Em
Portugal, foi divulgado por Sá de
Miranda, após a sua viagem a Itália (1521-1526), e cultivado desde o século
XVI até à atualidade.
O
soneto é um poema constituído por duas quadras e dois tercetos, em versos
decassilábicos. O esquema rimático das quadras tende a ser fixo (abba), ao contrário do que acontece nos
tercetos, em que a rima pode apresentar esquemas rimáticos variados (cdc dcd, ccd eed, cd cede, cde cde).
Quando o último terceto apresenta a informação mais relevante do poema, diz-se
que o soneto termina com chave de ouro.
Pela
sua constituição e disposição, o soneto favorece um discurso em tese e
antítese, seguidas de conclusão e desfecho sentencioso.
Para
além deste tipo de soneto, conhecido por soneto
italiano, existe igualmente o chamado soneto
inglês, constituído por catorze versos divididos em três quadras e um
dístico final.
O
poeta Vasco Graça Moura (1942-2014) compôs um soneto que tem como tema a própria
noção de soneto, pondo em evidência algumas das suas características:
.
o número total
de versos;
. os versos decassilábicos;
. as quadras com esquema rimático abba;
. o modelo suscetível de inovação
(vv. 5-8);
. o modelo com duas variedades
possíveis: a inglesa (“isabelino”) e a italiana (“continental”);
. o último terceto com a função de
chave de ouro,
soneto do soneto
catorze versos tem
este soneto
de dez sílabas cada,
na contagem
métrica portuguesa;
de passagem,
o esquema abba dá esqueleto
aos versos do começo:
a engrenagem
podia ser abab, mas meto
aqui baab: destarte, preto
no branco,
instabilizo a sua imagem.
teria, isabelino, uma
terceira
quadra cddc e ee final,
em vez de dois
tercetos, com quilate
sempre de ouro no fim.
de tal maneira
porém o engendrei
continental,
que em duplo cde tem seu remate.
Vasco Graça Moura, Poesia 2001/2005
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