domingo, 9 de dezembro de 2012
sábado, 8 de dezembro de 2012
sexta-feira, 7 de dezembro de 2012
Brasil adia obrigatoriedade do Acordo Ortográfico
Brasil vai adiar obrigatoriedade do Acordo Ortográfico para 2016
Por Agência Lusa, publicado em 7 Dez 2012 - 17:18 | Actualizado há 6 horas 16 minutos
O Governo brasileiro prepara um decreto presidencial para adiar a vigência obrigatória do Novo Acordo Ortográfico, em três anos, para janeiro de 2016, afirma o senador Cyro Miranda, membro das comissões de Educação e de Relações Exteriores.
A prorrogação da vigência do acordo, inicialmente prevista para janeiro de 2013, deve ser concretizada até a próxima quarta-feira, afirmou à Lusa o senador do Partido da Social Democracia Brasileira, que projetou lançar uma iniciativa legislativa, para adiar a aplicação prevista das novas regras.
O texto do decreto presidencial, segundo Miranda, já está pronto no Ministério das Relações Exteriores, esperando pelas assinaturas do ministro Antonio Patriota, titular da pasta, e da Presidente brasileira, Dilma Rousseff.
"Não tem a menor condição de entrar [em vigor] no dia primeiro. O acordo é uma 'colcha de retalhos' e muitos professores ainda não sabem como aplicá-lo", disse Miranda, à Lusa, por telefone.
A iniciativa do adiamento, segundo o senador, surgiu de uma audiência pública realizada com professores de português, destacados no meio literário brasileiro, que criticaram o acordo e fizeram um abaixo assinado, com mais de 20 mil subscritores, contra o atual texto.
Como membro das comissões especializadas do Senado, Cyro Miranda disse que pensou em lançar uma iniciativa legislativa para o adiamento do acordo, mas reconheceu que não havia tempo suficiente para a sua passagem pelo sistema legislativo brasileiro, tendo em conta a obrigatoriedade prevista para janeiro de 2013.
Em conversas com o Ministério da Casa Civil, foi então informado de que a medida seria tomada por meio de um decreto presidencial.
Além do adiamento, o senador diz acreditar que o texto do acordo será revisto.
"O acordo [ortográfico] está muito confuso. Acredito que tanto Portugal como o Brasil vão pedir para que ele seja revisto", disse o senador à Lusa.
A Presidência brasileira foi questionada pela Lusa, mas ainda não se manifestou.
*Este artigo foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico
A Grécia, Vítor Gaspar e o Benfica
Por Ferreira Fernandes
QUANDO a Grécia obteve melhores condições para a dívida, o presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, disse que essa melhoria seria estendida a Portugal. Naturalmente os nossos ministros rejubilaram. Mas eis que o patrão destas coisas, o alemão Wolfgang Schäuble, veio dizer que não. Disse que "seria um sinal terrível" para Portugal querermos suavizar os empréstimos. Seria como ir à Feira da Ladra, perguntar pelo custo da moldura, ouvir "50 euros" e nem regatear. Contrapropor 30 euros seria um sinal terrível...
Não entendi. Já entendi melhor Vítor Gaspar ter aderido - depois do aviso de Schäuble - à tese do "sinal terrível." Isto é, entendi o feitio, ele é um tipo amável que não gosta de indispor alemães.
Mas continuei a não perceber a lógica da coisa. Até ontem à noite.
O Benfica foi jogar ao antro do Barcelona, o "més que un club", o que em catalão quer dizer: já nem sabemos enfiar 1-0 ou 2-1, connosco todos levam 4 ou 5. É, quem joga com o Barcelona apanha com taxas de juro a 4 ou 5 por cento. Ora o que começou por acontecer ontem foi que tivemos condições gregas, baixaram as taxas, suavizaram os prazos, não puseram a jogar Xavi, Iniesta e Messi. E o que aconteceu? Sinais terríveis: festival de golos perdidos de Lima e Ola John. E o Benfica foi eliminado.
Percebi: os portugueses não podem ter condições facilitadas. Abusam e perdem tudo. Por isso o meu sonho desde ontem é o Benfica despedir o Jesus e contratar o Gaspar.
Diário de Notícias, 6 de dezembro de 2012
quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
Ao meu pai...
A UM AUSENTE
Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste
Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste
terça-feira, 4 de dezembro de 2012
"Redação"
Uma senhora pediu-me
um poema de amor.
Não de amor por ela,
mas "de amor, de amor".
À parte aquelas
trivialidades
"minha rosa, lua
do meu céu interior"
que podia eu dizer
para ela, a não destinatária,
que não fosse por ela?
Sem o objeto, o poema
é uma redação
dos 100 Modelos
de Cartas de Amor.
Alexandre O'Neill, Poesias Completas
um poema de amor.
Não de amor por ela,
mas "de amor, de amor".
À parte aquelas
trivialidades
"minha rosa, lua
do meu céu interior"
que podia eu dizer
para ela, a não destinatária,
que não fosse por ela?
Sem o objeto, o poema
é uma redação
dos 100 Modelos
de Cartas de Amor.
Alexandre O'Neill, Poesias Completas
segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
domingo, 2 de dezembro de 2012
Os maias, 'Os Maias' e o fim do mundo
Por Ferreira Fernandes
DIZ-SE dos tolos que, quando se aponta a Lua, eles olham para o dedo. Os maias tinham a reação inversa. Ótimos astrónomos, enquanto apontavam para o alinhamento dos planetas não viram chegar os espanhóis que deram cabo deles. De que lhes serviu serem uma civilização superior? Pois esses notórios incapazes de preverem o desastre próprio ganharam agora fama por anunciarem o fim dos outros: um antigo calendário maia marcou o fim do mundo para o próximo 21 de dezembro. Tolice acreditada por meio mundo - a Internet pôs-se nervosa, anunciaram-se suicídios - a ponto de, ontem, um cientista da NASA ter de desmentir. O choque de planetas, a tempestade solar e outros apocalipses antes do Natal, tudo aldrabices.
Acredito, e aconselho a leitura não do fatídico calendário dos maias, mas de Os Maias. No fim do romance de Eça, os amigos Carlos da Maia e João da Ega dedicam-se a conversa dramática: "Não a vale a pena viver...", diz um. O outro concorda. E ambos chegam à conclusão de a única certeza ser o pó que nos espera. Porquê correr, pois, por alguma coisa?... Aí, Carlos olha para o relógio e vê que estavam atrasados para o jantar no Hotel Bragança. E deitam-se os dois a correr atrás da carruagem que os levará ao "paio com ervilhas"...
Assim acaba Os Maias, e é uma mensagem que merece mais Internet do que a outra, dos maias.
Leitor, quando lhe apontarem o fim do Mundo, a 21, olhe para o bacalhau e a couve tronchuda, dias depois.
Diário de Notícias, 1 de dezembro de 2012
sexta-feira, 30 de novembro de 2012
Corrupção na Educação
O mote é o mais ou menos o seguinte: "Dinheiros públicos, vícios privados: corrupção na Educação".
Segunda-feira, Repórter TVI, logo a seguir ao Telejornal.
"O deus Pã não morreu"
Antes de iniciar a análise
propriamente dita do texto convém esclarecer quem são as entidades mitológicas
nele referidas.
Assim, Pã era o deus dos pastores da
região da Arcádia (região central do Peloponeso) e representava o poder e a
fecundidade da natureza selvagem, com fortes implicações sexuais. Era
representado com orelhas, chifres e pernas de bode. Além disso, como era amante
da música, transportava consigo sempre uma flauta. Por sua vez, os Romanos
identificaram-no como o deus itálico Fauno. Uma lenda conta que, no reinado do
imperador romano Tibério (século I d. C.), o piloto de um navio ouviu uma voz
que lhe ordenou que anunciasse a seguinte mensagem: «o Grande Pã está morto».
Quando o marinheiro obedeceu, toda a natureza começou a gemer. Frequentemente,
é associado à palavra grega “pan”,
que significa “tudo”, uma associação
errada, no entanto deu origem à ideia de que Pã simbolizava «o Grande Todo», ou
seja, o poder universal da vida.
Por seu turno, Apolo era o deus do
sol e da música, irmão gémeo de Artemis, deusa da lua e da caça, filho de Zeus
e da ninfa Leto. Por outro lado, Apolo amava a música, tendo sido presenteado
com uma lira por parte de Hermes, feita a partir da carapaça de uma tartaruga e
de tripas de gado.
Quanto a Ceres, era, entre os
romanos, a deusa das colheiras e do cereal, o equivalente a Deméter entre os
gregos.
O deus Pã simboliza o neoplatonismo
para os neoplatónicos e para os cristãos, daí a sua «adoção» por parte de
Ricardo Reis, em cuja filosofia existencial – a do paganismo da decadência ‑ se
inscreve a ideia da sobrevivência dos deuses pagãos (“O deus Pã não morreu” –
v. 1), bem como no programa do neopaganismo (de Fernando Pessoa ele mesmo e dos
seus heterónimos Alberto Caeiro, Ricardo Reis e António Mora).
O neopaganismo sustentava o reatar
da alma grega na arte, na religião e nas instituições políticas, ao considerar
que nada, depois dos gregos clássicos, pode igualar a sua civilização. Neste
sentido, o cristianismo é visto como um retrocesso, um atraso civilizacional.
Neste poema, Cristo é apresentado
num plano de igualdade com os deuses pagãos referidos. Ele não “matou outros
deuses”, é apenas “um deus a mais, / Talvez um que faltava”, o que indicia que
é um deus dispensável, pois é “apenas mais um”. Assim, a noção do Cristianismo
segundo a qual Cristo seria o único e verdadeiro deus é implicitamente rejeitada,
afirmando-se, pelo contrário, que todos os deuses pagãos antigos permanecem.
Cristo, de facto, “não matou outros deuses”, é apenas “ Quanto ao ser humano,
falta-lhe reconhecer essa permanência dos deuses pagãos.
A relação entre o ser humano e os
deuses carateriza-se pela distância e pela indiferença, dado que estes estão “Cheios
de eternidade / E desprezo por nós” (vv- 18 e 19).
O perfil dos deuses é traçado com
clareza: são “claros e calmos” (v. 17), eternos / imortais, regem o mundo (“Trazendo
dia e a noite / E as colheitas douradas”), mas não por causa dos seres humanos
(“Sem ser para nos dar / O dia e a noite e o trigo”, antes por razões que não
estão ao alcance da compreensão humana e alheias à sua vontade (“por outro e
divino / Propósito casual” – vv. 24-25).
quarta-feira, 28 de novembro de 2012
"A pequena angústia"
O que Portugal
poderia ser
se todos os portugueses emigrassem...
- Pé de gazela
na lua.
Um desejo adusto fora d'uso.
Um lírio.
Seria livre.
Ilimitado,
como nuvem humilde
quando se dissolve.
O que Portugal
poderia ser
se todos os portugueses regressassem...
A pergunta tenta como osso
debaixo da carne.
Ruy Cinatti (1969)
poderia ser
se todos os portugueses emigrassem...
- Pé de gazela
na lua.
Um desejo adusto fora d'uso.
Um lírio.
Seria livre.
Ilimitado,
como nuvem humilde
quando se dissolve.
O que Portugal
poderia ser
se todos os portugueses regressassem...
A pergunta tenta como osso
debaixo da carne.
Ruy Cinatti (1969)
terça-feira, 27 de novembro de 2012
"Sim, sei bem"
Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me me crer
O que nunca poderei ser.
8-7-1931
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me me crer
O que nunca poderei ser.
8-7-1931
Odes de Ricardo Reis
Linguagem e estilo de Ricardo Reis
- Aspetos fónicos:
- composição preferida: a ode horaciana, com estrofes regulares em verso decassilábico, alternado ou não com o hexassílabo;
- eufonia;
- verso branco / solto;
- irregularidade métrica (por vezes);
- recurso frequente à assonância, à aliteração e à rima interior.
- Aspetos morfossintáticos e semânticos:
- subsmissão da expressão ao conteúdo: a uma ideia perfeita corresponde uma expressão perfeita;
- sintaxe alatinada:
- ordem inesperada das palavras;
- anteposição do complemento direto ao verbo («As rosas amo...» em lugar da ordem tradicional da língua portuguesa: «Amo as rosas...»);
- uso de latinismos: "astro", "ledo", "ínfero", "vila", "vólucres", "inscientes", etc.;
- uso frequente da inversão (hipérbato e eanástrofe) e da elipse;
- uso frequente do imperativo (de acordo com a feição moralista das odes) ou do conjuntivo com valor de imperativo;
- uso do gerúndio;
- perífrases (remetem para um contexto religioso e mitológico grego ou latino);
- eufemismos (traduzem / suavizam a ideia de morte, que Ricardo Reis, afinal, teme);
- estilo denso e rigorosamente elaborado, construído, pensado, nos antípodas, por exemplo, de Alberto Caeiro;
- seleção cuidada de fonemas ou vocábulos sugestivos das ideias que pretende exprimir (a elevação, a nobreza, o classicismo da linguagem).
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