O
período de vida de José Mauro de Vasconcelos coincidiu com uma época marcada
por algumas das transformações mais importantes ocorridos no mundo ocidental.
Em
termos históricos e políticos, o escritor viveu a sua adolescência e juventude
no chamado Período (ou Era) Vargas, numa alusão ao governo liderado por
Getúlio Vargas, entre 1930 e 1945. Esta fase da História do Brasil ficou
marcada por um conjunto de reformas sociais e económicas que tiveram como foco
principal a industrialização e a crescente urbanização, bem como pela forte
centralização do poder e pelo nacionalismo.
Posteriormente,
surge o período histórico que coincide com a vida adulta do escritor e que diz
respeito à fase compreendida, sensivelmente, entre a década de cinquenta e o
início dos anos 80 do século XX. São anos marcados pela instabilidade política
e pela alternância entre a democracia e a ditadura militar, que se estendeu de
1964 a 1985. Assim sendo, quando publicou O Meu Pé de Laranja Lima, o
Brasil já estava sob o regime militar, caracterizado, entre outras coisas, pela
censura e pela repressão política. Esta época de alternância ficou marcada por
um surto de crescimento e progresso, acompanhado de grandes desequilíbrios
sociais, que persistem e, de certo modo, se acentuam na vida quotidiana dos
brasileiros. Ao tema da pobreza juntam-se, sistematicamente, os da injustiça e
da opressão, por exemplo, e que inspiram muitas das suas obras. A taxa de
pobreza era muito elevada, havia graves problemas de acesso à educação e saúde,
especialmente no interior do país e entre as classes mais baixas, daí que
muitas famílias migraram do campo para as cidades em busca de melhores
condições. Além disso, havia também problemas de negligência infantil, com
crianças de classes populares a enfrentarem abandono, trabalho precoce e
violência, temas tratados em diversos livros de José Mauro de Vasconcelos.
Culturalmente,
a vida do escritor coincide com as diferentes fases do Modernismo,
caracterizado pela liberdade criativa, pelo olhar atento ao comportamento
humano, pela tendência para exibir traços nacionalistas e pela valorização dos
aspetos que revelam a identidade de cada região.
Por
outro lado, novamente nas palavras de Miguel Santos (op. cit., p. 6), “Privilegia-se
[…] o espaço da imaginação, a exploração dos limites da consciência racional do
indivíduo, o papel do sonho e até do delírio, mas, ao mesmo tempo, não se
negligencia o real, a ciência, o conhecimento e promove-se uma visão reflexiva
e inquiridora face ao mundo. São também estes alguns dos traços que tornam a
sua obra não só uma viagem através da sensibilidade humana, mas também um
relevante e esclarecedor testemunho acerca da realidade social, de que todos
fazemos parte.”
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