Português

segunda-feira, 29 de abril de 2019

Um título ilegível


     Decorreram já várias semanas desde que detetei esta notícia e ainda não consegui compreender um título.

     Será que, se enviar uma mensagem de correio eletrónico para a redação do jornal, alguém me esclarecerá?

Superlativo absoluto sintético de "simpático"


     «Simpatiquíssimo» ou «simpaticíssimo»?

     Bom, a primeira forma surgiu por via popular, enquanto a segunda chegou até nós por via erudita, derivada do latim «simpathicu-».

Luzelos



sexta-feira, 26 de abril de 2019

Os mitos sobre o ensino na Finlândia

«Alguns colegas e alunos estiveram na Finlândia num daqueles programas de intercâmbio (também recebemos professores e alunos de outros países). Hoje estive a conversar com colegas sobre a experiência. Pelos vistos os nossos alunos só diziam, 'meus ricos professores' e vieram de lá mal impressionados. E porquê? Bem, as turmas têm nove alunos, o que é um pouco a menos... difícil criar uma dinâmica com tão poucos alunos.
Depois, os alunos estão espalhados em mesas, em silêncio, agarrados ao telemóvel. Estão no twitter, no instagram, recebem e enviam mensagens, estão com os pés em cima das mesas... não há uma dinâmica de turma, não há interacções... há um silêncio passivo.»

     O testemunho, bem diverso da versão paradisíaca com que costumamos ser confrontados, porde ser encontrado aqui [ip].

segunda-feira, 22 de abril de 2019

O cómico de situação na 'Farsa de Inês Pereira'

Cómico: os objetivos do cómico são provocar o riso, através do qual se castigam os vícios («ridendo castigat mores») e expor o contraste entre personagens e situações – exs.: Pêro Marques vs. Escudeiro; Lianor Vaz vs. Judeus casamenteiros.

Cómico de situação:

* Pêro Marques senta-se na cadeira ao contrário e de costas para a Mãe e Inês;

* a fala dos Judeus, que, na sua sofreguidão e calculismo materialista para casarem Inês com Brás da Mata, se interrompem, repetem e atropelam constantemente;

* o episódio final, em que Pêro Marques, descalço, transporta Inês e duas lousas às costas e, porque o caminho é longo e a viagem monótona, canta, a pedido de Inês, uma cantiga que o apelida de «marido cuco».


sexta-feira, 19 de abril de 2019

'Rimas' de Camões

         Rimas é a designação atribuída à obra lírica de Camões.
         Nela concluem três correntes líricas: a da poesia peninsular, constituída por vilancetes, cantigas, esparsas, endechas, cartas, trovas e outras composições extensas, todos eles em redondilha; a corrente italiana, concretizada em sonetos, canções, composições em oitava-rima e sextinas, todos poemas da medida nova ou decassílabos; a corrente greco-latina, composta por éclogas e elegias. Há ainda as sátiras e as cartas moldadas em metro tradicional.
         Em vida de camões, foram publicados apenas uma ode a apresentar Garcia de Orta em Colóquios dos Simples e Drogas (1563), o soneto “Vós, ninfas da gangética espessura”, a elegia “Depois que Magalhães teve tecida”, ambos dedicados a D. Leonis Pereira, insertos no livro de Magalhães Gândavo: História da Província de Santa Cruz (1576). Segundo o humanista Diogo de Couto, encontrou Camões em Moçambique “vivendo de amigos” e trabalhando em duas obras: Os Lusíadas e Parnaso, “livro de muita doutrina e filosofia” que lhe foi roubado. Este roubo deu lugar à incorporação de poesias em Rimas que certamente não lhe pertencem.
         A primeira edição de Rimas foi publicada em 1595 por F. Rodrigues Lobo Soropita.
         A lírica de Camões engloba dois estilos: o engenhoso, na esteira do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, presente na maioria das redondilhas e nalguns sonetos, que se caracteriza pela coisificação das palavras e das realidades sensíveis e manifesta subtiliza e imaginação; e o clássico, em que as palavras pretendem captar uma realidade externa ou interna, com existência independente das mesmas.
         A temática das Rimas é variada, mas pode estruturar-se em 3 grupos: o galanteio amoroso, mais ou menos circunstancial, os temas psicológicos quase sempre analisando a paixão amorosa e os temas filosóficos, como a desarmonia entre o Merecimento e o Destino, o direito à felicidade e a impossibilidade de a alcançar, a justiça aparente e a justiça transcendente.



Queima das Fitas - Coimbra 2019 - Cartaz


quinta-feira, 18 de abril de 2019

Temas da poesia de Camões

Representação da amada

. Mulher inacessível, misteriosa, quase divina, de beleza inefável, a quem o sujeito poético presta vassalagem e adoração e que se relaciona com o amor espiritual (cf. ideal de beleza petrarquista).
Ex.: “Ondados fios de ouro reluzente”, “Um mover d’olhos brando e piadoso”
. Mulher terrena, por quem o sujeito poético se sente atraído e fascinado.
Ex.: “Aquela cativa”, “Minina dos olhos verdes”.



Experiência amorosa e reflexão sobre o amor

. Amor espiritualizado, sereno, racionalmente intelectualizado, de influência petrarquista.
Ex.: “Ondados fios de ouro reluzente”
. Amor experienciado, vivido.
Ex.: “Aquela cativa”, “Pastora da serra”
. Amor conturbado, dividido entre o anseio espiritual e o desejo, e marcado pela culpa, pela saudade e pela insatisfação.
Ex.: “Alma minha gentil, que te partiste”, “Tanto de meu estado me acho incerto”, “Amor é um fogo que arde sem se ver”.



Natureza

. Cenário associado ao locus amoenus clássico (paisagem idealizada, tranquila/serena e bucólica ou pastoril).
Ex.: “A fermosura desta fresca serra”, “Alegres campos, verdes arvoredos”.
. Personificação da natureza, encarada com confidente do sujeito poético.
Ex.: “Verdes são os campos”, “Alegres campos, verdes arvoredos”.




Desconcerto

. Desconcerto social:
- distribuição arbitrária dos prémios e castigos;
- sobreposição da cobiça e da vileza aos valores morais;
- necessidade de submissão à desordem / irracionalidade da vida.
Ex.: “Os bons vi sempre passar”, “Correm turvas as águas deste rio”, “Verdade, Amor, Razão, Merecimento”.
. Desconcerto individual e subjetivo: sujeição à Fortuna (cf. Reflexão sobre a vida pessoal).



Mudança

. Oposição entre o tempo / a mudança da / na natureza e o tempo / mudança do / no ser humano: a mudança cíclica vs. a mudança irreversível.
Ex.: “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”.
. Oposição entre o bem passado e o mal presente.
Ex.: “Sôbolos rios que vão”.



Reflexão sobre a vida pessoal

. Reflexão sobre a situação atual e sobre as causas que lhe deram origem (os “erros”, a “Fortuna” e o “amor ardente”).
Ex.: “Erros meus, má fortuna, amor ardente”, “O dia em que eu nasci, moura e pereça”, “Eu cantei já, e agora vou chorando”.



quarta-feira, 17 de abril de 2019

Soneto

         O soneto é uma composição poética característica do chamado dolce stil nuovo, uma tendência que surge como reação à poesia trovadoresca na Itália.

         Em Portugal, foi divulgado por Sá de Miranda, após a sua viagem a Itália (1521-1526), e cultivado desde o século XVI até à atualidade.

         O soneto é um poema constituído por duas quadras e dois tercetos, em versos decassilábicos. O esquema rimático das quadras tende a ser fixo (abba), ao contrário do que acontece nos tercetos, em que a rima pode apresentar esquemas rimáticos variados (cdc dcd, ccd eed, cd cede, cde cde). Quando o último terceto apresenta a informação mais relevante do poema, diz-se que o soneto termina com chave de ouro.
         Pela sua constituição e disposição, o soneto favorece um discurso em tese e antítese, seguidas de conclusão e desfecho sentencioso.

         Para além deste tipo de soneto, conhecido por soneto italiano, existe igualmente o chamado soneto inglês, constituído por catorze versos divididos em três quadras e um dístico final.

         O poeta Vasco Graça Moura (1942-2014) compôs um soneto que tem como tema a própria noção de soneto, pondo em evidência algumas das suas características:
. o número total de versos;
. os versos decassilábicos;
. as quadras com esquema rimático abba;
. o modelo suscetível de inovação (vv. 5-8);
. o modelo com duas variedades possíveis: a inglesa (“isabelino”) e a italiana (“continental”);
. o último terceto com a função de chave de ouro,


soneto do soneto

catorze versos tem este soneto
de dez sílabas cada, na contagem
métrica portuguesa; de passagem,
o esquema abba dá esqueleto

aos versos do começo: a engrenagem
podia ser abab, mas meto
aqui baab: destarte, preto
no branco, instabilizo a sua imagem.

teria, isabelino, uma terceira
quadra cddc e ee final,
em vez de dois tercetos, com quilate

sempre de ouro no fim. de tal maneira
porém o engendrei continental,
que em duplo cde tem seu remate.

Vasco Graça Moura, Poesia 2001/2005


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