Um homem entra num café, senta-se sozinho e começa a folhear um jornal de trás para a frente, observando casualmente o ambiente e uma empregada apressada. Enquanto lê o periódico, depara com um texto sobre o escritor José Cardoso Pires.
Noutra página de jornal, encontra fotografias a preto e branco, e uma delas desperta a sua atenção em particular: ele reconhece nela uma mulher que conheceu, o seu rosto, o olhar, o sorriso e até o perfume. Essa imagem desperta-lhe memórias da juventude, como, por exemplo, a primeira vez que a viu de minissaia, o primeiro "olá", o primeiro sorriso. A emoção que essas recordações lhe trazem é tão intensa que lágrimas escorrem pela face e caem sobre a página, borrando a fotografia.
A empregada passa novamente perto de si e o homem descobre uma semelhança desconcertante entre ela e a figura da fotografia, incluindo o perfume. Ao regressar à leitura do jornal, encontra na secção de "fait-divers" uma notícia sobre um fotógrafo que, na sequência de um acidente rodoviário ocorrido há três anos, permanecia em estado vegetativo, sendo a esposa a única sobrevivente ilesa. O homem compreende então que a mulher da notícia era a da fotografia e que ele mesmo era o fotógrafo.
Voltando à página da necrologia, vê que a imagem da figura feminina tinha desaparecido. De seguida, sorri, dá a mão à mulher que sempre estivera ali e acorda.
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