Neste
poema, temos uma reivindicação do imaginário, que passa por uma reinvenção
sintática, que tem a ver com a associação de palavras com sentidos totalmente
diferentes: “O mar soprava sinos”, “Os sinos secavam as flores”.
Nesta
reinvenção sintática, tem grande importância a subjetividade do sujeito criador
(ex.: “minha memória”, “meus pensamentos”, “meus pesadelos”).
Os dois
poemas abordados mostram diferentes relações que se estabelecem entre o mundo
onírico e o sujeito: no anterior, há uma nítida tentativa de separação; neste,
pelo contrário, há uma aproximação: o sujeito procura esse mundo.
No
poema, o “eu” aparece como forma de discurso dominante: na segunda estrofe, o “eu”
é agente; na terceira estrofe, o “eu” assume-se como espectador do processo que
cria.
A
noite, o sonho e a morte são também ideias presentes no poema e, embora se
associem, não há entre eles uma relação necessária: por exemplo, se a noite é
propícia ao sonho, contudo a expansão onírica não implica a noite.
Temos
ainda neste poema o que se pode chamar de “poética do deslizamento”, ou seja,
preferência pelo que é líquido, inconsistente e incorpóreo (ex.: “... meus pensamentos
soltos / voaram como telegramas...”). Daí que J. Cabral ignore a terra e o fogo
e apenas se debruce sobre o ar e a águia (vide: “O poema e a água”).
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