Popé era amante de Linda na Reserva
Selvagem do Novo México. Ele deu-lhe uma cópia das Obras Completas de
Shakespeare. Por outro lado, é objeto dos ciúmes edipianos de John.
terça-feira, 3 de setembro de 2019
Caracterização de Popé
Caracterização de Linda
Linda é uma cidadã beta e mãe de
John, que foi gerado durante uma visita à Reserva Selvagem e cujo pai é o
Diretor.
De facto, durante uma tempestade, Linda perdeu-se, sofreu um
ferimento na cabeça e foi deixada para trás. Um grupo de índios encontrou-a e
levou-a para a sua aldeia. Grávida, não conseguiu abortar na Reserva e tinha
com vergonha de voltar para o Estado Mundial com um bebé. A sua promiscuidade
condicionada pelo Estado Mundial (o ato de dormir com vários homens) torna-a
uma pária social na aldeia. Ela está desesperada para retornar ao Estado Mundial
e ao soma. Acaba por morrer pouco tempo depois de regressar, num estado de semiconsciência
motivado pela droga.
Caracterização do Diretor
A personagem conhecida por Diretor
tem como função a administração do Centro de Incubação de Londres e o Centro de
Condicionamento. Estamos na presença de uma figura ameaçadora e com grande
poder, como, por exemplo, exilar Bernard Marx para a Islândia. No entanto, possui
uma vulnerabilidade que o faz cair em desgraça: teve um filho (John), um ato
escandaloso e obsceno no Estado Mundial.
Peggy Lipton
1946 - 11/05/2019 |
O RR Diner de Twin Peaks perdeu a sua dona no passado mês de maio. Em contrapartida, The White Lodge ganhou mais um residente.
segunda-feira, 2 de setembro de 2019
Caracterização de Helmholtz Watson
Professor Alfa na Faculdade de
Engenharia Emocional, Helmholtz é um excelente exemplo da sua casta, mas sente
que o seu trabalho é vazio e sem sentido e gostaria de usar as suas habilidades
de escrita para algo mais significativo. Ele e Bernard são amigos porque
encontram um ponto em comum no seu descontentamento com o Estado Mundial, mas
as críticas de Helmholtz ao Estado Mundial são mais filosóficas e intelectuais
do que as queixas mais insignificantes de Bernard. Como resultado, o primeiro
costuma achar entediante a arrogância e a cobardia do segundo.
Helmholtz Watson não é tão
desenvolvido como algumas das outras personagens, agindo como uma folha para
Bernard e John. Para Bernard, Helmholtz é tudo o que ele desejava ser: forte,
inteligente e atraente. Como uma figura de força, Helmholtz sente-se muito à
vontade na sua casta. Ao contrário de Bernard, ele é apreciado e respeitado.
Embora os dois compartilhem uma aversão ao Estado Mundial, Helmholtz condena-o
por razões radicalmente diferentes. Bernard não gosta do Estado porque é fraco
demais para se ajustar à posição social que lhe foi atribuída; Helmholtz porque
ele é muito forte. Ele pode ver e sentir como a cultura superficial em que vive
o está sufocando.
Helmholtz também é uma folha para
John, mas de uma maneira diferente. Os dois são muito parecidos em espírito;
ambos amam poesia e são inteligentes e críticos do Estado Mundial, mas há uma
enorme diferença cultural que os separa. Mesmo quando Helmholtz vê o gênio na
poesia de Shakespeare, não pode deixar de rir da menção a mães, pais e
casamento – conceitos que são vulgares e ridículos no Estado Mundial. As
conversas entre Helmholtz e John ilustram que mesmo o membro mais reflexivo e
inteligente do Estado Mundial é definido pela cultura em que ele foi criado.
Caracterização de Bernard Marx
Bernard Marx é um macho alfa que não
se encaixa em termos sociais por causa da sua estatura física inferior. Ele possui
crenças não-ortodoxas sobre relacionamentos sexuais, desportos e eventos
comunitários. A sua insegurança sobre a sua estatura e status deixa-o
descontente com o Estado Mundial. O sobrenome de Bernard remete para a figura
do filósofo e político alemão do século XIX Karl Marx, mais conhecido por
escrever Capital, uma crítica monumental à sociedade capitalista. Ao
contrário do seu famoso homónimo, o descontentamento de Bernard resulta do seu
desejo frustrado de se encaixar na sua própria sociedade, e não de uma crítica
sistemática ou filosófica a ela. Quando ameaçado, Bernard pode ser mesquinho e
cruel.
Até ao momento da sua visita à
Reserva e à introdução de John na narrativa, Bernard Marx é a figura central do
romance. A sua primeira aparição no romance é altamente irónica. Assim que o
diretor termina a sua explicação sobre o modo como o Estado Mundial eliminou
com sucesso a doença do amor e tudo o que acompanha o desejo frustrado, Huxley
dá-nos uma primeira visão dos pensamentos privados de uma personagem, e esae
personagem é apaixonada, ciumenta e ferozmente zangada com os seus rivais
sexuais. Desta forma, conquanto Bernard não seja exatamente heroico (e se torna
ainda menos à medida que o romance avança), conserva bastante interesse para o
leitor porque é humano. Ele quer coisas que não pode ter.
A principal mudança que ocorre na personalidade de Bernard é o
crescimento da sua popularidade após a viagem à Reserva e a sua descoberta de
John, seguidos por sua queda desastrosa. Antes e durante essa viagem, Bernard é
solitário, inseguro e isolado. Quando volta com John, usa a sua nova
popularidade para participar em todos os aspetos da sociedade do Estado Mundial
que havia criticado anteriormente, como, por exemplo, o sexo promíscuo. Essa
reviravolta prova que Bernard é um crítico cujo desejo mais profundo é tornar-se
no que critica. Quando John se recusa a tornar-se uma ferramenta na tentativa
de Bernard de permanecer popular, o seu sucesso entra em colapso
instantaneamente. Continuando a criticar o Estado Mundial enquanto se deleitava
com os seus “vícios agradáveis”, Bernard revela-se um hipócrita. John e
Helmholtz são simpáticos com ele, porque concordam que o Estado Mundial precisa
de ser criticado e porque reconhecem que Bernard está preso num corpo não
adequado ao seu condicionamento, mas não o respeitam.
Quanto ao relacionamento com Lenina, é evidente que ela o vê
apenas como um sujeito estranho e interessante, com quem pode concretizar um
interregno no relacionamento com Henry Foster. Ela está feliz ao usá-lo para o seu
próprio benefício social, mas investe emocionalmente nele como em John.
sábado, 31 de agosto de 2019
Exames para professores
Valha a verdade que, como é evidente, estas intenções não são verdadeiras, pois a grande preocupação dos nossos políticos é travar (ainda mais) a progressão na carreira aos professores. Apenas e só isso. Poderíamos esperar mais e melhor dos nossos políticos? É claro que não!
Caracterização de John
Filho do diretor e Linda, John é a
única personagem importante que cresceu fora do Estado Mundial. Consumado outsider,
ele passou a vida alienado da sua aldeia na Reserva Selvagem do Novo México, e
vê-se igualmente incapaz de se encaixar na sociedade do Estado Mundial. Toda a
sua visão de mundo é baseada no conhecimento das peças de Shakespeare, que ele
cita com grande facilidade.
Embora Bernard Marx seja a
personagem principal de Admirável Mundo Novo até à sua
visita com Lenina à Reserva, depois disso desaparece e John torna-se o
protagonista central. Ele entra pela primeira vez na história quando manifesta
interesse em participar no ritual religioso indiano do qual Bernard e Lenina se
afastam. O desejo de John marca-o primeiro como um estranho entre os índios, já
que não tem permissão para participar no seu ritual. Também demonstra a enorme
divisão cultural que existe entre ele e a sociedade do Estado Mundial, já que
Bernard e Lenina veem o ritual tribal como nojento. John torna-se a personagem
central do romance porque, rejeitado pela cultura indiana "selvagem"
e pela cultura "civilizada" do Estado Mundial, é o principal outsider.
Como outsider, John encontra os
seus valores num autor de mais de 900 anos, William Shakespeare. O amplo
conhecimento de John sobre as obras do dramaturgo é-lhe útil de várias maneiras
importantes: permite verbalizar as suas próprias emoções e reações complexas,
fornece uma estrutura a partir da qual pode criticar os valores do Estado
Mundial e uma linguagem que lhe permite conservar a sua posição contra a
formidável habilidade retórica de Mustapha Mond durante o confronto. (Por outro
lado, a insistência de John em ver o mundo através dos olhos de Shakespeare às
vezes cega-o para a realidade de outras personagens, principalmente Lenina,
que, na sua mente, é alternadamente uma heroína e uma prostituta, sendo que nenhum
dos rótulos é apropriado para ela.) Shakespeare incorpora todos os valores
humanos e humanitários que foram abandonados no Estado Mundial. A rejeição de
John da superficial felicidade do Estado Mundial, a sua incapacidade para
conciliar o seu amor e desejo por Lenina e até o seu eventual suicídio refletem
temas de Shakespeare. Ele próprio é uma personagem shakespeariana num mundo
onde é proibida qualquer poesia que não venda um produto.
O otimismo ingénuo de John sobre o
Estado Mundial, expresso nas palavras de A Tempestade que constituem o
título do romance, é esmagado quando ele entra em contacto direto com o Estado.
A frase “admirável mundo novo” assume um tom cada vez mais amargo, irónico e
pessimista, à medida que se torna mais conhecedor desse mesmo Estado. A
participação de John na orgia final e o seu suicídio no final do romance podem
ser vistos como resultado de uma insanidade criada pelo conflito fundamental
entre os seus valores e a realidade do mundo em seu redor.
John é, afinal, o último ser humano
(além dos nativos da Reserva) num mundo de seres projetados. Por outro lado,
até que ponto representa o complexo
de Édipo de Freud?
Ação de Admirável Mundo Novo
O romance abre no Centro de
Incubação e Condicionamento do centro de Londres, onde o diretor da incubadora
e um dos seus assistentes, Henry Foster, estão a guiar uma visita a um grupo de
rapazes. Estes aprendem sobre os processos Bokanovsky e Podsnap que permitem
que a incubadora produza milhares de embriões humanos quase idênticos. Durante
o período de gestação, os embriões viajam em garrafas ao longo de uma correia
transportadora através de um edifício semelhante a uma fábrica e são
condicionados a pertencer a uma das cinco castas: Alfa, Beta, Gama, Delta ou Épsilon.
Os embriões Alfa estão destinados a tornar-se os líderes e pensadores do Estado
Mundial. Cada uma das castas seguintes é condicionada a ser um pouco menos
impressionante física e intelectualmente. Os Épsilons, atrofiados e estupidificados
pela privação de oxigénio e tratamentos químicos, estão destinados a realizar
trabalho braçal. Lenina Crowne, uma funcionária da fábrica, descreve aos
meninos como ela vacina embriões destinados a climas tropicais.
O diretor leva então os meninos ao
berçário, onde observam um grupo de bebés Delta sendo reprogramados para não
gostar de livros e flores. O diretor explica que esse condicionamento ajuda a
tornar o Delta dócil e consumidor ávido. Posteriormente, fala-lhes sobre os
métodos “hipnopédicos” (ensino do sono) usados para ensinar às crianças a moral
do Estado Mundial. Numa sala onde as crianças mais velhas estão a dormir, uma
voz sussurrante é ouvida repetindo uma lição sobre "Consciência da Classe
Elementar".
Do lado de fora, o diretor mostra
aos rapazes centenas de crianças nuas envolvidas em brincadeiras sexuais e
jogos diversos. Mustapha Mond, um dos dez controladores mundiais, apresenta-se
aos meninos e começa a explicar a história do Estado Mundial, concentrando-se
nos esforços bem-sucedidos do Estado para remover emoções fortes, desejos e
relacionamentos humanos da sociedade. Enquanto isso, dentro da incubadora,
Lenina conversa na casa de banho com Fanny Crowne sobre a sua relação com Henry
Foster. Fanny repreende-a por sair quase exclusivamente com ele há quatro
meses, e Lenina admite que está atraída pelo estranho e um tanto engraçado
Bernard Marx. Noutra secção da incubadora, Bernard fica enfurecido ao ouvir uma
conversa entre Henry e o Predestinador Assistente sobre "ter" Lenina.
Depois do trabalho, esta diz a Bernard que ficaria feliz em
acompanhá-lo na viagem à Reserva Selvagem, situada no Novo México, para a qual
ele a convidara. O rapaz, muito feliz, mas envergonhado, pilota um helicóptero
para ir ao encontro de um amigo, Helmholtz Watson. Os dois discutem a sua
insatisfação com o Estado Mundial. Bernard está principalmente descontente
porque é pequeno e fraco demais para a sua casta; Helmholtz está infeliz porque
é inteligente demais para o seu trabalho de escrever frases hipnopédicas. Nos dias
seguintes, Bernard pede permissão ao seu superior, o diretor, para visitar a
Reserva. O diretor conta uma história sobre uma visita a esse espaço que fizera
com uma mulher vinte anos antes. Durante uma tempestade, a mulher perdeu-se e
nunca foi encontrada. Finalmente, concede a Bernard a permissão, e este e
Lenina partem para a Reserva, onde obtêm outra permissão do diretor. Antes de partir,
ele liga a Helmholtz e descobre que o diretor se cansou do que considera o seu comportamento
difícil e não social e planeia exilá-lo para a Islândia quando voltar. Bernard
está com raiva e perturbado, mas decide partir para a Reserva de qualquer
maneira.
Lá, Lenina e Bernard ficam chocados
ao ver os seus residentes idosos e doentes, visão que contrasta com o Estado Mundial,
onde ninguém apresenta sinais visíveis de envelhecimento. Eles testemunham um
ritual religioso no qual um jovem é chicoteado, algo que consideram repugnante.
Após o ritual, conhecem John, um jovem de pele clara, isolado do resto da vila.
John conta a Bernard sobre sua infância como filho de uma mulher chamada Linda,
que foi resgatada pelos moradores há vinte anos. Bernard percebe que Linda é
quase certamente a mulher mencionada pelo diretor. Conversando com o filho,
descobre que ela foi ostracizada por causa da sua vontade de dormir com todos os
homens da vila, e que, como resultado, John foi criado isolado do resto da
vila. O jovem explica que aprendeu a ler usando um livro chamado O
condicionamento químico e bacteriológico do embrião e As obras completas
de Shakespeare, este último dado a Linda por um de seus amantes, Popé. John
diz a Bernard que está ansioso para ver o "Outro Lugar" – o
"admirável mundo novo" de que sua mãe tanto falou. Bernard convida-o a
voltar ao Estado Mundial com ele. John concorda, mas insiste que Linda também
possa ir.
Enquanto Lenina, enojada com a
Reserva, recebe soma suficiente para a deixar inconsciente por dezoito horas,
Bernard voa para Santa Fé, onde liga para Mustapha Mond e recebe permissão para
trazer John e Linda de volta ao Estado Mundial. Enquanto isso, John invade a
casa onde Lenina está intoxicada e inconsciente e quase não suprime seu desejo
de tocá-la. Bernard, Lenina, John e Linda voam para o Estado Mundial, onde o
diretor aguarda para exilar Bernard na frente dos seus colegas de trabalho Alfa.
Mas Bernard altera os dados ao apresentar John e Linda. A vergonha de ser um
"pai" – a palavra faz os espectadores rirem nervosamente – faz com
que o diretor renuncie, deixando Bernard livre para permanecer em Londres.
John torna-se um sucesso na sociedade londrina por causa da
vida estranha que levava na Reserva. Mas, enquanto percorre as fábricas e
escolas do Estado Mundial, fica cada vez mais perturbado pela sociedade que vê.
A sua atração sexual por Lenina permanece, mas ele deseja mais do que simples
luxúria e fica terrivelmente confuso. No processo, também confunde Lenina, que
se pergunta por que John não deseja fazer sexo com ela. Como descobridor e
guardião do "Selvagem", Bernard também se torna popular e rapidamente
tira proveito de seu novo status, dormindo com muitas mulheres e
organizando jantares com convidados importantes, muitos dos quais não gostam dele,
mas estão dispostos a aplacá-lo se isso significar que vão conhecer John. Uma
noite, este recusa-se a encontrar os convidados, incluindo o arquichantre e a
posição social de Bernard afunda.
Depois de Bernard os apresentar, John e Helmholtz rapidamente
se abraçam. John lê a de Helmholtz excertos de Romeu e Julieta, mas este
não pode deixar de rir de uma passagem séria sobre amor, casamento e pais – ideias
ridículas, quase escatológicas na cultura do Estado Mundial.
Alimentada pelo comportamento estranho, Lenina fica obcecada
por John, recusando o convite de Henry para ver um filme sensorial. Ela toma
soma e visita o Selvagem no apartamento de Bernard, onde espera seduzi-lo, mas ele
responde aos seus avanços com pragas, golpes e falas de Shakespeare. Ela retira-se
para a casa de banho enquanto ele recebe um telefonema em que descobre que
Linda, que está de férias-soma permanentes desde que voltou, está prestes a
morrer. No Hospital dos Moribundos, vê-a morrer enquanto um grupo de meninos das
castas mais baixas que recebem o seu "condicionamento da morte" se
pergunta por que razão ela é tão pouco atraente. As crianças são simplesmente
curiosas, mas John fica furioso. Depois de Linda morrer, John conhece um grupo
de clones Delta que estão recebendo a sua ração de soma. Ele tenta convencê-los
a revoltarem-se, atirando a soma pela janela, donde resulta um tumulto. Bernard
e Helmholtz, ouvindo o tumulto, correm para o local e vêm em auxílio de John.
Depois de a revolta ser acalmada pela polícia com vapor soma, John, Helmholtz e
Bernard são presos e levados ao escritório de Mustapha Mond.
John e Mond discutem o valor das políticas do Estado Mundial,
argumentando o primeiro que elas desumanizam os seus residentes e o segundo que
a estabilidade e a felicidade são mais importantes que a humanidade. Mond
explica que a estabilidade social exigiu o sacrifício da arte, ciência e
religião. John protesta que, sem essas coisas, não vale a pena viver a vida
humana. Bernard reage descontroladamente quando Mond diz que ele e Helmholtz
serão exilados para ilhas distantes, e ele é expulso da sala. Helmholtz aceita
prontamente o exílio, pensando que lhe dará a chance de escrever e logo segue
Bernard para fora da sala. John e Mond continuam sua conversa: discutem a
religião e o uso de soma para controlar as emoções negativas e a harmonia
social.
John despede-se de Helmholtz e Bernard. Recusando a opção de os
seguir para as ilhas dada por Mond, retira-se para um farol no campo, onde
jardina e se tenta purificar através da autoflagelação. Os curiosos cidadãos do
Estado Mundial logo o apanham em flagrante, e os repórteres descem ao farol
para filmar reportagens e um filme sensorial. Depois do filme, hordas de
pessoas descem ao farol e exigem que John se chicoteie. Lenina chega e aproxima-se
de John com os braços abertos. Ele reage brandindo o seu chicote e gritando
“Mate! Mate-o!”. A intensidade da cena causa uma orgia, da qual John participa.
Na manhã seguinte, ele acorda e, tomado de raiva e tristeza por constatar a sua
submissão à sociedade do Estado Mundial, enforca-se.
Análise dos capítulos XVII e XVIII de Admirável Mundo Novo
Bernard e Helmholtz deixam a cena e
o romance, no início do capítulo 17. Ao serem exilados para as ilhas e
aceitando o seu exílio, perderam a luta contra o Estado Mundial. Helmholtz pode
continuar lutando através de seus escritos. Essa é a implicação da sua escolha
de um ambiente particularmente severo. Mas os dois estão sendo transportados
fisicamente para um local onde podem causar pouco dano ao Estado Mundial.
Apenas fica John para criticar e debater com Mond.
A discussão sobre religião transporta
o livro para o seu nível mais abstrato e metafísico, e o leitor pode ter
dificuldade em seguir a linha do argumento do capítulo 16 para o capítulo 17,
principalmente devido às longas passagens de citações. No entanto, esta secção
aborda o que há de errado com a distopia de Huxley: o facto de ninguém conceber
qualquer propósito para a existência além da satisfação dos seus próprios
apetites. A passagem de Newman que Mond cita sugere que os indivíduos sentem a
necessidade da religião, quando perdem a sensação de que estão no controle
total das suas próprias vidas, à medida que experimentam a perda e o
enfraquecimento que vem com a idade. A sensação de alguém de que não está no
controle da sua vida precede o entendimento de que faz parte de algo maior
(plano de Deus). No Estado Mundial, ninguém envelhece ou experimenta a perda;
portanto, ninguém chega à experiência religiosa.
Em certo sentido, isso pode ser
visto como mais uma crítica ao consumismo, mas, na verdade, Huxley está
realmente a criticar algo maior do que a Inglaterra e a América dos anos 1920,
com os seus carros Ford, anéis de diamante e consumo conspícuo. Ele está a
criticar a maneira como filósofos, economistas e cientistas sociais pensam
sobre a sociedade há quase 400 anos – aproximadamente desde os tempos de
Shakespeare. Antes desse período, filósofos políticos, dos antigos gregos para
a frente, pensavam que a sociedade civil possuía algum propósito. O que isso
implicava variava de cultura para cultura. Para Péricles, antigo líder de
Atenas, o objetivo da polis (cidade-estado) era permitir que a pequena minoria
de homens livres realizasse façanhas heroicas. Na Idade Média, o objetivo da
nação era frequentemente concebido como sendo o de executar o plano de Deus
servindo o rei, seu representante na Terra.
Escritores e filósofos do século
XVII, como Thomas Hobbes, começaram a conceber sociedades governadas por leis
observáveis, como a da oferta e da procura, que podiam determinar o
comportamento de um grande número de pessoas. Os modelos de sociedade
promovidos por Hobbes e, mais tarde, pelos economistas políticos geraram uma
compreensão suficiente da dinâmica económica e sociológica para permitir que os
governos promovessem efetivamente uma maior estabilidade, como o governo faz no
Admirável Mundo Novo. Mas esses modelos simplificam a vida humana à mera
luta para sobreviver e escapar da fome. Não terão as vidas ou sociedades
humanas um objetivo maior? Embora a falta de um propósito, divino ou não, possa
ser uma falha séria nas visões do mundo da sociologia e da economia, Huxley
observa uma tendência muito mais perigosa dentro delas: a tendência do governo
de intervir cada vez mais na vida humana.
O significado do romance como um
todo reside na crítica de Huxley à modernidade, caracterizada por um governo
tecnocrático, ciências sociais dedicadas ao controle da sociedade e um consumismo
desenfreado, e na notável observação de Mond no capítulo 3, segundo a qual tudo
o que pensamos como fundamentalmente humano – amor, paixão, desejo, arte e
cultura – ocorre por causa das experiências de perda e desejo insatisfeito.
Parece que o objetivo de Admirável Mundo Novo é destacar que a
modernidade se está a desenvolver numa direção que acabará por mudar a própria
natureza humana. Um mundo em que o consumismo se desenvolve na sentido em que
se encontra no Estado Mundial, onde os desejos são imediatamente gratificados,
no qual a "secreção externa" é levada ao bebé ainda ele mal começou a
chorar, erradicaria o facto mais fundamental da existência humana: a sua
inconveniência.
Mas, ao mesmo tempo em que aponta
para essa conclusão, há sinais ao longo do romance de que essa alteração na
natureza humana ainda não ocorreu e talvez nunca possa ocorrer. Assim como nos
dizem que não há mais amantes ciumentos, encontramos Bernard Marx. Sob a
superfície do “amor livre” praticado entre as castas superiores, espreita o
espectro da monogamia e da paixão violenta. Lenina já namorou exclusivamente um
homem durante muito tempo, e ela e toda uma plateia têm uma atitude indulgente
com um filme que retrata uma fantasia escandalosa de monogamia praticada num
helicóptero. Rotineiramente, os cidadãos veem-se confrontados com a necessidade
de complementar a sua ração de soma com drogas que replicam a gravidez ou o
apego violento. E há o problema contínuo dos dissidentes que precisam de ser
exilados.
A última seção do romance consiste
na partida de John para o farol para se punir. A sua autoflagelação é uma
tentativa desesperada de conservar os seus próprios valores – a verdade sobre a
felicidade entre outros – diante da pressão esmagadora do mundo ao seu redor.
Lenina Crowne simboliza essa pressão. John sente uma forte atração sexual por
ela, uma tentação de ceder aos "vícios agradáveis" que ele acha tão
repugnantes e prevalecentes na sociedade do Estado Mundial. Quando ela chega,
juntamente com a multidão que canta, a sua resolução colapsa e, quando acorda
na manhã seguinte, a perceção de que sucumbiu perante aquilo que mais combatia
leva-o a suicidar-se.
A linguagem destes capítulos
continua no mesmo tom do resto do livro: é uma mistura, às vezes estranha, de
didatismo, sátira e farsa. Os últimos capítulos têm um tom mais sério e
didático, particularmente na conversa entre John e Mustapha, quando questões de
livre-arbítrio, moralidade, Deus e sociedade surgem à tona. No último capítulo,
a autoflagelação frenética de John contrasta com a superficialidade dos
repórteres e multidões que vêm observá-lo ao farol. A comparação entre os dois
grupos simboliza a diferença básica entre John e a sociedade em que ele se
encontra.
sexta-feira, 30 de agosto de 2019
Resumo do capítulo XVIII de Admirável Mundo Novo
Bernard e Helmholtz despedem-se de
John. Bernard pede desculpas pela cena feita no escritório de Mond. John
pergunta a Mond se pode ir com eles para as ilhas, mas este recusa, porque quer
continuar a "experiência". Mais tarde, John escolhe isolar-se num
farol abandonado no deserto. Planta o seu próprio jardim e realiza rituais de
autopunição para se purificar da contaminação da civilização.
Um dia, alguns funcionários Delta-Menos
veem John chicoteando-se. No dia seguinte, repórteres vêm entrevistá-lo. Ele
pontapeia um repórter e exige, com raiva, que respeitem a sua solidão. Os
jornais publicam o incidente e mais repórteres se dirigem à sua casa. John
reage a essa presença com crescente violência. Um dia, pensa ansiosamente em
Lenina e corre para se chicotear. Um homem filma a cena e produz um filme
sensorial muito popular.
Os fãs do filme visitam John e cantam:
"Queremos o chicote". Enquanto a multidão canta, Lenina sai de um
helicóptero e caminha na sua direção, de braços abertos. John chama-lhe
prostituta e começa a chicoteá-la, dizendo: “Oh, a carne! . . . Mata-a, mata-a!”.
Fascinada pelo espetáculo, a multidão imita os seus gestos, dança e canta o
hino: “Orgia, Orgia.”. Depois da meia-noite, os helicópteros partem e John cai,
sob os efeitos de soma e pelo “frenesi da sensualidade”. Quando acorda no dia
seguinte, lembra-se de tudo com horror. Depois de ler sobre a "orgia da
expiação" nos jornais, um enxame de visitantes desce ao farol de John,
descobrindo que ele se enforcou.
Resumo do capítulo XVII de Admirável Mundo Novo
Quando Helmholtz sai para verificar se
Bernard, John e Mustapha Mond mantêm o seu argumento filosófico. Enquanto a
conversa no capítulo 16 abordou experiências e instituições humanas que o
Estado Mundial aboliu, no capítulo 17 eles discutem a religião e a experiência
religiosa, que também foram eliminadas da sociedade do Estado Mundial. Mond
mostra a John a sua coleção de escritos religiosos proibidos e lê em voz alta
longas passagens do teólogo católico do século XIX, cardeal Newman, e do
filósofo francês do século XVIII, Maine de Biran, no sentido de evidenciar que
o sentimento religioso é essencialmente uma resposta à ameaça da perda, velhice
e morte. Mond argumenta que, numa sociedade jovem e próspera, não há perdas e,
portanto, não há necessidade de religião. John pergunta-lhe se é natural sentir
a existência de Deus. Ele responde que as pessoas acreditam no que foram
condicionadas a acreditar: "A providência segue a sugestão dos
homens".
John protesta que, se o povo do
Estado Mundial acreditasse em Deus, não seria degradado pelos seus vícios
agradáveis. Teria um motivo para a abnegação e a castidade. Deus, afirma John,
é a razão de "tudo nobre, fino e heroico". Mond diz que ninguém no
Estado Mundial está degradado; as pessoas apenas vivem de acordo com um conjunto
diferente de valores do do Selvagem. A civilização do Estado Mundial não exige
que ninguém suporte coisas desagradáveis. Se, por acidente, algo negativo
ocorre, a soma está lá para tirar a picada. Soma, ele diz, é o "cristianismo
sem lágrimas".
John declara que deseja Deus,
poesia, perigo real, liberdade, bondade e pecado. Mond responde-lhe que os seus
desejos conduzi-lo-ão à infelicidade. John concorda, mas não renuncia aos seus
desejos.
Análise do capítulo XVI de Admirável Mundo Novo
A conversa entre Mond e John é o
coração intelectual de Admirável Mundo Novo. É aqui que as questões
implícitas no resto do romance são explicitadas e discutidas de forma abstrata.
A lógica que Mond fornece para
suprimir o amado Shakespeare de John dá-nos uma chave crucial para entender o
remanescente da conversa. O simples facto de Shakespeare ser velho significa
que ele não contribui para o comportamento do consumidor. (Huxley, é claro,
ignora o facto de as pessoas comprarem novas edições de Shakespeare, dos cursos
universitários de Shakespeare, etc.). Embora esse motivo pareça superficial em
comparação com os argumentos mais desenvolvidos de Mond, chama a nossa atenção
para o fato de o consumismo ser central para o mundo de Admirável Mundo Novo.
Como outras distopias, este romance não mostra apenas um mundo diferente do
nosso, mostra um mundo que é um espelho nosso, com as piores características do
nosso mundo desenhadas e exageradas. Uma das facetas centrais do romance de
Huxley é direcionada contra o valor cada vez maior que é atribuído ao
consumismo.
Ao mostrar um mundo que suprime
instituições e experiências que são sagradas no nosso próprio mundo, a fim de
abrir caminho para o desenvolvimento dos valores do consumidor, Huxley
demonstra um conflito de valores que existe na nossa própria sociedade. O
"valor" que impulsiona o consumidor é simplesmente a satisfação dos
apetites. Em Admirável Mundo Novo, esse valor foi desenvolvido a tal
ponto que as pessoas são "adultas durante o horário de trabalho", mas
são bebés nos momentos de lazer e nos relacionamentos. Portanto, a primeira
crítica de Huxley ao consumismo é que ele é infantil – os adultos devem ser
capazes de outras coisas.
Se o consumo é a
"felicidade" a que Mond se refere na sua descrição do Estado Mundial,
o outro valor em que a sua sociedade se baseia é a "estabilidade". No
pensamento de Mond, felicidade e estabilidade dependem uma da outra. A
estabilidade da qual está a falar é a estabilidade económica, o ciclo
ininterrupto de produção e consumo. Mas a(s) estabilidade(s) emocional,
psicológica e social também são importantes, porque todas elas contribuem para
o primeiro tipo de estabilidade.
O argumento de Mond sobre as coisas
que devem ser sacrificadas para criar uma sociedade "estável e feliz"
pode ser lido, ironicamente, como um argumento segundo o qual os nossos valores
são incompatíveis com o comportamento do consumidor e a estabilidade económica.
Esses valores que ele sacrifica podem ser resumidos da seguinte forma:
▪ Sentimentos, paixões,
compromissos e relacionamentos. Os cidadãos do Estado Mundial não têm pais,
mães, maridos, esposas, filhos ou amantes, porque esses relacionamentos
produzem instabilidade emocional (e, portanto, social), contenda e
infelicidade. Embora seja fácil pensar em maneiras pelas quais os
relacionamentos tornam as pessoas infelizes, pode ser difícil para o leitor
entender porque Mond acha que esses relacionamentos criam fundamentalmente
instabilidade, quando o bom senso e a tradição ditam exatamente o oposto, que a
família é uma das instituições estabilizadoras da nossa sociedade. Uma resposta
pode ser encontrada no capítulo 3, na palestra que Mond dirige aos alunos. Aí
ele argumenta que a parte mais perigosa dos compromissos amorosos com outras
pessoas é a força do sentimento envolvido. Além disso, sustenta que todos os
sentimentos e paixões surgem de impulsos presos, como o desejo que se
experimenta quando não se pode ter imediatamente o amante que se deseja. Essa é
provavelmente a base para sua ideia de que a necessidade de gratificação
imediata do consumidor está em desacordo com os compromissos humanos de longo
prazo.
▪ Igualdade. Mond é bastante
franco sobre o facto de a estabilidade social depender da desigualdade. A maior
parte da sociedade terá de executar tarefas desinteressantes na maioria das
vezes. Essa característica da sociedade do Estado Mundial não é de modo algum
peculiar ao Estado Mundial. De facto, provavelmente é verdade para todas as
sociedades que já existiram. Pode até ser possível argumentar que a nossa
própria sociedade tem tanta desigualdade quanto o Estado Mundial, e que Mond é
apenas mais honesto sobre isso, recusando-se a prestar atenção ao ideal de que
todos os seres humanos são criados iguais. No entanto, o completo abandono do
ideal de igualdade leva a resultados terríveis. A maioria dos embriões humanos
no Estado Mundial é alterada para que o seu potencial de excelência ou
crescimento seja atrofiado. Quando a comparação é feita entre o mundo do
romance e o nosso, surgem em nós perguntas preocupantes, em vez de conclusões
distintas. Dado que a estabilidade económica e social depende de uma
distribuição desigual do trabalho, criará isso contradições destrutivas com o
nosso ideal democrático de que os indivíduos são iguais? (Este tema está
claramente em dívida com os escritos de Karl Marx, cujas ideias fazem parte do
contexto intelectual deste romance. Não é por acaso, por exemplo, que o sobrenome
do dissidente Bernard seja Marx.).
▪ Verdade. Mond diz que a
ciência deve ser suprimida, porque uma sociedade baseada na busca da felicidade
também não pode estar comprometida com a verdade. Ele pode querer dizer que a
ciência, e a busca da verdade de maneira mais geral, tem uma tendência
irresistível para derrubar formas antigas e estabelecidas de encarar as coisas.
A autoridade e a sabedoria convencional contribuem ambas para a estabilidade da
sociedade e, na busca da verdade, ambas são passíveis de serem interrogadas.
▪ Arte. A arte não é um
produto de consumo e a grande arte extrai o seu objeto de sentimentos, paixões,
compromissos e relacionamentos, acima discutidos.
▪ Uma última categoria de
experiências sacrificadas no Estado Mundial pode ser simplesmente rotulada de
"problemas". Huxley pode argumentar que valorizamos os
problemas (velhice, morte, dúvida, até sofrimento), porque valorizamos as
respostas que elas produzem nos seres humanos. Mond, porém, descarta-os por os
considerar a "sobrecompensação para a miséria".
Uma crítica que se pode dirigir à
linha argumentativa de Mond é que os princípios do Estado Mundial o beneficiam,
dado que ele está no topo da classe dominante e goza de isenção das leis que faz.
Poderíamos facilmente descartar tudo o que ele diz, com base no facto de que o seu
verdadeiro interesse é a estabilidade de sua própria posição, e não a
estabilidade e a felicidade da sociedade como um todo. Por outro lado, seria um
erro simplesmente descartar o seu argumento de imediato, porque ele possui
considerável poder e subtileza, desafiando o leitor a contestá-lo nos seus
próprios termos.
Resumo do capítulo XVI de Admirável Mundo Novo
A polícia deixa Bernard, Helmholtz e
John no escritório de Mond. Este chega e diz a John: "Então você não gosta
muito de civilização, Sr. Selvagem.". John concede, mas admite que gosta de
algumas coisas, como o som constante da música. Mond responde com uma citação
de A Tempestade, de Shakespeare: "Às vezes, mil instrumentos de
zumbido zumbem nos meus ouvidos e às vezes vozes." John fica
agradavelmente surpreendido ao descobrir que Mond leu Shakespeare.
Mond faz notar que Shakespeare é um autor
proibido. Em resposta ao questionamento de John, ele explica que essa literatura
é proibida por vários motivos. Em primeiro lugar, coisas bonitas, como boa
literatura, tendem a durar. As pessoas continuam a gostar mesmo quando
envelhecem. Uma sociedade baseada no consumismo, como o Estado Mundial, precisa
de cidadãos que desejem coisas novas. A novidade é, portanto, mais importante
que o valor intrínseco, e a arte de valor deve ser suprimida para dar espaço ao
novo. Em segundo lugar, os cidadãos do Estado Mundial não seriam capazes de
entender Shakespeare, porque as histórias que escreve são baseadas em
experiências e paixões que não existem no Estado Mundial. Grandes lutas e
emoções avassaladoras foram sacrificadas em favor da estabilidade social e
foram substituídas pelo que Mond chama "felicidade", referindo-se à
gratificação infantil de apetites.
John está inclinado a pensar que
esse tipo de felicidade cria seres humanos monstruosos e repulsivos. Ele
desafia o diretor, perguntando se os cidadãos não poderiam ao menos ser criados
como alfas. Mond responde que o Estado Mundial precisa de ter cidadãos felizes a
desempenhar as funções que lhes foram atribuídas, e, como os alfas se sentem
felizes unicamente quando realizam o trabalho alfa (ou seja, intelectual), a vasta
maioria da população realmente precisa de ser degradada e feita estúpida, para
que seja feliz com o seu lugar na vida. Ele exemplifica com uma experiência em
que uma ilha inteira foi povoada por alfas, tendo ocorrido rapidamente uma
guerra civil, porque nenhum dos cidadãos ficou satisfeito com a distribuição de
tarefas.
Embora o Estado Mundial seja uma tecnotopia,
o que significa que é tornado possível graças a tecnologias muitas mais
avançadas do que a nossa, Mond explica que mesmo a tecnologia precisa de ser
mantida sob controles rigorosos para que a sociedade feliz e estável seja
possível. A partir de certo ponto, mesmo as tecnologias de poupança de trabalho
tiveram de ser suprimidas para manter um equilíbrio entre trabalho e lazer.
Para conservar os cidadãos felizes, é necessário mantê-los a trabalhar durante
um certo período de tempo.
A ciência também teve de ser
suprimida para criar uma sociedade feliz e estável, o que é particularmente irónico,
porque os cidadãos do Estado Mundial são ensinados a reverenciar a ciência como
um dos seus valores mais fundamentais. No entanto, nenhum deles – nem mesmo os
Alfas, como Helmholtz e Bernard – realmente possui qualquer treino científico,
portanto nem sabem o que é ciência. Mond também não explica o que é, embora
faça alusão à sua própria carreira como jovem cientista que se envolveu em
problemas ao desafiar a sabedoria convencional. Pode inferir-se daqui que, por
“ciência”, Mond se refere à busca de conhecimento por meio do método
experimental. Em suma, a ciência não pode existir no Estado Mundial porque a
busca da "verdade" entra em conflito com a felicidade. Isto é muito sugestivo,
porque implica que toda a sociedade é de alguma forma construída sobre
mentiras, mas ele é tentadoramente pouco ou nada claro sobre a quais verdades e
quais mentiras se está a referir.
Mond diz a Helmholtz e Bernard que
eles serão exilados. Este começa a implorar a Mond que mude a sua sentença.
Três homens arrastam-no para o sedar com soma. Mond diz que Bernard não sabe
que o exílio é realmente uma recompensa, dado que as ilhas estão cheias das
pessoas mais interessantes do mundo, indivíduos que não se encaixavam na comunidade
do Estado Mundial. Diz mesmo a Helmholtz que quase o inveja. Este pergunta por
que razão, se tem tanta inveja, não escolheu o exílio quando lhe foi oferecida
a possibilidade. Mond explica que prefere o trabalho que realiza a gerir a
felicidade dos outros.
Mond acredita que as ilhas são boas
para se ter à mão, pois dissidentes como Helmholtz e Bernard provavelmente
teriam de ser mortos se não pudessem ser exilados. Ele pergunta a Helmholtz se
gostaria de ir para uma ilha tropical, ao que este responde que prefere uma com
um clima mau, pois isso poderá ajudá-lo a escrever, acabando por acatar a
sugestão de Mond de que vá para as Ilhas Falkland.
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