Português

quarta-feira, 11 de junho de 2025

Resumo de O Meu Pé de Laranja Lima

    O Meu Pé de Laranja Lima é uma obra narrativa autobiográfica que relata a infância sofrida e as desventuras de Zezé, um menino de cinco anos natural de Bangu, periferia do Rio de Janeiro, no final dos anos 20 do século XX. Muito esperto e independente, aprende a ler sozinho e, como qualquer criança deixada solta, “vive aprontando”, expressão que designa as asneiras e partidas que prega e que, regra geral, têm consequências desastrosas para quem as faz e as sofre: “Aprendia descobrindo sozinho e fazendo sozinho, fazia errado e fazendo errado, acabava sempre tomando umas palmadas.”

    A sua vida é tranquila e estável, habita uma casa confortável e vive com conforto material, até ao momento em que o pai perde o emprego e a mãe se vê forçada a trabalhar na cidade, mais especificamente no Moinho Inglês, uma fábrica de tecidos. Para agravar a situação, a família é extensa – Zezé tem cinco irmãos: Glória, Totoca, Lalá, Jandira e Luís. Operária na fábrica, a mãe passa o dia a trabalhar enquanto o pai, desempregado, fica em casa e começa a beber. Em virtude da nova situação para que é arrastada, a família vê-se forçada a mudar de casa e a levar uma vida modesta, por isso não é de espantar que os Natais outrora fartos sejam substituídos pela mesa vazia e por uma árvore sem presentes. No quintal da nova residência, existem diversas árvores, e cada membro da família escolhe uma para chamar sua. Zezé é o último a escolher e fica com um modesto pé de laranja lima, com o qual mantém longas conversas e a que chama carinhosamente Minguinho e Xururuca. Dadas a sua traquinice e as constantes travessuras, é frequente ser agredido fisicamente pelos pais e pelos irmãos, indo depois consolar-se com a árvore. Certa vez, foi sovado de tal maneira por uma das irmãs e pelo pai que ficou uma semana sem ir à escola.

    A outra grande amizade de Zezé é Manuel Valadares, também conhecido por Portuga, um emigrante português que trata a criança com o afeto, a atenção e paciência que não tinha em casa. Por uma fatalidade do destino, Valadares é atropelado pelo comboio e morre, evento que tem um fortíssimo impacto em Zezé, que fica doente. Outro acontecimento dramático marca negativamente a sua vida: o pé de laranja lima é cortado por ter crescido mais do que era suposto.

    Zezé recupera e recomeça avida, apesar de sentir um enorme vazio. Entretanto, a situação económica da família melhora quando o pai encontra emprego numa fábrica. Por outro lado, não há também motivo para temer o corte do pé de laranja lima, dado que tal não acontecerá tão cedo. É neste contexto que a história termina, com Zezé a assumir simbolicamente que a sua árvore amiga já fora cortada, associando-a ao desaparecimento do Portuga, sem o pai perceber.

    A ação termina com o narrador a ser um Zezé agora adulto que se dirige a Manuel Valadares, mais de quarenta anos depois, e lhe confessa o impacto que teve na sua existência. Por outro lado, desabafa a influência que teve em si o facto de ter sido precocemente atingido pela realidade dura e cruel, que choca com a inocência, a alegria e a esperança que deveriam caracterizar a infância.

Época de escrita de O Meu Pé de Laranja Lima

    O período de vida de José Mauro de Vasconcelos coincidiu com uma época marcada por algumas das transformações mais importantes ocorridos no mundo ocidental.
    Em termos históricos e políticos, o escritor viveu a sua adolescência e juventude no chamado Período (ou Era) Vargas, numa alusão ao governo liderado por Getúlio Vargas, entre 1930 e 1945. Esta fase da História do Brasil ficou marcada por um conjunto de reformas sociais e económicas que tiveram como foco principal a industrialização e a crescente urbanização, bem como pela forte centralização do poder e pelo nacionalismo.
    Posteriormente, surge o período histórico que coincide com a vida adulta do escritor e que diz respeito à fase compreendida, sensivelmente, entre a década de cinquenta e o início dos anos 80 do século XX. São anos marcados pela instabilidade política e pela alternância entre a democracia e a ditadura militar, que se estendeu de 1964 a 1985. Assim sendo, quando publicou O Meu Pé de Laranja Lima, o Brasil já estava sob o regime militar, caracterizado, entre outras coisas, pela censura e pela repressão política. Esta época de alternância ficou marcada por um surto de crescimento e progresso, acompanhado de grandes desequilíbrios sociais, que persistem e, de certo modo, se acentuam na vida quotidiana dos brasileiros. Ao tema da pobreza juntam-se, sistematicamente, os da injustiça e da opressão, por exemplo, e que inspiram muitas das suas obras. A taxa de pobreza era muito elevada, havia graves problemas de acesso à educação e saúde, especialmente no interior do país e entre as classes mais baixas, daí que muitas famílias migraram do campo para as cidades em busca de melhores condições. Além disso, havia também problemas de negligência infantil, com crianças de classes populares a enfrentarem abandono, trabalho precoce e violência, temas tratados em diversos livros de José Mauro de Vasconcelos.
    Culturalmente, a vida do escritor coincide com as diferentes fases do Modernismo, caracterizado pela liberdade criativa, pelo olhar atento ao comportamento humano, pela tendência para exibir traços nacionalistas e pela valorização dos aspetos que revelam a identidade de cada região.
    Por outro lado, novamente nas palavras de Miguel Santos (op. cit., p. 6), “Privilegia-se […] o espaço da imaginação, a exploração dos limites da consciência racional do indivíduo, o papel do sonho e até do delírio, mas, ao mesmo tempo, não se negligencia o real, a ciência, o conhecimento e promove-se uma visão reflexiva e inquiridora face ao mundo. São também estes alguns dos traços que tornam a sua obra não só uma viagem através da sensibilidade humana, mas também um relevante e esclarecedor testemunho acerca da realidade social, de que todos fazemos parte.”

terça-feira, 10 de junho de 2025

A obra de José Mauro de Vasconcelos

    Miguel Neves Santos, numa análise de O Meu Pé de Laranja Lima, publicada na coleção Análise de Obras Essenciais, da Fábula Educação, pronuncia-se sobre a obra de José Mauro de Vasconcelos nos seguintes termos: “A nitidez dos cenários que apresenta nos seus textos decorre, então dos espaços e ambientes que ele mesmo percorre, à medida que interiormente vai dando forma aos seus romances, através da memória e da imaginação. O autor define da seguinte maneira a génese do seu processo criativo: «Quando a história está inteiramente feita na imaginação é que começo a escrever. Só trabalho quando tenho a impressão de que o romance está saindo por todos os poros do corpo. Então vai tudo num jacto.»
    É talvez por isso que as obras de José Mauro se revestem de uma linguagem simples, tantas vezes corrente e popular, mas com uma acuidade tremenda, que coloca o leitor em permanente contacto com os aspetos concretos da realidade em que o autor quis reparar e nos quais quis que o leitor se focasse.
    Neste contexto, O Meu Pé de Laranja Lima (1968) surge como um dos momentos mais altos da carreira literária do autor. Redigido numa fase de inquestionável maturidade artística, esta obra coloca em evidência as suas virtudes poéticas, naquela que é também uma viagem ao passado, num romance com um evidente cariz autobiográfico, posto desde logo em destaque pela escolha do nome do protagonista, Zezé, mais uma das múltiplas ocasiões em que a infância de José Mauro se projeta literariamente.
    A história desta criança de seis anos, personagem principal do enredo, criou um estrondoso impacto em leitores de todas as idades, facto que se mantém até aos dias de hoje, visto tratar-se de uma das obras mais lidas de sempre. De facto, continua a ser admirável o número de pessoas que, ao longo dos anos, vai afirmando que foi esta a sua primeira leitura significativa enquanto jovens, que foi esta a primeira vez que entenderam o valor emocional que um livro pode acarretar, que foi após a leitura desta obra que se tornaram verdadeiramente leitores.
    Em suma, José Mauro de Vasconcelos coloca nas suas obras as vivências quotidianas de um mundo contemporâneo que definitivamente tarda em revelar-se moderno e sofisticado para todos. A sua escrita expõe o seu apreço pela clarificação dos pensamentos e sentimentos das personagens a cada instante. Além dos papéis sociais, importa sobretudo a dimensão psicológica e a carga emotiva que cada pessoa traz consigo (nada melhor que uma criança para reparar com profundidade nos aspetos mais simples da existência). São esses cenários repletos de humanidade que privilegia e é precisamente esse lado pessoal que permite ao leitor ligar-se às vidas que vão surgindo página após página. Muitas das obras do autor estabelecem, inclusivamente, interessantes nexos de intertextualidade com outros romances e autores da época, como, por exemplo, a célebre história d’ Os Capitães da Areia, publicado em 1939, por Jorge Amado.”

Obras de José Mauro de Vasconcelos

. Banana Brava (1942)

. Barro Blanco (1945)

. Longe da Terra (1949)

. Arara Vermelha (1953)

. Arraia de Fogo (1955)

. Rosinha, Minha Canoa (1962)

. Doidão (1963)

. O Garanhão das Praias (1964)

. O Meu Pé de Laranja Lima (1968)

. Rua Descalça (1969)

. O Palácio Japonês (1969)

. Farinha Órfã (1970)

. Chuva Crioula (1972)

. O Veleiro de Cristal (1973)

. Vamos Aquecer o Sol (1974)


segunda-feira, 9 de junho de 2025

Biografia de José Mauro de Vasconcelos

    José Mauro de Vasconcelos nasceu em Bangu, no Rio de Janeiro, no dia 26 de fevereiro de 1920, no seio de uma família pobre, oriunda do Nordeste brasileiro e com raízes portuguesas (era filho de um imigrante lusitano). Viveu uma infância com parcos recursos, tendo ido viver aos 8 anos para casa de uns tios, na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte. Os seus primeiros anos foram marcados, portanto, por um contexto socioeconómico desfavorável, um facto de que contribuiu para que tivesse um olhar bastante crítico sobre o mundo. A nova família educou-o com esmero, porém acabou por se aperceber de que era um «menino dado», o que deixou marcas no seu trabalho adulto como uma nostalgia de perda.
    Aos 9 anos, aprendeu a nadar e recordou, ao longo de toda a sua vida, com grande prazer, a época em que mergulhava nas águas do Rio Potengi para se preparar para competições de natação em que participava regularmente, tendo vencido diversas. O seu primeiro emprego sucedeu aos 16, 17 anos, como parceiro de treino de boxers peso-pena.
    A sua juventude foi agitada, nomeadamente após os anos de frequência da escola, marcada por um curso superior inacabado e incursões em áreas profissionais muito distintas (carregou bananas numa quinta em Mazomba, foi pescador, garimpeiro, pugilista, professor primário em Recife...). No curso ginasial, leu romances de Graciliano Ramos, Paulo Setúbal e José Lins do Rego.
    A frequência durante dois anos do curso de Medicina permitiu-lhe que se tornasse uma espécie de enfermeiro, enquanto viajava pelo interior profundo do Brasil. Por outro lado, serviu de modelo para o Monumento à Juventude Brasileira, uma estátua da autoria do escultor Bruno Giorgi, em 1941, que foi colocada nos jardins do Ministério da Educação, no Rio de Janeiro.
    À semelhança do que sucedeu com o escritor Lima Barreto, conviveu de perto com a loucura, dado que o pai adotivo era diretor de um hospício e aí teve oportunidade de ler livros de psiquiatria e conviveu com os loucos. Numa entrevista dada à revista “Manchete”, em 1973, declarou que talvez esse interesse o tenha conduzido à frequência do curso de Medicina.
    Depois de ter concluído os estudos secundários, José Mauro de Vasconcelos frequentou sucessivamente as faculdades de Medicina, Direito e Desenho e Filosofia, sem, contudo, ter concluído qualquer curso. Em 1952, beneficiando de uma bolsa de estudos, frequentou durante três dias a Universidade de Salamanca, em Espanha, saindo com o pretexto de que “tudo ali era muito chato”, facto que evidencia o seu empenho em dar prioridade às múltiplas experiências que se inscrevem no lado mais prático e emocional da sua vida, em detrimento de um saber académico que condicionasse a liberdade da sua imaginação. De Salamanca partiu para Madrid, Itália e França, a expensas próprias. Regressado ao Brasil, estabeleceu-se no Rio de Janeiro, cidade onde trabalhou como lutador de boxe, como referido anteriormente.
    Começou a escrever em 1940, tendo sido os romances de estreia – Banana Brava e Barro Blanco – bem recebidos pelos críticos literários, tendo chegado a ser comparado a Jack London. As experiências vividas foram criando a matéria-prima para as suas histórias. Com efeito, os traços realistas e autênticos das suas obras decorrem, de facto, do seu contacto com questões como a pobreza extrema, as desigualdades sociais, a mudança, a família, a morte e os sonhos. De facto, o conhecimento que foi adquirindo, sobretudo durante as suas viagens, a partir dos 20 anos, pelo Brasil e pela Europa, constituiu uma das principais bases da sua criação literária. Por exemplo, da sua primeira viagem à selva, durante a qual abriu mato a peito, morou com os índios e se aventurou no garimpo, nasceu a obra Banana Brava, um livro-experiência que lhe “custou a perna direita quebrada em três lugares”. No regresso da aventura, ao subir o rio Tocatins, trazia a obra pronta na cabeça, tendo-a escrito em 27 dias. Quando chegou a São Paulo, onde residia por favor na casa de uma tia, decidiu tratar da perna paralisada, por isso viajou para o Rio de Janeiro a fim de se tratar num hospital de indigentes, onde conheceu um grade dominicano que leu o livro e o levou para a Editora Agir.
    José Mauro de Vasconcelos, apesar das suas origens bem humildes, frequentou a alta sociedade paulista, aparecendo com frequência nas colunas sociais de Tavares de Miranda, da revista “O Cruzeiro”. Por outro lado, soube também valorizar as dedicatórias inscritas nos seus textos. Por exemplo, em O Meu Pé de Laranja Lima, faz uma oferta a Ciccillo, com a advertência “para os vivos” na edição original, e “para os que nunca morreram”, nas edições posteriores à morte do amigo, antes de mencionar os parentes já falecidos.
    José Mauro de Vasconcelos participou também no cinema nacional. Assim, em 1956, no romance Arara Vermelha foi adaptado e distribuído pela Columbia Pictures do Brasil, com Tom Payne na realização e Anselmo Duarte, Odete Lara, Milton Ribeiro, Hélio Santos e Ricardo Campos no elenco. Em 1961, estreou-se como ator no filme Mulheres e Milhões, tendo sido galardoado com o prémio Saci de melhor ator. Em 1962, participou em A Ilha, ao lado de grandes nomes, como Eva Vilma, Elizabeth Hartman ou Laura Verney.
    José Mauro de Vasconcelos faleceu em São Paulo, a 24 de junho de 1984, aos 64 anos, vítima de uma broncopneumonia.

sexta-feira, 6 de junho de 2025

Trump e Putin e o Bastardistão

Bastardistão

 1. Introdução
 
    A caricatura política tem uma longa tradição como forma de crítica social e política, servindo de espelho — por vezes distorcido, por vezes intensamente preciso — da realidade contemporânea. Num único quadro, é possível condensar ideias, emoções, ideologias e posicionamentos com uma força simbólica raramente encontrada em discursos extensos ou análises formais. Este cartune, do artista Kamensky, retrata o mundo dividido entre “Trumpistão” e “Putinistão” e constitui um exemplo notável dessa capacidade de síntese e provocação, oferecendo-nos uma leitura alegórica e crítica do panorama internacional atual, nomeadamente da forma como Rússia e Estados Unidos «negociam» o conflito que resultou da Invasão da Ucrânia por parte dos russos.

2. Os Arquétipos Autoritários: Trump e Putin como Representações de Regimes
 
2.1. Donald Trump
 
    Trump surge de pé, com uma postura hirta, uma expressão facial de resolução fria, com traços rígidos e fechados – sem empatia, sem sorriso. Os olhos parecem cerrados. Por cima do lábio superior, é visível um bigode que recorda o característico de Hitler. No que diz respeito ao vestuário, usa o seu icónico traje de campanha: um fato escuro (azul-marinho ou preto), gravata vermelha comprida (uma das suas peças de vestuário mais típicas) e camisa branca. No braço esquerdo, exibe uma braçadeira vermelha com um círculo branco, que contém ao centro a letra T (de Trump, traduzindo um exercício do poder político autocrático e de culto da personalidade), que evoca a estética autoritária ou paramilitar (semelhante às usadas em regimes totalitários por figuras como Adolf Hitler ou Mussolini). O cabelo apresenta tonalidades amarelas-claras / douradas, penteado numa espécie de topete volumoso inclinado para trás, como é característico da figura real. O rosto é redondo, apresenta bochechas volumosas e lábios comprimidos, traços enfatizados pela caricatura para transmitir a sensação de rigidez e arrogância. Por outro lado, o tom de pele alaranjado, outro traço característico das caricaturas de Donald Trump, remete para a maquilhagem que, normalmente, usa em público. Na mão direita, segura uma motosserra que pinga sangue e emite fumo negro, pormenores que simbolizam a convivência com os atos violentos de Putin por motivos taticistas e economicistas
    A representação de Donald Trump no cartune vai muito além da caricatura física. Ele surge como símbolo de um estilo político marcado pelo populismo, pela confrontação com instituições democráticas e pelo culto à personalidade. A gravata vermelha, o fato escuro e a expressão determinada são reforçados por uma motosserra ensanguentada, um objeto que dispensa explicações sobre a natureza destrutiva da liderança que representa.
    A presença de uma braçadeira com a letra “T” no braço de Trump (a inicial do seu próprio nome) é uma clara alusão aos símbolos totalitários do século XX. Embora não haja referência direta ao nazismo, o uso da braçadeira evoca associações com regimes que apostaram na identificação simbólica total com o líder. Tal iconografia insinua que o “Trumpistão” é mais do que uma extensão dos EUA — é uma entidade ideológica alternativa, autoritária e violenta.

2.2. Vladimir Putin
 
    Do lado oposto da imagem, Putin surge como guerreiro arquetípico. De tronco nu e com o símbolo “Z” — associado às tropas russas na guerra contra a Ucrânia — o presidente russo carrega um machado ensanguentado. A escolha da arma é significativa: o machado evoca brutalidade, execução sumária, punição corporal. Por outro lado, convém ter presente que a letra “Z” começou a aparecer pintada em veículos militares russos nos primeiros dias da invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022. Originalmente, servia como uma marcação tática, usada pelas forças russas para distinguir os seus veículos dos ucranianos no campo de batalha — especialmente porque ambos os lados utilizavam modelos semelhantes de armamento soviético. Porém, acabou por ser interpretada como uma alusão ao presidente ucraniano, Zelensky, e ao objetivo russo de o eliminar.
    Ele encontra-se também de pé, de frente para Trump, numa posição espelhada que sugere igualdade (ideológica? de ação? de propósito?). A sua expressão é impassível e fria, típica das caricaturas que o representam como um homem calculista, frio e insensível. Por seu turno, os olhos estão cerrados, enquanto, por cima do lábio superior, ostenta um bigode similar ao de Estaline, um antigo dirigente soviético sanguinário. No que diz respeito ao vestuário, encontra-se, de facto, de tronco nu, realçando a musculatura magra e o peito, uma imagem que procura reproduzir fotografias em que Putin se deixou fotografar desse modo, procurando transmitir uma representação sua como homem viril, guerreiro. Usa umas calças militares verde-escuras com um cinto largo, no qual está preso um machado grande, de lâmina larga, completamente coberto de sangue, simbolizando as vítimas que faz com a invasão da Ucrânia, no que constitui uma alusão ao célebre machado de guerra, cuja origem remonta às culturas indígenas da América do Norte e que, hoje em dia, é usada como metáfora para conflito, hostilidade ou confrontação aberta. O machado de guerra era uma arma real utilizada por várias tribos indígenas, como os Apaches, por exemplo, a qual possuía igualmente um valor cerimonial e simbólico. Quando duas tribos em guerra faziam a paz, era tradição enterrar o machado de guerra, um gesto que simbolizava o fim das hostilidades. Daí surgiu a expressão «enterrar o machado de guerra», que conserva o significado de pôr fim a um conflito. Prosseguindo a descrição de Putin, calça umas botas militares de cano alto, reforçando o papel de comandante em tempo de guerra. No braço esquerdo, que está caído ao longo do corpo, enverga uma braçadeira similar à de Trump, sendo a única diferença o facto de conter a letra Z, uma alusão, como já foi referido, ao líder ucraniano, Zelensky, o alvo prioritário das forças russas. O cabelo, de tons acinzentados, é muito curto, acentuando o seu aspeto militarista e austero. O rosto é anguloso, salientando-se o queixo pontiagudo, as bochechas rosadas e a pele entre o pálido e o rosado mais suave. As rugas na testa e entre os olhos sugerem tensão, experiência e um certo desgaste físico.
    Regressando aos bigodes das duas figuras – Trump possui um semelhante ao de Hitler e Putin ao de Estaline, podemos estar perante uma alusão ao acordo assinado, por altura da II Guerra Mundial, entre o então líder alemão e o soviético – o célebre Pacto Molotov-Ribbentrop (datado de 23 de agosto de 1939) –, que dividia a Europa Oriental em duas esferas de influência e que tinha como objetivo evitar uma guerra entre a Alemanha e a União Soviética.
    Em suma, a representação de Putin assenta num imaginário de força bruta e sobrevivência, características muitas vezes exaltadas na propaganda oficial russa. O “Putinistão” torna-se assim a imagem de um regime baseado na violência estatal, no expansionismo territorial e na supressão da dissidência interna.

3. A Estética da Violência: Motosserra, Machado e Sangue
 
3.1. Os Objetos como Metáforas do Poder
 
    O uso de armas primitivas e ensanguentadas — a motosserra de Trump e o machado de Putin — reforça a ideia de que o poder que exercem não é racional, civilizacional ou democrático. São instrumentos que destroem, mutilam e intimidam. O sangue que pinga dos mesmos, e que se acumula no chão, simboliza os custos humanos e éticos das suas políticas.
    No caso de Trump, a motosserra pode também ser lida como referência à devastação ambiental, especialmente face ao seu negacionismo climático e desregulação das proteções ecológicas nos EUA.

3.2. A Poética do Sangue
 
    O sangue é o símbolo mais explícito do cartune. Não há tentativa de disfarçar ou suavizar a violência — pelo contrário, ela é frontal, visível e omnipresente. O aperto de mão entre os dois líderes acontece com as mãos manchadas de sangue, uma poderosa metáfora da cumplicidade na destruição de direitos, vidas e democracias. Na prática, Trump, que prometeu acabar com a guerra rapidamente durante a campanha para a sua eleição, tem-se comportado quase como um aliado de Putin, mostrando-se disponível para sacrificar a independência da Ucrânia, desde que os seus interesses em solo ucraniano sejam atendidos. É também uma denúncia clara de que a aliança ideológica entre os dois não é apenas teórica ou retórica: ela tem consequências materiais e trágicas.

4. A Geografia da Ideologia: Trumpistão, Putinistão e Bastardistão

4.1. A Divisão do Mundo em Blocos Ideológicos
 
    Ao fundo, vemos o globo terrestre dividido. De um lado, o “Trumpistão”; do outro, o “Putinistão”. Esta bipartição não representa nações reais, mas sim zonas de influência ideológica, como se o mundo estivesse a ser repartido por duas potências autoritárias concorrentes, mas paradoxalmente aliadas. Trata-se de uma distorção do mapa-múndi que substitui fronteiras políticas por fronteiras simbólicas, representando a guerra ideológica em curso.
    Esta representação evoca, de forma distorcida, a lógica da Guerra Fria, mas sem o contraponto da democracia liberal. Aqui, não há um “mundo livre” (o bloco ocidental) — apenas dois modelos de autoritarismo que se fortalecem mutuamente.

4.2. Bastardistão: O Mundo Bastardo
 
    A inscrição “DIE WELT BASTARDISTAN” em letras vermelhas chama imediatamente a atenção. “Die Welt” significa “o mundo” em alemão; o termo inventado “Bastardistão” insinua que o mundo está a ser dominado por regimes violentos e sanguinários. Este conceito remete à ideia de que a política internacional foi sequestrada por figuras que destroem valores universais, deslegitimando qualquer noção de ordem global assente no direito, na ética ou nos direitos humanos.

5. Elementos Visuais Secundários e Simbologia Oculta
 
5.1. A Lata de Tinta
 
    Ao centro, no chão, encontra-se uma lata de tinta vermelha (sangue), em cima da qual está um pincel molhado. No solo, existem diversas manchas de tinta vermelha (novamente sangue), algumas das quais caem da motosserra de Trump e do machado de Putin. O pincel e a tinta foram usados para dividir o mapa-múndi ao meio, representando as duas metades do mundo, cada uma dominada pelas duas figuras do cartune.

5.2. A Linha Vermelha
 
    A linha vermelha que divide o mundo ao meio (O Ocidente dominado por Trump e o Oriente por Putin), divisão essa marcada a sangue, evoca a Guerra Fria, durante a qual o mundo foi dividido em dois blocos – o ocidental (capitalista e democrático), liderado pela NATO e pelos Estados Unidos, e o Bloco de Leste (comunista), dominado pela União Soviética e pelo Pacto de Varsóvia. Essa linha imaginária evocava uma fronteira ideológica e não apenas territorial, enquanto a do cartune se refere a dois modelos de autoritarismo populista.

6. Significado Político e Cultural da Caricatura
 
6.1. O Papel da Sátira Política
 
    A caricatura de Kamensky insere-se na tradição da sátira como resistência. Ao exagerar, deformar e provocar, a sátira obriga-nos a confrontar realidades que muitas vezes preferimos ignorar. Como afirmou George Orwell, "toda a arte é política", e neste caso, a arte é também um grito de alerta. Não se trata de humor leve — trata-se de um comentário feroz sobre a realidade global, que apela à ação, à consciência crítica e à resistência cultural.

sábado, 31 de maio de 2025

Trump e Putin a brincar com o fogo da guerra


    Este cartune, de forte teor crítico e simbólico, retrata os líderes Donald Trump e Vladimir Putin, respetivamente dos Estados Unidos e da Rússia, em trajes primitivos, agachados ao redor de uma fogueira onde arde uma espécie de rolo de madeira das cores da Ucrânia com a palavra “Ukraine”, numa cena que evoca o homem pré-histórico, fazendo uso do fogo no interior de uma caverna (sugerida pelo fundo da imagem escuro) para cozer alimentos. A cena é carregada de ironia e simbolismo político, aludindo diretamente ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia, mas também à postura ambígua dos Estados Unidos em relação ao mesmo.

    Donald Trump aparece a segurar um pau com um pombo branco (símbolo da paz) preso na ponta, que está a assar diretamente sobre o fogo. O pombo transporta no bico um ramo de oliveira verde (símbolo da esperança e da vida), reforçando a imagem da paz ameaçada. Ao mesmo tempo, Trump dirige-se a Putin com a frase: “Vlad, don’t play with fire!” (“Vlad, não brinques com o fogo!”). Esta fala metafórica comporta uma pesada carga de ironia, pois ele próprio está a contribuir ativamente para o agravamento do conflito, demonstrando uma hipocrisia implícita — alerta o outro para o perigo enquanto pratica uma ação igualmente incendiária.

    Putin, por sua vez, é representado com uma expressão feroz e uma postura agressiva, lançando mísseis em direção ao lume. A sua atitude deixa claro o papel ativo da Rússia no conflito (o iniciador e instigador), reforçando a ideia de que está a alimentar intencionalmente as chamas da guerra.

    A imagem do fogo, símbolo universal de destruição, violência e descontrolo, representa aqui a guerra na Ucrânia. Recordemos que o seu domínio foi uma das maiores conquistas da humanidade, símbolo de poder e sobrevivência. Neste cartune, o fogo é usado para “cozinhar” a paz, representada pelo pombo, o que sugere que esses líderes ainda lidam com os conflitos de forma bárbara, destrutiva e impulsiva, como se estivessem presos a uma mentalidade arcaica. Por sua vez, o toro com a inscrição “UKRAINE” funciona como base da fogueira, indicando que é este território o foco da destruição e da disputa de poder entre as grandes potências.

    Ambos os líderes estão infantilizados e caricaturados, com corpos desproporcionais e em trajes ridículos, o que pode ser interpretado como uma crítica à sua falta de maturidade e responsabilidade, bem como à ausência de racionalidade que os caracteriza. Esta escolha estética sugere que, apesar do poder que detêm, comportam-se como crianças inconscientes das consequências das suas ações.

    Em suma, o cartune utiliza o humor negro e a caricatura para expor a incoerência e a irresponsabilidade dos líderes mundiais perante um conflito de grande escala. Ao apresentar Trump como alguém que parece apelar à paz enquanto participa na sua destruição e Putin como o instigador ativo da violência, a imagem comporta uma crítica contundente: a paz está a ser sacrificada por egos políticos, jogos de poder e atitudes que, embora envoltas em discursos oficiais, são profundamente destrutivas. É uma representação visual poderosa da complexidade e da tragédia geopolítica contemporânea.

quinta-feira, 8 de maio de 2025

Benfica é campeão de voleibol feminino

Voleibol feminino Benfica

    Cinquenta anos depois, o Benfica volta a ser campeão nacional de voleibol feminino, conquistando o seu 10.º título. A última vez que tinha acontecido fora na longínqua época de 1974-1975, a qual coincidiu com o nono título obtido pelas chamadas Marias.

    «As Marias do Benfica» é a designação com que ficou conhecida a equipa do Benfica dos anos 60 e 70 do século XX, a qual conquistou nove títulos nacionais consecutivos entre 1966/67 e 1974 e 1975. O nome não surgiu por acaso. De facto, todas as jogadoras dessa equipa de ouro se chamavam Maria.

    Cinquenta anos depois, o campeonato regressa a casa.

Campeãs nacionais

sexta-feira, 2 de maio de 2025

"Amor, co'a esperança já perdida", análise do poema de Camões

Este soneto, com rima interpolada e emparelhada nas quadras e interpolada nos tercetos, segundo o esquema rimático ABBA / ABBA / CDE / CDE, e versos decassilábicos sáficos (vv. 8 e 10) e heroicos (os restantes), aborda o tópico navigium amoris, herdado dos poetas gregos e latinos, ou seja, o amor – personificado enquanto divindade – é como um mar tempestuoso, o mar das paixões amorosas, em que se debate o barco que simboliza o amante.

    O «eu» poético dirige uma apóstrofe ao Amor personificado, comunicando-lhe ter visitado o seu templo depois de ter perdido a esperança por ter ficado sem o seu amor. Segundo Faria e Sousa, Camões cantou as esperanças de duas formas: “la primera por las finezas de sus amores que dulcemente cantava; la segunda la de sus cantos celebrando la Patria y los Heroes della”. Neste soneto, o poeta recorre à renuntiatio amoris como motivo principal, construída sobre a metáfora do naufrágio amoroso. A primeira quadra versa precisamente sobre a representação do motivo do ex-voto,isto é, o sofrimento amoroso é comparado a uma tempestade da qual o marinheiro foi salvo e, por isso, leva as suas oferendas ao templo como agradecimento à divindade que o salvou. A fonte de inspiração de Camões foi a ode 5 do livro I de Horácio. Por outro lado, além deste soneto, ele aborda o mesmo tópico noutros poemas, como, por exemplo, “Como quando do mar tempestuoso”. Camões, neste soneto, apresenta a oferta do ex-voto não no formato de roupas, mas sim a própria vida. Por outro lado, se Horácio e Garcilaso, nos seus poemas, agradecem por ainda estarem vivos e livres desse amor, o poeta português doa a sua “alma, vida e esperança”, lamentando o facto de ainda estar vivo, e queixando-se da privação desse amor.

    Apesar do texto fixado por Costa Pimpão apresentar o termo «soberano» no segundo verso, as fontes manuscritas trazem «sagrado», divergência que é entendida por alguns estudiosos como uma correção imposta pela censura, desde logo porque não é o único caso em que aquela modificou o texto de um poema camoniano. De facto, a censura foi uma prática tradicional da Igreja, que, na luta contra a heresia, proibia a publicação de termos pouco ortodoxos, como, por exemplo, tratar como «sagrado» o templo do Amor. Sendo exclusivamente reservado ao uso religioso, esta palavra pertence à lista de vocábulos que foram objeto de censura.

    O «eu» poético – aquele que ama – deposita a alma, a vida e a esperança mo templo do Amor, em vez das oferendas comumente dadas aos deuses pelos náufragos como forma de agradecimento. Regra geral, os náufragos seguiam até ao templo dos deuses para agradecer o facto de ainda estarem vivos, porém Camões atua de forma inversa, isto é, coloca o sujeito poético a deslocar-se ao templo para protestar o facto de ainda estar vivo e questiona o desejo de vingança do próprio Amor, que é percebido como entidade hostil, chegando mesmo a afirmar que a maior vingança seria deixá-lo vivo a chorar do que tirar-lhe a vida: “nelas podes tomar de mim vingança; / e se inda não estás de mim vingado, / contenta-te com as lágrimas que choro.” (vv. 12-14).

    O sujeito lírico põe a sua vida em vez das oferendas habitualmente feitas, porque já se considerava morto para as pretensões do mundo, em particular as amorosas, ou porque desejava morrer. O nome «vestidos» (v. 4) alude ao facto de o náufrago, depois de escapar ao perigo, pendurar as vestes e outros despojos do naufrágio, como ex-voto, na parede do tempo do deus invocado durante a tempestade em alto mar. Os «vestidos» eram os principais testemunhos de um naufrágio, que eram colocados no templo. Esta passagem do soneto forma uma imagética associada ao tópico do naufrágio amoroso.

    A imagem do templo do Amor, presente na primeira quadra, pode assumir três formas diferentes. A mais simples é o templo como igreja, que encontramos, por exemplo, em Malatesta Malatesi. Noutra, templo é usado como metáfora do corpo, nomeadamente da pessoa amada, como sucede com Pietro Bembo ou Bernardo Capello, que assinala as semelhanças entre o templo do Amor e o rosto da mulher amada: as portas são os lábios; o teto é o cabelo louro, que cobre paredes de mármore brancas e vermelhas, isto é, a face; o grande tesouro são as próprias tranças de ouro. Por vezes, o templo refere-se ao coração do amante, dado que guarda o culto e a memória da imagem amada.

    Nos dois versos iniciais da segunda quadra, o «eu» poético questiona Amor, perguntando-lhe que mais poderá querer dele, depois de ter destruído toda a glória que alcançara, isto é, o privilégio de ter vivido um amor sublime. O facto de poder desfrutar, ou não, deste amor está no poder da divindade. No momento em que decide retirá-lo, é considerado pelo que ama como um tirano. Os dois versos seguintes, por meio da metáfora e do oximoro, apresentam a recusa do sujeito lírico em “tornar a entrar onde não há saída”, ou seja, num caminho sem saída.

    O verso 9 apresenta uma enumeração de três nomes: «alma», «vida» e «esperança», dois dos quais se encontram no primeiro («esperança») e no quarto («vida») da primeira quadra. Esses três nomes designam os «despojos», os restos ou fragmentos do passado. Na prática, os versos 9 e 10 patenteiam o jogo dialético, bem característico de Camões, entre o bem passado (“de meu bem passado”) e o mal presente. Esse bem durou “enquanto quis aquela que eu adoro.” (v. 11), ou seja, enquanto lhe correspondeu amorosamente?

    O segundo terceto constitui o clímax do soneto. O sujeito poético, depois de ter oferecido a sua alma, vida e esperança, acaba oferecendo as suas próprias lágrimas – o seu sofrimento, a sua mágoa, a sua dor –, que são para ele mais dolorosas do que a própria morte. Atente-se no recurso ao poliptoto (figura de estilo que faz a alteração flexional de uma parte do corpo da palavra) de “mim vingança” / “de mim vingado”. Note-se que o Amor é representado, nesta composição poética, como uma entidade mítica caracterizada como omnipresente e possuidora de uma natureza vingativa (“destruída / me tens a glória toda que alcancei.” – vv. 5-6; “podes tomar de mim vingança” – v. 12; “não estás de mim vingado” – v. 13). Por outro lado, o texto desenvolve-se num crescendo: nas duas quadras, os verbos encontram-se maioritariamente no passado (pretérito perfeito: «visitei», «passei», «pus»), enquanto os tercetos começam e terminam com os verbos no presente («Vês» e «choro»), o que significa que o futuro está excluído, pois o sujeito poético não consegue libertar-se dessa prisão do Amor, prefere a morte e, portanto, não é capaz de se projetar num futuro.

    Ainda relativamente ao segundo terceto, nomeadamente o verso 12, focado no tema da vingança não é caso único na obra camoniana, onde aquele que ama, tendo perdido a esperança, afirma preferir morrer a viver no seu tormento de amor. É o que sucede, por exemplo, no soneto “Se algu’hora em vós a piedade”, no qual Camões declara o seguinte: “tomarão tristes lágrimas vingança / nos olhos de quem fostes mantimento. // E assim darei vida a meu tormento; / que, enfim, cá me achará minha lembrança / sepultado no vosso esquecimento.” Note-se que Camões, além de usar nomes como «vingança», culmina o soneto com o termo «sepultado», indiciando novamente que a morte é a única fonte de liberdade.

 
Bibliografia:
. VITALI, Marimilda, “As cadeias da esperança”

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...