11.
Origem do vocábulo Realismo
• O vocábulo realismo é
constituído pelos vocábulos real (do latim “res”, que
significava «facto», «coisa») e ismo, que significava «partido»,
«escola», «doutrina».
2.
Definição de Realismo
• O Realismo é um movimento artístico que
surge, em Portugal, em meados do século XIX, contestando o idealismo romântico.
3.
Origem do movimento realista
• França: o termo realismo (de origem francesa)
foi usado pela primeira vez pelo pintor Gustave Coubert, em 1855, ao intitular
a sua exposição de arte, realizada em Paris, como Le Réalisme. Por outro
lado, a primeira obra realista foi Madame Bovary, publicada em 1857, da
autoria de Gustave Flaubert.
• Em Portugal, é comum considerar que o Realismo
nasceu com a Questão Coimbrã, em 1865.
4.
Definição de Naturalismo
• O Naturalismo é um movimento
estético-literário com origem na doutrina positivista, estreitamento ligado ao
Realismo e às transformações sociais, científicas, filosóficas e éticas,
ocorridas no século XIX, tendo-se manifestado nas artes e na literatura.
5.
Origem do Naturalismo
• Dentro do Realismo surgiu uma corrente literária motivada pela
intensificação das suas características: o Naturalismo.
• A primeira obra naturalista é Thérèse Raquin, datada de 1867
e da autoria de Émile Zola.
6.
O Realismo na Europa
• O Realismo é um movimento literário que
surgiu na Europa, na segunda metade do século XIX, influenciado pelas
transformações que ali se operavam no âmbito económico, político, social e
científico, em oposição ao Romantismo e aos excessos de lirismo e de
imaginação.
• As duas causas determinantes para a
transição do Romantismo para o Realismo foram o desgaste de temas e de formas
românticas e o desenvolvimento de novas correntes científicas e filosóficas na
Europa.
• Economicamente, vivia-se a segunda fase
da Revolução Industrial, período marcado pelo clima de euforia e
progresso material que a burguesia industrial experimentava em virtude das
inúmeras invenções possibilitadas pelas descobertas científicas e tecnológicas.
No entanto, apesar dos benefícios trazidos à burguesia, a condição social do
proletariado era cada vez pior. Motivados tanto pelas ideias do socialismo
utópico, principalmente as de Proudhon e Robert Owen, quanto pelas ideias do
socialismo científico, defendidas por Karl Marx e Friedrich Engels, os
operários procuram organizar-se politicamente. Fundam então associações
trabalhistas e passam a exigir melhores condições de trabalho e de vida.
• No âmbito científico e cultural, ocorre
uma verdadeira efervescência de ideias, dentre as quais, surgidas como
consequência do aparecimento de várias correntes científicas e filosóficas, têm
destaque:
▪ o Positivismo, de Augusto Comte,
para o qual o único conhecimento válido é o conhecimento positivo, ou
seja, provindo das ciências;
▪ o Determinismo, de Taine, que
defende que o comportamento humano é determinado por três fatores: o meio, a
raça e o momento histórico;
▪ a lei da seleção natural, de Charles Darwin,
segundo a qual a natureza ou o meio selecionam, entre os seres vivos, as
variações que estão destinadas a sobreviver e a perpetuar-se, sendo eliminados
os mais fracos.
Enquanto nos domínios da Física, da
Química, da Biologia e da Medicina ocorrem avanços significativos, são lançados
os fundamentos de três novas disciplinas: a Sociologia, a Antropologia e a
Psicologia.
▪ Mediante este quadro de ideias, os escritores sentem a necessidade
de criar uma literatura sintonizada com a nova realidade, capaz de abordá-la de
modo mais objetivo e realista do que até então vinha fazendo o Romantismo. As
descobertas científicas, as ideias de reformas políticas e de revolução social
exigiam dos escritores, por um lado, uma literatura de ação, comprometida com a
crítica e a reforma da sociedade, e de outro, uma abordagem mais profunda e
completa do ser humano, visto agora à luz dos conhecimentos das correntes
científico-filosóficas da época. Aparece então o Realismo, cujas principais
ações são o combate a toda a forma romântica e idealizada de ver a realidade; a
crítica à sociedade burguesa e à falsidade dos seus valores e instituições
(Estado, Igreja, casamento, família); o embasamento no materialismo, o emprego
de ideias científicas; a introspeção psicológica das personagens; as descrições
objetivas e minuciosas; a lentidão do ritmo narrativo ...).
▪ Os três movimentos (Realismo, Naturalismo e
Parnasianismo) surgiram na França, com a publicação do romance realista Madame
Bovary (1857), de Flaubert; do romance naturalista Thérèse Raquin
(1867), de Zola, e das antologias parnasianas Parnasse Contemporain (a
partir de 1866). Note-se que, também em 1867, Zola publicou a obra O romance
experimental, encarada como um manifesto do movimento naturalista.
7.
O Realismo em Portugal
▪ A Questão Coimbrã (1865) é apontada como o marco introdutório
do Realismo em Portugal. Nessa época haviam cessado finalmente as lutas entre
liberais e as fações que representavam a velha monarquia deposta pela revolução
de 1820. Consolidado o liberalismo, Portugal conheceu, a partir de 1850, um
período de estabilidade política, de progresso material e de intercâmbio com o
resto da Europa. Coimbra, importante centro cultural e universitário da época,
ligava-se em 1864 diretamente à comunidade europeia por meio do caminho de
ferro. Contudo, do ponto de vista literário, predominavam ainda velhas ideias
românticas.
▪ O primeiro romance realista português é O Crime do Padre Amaro,
de Eça de Queirós, cuja primeira versão (de três) foi publicada em 1875.
▪ Em França, ao lado do realismo surgem também as correntes literária
denominadas Naturalismo e Parnasianismo, de pequena penetração em Portugal. A
primeira procura provar, através do romance de tese, as teorias
científicas da época, particularmente o determinismo. O Parnasianismo, por sua
vez, é uma corrente que combate os exageros de sentimento e de imaginação do
Romantismo e tenta resgatar certos princípios clássicos de procedimento, como a
busca do equilíbrio, da perfeição formal e o emprego da razão e da
objetividade.
8.
Características do Realismo
1.ª) O Realismo é uma reação contra o Romantismo,
contra os excessos, contra o idealismo artificial e formalista e as atitudes
emocionais enfáticas e hiperbólicas dos românticos, defendendo a análise,
síntese e exposição da realidade com verdade e neutralidade do coração. Perante
o bem e o mal, o vício e a virtude, o belo e o feio, o escritor realista não
deixará transparecer qualquer emoção. É uma literatura anti-idealista e que
combate a evasão romântica, interessando-se pela realidade circundante, pela
análise social e pelo contemporâneo. Ao sentimento exacerbado opõe a análise do
caráter humano.
2.ª) O Realismo é a negação da "arte pela
arte".
3.ª) A obra de arte é vista como uma verdadeira tese
com intenção científica.
4.ª) É uma literatura engagé, isto é, comprometida ou empenhada, humana e/ou socialmente.
A arte realista mantém um compromisso com a sua época e com a observação do
mundo objetivo e exato. Como proclamará Antero nas Odes Modernas, “A
Poesia é a voz da Revolução”.
5.ª) Recurso à reflexão e análise: o Realismo visa
uma análise corajosa, mas exata, da vida, do mundo e dos seus vícios. Os
realistas desnudam e atacam a imoralidade, os vícios, os maus costumes, os
aspetos baixos da vida/sociedade contemporâneas.
6.ª) Preconiza uma atitude descritiva e crítica em
relação à sociedade.
7.ª) Defende a observação e análise de tipos humanos
e costumes sociais, tentando representar objetivamente a realidade.
8.ª) Observação do pormenor: na representação da
ação, quase sempre de implicações sociais, os espaços e as personagens são
descritos de forma pormenorizada, pois isso permite uma reflexão crítica sobre
o ser humano e os seus problemas concretos.
9.ª) Dá preferência ao presente contemporâneo do
escritor. Assim, a crítica social ficaria mais próxima e mais concreta. Nesse
sentido, a literatura ganha um papel de denúncia do que de mau existe na
sociedade.
10.ª) Reflete ideais republicanos e socialistas e
marcas da ideologia materialista e do reformismo liberal.
11.ª) Os temas mais cultivados pelos escritores
realistas são temas cosmopolitas e de incidência coletiva:
▪
a representação da vida burguesa, naquilo que ela possa ter de mais
desagradável ou negativo, em certos aspetos da sua existência económica (a
usura, a ambição, a avareza, a cobiça, a corrupção, etc.);
▪
a representação da vida urbana, porque é nos grandes meios sociais, nas
cidades, que as tensões sociais, políticas e económicas, resultantes ainda dum
comportamento condenável da burguesia, mais se agudizam;
▪
a análise das relações e dos conflitos sociais, resultantes de grandes
desníveis entre classes;
▪
a representação do sofrimento social e moral, da frustração, da opressão, da
corrupção e do vício, em consequência de erros e injustiças sociais, económicas
ou políticas;
▪
o adultério, a frivolidade;
▪
a educação, o jornalismo, a política, o parlamentarismo.
12.ª) A forma literária privilegiada pelo Realismo é
o romance.
13.ª) A narração articula-se com a descrição,
intercalando a representação de uma ação com a descrição de espaços sociais (Os
Maias).
14.ª) O Realismo procura a objetividade, a análise
impessoal e minuciosa/pormenorizada da realidade, que critica. É o gosto pelo
real.
15.ª) Procura o retrato fidelíssimo da Natureza.
16.ª) Faz uso da personagem-tipo, que permite a
reflexão crítica sobre o Homem e os seus problemas.
17.ª) Preconiza uma nova moral social: crítica de
costumes, de temperamento, de ações.
18.ª) Visa a regeneração de costumes.
19.ª) A construção da personagem está em conexão com
o mundo profissional, cultural, económico, social e psicológico.
9.
Características do Naturalismo
1.ª) A literatura naturalista é a expressão dos
progressos da ciência (Fisiologia, Sociologia, estudo dos caracteres, da
evolução, da influência do meio, etc.). O Naturalismo deve usar o método
fisiológico, ou seja, deve descrever as emoções através das suas manifestações
físicas, com base no estudo das fisiologias.
2.ª) O romance naturalista inspira-se na vida
quotidiana, comum, procurando a análise rigorosa do meio social e de aspetos
patológicos.
3.ª) É uma corrente influenciada pela ciência e pela
filosofia do século XIX, nomeadamente pelo Determinismo (o Homem está preso a
um destino que ele não consegue mudar) e pelo Positivismo de Comte.
4.ª) Traz a ciência para a obra de arte; tenta
aplicar à literatura as descobertas e métodos da ciência da época. A obra
literária surge como a ilustração das teses científicas.
5.ª) Os temas fundamentais do romance naturalista
("experimental") são:
▪ a opressão social e a miséria, como resultado
de conflitos de interesses, denunciando as suas causas económicas, políticas e
sociais;
▪ o adultério, como denúncia de determinado modo
de vida resultante duma errada educação romântica;
▪ o alcoolismo, como deformação social e dos
caracteres;
▪ o jogo, encarado como consequência de
determinadas situações de injustiça;
▪ a doença (por exemplo, a loucura), enquanto
manifestação de taras hereditárias.
6.ª) Procura explicar cientificamente o
comportamento do homem com base em três fatores: a hereditariedade, o meio
ambiente e a educação/momento histórico. Os fenómenos humanos são consequências
inevitáveis destas determinações.
7.ª) A forma literária adotada foi o chamado
"romance experimental" (seguido do conto), resultante da aplicação
dos princípios da observação e da experimentação, adotados inicialmente na
investigação científica.
8.ª) Procura a análise das circunstâncias sociais
que envolvem as personagens. Através da análise experimental (do meio social),
explica a decadência da sociedade.
9.ª) Manifesta preocupações socioculturais e
objetiva a crítica dos costumes, como o Realismo.
10.ª) Usa a indução e os métodos experimentais;
descreve, por exemplo, as emoções, justificando as manifestações físicas pelos
estudos fisiológicos e de caracteres. Procura a anatomia do carácter.
11.ª) Dá relevo à importância das leis da Natureza.
12.ª) A arte deve representar objetivamente a realidade.
10.
Semelhanças entre Realismo e Naturalismo
1.ª) A Arte é a representação mimética objetiva da
realidade exterior (em contraste com a transfiguração imaginativa, impregnada
de subjetivismo, praticada pelos românticos).
2.ª) A objetividade dos temas.
3.ª) A técnica impessoal de narrar.
4.ª) Servem-se dos mesmos preceitos científicos.
11.
Diferenças
1.ª) O Naturalismo procura aplicar à obra literária
as descobertas e métodos das ciências experimentais do século XIX (Biologia,
Positivismo, Psicopatologia). Assim, transporta a ciência para a obra
literária, fazendo desta um meio de demonstração de teses científicas,
especialmente de psicopatologia. O Homem era um simples produto biológico cujo
comportamento resultava da pressão do ambiente social e da hereditariedade
psicofisiológica. O Realismo ignora a Patologia ou qualquer outra ciência como
meio de explicar e ilustrar a obra de arte.
2.ª) O Naturalismo implica uma posição combativa, de
análise dos problemas que a decadência social evidenciava, fazendo da obra de
arte uma verdadeira tese com intenção científica. O Realismo limita-se a
"fotografar" com certa isenção a realidade circundante, sem trazer a
ciência para a obra de arte.
3.ª) O Realismo procura retratar o Homem interagindo
no seu meio social; o Naturalismo pretende mostrá-lo como produto de um
conjunto de forças “naturais”, instintivas, que, em determinado meio, raça e
momento, pode gerar comportamento e situações específicas.
4.ª) No romance experimental naturalista, o
indivíduo é mero produto da hereditariedade. Ao lado desta, o ambiente em que
vive, e sobre o qual também age, determina o seu comportamento pessoal. Assim,
predomina o elemento fisiológico, natural, instintivo: erotismo, agressividade
e violência são os componentes.