terça-feira, 17 de junho de 2025
segunda-feira, 16 de junho de 2025
Resumo do capitulo II de O Meu Pé de Laranja Lima
domingo, 15 de junho de 2025
Benfica é tetracampeão de basquetebol masculino!
Regime iraniano sob ataque
O cartune,
da autoria de Christian Adams, aborda o ataque de Israel à República
Islâmica do Irão, representando simbolicamente a destruição dos alicerces
do regime teocrático. Através da imagem de uma estátua sendo atacada por
mísseis, o cartunista critica a rigidez do poder religioso e aponta para a sua
crescente instabilidade, diante de pressões externas e/ou internas. É uma
representação política visual que sugere a fragilidade de um sistema que
aparenta solidez, mas está sob ataque.
Em
primeiro plano, encontramos uma estátua imponente do líder iraniano Ali Khamenei.
A figura está de pé, trajando vestes religiosas tradicionais — túnica longa e
turbante — com expressão severa e uma das mãos levantadas em gesto de
autoridade ou bênção, o que remete para o poder teocrático iraniano. A
escultura é feita em pedra acinzentada, reforçando a ideia de rigidez,
conservadorismo e culto à personalidade. Na base da estátua, lê-se parcialmente
a inscrição "ISLAMIC REPUBLIC" (República Islâmica), que está rachada
e a ser atingida por explosões. Vários mísseis atingem ou dirigem-se para a sua
base, vindos de diferentes direções. As explosões são intensas, com cores
quentes como vermelho, laranja e amarelo, em forte contraste com os tons frios
do restante da imagem. Esses elementos criam uma sensação de tensão, destruição
iminente e conflito direto. O facto de os ataques se concentrarem na base da
estátua é simbólico: indica que os fundamentos do regime estão a ser atingidos
na tentativa de os destruir, mesmo que sua “fachada” ainda permaneça em pé,
embora inclinada.
Num plano mais afastado, deparamos
com a cidade de Teerão, capital do Irão, identificável pela sua paisagem
urbana e pela presença da Milad Tower, um dos marcos mais reconhecíveis
da urbe. Os edifícios são modernos, sugerindo uma sociedade urbana, dinâmica e
conectada ao mundo contemporâneo. As cores utilizadas são predominantemente
frias e claras (tons de azul, cinza e branco), criando um contraste com as
explosões vibrantes do primeiro plano. Esse fundo urbano representa a população
civil, a modernidade e a vida real que existe paralelamente à
estrutura teocrática representada pela estátua. Pode também simbolizar o
contraste entre o desejo de progresso da sociedade iraniana e o conservadorismo
do regime vigente.
Ao fundo, estão representadas as montanhas
nevadas, que representam a cordilheira de Alborz, que cerca Teerão.
Elas estão pintadas em tons de branco e azul claro, transmitindo uma sensação
de solidez, permanência e tranquilidade natural. Esse elemento pode ter um
duplo simbolismo: por um lado, reforça a geografia iraniana, situando o
cenário de forma inequívoca; por outro, pode simbolizar a resistência do
povo iraniano, ou até a ideia de que o país (a terra, o território)
permanece, independentemente das estruturas de poder que nele se ergam ou
desmoronem. A paz das montanhas contrasta diretamente com o caos e destruição
do primeiro plano.
Em
suma, este cartune utiliza metáforas visuais potentes para retratar os ataques
que Israel está a desferir sobre o regime da República Islâmica do Irão, a
pretexto de destruir a ameaça que constitui o seu programa nuclear. A estátua
representa o poder teocrático, rígido e autoritário, enquanto os mísseis e
explosões indicam que esse poder está sendo desafiado e corroído, especialmente
nas suas fundações. A cidade moderna ao fundo aponta para uma sociedade que
deseja avançar, enquanto as montanhas evocam permanência e resiliência. A obra
transmite uma mensagem clara: apesar da aparência imponente do regime, as suas
bases estão sob ataque — e talvez prestes a ruir.
sexta-feira, 13 de junho de 2025
Estrutura de O Meu Pé de Laranja Lima
Análise de O Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos
I. Vida de José Mauro de Vasconcelos
II. Obras
III. Obra
IV. Época
V. Ação
1. Resumo
2. Estrutura
3. Resumo dos capítulos
3.1. Primeira parte
3.1.1. Primeiro capítulo
3.1.2. Segundo capítulo
3.1.3. Terceiro capítulo
quinta-feira, 12 de junho de 2025
Resumo do capitulo I de O Meu Pé de Laranja Lima
quarta-feira, 11 de junho de 2025
Resumo de O Meu Pé de Laranja Lima
O Meu Pé de Laranja Lima é uma obra narrativa autobiográfica que relata a infância sofrida e as desventuras de Zezé, um menino de cinco anos natural de Bangu, periferia do Rio de Janeiro, no final dos anos 20 do século XX. Muito esperto e independente, aprende a ler sozinho e, como qualquer criança deixada solta, “vive aprontando”, expressão que designa as asneiras e partidas que prega e que, regra geral, têm consequências desastrosas para quem as faz e as sofre: “Aprendia descobrindo sozinho e fazendo sozinho, fazia errado e fazendo errado, acabava sempre tomando umas palmadas.”
A sua vida é tranquila e estável, habita uma casa confortável e vive com conforto material, até ao momento em que o pai perde o emprego e a mãe se vê forçada a trabalhar na cidade, mais especificamente no Moinho Inglês, uma fábrica de tecidos. Para agravar a situação, a família é extensa – Zezé tem cinco irmãos: Glória, Totoca, Lalá, Jandira e Luís. Operária na fábrica, a mãe passa o dia a trabalhar enquanto o pai, desempregado, fica em casa e começa a beber. Em virtude da nova situação para que é arrastada, a família vê-se forçada a mudar de casa e a levar uma vida modesta, por isso não é de espantar que os Natais outrora fartos sejam substituídos pela mesa vazia e por uma árvore sem presentes. No quintal da nova residência, existem diversas árvores, e cada membro da família escolhe uma para chamar sua. Zezé é o último a escolher e fica com um modesto pé de laranja lima, com o qual mantém longas conversas e a que chama carinhosamente Minguinho e Xururuca. Dadas a sua traquinice e as constantes travessuras, é frequente ser agredido fisicamente pelos pais e pelos irmãos, indo depois consolar-se com a árvore. Certa vez, foi sovado de tal maneira por uma das irmãs e pelo pai que ficou uma semana sem ir à escola.
A outra grande amizade de Zezé é Manuel Valadares, também conhecido por Portuga, um emigrante português que trata a criança com o afeto, a atenção e paciência que não tinha em casa. Por uma fatalidade do destino, Valadares é atropelado pelo comboio e morre, evento que tem um fortíssimo impacto em Zezé, que fica doente. Outro acontecimento dramático marca negativamente a sua vida: o pé de laranja lima é cortado por ter crescido mais do que era suposto.
Zezé recupera e recomeça avida, apesar de sentir um enorme vazio. Entretanto, a situação económica da família melhora quando o pai encontra emprego numa fábrica. Por outro lado, não há também motivo para temer o corte do pé de laranja lima, dado que tal não acontecerá tão cedo. É neste contexto que a história termina, com Zezé a assumir simbolicamente que a sua árvore amiga já fora cortada, associando-a ao desaparecimento do Portuga, sem o pai perceber.
A ação termina com o narrador a ser um Zezé agora adulto que se dirige a Manuel Valadares, mais de quarenta anos depois, e lhe confessa o impacto que teve na sua existência. Por outro lado, desabafa a influência que teve em si o facto de ter sido precocemente atingido pela realidade dura e cruel, que choca com a inocência, a alegria e a esperança que deveriam caracterizar a infância.
Época de escrita de O Meu Pé de Laranja Lima
terça-feira, 10 de junho de 2025
A obra de José Mauro de Vasconcelos
Obras de José Mauro de Vasconcelos
. Banana Brava
(1942)
. Barro Blanco
(1945)
. Longe da Terra
(1949)
. Arara Vermelha
(1953)
. Arraia de Fogo
(1955)
. Rosinha, Minha Canoa
(1962)
. Doidão (1963)
. O Garanhão das Praias
(1964)
. O Meu Pé de Laranja
Lima (1968)
. Rua Descalça
(1969)
. O Palácio Japonês
(1969)
. Farinha Órfã
(1970)
. Chuva Crioula
(1972)
. O Veleiro de Cristal
(1973)
. Vamos Aquecer o Sol
(1974)
segunda-feira, 9 de junho de 2025
Biografia de José Mauro de Vasconcelos
sexta-feira, 6 de junho de 2025
Trump e Putin e o Bastardistão
1. Introdução
sábado, 31 de maio de 2025
Trump e Putin a brincar com o fogo da guerra
Este cartune, de forte teor crítico e simbólico, retrata os
líderes Donald Trump e Vladimir Putin, respetivamente dos Estados Unidos e da Rússia, em trajes primitivos, agachados ao redor
de uma fogueira onde arde uma espécie de rolo de madeira das cores da Ucrânia com a palavra “Ukraine”, numa cena que evoca
o homem pré-histórico, fazendo uso do fogo no interior de uma caverna (sugerida
pelo fundo da imagem escuro) para cozer alimentos. A cena é carregada de ironia
e simbolismo político, aludindo diretamente ao conflito entre a Rússia e a
Ucrânia, mas também à postura ambígua dos Estados Unidos em relação ao mesmo.
Donald Trump aparece a segurar um pau com um pombo branco (símbolo da paz) preso na ponta, que está a assar diretamente sobre
o fogo. O pombo transporta no bico um ramo de oliveira verde (símbolo da esperança e da vida), reforçando a imagem da
paz ameaçada. Ao mesmo tempo, Trump dirige-se a Putin com a frase: “Vlad, don’t
play with fire!” (“Vlad, não brinques com o fogo!”). Esta fala metafórica
comporta uma pesada carga de ironia, pois ele próprio está a contribuir
ativamente para o agravamento do conflito, demonstrando uma hipocrisia
implícita — alerta o outro para o perigo enquanto pratica uma ação igualmente
incendiária.
Putin, por sua vez, é representado com uma expressão feroz e
uma postura agressiva, lançando mísseis em direção ao lume. A sua atitude deixa
claro o papel ativo da Rússia no conflito (o iniciador e instigador), reforçando a ideia de que está a
alimentar intencionalmente as chamas da guerra.
A imagem do fogo, símbolo universal de destruição, violência
e descontrolo, representa aqui a guerra na Ucrânia. Recordemos que o seu domínio foi uma das maiores conquistas da humanidade, símbolo de poder e
sobrevivência. Neste cartune, o fogo é usado para “cozinhar” a paz,
representada pelo pombo, o que sugere que esses líderes ainda lidam com os
conflitos de forma bárbara, destrutiva e impulsiva, como se estivessem
presos a uma mentalidade arcaica. Por sua vez, o toro com a inscrição “UKRAINE”
funciona como base da fogueira, indicando que é este território o foco da
destruição e da disputa de poder entre as grandes potências.
Ambos os líderes estão infantilizados e caricaturados, com
corpos desproporcionais e em trajes ridículos, o que pode ser interpretado como
uma crítica à sua falta de maturidade e responsabilidade, bem como à ausência
de racionalidade que os caracteriza. Esta escolha estética sugere que, apesar
do poder que detêm, comportam-se como crianças inconscientes das consequências
das suas ações.
Em suma, o cartune utiliza o humor negro e a caricatura para expor a incoerência e a irresponsabilidade dos líderes mundiais perante um conflito de grande escala. Ao apresentar Trump como alguém que parece apelar à paz enquanto participa na sua destruição e Putin como o instigador ativo da violência, a imagem comporta uma crítica contundente: a paz está a ser sacrificada por egos políticos, jogos de poder e atitudes que, embora envoltas em discursos oficiais, são profundamente destrutivas. É uma representação visual poderosa da complexidade e da tragédia geopolítica contemporânea.
domingo, 25 de maio de 2025
domingo, 18 de maio de 2025
domingo, 11 de maio de 2025
Benfica é campeão nacional em baquetebol feminino
quinta-feira, 8 de maio de 2025
Benfica é campeão de voleibol feminino
sábado, 3 de maio de 2025
sexta-feira, 2 de maio de 2025
"Amor, co'a esperança já perdida", análise do poema de Camões
Este soneto, com rima interpolada e emparelhada nas quadras e interpolada nos tercetos, segundo o esquema rimático ABBA / ABBA / CDE / CDE, e versos decassilábicos sáficos (vv. 8 e 10) e heroicos (os restantes), aborda o tópico navigium amoris, herdado dos poetas gregos e latinos, ou seja, o amor – personificado enquanto divindade – é como um mar tempestuoso, o mar das paixões amorosas, em que se debate o barco que simboliza o amante.
O «eu» poético dirige uma apóstrofe ao Amor personificado, comunicando-lhe ter visitado o seu templo depois de ter perdido a esperança por ter ficado sem o seu amor. Segundo Faria e Sousa, Camões cantou as esperanças de duas formas: “la primera por las finezas de sus amores que dulcemente cantava; la segunda la de sus cantos celebrando la Patria y los Heroes della”. Neste soneto, o poeta recorre à renuntiatio amoris como motivo principal, construída sobre a metáfora do naufrágio amoroso. A primeira quadra versa precisamente sobre a representação do motivo do ex-voto,isto é, o sofrimento amoroso é comparado a uma tempestade da qual o marinheiro foi salvo e, por isso, leva as suas oferendas ao templo como agradecimento à divindade que o salvou. A fonte de inspiração de Camões foi a ode 5 do livro I de Horácio. Por outro lado, além deste soneto, ele aborda o mesmo tópico noutros poemas, como, por exemplo, “Como quando do mar tempestuoso”. Camões, neste soneto, apresenta a oferta do ex-voto não no formato de roupas, mas sim a própria vida. Por outro lado, se Horácio e Garcilaso, nos seus poemas, agradecem por ainda estarem vivos e livres desse amor, o poeta português doa a sua “alma, vida e esperança”, lamentando o facto de ainda estar vivo, e queixando-se da privação desse amor.
Apesar do texto fixado por Costa Pimpão apresentar o termo «soberano» no segundo verso, as fontes manuscritas trazem «sagrado», divergência que é entendida por alguns estudiosos como uma correção imposta pela censura, desde logo porque não é o único caso em que aquela modificou o texto de um poema camoniano. De facto, a censura foi uma prática tradicional da Igreja, que, na luta contra a heresia, proibia a publicação de termos pouco ortodoxos, como, por exemplo, tratar como «sagrado» o templo do Amor. Sendo exclusivamente reservado ao uso religioso, esta palavra pertence à lista de vocábulos que foram objeto de censura.
O «eu» poético – aquele que ama – deposita a alma, a vida e a esperança mo templo do Amor, em vez das oferendas comumente dadas aos deuses pelos náufragos como forma de agradecimento. Regra geral, os náufragos seguiam até ao templo dos deuses para agradecer o facto de ainda estarem vivos, porém Camões atua de forma inversa, isto é, coloca o sujeito poético a deslocar-se ao templo para protestar o facto de ainda estar vivo e questiona o desejo de vingança do próprio Amor, que é percebido como entidade hostil, chegando mesmo a afirmar que a maior vingança seria deixá-lo vivo a chorar do que tirar-lhe a vida: “nelas podes tomar de mim vingança; / e se inda não estás de mim vingado, / contenta-te com as lágrimas que choro.” (vv. 12-14).
O sujeito lírico põe a sua vida em vez das oferendas habitualmente feitas, porque já se considerava morto para as pretensões do mundo, em particular as amorosas, ou porque desejava morrer. O nome «vestidos» (v. 4) alude ao facto de o náufrago, depois de escapar ao perigo, pendurar as vestes e outros despojos do naufrágio, como ex-voto, na parede do tempo do deus invocado durante a tempestade em alto mar. Os «vestidos» eram os principais testemunhos de um naufrágio, que eram colocados no templo. Esta passagem do soneto forma uma imagética associada ao tópico do naufrágio amoroso.
A imagem do templo do Amor, presente na primeira quadra, pode assumir três formas diferentes. A mais simples é o templo como igreja, que encontramos, por exemplo, em Malatesta Malatesi. Noutra, templo é usado como metáfora do corpo, nomeadamente da pessoa amada, como sucede com Pietro Bembo ou Bernardo Capello, que assinala as semelhanças entre o templo do Amor e o rosto da mulher amada: as portas são os lábios; o teto é o cabelo louro, que cobre paredes de mármore brancas e vermelhas, isto é, a face; o grande tesouro são as próprias tranças de ouro. Por vezes, o templo refere-se ao coração do amante, dado que guarda o culto e a memória da imagem amada.
Nos dois versos iniciais da segunda quadra, o «eu» poético questiona Amor, perguntando-lhe que mais poderá querer dele, depois de ter destruído toda a glória que alcançara, isto é, o privilégio de ter vivido um amor sublime. O facto de poder desfrutar, ou não, deste amor está no poder da divindade. No momento em que decide retirá-lo, é considerado pelo que ama como um tirano. Os dois versos seguintes, por meio da metáfora e do oximoro, apresentam a recusa do sujeito lírico em “tornar a entrar onde não há saída”, ou seja, num caminho sem saída.
O verso 9 apresenta uma enumeração de três nomes: «alma», «vida» e «esperança», dois dos quais se encontram no primeiro («esperança») e no quarto («vida») da primeira quadra. Esses três nomes designam os «despojos», os restos ou fragmentos do passado. Na prática, os versos 9 e 10 patenteiam o jogo dialético, bem característico de Camões, entre o bem passado (“de meu bem passado”) e o mal presente. Esse bem durou “enquanto quis aquela que eu adoro.” (v. 11), ou seja, enquanto lhe correspondeu amorosamente?
O segundo terceto constitui o clímax do soneto. O sujeito poético, depois de ter oferecido a sua alma, vida e esperança, acaba oferecendo as suas próprias lágrimas – o seu sofrimento, a sua mágoa, a sua dor –, que são para ele mais dolorosas do que a própria morte. Atente-se no recurso ao poliptoto (figura de estilo que faz a alteração flexional de uma parte do corpo da palavra) de “mim vingança” / “de mim vingado”. Note-se que o Amor é representado, nesta composição poética, como uma entidade mítica caracterizada como omnipresente e possuidora de uma natureza vingativa (“destruída / me tens a glória toda que alcancei.” – vv. 5-6; “podes tomar de mim vingança” – v. 12; “não estás de mim vingado” – v. 13). Por outro lado, o texto desenvolve-se num crescendo: nas duas quadras, os verbos encontram-se maioritariamente no passado (pretérito perfeito: «visitei», «passei», «pus»), enquanto os tercetos começam e terminam com os verbos no presente («Vês» e «choro»), o que significa que o futuro está excluído, pois o sujeito poético não consegue libertar-se dessa prisão do Amor, prefere a morte e, portanto, não é capaz de se projetar num futuro.
Ainda relativamente ao segundo terceto, nomeadamente o verso 12, focado no tema da vingança não é caso único na obra camoniana, onde aquele que ama, tendo perdido a esperança, afirma preferir morrer a viver no seu tormento de amor. É o que sucede, por exemplo, no soneto “Se algu’hora em vós a piedade”, no qual Camões declara o seguinte: “tomarão tristes lágrimas vingança / nos olhos de quem fostes mantimento. // E assim darei vida a meu tormento; / que, enfim, cá me achará minha lembrança / sepultado no vosso esquecimento.” Note-se que Camões, além de usar nomes como «vingança», culmina o soneto com o termo «sepultado», indiciando novamente que a morte é a única fonte de liberdade.
terça-feira, 29 de abril de 2025
"O vencedor vencido": análise do poema, de Isabel Gouveia
quinta-feira, 24 de abril de 2025
"Paz": análise do poema de Tomaz Kim
Aqui foi a casa:
Alva a toalha e o pão,
O berço além.
Breve a canção:
Bater de asa
O sorriso de mãe.
Veloz a hora:
Agora,
Só o coaxar noturno e certo
Das rãs,
Enche o campo deserto.
A
segunda estrofe é constituída por imagens que sugerem o domínio do passageiro,
como o exemplifica a alusão à canção breve, símbolo da transitoriedade. Essa
ideia é reforçada pela imagem do “Bater de asa”, que indicia o efémero, o
fugaz, como o tempo e a infância que passam. Também o sorriso da mãe constitui
uma imagem forte que transmite s noções de calor humano, carinho, afeto,
proteção, bem como um sentimento quase sagrado, ligado ao cuidado e à memória
afetiva. Esse sorriso e tudo o que ele simbolizava foi um bater de asa, não foi
duradouro; pelo contrário, foi passageiro – pelo menos, é essa a sensação do
sujeito lírico – e já não existe mais, pois pertence a um passado que já passou
e não voltará. Tudo passou muito rápido, como o bater de asas de uma ave.
A
terceira e última estrofe abre com um verso que retoma o tema central do texto:
a passagem do tempo e a brevidade da vida – “Veloz a hora”. O passado a que se
referiu anteriormente passou depressa. De seguida, através do advérbio de tempo
«agora», salta para o presente, que é um tempo que contrasta com o passado. De
facto, atualmente, não há mais risos, alegria, carinho, proteção, nem vida
doméstica e familiar, que foram substituídos pelo “coaxar noturno e certo das
rãs”. A noite é uma parte do dia propícia à solidão e à reflexão. Essa solidão,
agora, é preenchida apenas pelo som do coaxar das rãs. O ambiente, que outrora
era pautado pela presença humana, hoje é ocupado unicamente pelo elemento
animal. Por outro lado, a alusão ao coaxar dos batráquios remete para um som
constante, repetitivo, monótono, que preenche o silêncio, mas não traz alegria
ou felicidade ao sujeito poético. Em suma, do passado restam apenas as
lembranças, pois agora tudo é solidão, tristeza, monotonia e melancolia.
O poema
fecha com a imagem do “campo deserto”, o que remete para uma imagem de solidão.
Agora, o tempo passou e só resta o som das rãs, num lugar vazio, apenas
preenchido pelas lembranças. Deste modo, o “campo deserto” constituirá uma
metáfora da ausência, do presente esvaziado da presença humana e do afeto,
carinho e amor que antes caracterizava aquele espaço, o que contrasta
intensamente com a imagem da casa evocada nos versos anteriores. Note-se que um
campo pode ser associado a um lugar fértil, aberto à vida, à natureza, porém,
quando é adjetivado como «deserto», passa a significar abandono, silêncio e
solidão. O campo, que antes era habitado, sinónimo de família, amor e
intimidade, preenchido por sons humanos, agora é dominado pelo silêncio humano.
O tempo passou, a vida desapareceu daquela casa, e, presentemente, sobra
unicamente o eco da memória. O adjetivo «noturno», além do já referido, remete
para a noite, para o fim do dia, o que, simbolicamente, simboliza o fim de um ciclo,
a morte e o esquecimento. O adjetivo «certo» significa que o som das rãs é
constante, inaceitável, repetido – ele substitui os sons humanos do passado,
como a voz da música, o som da canção, o riso.
Nesse
contexto, as imagens da “toalha alva”, do “pão”, do “berço” e do “sorriso de
mãe” contrastam com o “coaxar noturno e certo / Das rãs” e o “campo deserto”,
desde logo porque as imagens dos dois tercetos carregam valores simbólicos de
acolhimento, alegria, calor humano, afeto, memória afetiva e pureza. A “toalha
alva” simboliza as ideias de limpeza, ordem, cuidado, enquanto o “pão” remete
para a nutrição, a vida e a comunhão familiares. O “berço” associa-se
claramente ao tempo da infância, da origem da vida e do amor protetor. Por seu
turno, o “sorriso de mãe” representa ternura, proteção, ideias sugeridas pela
figura materna. Tudo isto trabalha para construir uma imagem de aconchego,
proteção e vida familiar e íntima, onde há afeto e relações humanas. Pelo
contrário, o “coaxar noturno e certo das rãs” e o “campo deserto” associam-se a
outro universo simbólico. De facto, esses elementos representam a natureza
impessoal, que continua o seu percurso após a partida dos seres humanos,
levados pela morte. O som das rãs é repetitivo, monótono, quase mecânico,
opondo-se ao da canção, alegre, e à espontaneidade do sorriso materno. Por sua
vez, o campo deserto é um espaço aberto, sem limites e sem proteção, silencioso
e solitário, contrastando com o lar fechado, íntimo, familiar e seguro que constituía
a casa da infância. Este contraste traduz a passagem do tempo – desde logo
sugerida pela estrutura fragmentada do poema (os versos curtos e a ausência de
pontuação) – que tem como consequência a perda de uma presença afetiva e a
transformação do espaço vivido em espaço de memória.
O título
do poema, tendo em conta que o texto evoca tanto a memória de um passado alegre
e afetuoso quanto o vazio e a desolação do presente, pode parecer curioso. Por
um lado, pode representar a paz que surge como a solidão e o silêncio após as
mudanças ocorridas por efeito da passagem do tempo, ou seja, o presente é
desolador, mas, ao mesmo tempo, é silencioso, calmo. Tratar-se-á da paz de um
espaço desabitado, hoje de contemplação após a passagem do tempo, ou a paz num
sentido fúnebre ou espiritual, quer dizer, a que surge com a morte, com o fim
de um tempo, de um ciclo. Por outro lado, o título pode ser entendido com a
memória de um passado bom. Neste sentido, a casa do passado simboliza uma forma
de paz vivida: havia comida, amor, segurança e proteção. Esta paz vem associada
à simplicidade da vida familiar e quotidiana, ao pequeno e singelo gesto que
perdura na memória. Em suma, o título constitui uma espécie de síntese do
poema: um trajeto do afeto ao silêncio, da vida à lembrança, da presença à
ausência.
Análise do poema "De Amor", de Francisco José Viegas
tenho vontade de recomeçar,
reerguer escombros,
ruínas, tarefas de pão e linho,
não dar
nome às coisas senão o de um vago
esquecimento
abandono. despede-te de mim como
se a vida
recomeçasse agora, não me procures
onde
a memória arde e o destino se
ausenta.
tudo são banalidades, afinal,
quando assim
se recomeça e a vida falha como um
material
solar e ilhéu. levamos poucas
coisas, basta
um pouco de ar, os objetos fixos,
em repouso,
os muros brancos de uma casa, o
espaço
de uma mão. arrumo as malas e os
sinais,
aquilo que nos adormece em plena
tempestade.
A
terceira estrofe – novamente uma quadra, à semelhança da primeira – retoma a
dor, o sofrimento e os acontecimentos das anteriores: “tudo são banalidades”.
Diante do recomeço, tudo se torna banal. Por outro lado, a vida é falha,
frágil, visto que “falha como um material / solar e ilhéu”. A comparação quase
torna a vida algo físico, tangível, e os adjetivos «solar» e «ilhéu» traduzem as
ideias de luz e isolamento, solidão, sugerindo que a vida, embora sendo bela,
comporta esses sentimentos. Afinal, quando uma relação termina, se desfaz, e os
intervenientes se afastam, entram num mundo de solidão, de isolamento, mesmo
que temporário. Perante este cenário, o importante é levar poucas coisas desse
passado, dessa relação que terminou: “levamos poucas coisas”. São suficientes “um
pouco de ar, os objetos fixos, em repouso”, metáforas que indiciam que, no
processo de recomeço, o essencial é o respirar, encontrar a estabilidade e o
equilíbrio.
A última
estrofe – um terceto, tal como a segunda – abre com uma série de metáforas que
prosseguem a enumeração daquilo que o sujeito poético leva do passado: a do
muro branco evoca paz, pureza, ao passo que os muros e a casa traduzem uma
imagem de produção e refúgio; a da mão pode simbolizar o afeto; o ato de
arrumar as malas associa-se à partida, mas também à preparação para algo novo,
enquanto os sinais remetem para memórias, vestígios de algo que existiu,
todavia entretanto terminou, no fundo, “aquilo que nos adormece em plena
tempestade”, isto é, que nos acalma durante momentos conturbados. Pode
tratar-se do amor na sua forma mais serena ou da aceitação da perda.
Em síntese, estamos na presença de um poema que reflete sobre o fim de uma relação amorosa e a resiliência necessária para enfrentar, bem como o processo de recomeço.