Português

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Novo perfil do aluno: projetos interdisciplinares - 7.º ano

     A Raiz Editora apresenta um conjunto de 24 propostas de trabalho interdisciplinar para o 7.º ano de escolaridade.

     Sem comentários, é a nova escola do século XXI.

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Na aula (XXXII): erros ortográficos de fala

     Quando o setôr der um erro de ortografia a falar, vou chamá-lo por esse nome.

Pedro Q.

Processos fonológicos III (G 51)


1. Observe as mudanças ocorridas em cada um dos exemplos que se seguem. Indique os processos fonológicos destacados que determinam a evolução das palavras indicadas.

Evolução das palavras
Processos fonológicos
1. filiu > filho

2. pedem > pee > pé

3. primariu > primeiro

4. aqua > água

5. rosam > rosa

6. pro > por

7. scutum > escudo

8. calidu > caldo

9. ante > antes

10. seniore  > senhor

11. regnu > reino

12. humile > humilde

13. tegula > tegla > telha

14. tenebras > trevas

15. tomarees > tomareis

16. apotecam > potecam > boteca > bodega

17. genuculum > genuclu > geolho > joelho

18. legere > leger > leer > ler

19. manu > mão

20. thunum > atum



Orações subordinadas adjetivas relativas II (G 50)

1. Leia as frases apresentadas no quadro.

Oração subordinada adjetiva
Frases
Restritiva
Explicativa
1. Os alunos do 10.º ano, que estão engripados, terão de ir ao hospital.


2. Os homens, que são seres racionais, cometem atrocidades.


3. O filme que comprei é bom.


4. Deve investir-se em métodos que garantam resultados académicos.


5. A neve, que caiu abundantemente ontem, causou grande transtorno.


6. Os meus vizinhos têm uma sebe que não aparam.



1.1. Sublinhe as orações subordinadas adjetivas presentes em cada frase.

1.2. Assinale com uma cruz (X) a opção correta de classificação das frases.

1.3. Indique o antecedente do pronome “que” em todas as frases.
1. ____________________           2. ____________________     3. ____________________
4. ____________________           5. ____________________     6. ____________________

2. Sublinhe as orações subordinadas adjetivas relativas presentes nas frases apresentadas e classifique-as como restritivas ou explicativas.
a) Todos nós gostamos de matérias que nos interessam.
___________________________________
b) Sheldon Cooper, que é amigo de Leonard, é muito inteligente.
___________________________________
c) O senhor Sequeira, a quem eu costumo comprar tangerinas, é pai do Pedro.
___________________________________
d) Os alunos que leem regularmente escrevem bem e pensam melhor.
___________________________________
e) Ninguém quer ter um cão com quem não possa brincar.
___________________________________
f) A série que costumava ver acabou.
___________________________________
g) Os meus ténis novos, que são Sanjo, são leves como o algodão.
___________________________________
h) As meias que calçaste cheiram a chulé.
___________________________________
i) A casa que compraste foi cara.
___________________________________
j) As pessoas a quem telefonei eram todas surdas.
___________________________________
k) O crime pelo qual foste preso foi cometido pelo professor de Filosofia.
___________________________________
l) Este gato, que tem rasgado todos os meus sofás, precisa de uma lição.
___________________________________
m) O bolo que estava em cima da mesa desapareceu.
___________________________________
n) A Jennifer Lawrence é a atriz com a qual namorarei no Além.
___________________________________

3. Reescreva as frases seguintes, substituindo as orações subordinadas adjetivas por um adjetivo.
a) A dor que se dissimula dói mais.
___________________________________________________________________________
b) Nas aulas de Biologia, os alunos trabalham com material que pode ser reciclado.
___________________________________________________________________________
c) A fila de homens e mulheres que estão sem emprego dá a volta ao quarteirão.
___________________________________________________________________________
d) O frigorífico está sempre ligado, pois contém alimentos que podem perecer.
___________________________________________________________________________
e) No laboratório, há que ter muito cuidado com os materiais que se podem inflamar.
___________________________________________________________________________



"A última nau"


Fonte: A última nau

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Queísmo

Queísmo é a supressão indevida de uma preposição na introdução de uma oração subordinada completiva:
- *Rui Vitória estava convencido que o Benfica merecia ter vencido.
O verbo convencer exige a preposição de, por isso a frase correta será a seguinte:
- Rui Vitória estava convencido de que o Benfica merecia ter vencido.

Teste:

Para se evitar incorrer em erro, pode usar-se o teste seguinte:

1. A oração subordinada completiva é introduzida por que nos casos em que pode ser substituída por isso.
- Pinto da Costa pensa que o Benfica foi prejudicado. → Pinto da Costa pensou isso.

2. A oração subordinada completiva é introduzida por de que nos casos em que pode ser substituída por de isso / disso.
- Rui Vitória estava convencido de que o Benfica merecia ter vencido. → Rui Vitória estava convencido disso.

Dequeísmo

Dequeísmo consiste na inserção indevida de uma preposição numa oração subordinada completiva:
- *Pinto da Costa pensa de que o futebol é limpo e transparente.
Na realidade, o verbo pensar não seleciona qualquer preposição, pelo que a frase correta seria esta:
- Pinto da Costa pensa que o futebol é limpo e transparente.

Teste:

Para se evitar incorrer em erro, pode usar-se o teste seguinte:

1. A oração subordinada completiva é introduzida por que nos casos em que pode ser substituída por isso.
- Pinto da Costa pensa que o Benfica foi prejudicado. → Pinto da Costa pensou isso.

2. A oração subordinada completiva é introduzida por de que nos casos em que pode ser substituída por de isso / disso.
- Rui Vitória estava convencido de que o Benfica merecia ter vencido. → Rui Vitória estava convencido disso.


quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

"A manada desceu à cidade"


     Não nos deixemos influenciar pelo grupo patibular escoltado por robocops de capacete e viseira, pela rua pública aos gritos ou, mais assustador, marchando em silêncio. Na luz molhada do fim da tarde parecia o fascismo de botas cardadas conquistando a cidade. Parecia, mas era só uma manada. Uma manada pendular, de um para outro estádio da Segunda Circular, segundo o calendário desportivo. Desportivo, ofende tanto dizer isso... Tanto quanto dizer da manada que é o futebol. Ela desmente a tradição daquelas cores defrontando-se que já foram de Espírito Santo e Peyroteo, cada um em nome do vermelho ou do verde, e da elegância de Jordão que fez sonhar, à vez, os fãs dos dois clubes. Como pode aquela manada reclamar-se do flash que é o Gelson ou, se o percurso fosse inverso, do saber fazer do Jonas? Como podem os brutos usurpar, dos artistas, a atenção? Ontem, uma escola fechou mais cedo por ser vizinha da Luz e outra, também por jogo, perto do estádio do Boavista. A miúdos de uma e de outra abri-se-iam os olhos de deslumbre se vissem passar um jogador, mas tiveram de recolher a casa por causa do tropel da manada. As televisões foram interrogar uma diretora e foi constrangida que ela disse não querer expor os seus alunos ao perigo... Pois nem assim se foi perguntar aos da manada se não tinham vergonha , nem à polícia o despropósito de guardarem chantagistas. Nem ao sr. Vieira e ao sr. Carvalho se pediram explicações pelo repetido absurdo. Enfim, as manadas existem e ocuparam a cidade. E muita sorte têm as escolas por, ao fechar, não serem acusadas de causar danos psicológicos às botas cardadas ou cacos ou lá o que é."

Ferreira Fernandes, in DN on-line

Obra de José Saramago


. 1947 – Terra do Pecado (romance.
. 1966 – Os Poemas Possíveis (poesia).
. 1970 – Provavelmente Alegria (poesia).
. 1971 – Deste mundo e do outro (crónica).
. 1973 – A bagagem do viajante (crónica).
. 1074 – As opiniões que o DL teve (crónica).
. 1975 – O ano de 1993 (poesia).
. 1976 – Os apontamentos (crónica).
. 1977 – Manual de pintura e caligrafia (romance).
. 1978 – Objeto quase (contos).
. 1979 – Poética dos cinco sentidos (obra coletiva).
 – O ouvido (conto).
 – A noite (teatro).
. 1980 – Levantado do chão (romance).
 – Que farei com este livro? (teatro).
. 1981 – Viagem a Portugal (viagem).
. 1982 – Memorial do Convento (romance).
. 1984 – O ano da morte de Ricardo Reis (romance).
. 1986 – A jangada de pedra (romance).
. 1987 – A segunda vida de Francisco de Assis (teatro).
. 1989 – História do Cerco de Lisboa (romance).
. 1991 – O evangelho segundo Jesus Cristo (romance).
. 1993 – In nomine Dei (teatro).
. 1994 – Cadernos de Lanzarote I (diário).
. 1995 – Ensaio sobre a cegueira (romance).
 – Cadernos de Lanzarote II (diário).
. 1996 – Cadernos de Lanzarote III (diário).
 – Moby Dick em Lisboa (crónica).
. 1997 – Todos os nomes (romance).
 – Cadernos de Lanzarote IV (diário).
. 1998 – Cadernos de Lanzarote V (diário).
 – O conto da ilha desconhecida (conto).
. 1999 – Discursos de Estocolmo.
 – Folhas políticas (1976-1998) (crónica).
 – Direito e os sinos (ensaio).
. 2000 – A caverna (romance).
 – Aqui soy Zapatista (ensaio).
. 2001 – A maior flor do mundo (conto).
. 2002 – O homem duplicado (romance).
. 2004 – Ensaio sobre a lucidez (romance).
 – Palabras para un mundo mejor (ensaio).
. 2005 – Questo mondo non va bene che ne venga un altro (ensaio).
 – Don Giovanni ou O dissoluto absolvido (romance).
 – As intermitências da morte (2005).
. 2006 – As pequenas memórias (autobiografia).
 – El nombre y la cosa (ensaio).
 – Andrea Mantegna – Uma ética, uma estética (ensaio).
. 2008 – A viagem do elefante (romance).
. 2009 – O caderno (diário).
 – Caim (romance).
 – O caderno 2 (diário).
. 2010 – Democracia e Universidade (ensaio).
. 2011 – Claraboia 1953, romance).
 – O silêncio da água (conto).
. 2014 – Alabardas, alabardas. Espingardas, espingardas (romance inacabado, escrito em 2010).
. 2013 – A estátua e a pedra (ensaio, 1999).



Benfica - Sporting: tiro ao... VAR

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Capítulo CXLVIII da Crónica de D. João I


🔺 Título: sintetiza o conteúdo temático do capítulo:
- os factos ocorridos durante o cerco a Lisboa (a falta de mantimentos dos sitiados);
- as consequências psicológicas e sociais decorrentes desses factos (o sofrimento da população).


🔺 Tema: as dificuldades de Lisboa face ao cerco castelhano.


🔺 Estrutura interna

🔼Introdução (do início até "vieram na frota do Porto."): Cerco da cidade → fome → escassez de mantimentos, motivado pela quantidade de pessoas existentes na cidade.

                Os mantimentos existentes na cidade gastam-se cada vez mais depressa, tornando-se escassos, devido ao facto de o número de habitantes da cidade aumentar cada vez mais, porque a ela se recolheu muita gente (lá estavam os habitantes de Lisboa, pessoas que vieram dos arredores, famílias inteiras e os que vieram numa frota do Porto para socorrer a capital).


🔼 Desenvolvimento (desde "E alguns se tremetiam..." até ao antepenúltimo parágrafo, inclusive).

1) Tentativas infrutíferas de superar a situação (até “… mester sobrelo conselho.”).

1.1. Procura de trigo no Ribatejo (desde "E alguns..." até "... cinco mil homens.").

a) Motivos da procura:
- o cerco à cidade;
- a presença de muita gente na cidade;
- a falta de alimentos.

b) Resultados: quase nulos
- a oposição castelhana;
- pouco trigo e raro.

c) Estado de alerta constante entre os portugueses.

                Durante a noite, os sitiados embarcam em batéis e vão buscar trigo ao Ribatejo para abastecer a cidade, correndo enorme perigo, pois são atacados pelos castelhanos. Sempre que os sinos repicam e tocam a rebate, a população vai em socorro das galés. Esta recolha de mantimentos obedece, aparentemente, a um plano prévio, dado que parece existir uma partilha de tarefas e funções distribuídas: há aqueles que vão recolher mantimentos que já estavam prontos (“… ali carregavom de trigo que já achavom prestes, per recados que ante mandavom…”), através do Rio Tejo; há sinais combinados para alertar para os perigos, nomeadamente os decorrentes da presença dos castelhanos, etc.: “ali carregavom”; “Os que esperavam…”; “… repicavom logo por lhe acorrerem.”; “… aguardando quando veesse, e os que velavom, se viiam as galees remar contra lá, repicavom logo por lhe acorrerem…”.
                Apenas uma vez os galés foram tomadas, graças à denúncia de um “homem natural d’Almadãa”, cujo castigo pela traição foi terrível: “el foi depois tomado e preso e arrastado, e decepado e enforcado.” (enumeração, polissíndeto e gradação).
                No entanto, o trigo é tão pouco e raro que não supre as necessidades (atente-se na comparação com o milagre da multiplicação dos pães).


1.2. Expulsão da cidade da gente incapaz, fraca e pobre [("não pertencentes pera defensão", prostitutas, judeus") – desde "Em esto gastou-se..." até "... mester sobrelo conselho."].

a) Consequências da fome: a ausência de esmolas para os pobres.

b) Motivos:
- não podiam lutar / não podiam contribuir para a defesa da cidade;
- consumiam os mantimentos aos defensores.

c) O drama dos expulsos:
- refúgio no acampamento castelhano (1.º momento): “comer e acolhimento”;
- recusa de refúgio por parte dos castelhanos (2.º momento): para “gastar mais a cidade”, o rei de Castela ordena que mais nenhum sejam acolhido e que todos os que tinham sido sejam expulsos do acampamento.

                Inicialmente, os castelhanos recebem bem as pessoas expulsas da cidade, mas, quando percebem que Lisboa beneficia com isso, dado que haveria menos pessoas para alimentar, mandam-nas regressar.
                Todos os que se recusassem a partir seriam açoitados e obrigados a retornar para a cidade. O seu desespero é total, pois certamente não seriam acolhidos de volta, nomeadamente aqueles que tinham saído voluntariamente, já que preferiam ser prisioneiros dos castelhanos do que morrer à fome.

d) O Mestre ordena que se faça o levantamento do pão existente em Lisboa, tendo-se concluído que é muito escasso.


2) Fome da população: carência de pão e carne (desde "Na cidade não havia trigo..." até "...tam presentes tinham?").

a) Valor/preço dos mantimentos: alto e exagerado, dada a sua escassez.

b) Natureza dos mantimentos:
- pão de bagaço de azeitona e dos bolbos das malvas;
- raízes de ervas;
- melaço cristalizado;
- criação de porcos;
- comércio de galinhas, ovos e bois;
- carne das bestas.

c) O drama dos que padecem:
- a animalização das pessoas, que procuram desesperadamente comida no chão;
- a morte;
- os peditórios: as crianças mendigam pela cidade, pedindo comida;
- a falta de leite das mães.

d) O drama dos que morrem:
. a morte provocada pela ingestão de determinados alimentos e de água;
. a morte provocada pela fome.


3) Resistência da população: o patriotismo e a solidariedade da população – apesar da situação extrema de penúria e de desespero, do ambiente de tristeza e de conflitos ocasionais banais, sempre que os sinos repicam, todos se aprestam para enfrentar o inimigo castelhano; por outro lado, consolam-se uns aos outros naquele momento de infortúnio.

                De facto, apesar de famintos e extenuados, são solidários uns com os outros e corajosos contra os castelhanos, continuando a manifestar uma identidade coletiva que os une num propósito comum.
                Mais uma vez, a cidade é apresentada como uma personagem coletiva, um ser só: “Toda a cidade era dada a nojo” (isto é, toda a cidade sofria, tanto os pobres como os ricos – “grandes pessoas da cidade”). Assim, Lisboa é apresentada como um grande corpo coletivo que sofre.


4) Fome e desespero – Tentativas infrutíferas de ultrapassar a situação (desde "Oh quantas vezes..." até "... podia obrar."): recurso a Deus:
- missas;
- preces.

                A população reza, devota e desesperadamente, pedindo a Deus que a ajude, mas, vendo que as suas preces não são atendidas e que a sua dor é cada vez maior, chega a pedir a morte.


5) A incapacidade do Mestre resolver a situação (desde “Sabia, porém…” até “… rumor do povo.”)

                o Mestre e os seus, sabendo que nada podem fazer, sentem-se impotentes e ignoram os lamentos da população.
                Neste passo, aparentemente Fernão Lopes critica a ação de D. João e do seu Conselho, dado que “çarravom suas orelhas do rumor do poboo”, parecendo assim o cronista cumprir a imparcialidade e a neutralidade enunciadas no “Prólogo” à crónica.


6) O desespero da população (desde “Como nom quereis…” até “… per duas guisas.”) – dois inimigos: a fome e o rei de Castela levam ao desejo de morte.


7) Tentativa de superar a fome: corre o boato de que o Mestre irá expulsar da cidade todos os que não tenham alimentos, o que intensifica o desespero das pessoas, transformado em alívio ao saberem que tal não é verdade.


8) Justificação da situação de fome:
- excesso de população (a quantidade de pessoas que se recolheu dentro das muralhas da cidade);
- a falta de alimentos.


                Em suma, a falta de alimentos e o aumento do número de habitantes da cidade de Lisboa durante o cerco castelhano tem como consequências:
. a diminuição das esmolas públicas (ll. 24-25), o que evidencia falta de solidariedade desumanização;
. a expulsão da cidade de todas as pessoas consideradas incapazes de a defender;
. a falta de trigo para vender e consequente subida do preço de vários produtos (trigo, vinho, pão e carne), o que origina a fome entre a população, que come qualquer coisa, e a morte de muitas pessoas;
. o apego à religião constitui uma forma de mitigar todos os sofrimentos vividos.

                Em suma, a falta de alimentos e o aumento do número de habitantes da cidade de Lisboa durante o cerco castelhano tem como consequências:
. a diminuição das esmolas públicas (ll. 24-25), o que evidencia falta de solidariedade desumanização;
. a expulsão da cidade de todas as pessoas consideradas incapazes de a defender;
. a falta de trigo para vender e consequente subida do preço de vários produtos (trigo, vinho, pão e carne), o que origina a fome entre a população, que come qualquer coisa, e a morte de muitas pessoas;
. o apego à religião constitui uma forma de mitigar todos os sofrimentos vividos.


🔼 Conclusão (2 últimos parágrafos): desabafo comovente de Fernão Lopes.

                Fernão Lopes congratula os que viverão no futuro, porque não passarão pelos sofrimentos que Lisboa tem de passar durante o cero.


🔺 Consequências do cerco a Lisboa (síntese):

1. Sociais:
- expulsão dos fracos e não aptos para a defesa da cidade por falta de alimentos;
- a preferência pelo cativeiro dos castelhanos, em detrimento de morrer à fome.

2. Económicas:
- a diminuição / ausência de esmolas;
- a escassez e o preço elevado dos alimentos;
- a impossibilidade de comprar mantimentos, por causa do seu preço elevado.

3. Psicológicas:
- a coragem;
- o choro;
- o desespero;
- o conforto e a solidariedade mútuos.


🔺 Caracterização das personagens

 O povo de Lisboa – personagem coletiva (sente e age como um só): comportamentos e sentimentos diversificados, que evidenciam o agravamento da miséria e do estado anímico:






- o medo da vingança do rei de Castela, caso a cidade caísse nas suas mães
- disponibilidade total, "quando repicavom os sinos";
- coragem: a procura empenhada de alimentos (as idas de homens ao Ribatejo e a sua defesa por parte dos que esperavam), colocando a vida em risco
- defesa corajosa da cidade, ultrapassando a fraqueza humana e revelando um esforço sobrenatural;
- luta pela sobrevivência, procurando comida de forma degradante e bebendo água até à morte e pedindo esmola pela cidade;
- crueldade: a punição do traidor;
- pedido de ajuda a Deus, face à situação de desespero reinante;
¯
- população unida, solidária na desgraça, consciente no risco, sofre no presente e receia o futuro, mas não desiste de lutar e tenciona resistir até ao fim;


 Mestre de Avis – personagem individual:
- governante responsável, infortunado e ativo;
- solidário com o seu povo;
- sofre e resiste com ele;
- sentimentos:
. dor, motivada pelo conhecimento da situação de carência que o povo vive;
. impotência e incapacidade de resolver ou atenuar a gravidade da situação ("veendo estes males a que acorrer nom podia.") e as dificuldades da população;
. sofrimento graças à incapacidade de socorrer a população;
- atos: o Mestre e os do seu Conselho fecham os ouvidos "ao rumor do poboo", não por indiferença ou hostilidade, mas porque lhes eram dolorosas "douvir taaes novas (...) a que acorrer nom podiam";
- assume comportamentos de emergência face à situação extrema que a cidade vive, nomeadamente a expulsão dos que não têm mantimentos para se alimentar, uma forma difícil de atenuar o sofrimento da restante população.



🔺 Linguagem e estilo

. Marcas do estilo de Fernão Lopes:

-» o tom coloquial:
- uso da segunda pessoa do plural: "ouvistes"; "esguardae";
- uso da interrogação retórica: "Como nom querees que maldissessem sa vida e desejassem morrer... da vida aa morte?"; "veede que fariam aquelles que as continuadamente tam presentes tinham?"; “Pera que é dizer mais de taes falecimentos?”;
- uso da exclamação: "Oo quantas vezes... não eram compridas!";

-» a interpelação do leitor:
- uso da interrogação retórica;
- uso da apóstrofe: “Ó geeraçom que depois veo […] de taes padecimentos!”;
- uso da frase imperativa: “Ora esguardae como se fosses presente”;
- uso da interjeição “Ó”;

-» o pormenor descritivo e o visualismo:
- uso da adjetivação, por vezes dupla: "faminto"; "forte e rijo"; "triste e mesquinho"; "desvairados"; "desaventuirada"; "doorosas"; "cruel";
- a comparação concreta para precisar uma ideia abstrata: "assi como é natural cousa a mão ir amiúde onde se a door, assi uus homees falando com outros, nom podiam em al departir, senom em na mingua que cada uu padecia";
- a personificação: "toda a cidade era dada a nojo, chea de mesquinhas querelas";
- paralelismo de construção: "Uus choravom antre si, mal dizendo (...) Outros se querelavom a seus amigos, dizendo...";
- a referência ao valor dos alimentos:
. "Ca valia o alqueire quatro libras, e o alqueire de milho quarenta soldos, e a camada de vinho três e quatro libras.";
. "... e pequena posta de porco valia cinco e seis libras, que eram uma dobra castelã; e a galinha quarenta soldos; e a dúzia dos ovos, doze soldos. E se os almogávaros traziam alguus bois, valia cada uu setenta libras, que eram catorze dobras cruzadas, valendo então a dobra cinco e seis libras; e a cabeça e as tripas, uma dobra...";
. "Andavom os moços de três e de quatro anos...";
- a enumeração gradativa: “Das carnes, […] ua dobra”;
- vocabulário relacionado com os atos de ver (“vede”) e ouvir (“ouvistes”) – as sensações auditivas têm grande relevância na descrição, pois é através delas que o narrador exprime a noção do perigo: os sinos repicam, tocam a rebate, alertando a população, que acorre rapidamente onde é necessário quando os ouve;

-» o realismo descritivo:
. "No lugar u costumavom vender o trigo, andavom homees e moços esgravatando a terra e se achavom alguus grãos de trigo, metiam-nos na boca, sem tendo outro mantimento. Outros se fartavom de ervas e bebiam tanta água, que achavom mortos homees e cachopos jazer inchados nas praças e em outros lugares.";
. "Andavom os moços de três e de quatro anos pedindo pão pela cidade por amor de Deus, como lhes ensinavom suas madres; e muitos não tinham outra cousa que lhe dar senão lágrimas que com eles choravom, que eram triste cousa de ver; e se lhes davom pão como uma noz, haviam-no por grande bem.";
. "... ficados os geolhos, beijando a terra, bradavom a Deus que lhes acorresse...";
. "Os padres e madres viam estalar de fame os filhos que muito amavom, rompiam as faces e peitos sobreles, não tendo com que lhe acorrer senom pranto e espargimento de lágrimas".

-» objetividade:
. os pormenores de caráter económico (“ca valia o alqueire quatro livras; e o alqueire do milho quarenta soldos…”);
. o realismo descritivo relativo à luta pela sobrevivência (“Das carnes, isso meeesmo, havia em ela […] bem mostravom seus encubertos padecimentos.”);

-» subjetividade – a apreciação crítica e emotiva dos factos relatados:
. interrogações retóricas: “Como non lançariam fora a gente minguada […] havia mester sobr’elo conselho?”;
. frase exclamativa na interpelação final às gerações vindouras: “Ó geeraçom de depois […] de taes padecimentos!”;

-» alternância entre
. planos gerais: o grande plano da cidade e dos atores coletivos que nela intervêm (linhas 1 a 5, por exemplo);
. planos de pormenor: a incidência em grupos de personagens e/ou situações particulares (por exemplo, a procura de grãos de trigo, por “homees e moços”);

-» comunicação do narrador com o narratário, isto é, o leitor:
. o narrador apela à leitura de capítulos anteriores, dirigindo-se diretamente aos leitores: “Estando a cidade assi cercada na maneira que já ouvistes”;
. o narrador interpela diretamente o leitor para o aproximar da situação descrita: “Veede que fariam aqueles que as continuadamente tam presentes tinham?”;
. o narrador convoca o leitor para o passado de dor que reporta, procurando fazer-lhe notar que quem nasceu depois daquela provação, tal como ele (leitor), teve sorte;
. o narrador convida os leitores a observar o que se passa em Lisboa: “Ora esguardae como se fosses presente…”.


. Outros recursos

- A elegia comovida.

- A análise psicológica dos que padecem e morrem.

- A sugestão de simultaneidade (apelo final):
. texto/facto narrado;
. facto narrado/leitura.

- As funções da linguagem:
. informativa;
. expressiva;
. apelativa.

- Enumeração, polissíndeto e gradação (“… e forom descobertos per huu homem natural dAlmadãa, e tomados per os Castellaãos; e el foi depois tomado e preso e arrastado, e deçepado e enforcao.”): traduz os castigos infligidos ao homem de Almada que encontrou barcos com trigo, evidenciando a crueldade e a brutalidade da punição.

- A gradação                                             ü intensidade dramática
- A multiplicação do clímax                   þ                   ¯
estrutura trágica

- Os tipos de frase:
- exclamativas            ü sublinham a gravidade e o dramatismo da situação  em que a
- interrogativas          þ população se encontrava.

- Exclamações            ü conferem autenticidade e emotividade à descrição,  tornando-a mais viva e
- Interrogações          þ e suscitando a comoção e a adesão do leitor.

- Arcaísmos: "pero", "ca" (pois, porque), "uus", "nenhuus", "antre", "nojo", "departir", "guisas".

- Comparação:
. "... assi dos que se colherem dentro do termo de homees aldeãos com mulheres e filhos, como dos que vierom na frota do Porto...";
. "... tamanho pão como uma noz...";
. "E assi como é natural cousa a mão ir amiúde onde sêe a dor, assi uns homees falando com outros não podiam em al departir senão em na míngua que cada um padecia": evidencia a necessidade de os habitantes de Lisboa lidarem com a sua dor, através do diálogo com quem comungava do seu sofrimento, tal como a mão o faz através do contacto físico, no caso de padecimentos dessa natureza;
. "... tanta diferença há de ouvir estas cousas àqueles que as então passaram, como há da vida à morte?";
. mester de o multiplicar como fez Jesu Christo aos pães”: reforça o dramatismo, uma vez que só um milagre poderia salvar a cidade.

- Advérbio de modo: "escusamente"; "mui rijamente"; "mui apertadamente"; "à pressa".

- Personificações:
- da cidade de Lisboa;
- “as pubricas esmolas começarom desfalecer”.

- Pleonasmos:
. "colherom dentro";
. "deitar fora";
. "lançarem fora";
. "os a morte privasse da vida".

- Metáforas:
. "rogavam a morte que os levasse";
. "cerravom suas orelhas do rumor do povo.";
. "padeciam duas grandes guerras" (…) sse defender da morte per duas guisas…”: os habitantes de Lisboa enfrentam duas guerras – a guerra (o cerco) contra os castelhanos e a fome resultante do cerco – que impedia que se defendessem quer da morte, quer, por falta de forças, do inimigo;
. "ondas de tais aflições?";
. “Os padres e madres viam estalar de fome os filhos…”: explicita a desgraça das crianças, tal como o que estala parte, morre, também as crianças morriam, privadas de alimentos;
. “… andavom homees e moços esgaravatando a terra”: a metáfora evidencia o desespero das pessoas por causa da fome. Tal como as galinhas esgaravatam a terra em busca dos grãos de milho, também as pessoas, levadas pelo desespero da fome, remexiam a terra como aquelas à procura de algum grão perdido.

- Adjectivação expressiva.

- Apóstrofe: "Oh, geraçom que depois veio, povo bem-aventurado...".

- Hipérbole: "ondas de tais aflições!".

- Eufemismo: “Assim que rogavam a morte que os levasse…” – explicita o desejo de morte, pois é preferível esta aos padecimentos que sofrem.

- Tempos verbais: pretérito perfeito e imperfeito.



🔺 O texto como documento da época em que se insere

1. Pelo conteúdo:
- contexto histórico:
. o cerco da cidade de Lisboa pelos castelhanos.

2. Pela forma:
- o texto como exemplo da fase arcaica da língua:
. grande número de hiatos (encontro de vogais ásperas): doo, veede, door, seer, Meestre, etc.;
. a terminação -om nos nomes (razom, coraçom, etc.), nos advérbios (nom) e na terceira pessoa do plural do imperfeito do indicativo dos verbos da primeira conjugação (esforçavom-se, repicavom, encomendavom, braadavom, çarravom, etc.);
. o uso de conjugações arcaicas: pero (mas), ca (pois, porque);
. a ocorrência de pronomes arcaicos: all (outra coisa);
. o uso da forma arcaica do determinante indefinido (huus, nenhuu, hua) e da preposição (antre);
. a dupla negativa: "nenhuu nom mostrava";
. o uso de arcaísmos: nojo, departir, guisas.


Análise de outros capítulos:

    . Capítulo XI.

    . Capítulo CXV.
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