entre alunos aplicados, por isso decide levar-lhe também uma flor. Apesar de não ser bonita, é a única que demonstra carinho por ele, oferecendo-lhe um tostão para comprar doces.
    Em nova conversa com o pé de laranja lima, Zezé conta-lhe uma nova «aventura»: apanhar boleia nos carros, agarrando-se ao pneu traseiro enquanto andam devagar perto da escola, uma brincadeira que ele apelida de “morcego de andar”. Por outro lado, revela igualmente o seu orgulho por ter sido elogiado pela professora, que o considerou o melhor leitor da turma, embora tenha dúvidas sobre a palavra «leitureiro». Na sequência, menciona um veículo especial que ninguém teve coragem de «morcegar»: o de Manuel Valadares.
    Zezé está cada vez mais envolvido com a escola e muito feliz com o carinho da professora, que presenteia com uma flor, o que a leva a chamar-lhe «cavalheiro». Ele tem um bom comportamento durante as aulas. Certo dia, aguarda ansiosamente o regresso da mãe do trabalho, pois tem um segredo para lhe contar. Quando ela chega, a criança pede-lhe para comprar um fato usado de um colega, Nardinho, pois já não lhe serve e Zezé quer ter uma “roupa de poeta”. Apesar das dificuldades financeiras da família, a mãe comove-se e promete-lhe fazer horas extraordinárias para comprar o fato. A criança fica emocionada e, mais tarde, veste a roupa nova (de poeta) com tanto orgulho que o Tio Edmundo o leva a tirar uma fotografia.
    No final do capítulo, Zezé é confrontado pela professora, após um colega, Godofredo, lhe contar que roubava flores do jardim de um vizinho para enfeitar a sala de aula. O menino admite o furto, alegando que queria que D. Cecília Paim tivesse flores como as outras. Como, em sua casa, não há nenhum jardim nem dinheiro para as comprar, teve de as «roubar». Além disso, acrescenta que, sendo as flores de Deus, elas pertencem a todos. A totalidade do diálogo revela a ingenuidade, a generosidade e a sensibilidade da criança: ele recusa receber o lanche da professora diariamente para que outros colegas também tenham a possibilidade – nomeadamente Dorotília, uma menina negra e muito pobre, com quem divide o lanche. Ele aprendeu com a mãe que deve compartilhar a pouca riqueza que possui com quem tem menos ainda. Sensibilizada pelas palavras e gestos de Zezé, a professora fica emocionada, pede-lhe que não volte a levar flores roubadas e garante-lhe que o copo nunca mais voltará a ficar vazio, pois, ao olhar para ele, imaginará sempre a flor mais bonita, dada pelo seu melhor aluno.

quinta-feira, 19 de junho de 2025

Resumo do capítulo III de O Meu Pé de Laranja Lima

    Zezé mostra-se preocupado com a possibilidade de o morcego Luciano, seu amigo imaginário, não o acompanhar na mudança de casa. Por isso, fala com Tio Edmundo, que o tranquiliza, dizendo que o bicho tem sentido de orientação e que, se não puder ir, enviará um parente no seu lugar, porém o menino continua inseguro, visto que o morcego não sabe ler e talvez se perca pelo caminho.
    Ao ser lembrado pelo seu amigo Biriquinho que, no dia seguinte, um camião, enviado pelo dono da fábrica, iria distribuir brinquedos a crianças mais pobres, numa zona distante da cidade, Zezé fica animado e quer ir, considerando que essa pode ser a possibilidade de haver presentes no Natal e tenta convencer Glória a acompanhá-los. A irmã não vai, pois não tem tempo, dado que está ocupada com a mudança, mas começa a ponderar uma solução: levá-los ao portão para ver se alguém conhecido pode ir com eles. Acabam por ser acompanhados pelo carteiro, seu Paixão, no entanto, a meio do caminho, alega estar com pressa e abandona as crianças, afirmando que dali em diante não há perigo. Zezé fica revoltado, mas continua o caminho, segurando a mão do irmão, já cansado. Quando este se queixa dos pés e da fadiga, aquela leva-o um pouco ao colo. Ao chegarem ao destino – a Rua do Progresso –, a distribuição de brinquedos já terminara, o que deixa Zezé devastado por não conseguir dar um presente a Luís. Senta-se com o irmão e tenta consola-lo, prometendo dar-lhe “Raio de Luar”, o seu cavalinho de brincar e que, um dia, quando crescer, lhe comprará um carro cheio de presentes só para ele. Luís tenta conter as lágrimas, mas a sua desilusão é grande. O irmão diz-lhe que os reis não choram, no entanto, interiormente, sente-se esmagado e culpa-se, considerando que o Menino Jesus não gosta dele e que o está a castigar por ser “afilhado do diabo”, enquanto Luís, um verdadeiro anjo, não merecia aquela tristeza. Por fim, cede ao choro e, consumido pela culpa e pela dor, diz que não é um rei como Luís, que é apenas “um menino muito malvado”.
    A cena seguinte compreende um diálogo entre Zezé e Totoca, que está a construir o novo corpo de um brinquedo, o “Raio de Luar”. A criança elogia a habilidade do irmão em construir coisas e lamenta não possuir o mesmo talento. O Natal aproxima-se e a ceia está a ser preparada com simplicidade: rabanadas molhadas em vinho. Isto só foi possível graças à ajuda financeira de Tio Edmundo, o que evidencia as condições precárias da família, que necessita da solidariedade alheia.
    Neste contexto, Zezé receia não receber nenhum presente de Natal e questiona-se se será uma criança má, como algumas pessoas dizem. Totoca responde-lhe com firmeza: o irmão não é malvado, mas tem “o diabo no sangue”, o que é uma forma popular de dizer que é arteiro. Com a chegada da noite de Natal, Zezé mantém a esperança do nascimento do Menino Jesus nele, e não o “Menino Diabo”, o que evidencia um conflito interno entre a sua natureza e seu desejo de ser amado e reconhecido como um menino bom. Totoca procura diminuir-lhe as expectativas, para amenizar a mais que provável desilusão do irmão, e compartilha a sua filosofia: não esperar nada, para não se dececionar. Em simultâneo, sugere que, apesar do discurso religioso, o Natal só parece ser bom para os ricos, exemplificando com casas vizinhas, cheias de fartura. De seguida, Totoca fica em silêncio, sentindo-se culpado por ter dito algo que pode ser um pecado. A dureza da vida que levam faz as crianças questionar até mesmo a bondade divina, o que constitui uma crítica implícita às desigualdades sociais e ao abandono das famílias pobres.
    Durante a ceia, o ambiente em casa de Zezé é tão triste que ninguém sorri ou fala, perante a evidência da miséria da família, que nem permite sequer uma refeição adequada. O pouco que é posto na mesa chega por meio de Tio Edmundo, que procura mitigar, sem sucesso, aquele ambiente de profunda tristeza. O pai mal prova a rabanada, está abatido e não se barbeia, acabando por sair de casa em silêncio, calçando os seus tamancos, sem desejar as boas festas. Dindinha, emocionada, pede a Tio Edmundo para se ir embora. A mãe retira-se silenciosamente para o quarto, provavelmente para chorar sozinha. Glória e Jandira lavam a louça. Aquela tem os olhos vermelhos, disfarça o choro e manda os irmãos mais novos para a cama. O clima é tão fúnebre que Zezé compara o momento a um velório, e não ao nascimento de Jesus.
    Já na escuridão do quarto, Zezé tenta iniciar uma conversa com Totoca sobre rabanadas e este revela não ter comido nada, por causa da tristeza que o consome. Apesar de todo o ambiente vivido, Zezé insiste em deixar os sapatos à porta, com a esperança de receber alguma coisa, na manhã seguinte.     Porém, ao despertar, constata que não recebeu qualquer presente e desabafa que é muito triste ter um pai pobre, sem reparar que este está perto e ouve aquele queixume. Este facto deixa o progenitor profundamente triste e magoado, enquanto Zezé fica cheio de remorsos ao observar a tristeza nos olhos do pai. Arrependido e desejando redimir-se, sai de casa com a sua caixa de engraxar, disposto a trabalhar para ganhar algum dinheiro, com o objetivo de conseguir comprar um presente para compensar o pai pela dor que lhe causara.
    Deste modo, enfrenta várias horas de calor, fome, cansaço e frustração, pois não consegue muitos clientes, em virtude de as ruas estarem quase desertas, só povoadas pelas crianças que brincavam com os seus presentes novos, circunstância que acentua mais a sua certeza de que está a ser castigado por ser ruim. Depois de conseguir muito pouco dinheiro, fruto sobretudo da caridade de quem percebeu as dificuldades por que Zezé passava (seu Coquinho compadece-se dele e paga bem pelo serviço; uma senhora rica sensibiliza-se também e manda o filho dar-lhe dinheiro), encontra Serginho, um colega de escola de Totoca muito rico, que exibe os seus presentes de Natal (uma bicicleta nova, uma vitrola, livros e jogos). Ao aperceber-se da tristeza de Zezé, procura ajudá-lo, convidando-o para sua casa para comer, mas a criança recusa, lembrando-se de experiências humilhantes passadas. Finalmente, ao saber que Zezé necessita apenas de dois tostões para algo importante, Serginho empresta-lhe o dinheiro que falta. O menino aceita, com a condição de pagar depois, mesmo que com bolas de gude, e corre para comprar um pacote de cigarros para o pai, que fica muito emocionado com o presente.

segunda-feira, 16 de junho de 2025

Resumo do capitulo II de O Meu Pé de Laranja Lima

    O capítulo abre com Zezé a explicar que, na sua família, os mais velhos tomavam conta dos mais novos e relembra com carinho a relação com os irmãos, especialmente com Lalá, que já não lhe dá tanta atenção desde que começou a namorar. Deste modo, a relação mais próxima atualmente é a que mantém com o mais novo, Luís, por quem Zezé demonstra grande carinho e responsabilidade.
    Os dois irmãos vão brincar para o quintal e Zezé, com a sua fértil imaginação, transforma o espaço num zoológico (que, na verdade, não passa de um galinheiro), na Europa e até num campo de aviação, imaginando que o morcego Luciano era um avião. A criança inventa histórias, dá nome a lugares e cria brinquedos com objetos simples, tudo para entreter o irmão, bem como para se proteger do mundo que o rodeia, já que é frequentemente punido pelas suas travessuras.
    Enquanto brincam, Zezé escuta a conversa entre Glória e Lalá sobre si e apercebe-se de que elas já têm conhecimento de uma das suas últimas travessuras – cortar uma corda de roupa com um pedaço de vidro. Ele sente-se culpado e, resignadamente, aceita a punição que certamente se seguirá.
    A mãe decide que todos devem ir visitar a casa nova, para onde se mudarão dois dias após o Natal, facto que desperta em Zezé a recordação da dura infância da progenitora, impedida de frequentar a escola e forçada a trabalhar desde os seis anos. Este passo suscita o tema do Natal, abordado num tom triste e melancólico, em virtude da pobreza da família. Zezé, não obstante, tem alguma esperança no nascimento do Menino Deus.
    Ao visitarem a casa pela primeira vez, cada irmão escolhe uma árvore do quintal. Zezé fica para trás e entristece, porque as melhores já foram escolhidas. Glória tenta animá-lo e indica-lhe um pé de laranja lima. Inicialmente, o menino rejeita-o, mas Glória destaca o facto de serem ambos muito jovens e de poderem crescer juntos, como irmãos. Depois de escolher a sua árvore, Zezé sente-se insatisfeito e frustrado, desejando ser muito rico no futuro para poder comprar uma selva inteira. Nesse momento, enquanto está sentado no chão, só e a choramingar, a árvore fala pela primeira vez com a criança, dizendo-lhe que concorda com Glória e que ela iria perceber que tinha feito uma boa escolha. Zezé reage com admiração, mas rapidamente se deixa encantar pela forma como a árvore lhe explica que a ligação entre os dois é única e especial. A partir desse momento e até a mudança de casa se concretizar, o menino visita o pé de laranja lima – que passa a chamar Minguinho – com regularidade. Rapidamente, cria um vínculo mágico com a árvore, imaginando que falam um com o outro. O pé passa então a representar um refúgio emocional para Zezé, um amigo secreto que o compreende e escuta. O capítulo termina com o menino a declarar que, mesmo se pudesse trocá-lo por outras árvores, não o faria.
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