A
cantiga de Lopo Lias, de refrão e paralelística, constituída por duas
sextilhas, insere-se no ciclo que o trovador dedica aos infanções de Lemos.
Especificamente, refere-se aos azares de um deles no jogo do tavolado, um desporto
que consistia em arremessar um dardo ou uma lança contra um determinado alvo
para o tentar derrubar e que se encontrava situado num local elevado, o que
significa que se trata de um jogo de perícia e força. Frei Francisco Brandão
diz-nos o seguinte: “… se usava antigamente, porque fazião nelle os cavaleiros
experienciais de suas forças, e era deste modo. Fabricavase hum castello de
madeira, em que se união as taboas por tal ordem, que nem por si podiam cair,
nem deixariao de vir ao chao, se fossem movidas com grande força. Faziao os
cavaleiros prova de suas forças cõ tiros de arremessos, e o que derribava
aquella fabrica levava o preço da festa.”
O
primeiro verso dá conta desse mesmo jogo: “Ao lançar do pau”. Só que esse
esforço de o lançar, em cima da sela, o que sugere que o infanção está montado
a cavalo, fez com que desse um mau jeito com o cu, talvez por falta de jeito, e
quebrou a sela. O efeito cómico da imagem é óbvio. Atente-se na repetição do
verso dois nas duas estrofes. Por sua vez, a referência à «bela» poderá
constituir a referência a uma figura feminina que observa a cena e comenta a
situação de forma sarcástica ou zombeteira: “– Rengeu-lh’a sela!”
Confirmando
o paralelismo que caracteriza a cantiga, a segunda cobla abre com nova
referência ao lançamento do «touco», ou seja, ao jogo do tavolado, magoando
bastante o cu. Segundo Manuel Rodrigues Lapa, o verso 10 (“deu do cu a bouço”)
compreende uma expressão popular que tem o sentido de “magoou-se de cabo a rabo”,
ou seja, muitíssimo, enquanto “bouço” terá a mesma origem de “borco” (como na
expressão “cair de borco”). O refrão encerra a cantiga com o mesmo comentário
sarcástico da «bela».
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