Português: 2009

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Correcção do 2.º teste

TEXTO A


1. Todo o primeiro parágrafo é irónico, pois tudo o que é pregado / dito significa o seu contrário. Assim, o pregador afirma que nunca teve pior auditório do que os peixes, mas considerando que está, de facto, a dirigir-se aos homens (colonos do Maranhão), esta afirmação ganha um sentido contrário e, por isso, irónico – nunca teve pior auditório do que aquele.
Depois afirma que os peixes nunca se hão-de converter, o que é verdade, mas é para dizer que a esse desgosto já ele está acostumado, ou seja, são os homens que não se convertem.
Finalmente, promete aos peixes que o sermão será menos triste do que os que dirige aos homens. Ora este é um sermão para os homens.

2.1. O sal apresenta duas propriedades: preserva o que é são e impede que se corrompa. De forma semelhante, o sermão deve louvar o bem para o conservar e repreender o mal para preservar dele (“Uma é louvar o bem, outra repreender o mal para preservar dele.”).

2.2. O padre Vieira divide o sermão em duas partes: na primeira, louvará as virtudes dos peixes; na segunda, irá repreender os seus vícios (“… no primeiro louvar-vos-ei as vossas atitudes, no segundo repreender-vos-ei os vossos vícios.”).
O pregador procede a esta divisão do sermão, visto que entre os peixes existem bons e maus, logo “há que louvar e que repreender”.

3. O padre Vieira considera que os peixes foram as primeiras criaturas a ser criadas por Deus, antes das aves, dos animais terrestres e do próprio homem. Por outro lado, os peixes são mais e maiores do que os restantes animais (“Que comparação têm em número as espécies das aves e as dos animais terrestres com as dos peixes? Que comparação na grande o elefante com a baleia?”).



TEXTO B


1. V

2. V

3. F

4. F


Grupo II

1.
Exemplos
Acto ilocutório
Força ilocutória
1. Hoje está um dia de Inverno.
assertivo
afirmação
2. Parabéns pela nota a Matemática!
expressivo
felicitações / contentamento
3. Sr. Primeiro Ministro, está demitido.
declarativo
declaração
4. Come a sopa, Maria de Lurdes.
directivo
ordem
5. Serei mais simpático no futuro.
compromissivo
promessa
6. Obrigado pelo vosso apoio.
expressivo
agradecimento

2.
a) Protótipo textual narrativo.

b) Protótipo textual expositivo.

c) Protótipo textual instrucional.

d) Protótipo textual dialogal-conversacional.

3.
a) Máxima de qualidade.

b) Máxima da relação.

c) Máxima de quantidade.

d) Máxima da qualidade.

domingo, 22 de novembro de 2009

Capítulo III (1.ª parte)

-----Clicar para aumentar.

Capítulo III (2.ª parte)

Matriz do 2.º teste de avaliação

. Questionário sobre um extracto do Sermão de Santo António aos Peixes.

. Exercício de Verdadeiro / Falso a partir de um texto informativo.

. Funcionamento da língua / gramática:
-----» Actos ilocutórios e força ilocutória;
-----» Protótipos textuais;
-----» Máximas conversacionais.

. Elaboração de um editorial.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Publicidade

1. Origem etimológica do vocábulo «publicidade»
.
-----O vocábulo português «publicidade» tem origem no termo latino «publicis», que significava «o que é público». E, de facto, a publicidade visa qualificar, difundir e divulgar um produto, isto é, torná-lo público.
-----Neste sentido, o publicitário / criador publicitário necessita de ter em conta diversos aspectos: as emoções, os anseios e as necessidades do público-alvo, bem como os seus preconceitos, sentimentos e percepções.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Aulas

. Aula 1

. Aula 2

. Aula 3

. Aula 4

. Aula 5

. Aula 6

. Aula 7

. Aula 8

. Aula 9

. Aula 10

. Aula 11

. Aula 12

. Aula 13

. Aula 14

. Aula 15

. Aula 16

. Aula 17

. Aula 18

. Aula 19

. Aula 20

. Aula 21

. Aula 22

. Aula 23

. Aula 24

. Aula 25

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Aula 8

. Correcção da ficha de trabalho sobre os actos de fala.

. Leitura e análise de um editorial.

. Origem do termo «publicidade».

. Trabalho de pares.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Editorial

1. Definição


     Através do editorial, à semelhança do que acontece com o comentário, a crítica e a crónica, são assumidas posições sobre os acontecimentos. Trata-se de um discurso de opinião, normalmente escrito por um indivíduo que adota um ponto de vista da globalidade da publicação. Se for assinado, o editorial é da responsabilidade do seu autor; se não for, a responsabilidade recai sobre toda a direção da publicação pelo seu conteúdo.

     Representando uma visão crítica sobre acontecimentos sociais, políticos e/ou económicos da atualidade, o editorial é um importante meio de intervenção na formação da opinião pública.

     As funções essenciais do eitorial são, dependendo dos casos, explicar os factos, apresentando os seus antecedentes e as suas relações, predizer o futuro e formular juízos de valor.


-----O editorial:
  • é um texto de dimensão variável;
  • geralmente situa-se nas primeiras páginas de um periódico;
  • exprime as ideias dos editores do jornal (daí chamar-se editorial) sobre um assunto actual em destaque, eventualmente polémico, com o objectivo de influenciar as atitudes e as opiniões dos leitores;
  • pode vir ou não assinado e ocupa um lugar destacado e fixo no jornal.
.
2. Estrutura
.
-----» Apresentação do tema - problema, facto ou ideia que se pretende discutir.
.
-----» Exposição das suas (do tema) implicações e consequências:
-----------> argumentos;
-----------> exemplos;
-----------> consequências.
.
-----» Conclusão - tomada de posição pessoal:
-----------> resumo da opinião dos editores;
-----------> proposta de solução(ões);
-----------> exigência de actuação dos responsáveis pelo problema.
.
3. Estratégias
.
-----. Identificar os factos.
-----. Analisar os factos ou problemáticas de interesse da opinião pública.
-----. Contextualizar (comparar com situações similares).
-----. Retirar conclusões.
-----. Formular juízos.
.
4. Características do discurso
.
-----. «técnica livre» de redacção;
-----. estrutura livre;
-----. linguagem concisa, directa, clara.
-----. reflecte a subjectividade do autor.
-----. discurso subjectivo.
-----. geralmente, o editorial não é escrito na 1.ª pessoa, pois representa a opinião colectiva dos responsáveis pela publicação do jornal;
       . deíticos temporais e espaciais que situam o acontecimento;
       . formas verbais no presente, pretérito perfeito e futuro do indicativo;
       . verbos auxiliares modais como querer, dever, ser preciso, etc.;
       . frases de tipo declarativo;
       . conectores e organizadores discursivos com valor argumentativo;
       . pronomes pessoais.

5. Tipos

  • Editorial polémico: tomando uma posição polémica relativamente a alguém ou a algo, apresenta ideias contrárias e procura convencer pela via da argumentação.
  • Editorial interpretativo: a partir de dados científicos, o editorialista apresenta em pormenor o tema, favorecendo a sua compreensão ou a formulação de um juízo, expondo, de seguida, as conclusões que considera as mais acertadas, para as quais orienta os leitores.
  • Editorial objetivo e analítico: próximo do anterior, expõe os dados e os factos de forma objetiva, procurando explicar mais do que sentenciar ou formular opinião sobre o tema avançado.

Questionário - Cap. I

-----Responda às seguintes perguntas sobre o capítulo I do Sermão de Santo António aos Peixes:

1. Indique o conceito predicável em que se funda o Sermão e explicite a sua função no discurso.

1.1. Estabeleça a correspondência entre os elementos linguísticos que constituem o conceito predicável e aquilo para que, metaforicamente, estes remetem.

1.2. Explicite o sentido da metáfora «Vós sois o sal da terra».

1.3. Por que razão os pregadores são o sal da terra?

2. O sal está a cumprir a sua função? Justifique a sua resposta.
*****************************************************
3. Refira os dois elementos responsáveis pela corrupção da terra.
-
3.1. Explicite a responsabilidade de uns e de outros.
-
4. Mostre que as razões da corrupção são apresentadas através de silogismos, analogias e simetrias.
-
5. No segundo parágrafo, são apresentadas propostas para solucionar o problema. Explicite-as.
-
6. Atente no terceiro parágrafo. Não encontrando resposta/solução no Evangelho para a perghunta «E à terra que se não deixa salgar, que se lhe há-de fazer?», Vieira vai procurá-la a um episódio da vida de Santo António.
-
6.1. Resuma esse episódio e indique os traços caracterizadores do seu protagonista.
-
6.2. Qual é, então, a solução para a «terra que se não deixa salgar»?
-
6.3. Explique, de forma aprofundada, a identificação entre o Padre Vieira e Santo António.
-
7. Justifique a invocação que o orador faz, n a parte final deste capítulo, à Virgem Maria.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Aula 7

. Leitura de um editorial.

. Análise do editorial de «Miragem em miragem»:
.
-----1. O editorial pode dividir-se em três partes. Assim, do início do texto até "Agora era a America's Cup" deparamos com a tese; entre "Era muito bom que a Taça América tivesse vindo para Lisboa..." e "E a realização da America's Cup em Lisboa vinha ao encontro disso." desenvolve-se a antítese, isto é, a aparente aceitação dos argumentos contrários; por fim, de "Mas, para lá deste benefício, a Taça América arrisca-se a ser mais uma enorme ilusão." até ao final do editorial existe a síntese.
.
-----2. A tese do editorial sugere que, em Portugal, não há capacidade empreendedora local e, para compensar essa falha, ciclicamente, o país acredita que conjunturas exteriores o podem salvar da crise.
.
-----3. Os argumentos que sustentam a tese são os seguintes: o país funcionou, desde sempre, esperando soluções exteriores; durante séculos, essa solução era o império; quando este findou, virou-se para as remessas dos emigrantes; depois, sucessivamente, para os fundos europeus, a Expo 98 e o Euro 2004; agora, era a Taça América a grande redentora.
.
-----4. A contra-argumentação estriba-se em três ideias: a Taça América poderia ser mais um adiamento da resolução dos problemas nacionais; a riqueza de um país tem de resultar do seu esforço; por último, Portugal tem de criar riqueza e deixar de esperar pela solução proveniente do exterior (solução).

. O editorial.

. Ficha de trabalho sobre os actos de fala.

sábado, 3 de outubro de 2009

Aula 6

. Leitura de uma crónica jornalística.

. Resolução de uma ficha de trabalho/análise da crónica.

. Correcção da actividade.

. A interacção discursiva (revisão).

. Resolução de uma ficha de aplicação dos conteúdos leccionados.

. Trabalho de casa: leitura do cap. I do Sermão de Santo António aos Peixes.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Aula 5

. Correcção da segunda parte da ficha de análise da crónica através de «power point». . Revisão dos conteúdos referentes à interacção discursiva.

sábado, 26 de setembro de 2009

Aula 4

. Correcção da ficha de trabalho da aula anterior. . Leitura de uma crónica jornalística. . Resolução de um questionário de escolha múltipla. . Breve alusão ao Sermão de Santo António aos Peixes.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Aula 3

. Visionamento e análise de um «cartoon»: .
-----1. A palavra "viragem" assume, no «cartoon», dois sentidos, sendo que o repórter a usa num sentido figurado, enquanto o surfista a interpreta na sua acepção denotativa.
-----No título do «cartoon», o adjectivo "pós-modrno" faz parte do aposto "o repórter pós-moderno", função sintáctica que se separa do nome a que se refere por meio de um sinal de pontuação: vírgula, parêntesis ou travessão.
.
-----2. A inadequação - do vestuário, da pose (atente-se na rigidez da atitude, no pormenor dos dedos espetados da mão que escreve...), do entrevistado escolhido e do lugar, nomeadamente para a pergunta colocada... - é o traço mais saliente deste repórter, que demonstra uma clara inconsciência da sua função, desde logo pela insensibilidade à realidade que o cerca, de que lhe compete, como repórter, dar testemunho.
.
-----3. O adjectivo composto "pós-moderno" - que, em termos denotativos, designa uma corrente estética, cultural - é aqui usado com valor satírico. Acaba por servir para etiquetar, ridicularizando-o, um estilo que sobrevaloriza aspectos secundários, tratando o essencial com superficialidade, com futilidade. No desenho, faz-se a caricatura de reportagens demasiado preocupadas com a forma da peça jornalística, mas em que se aborda qualquer assunto com idêntica ligeireza.
. Denotação / conotação; monossemia / polissemia.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Aula 1

. Indicações sobre o material necessário para a disciplina: manual, caderno diário, blogue... . Marcação das datas dos testes de avaliação. . Referência ao exame nacional de 12.º ano: estrutura habitual, tipologia de questões... . Resenha do programa. . Ficha de trabalho. . Correcção da ficha.

Sermão de Santo António aos Peixes

. Texto integral. . Questionário - Cap. I. .

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Programa

. Sequência 1

-----. Leitura:
----------* Textos informativos diversos;
----------* Textos dos domínios transaccional e educativo (comunicado e reclamação).

-----. Compreensão oral: Documentários de índole científica.

-----. Expressão oral:
----------* Reclamação;
----------* Comunicado.

-----. Expressão escrita: reclamação / protesto.

-----. Funcionamento da língua:
----------* Texto (continuidade, progressão, coesão, coerência);
----------* Tipologia textual (protótipos textuais);
----------* Estruturas lexicais;
----------* Neologia.



. Sequência 2

-----. Leitura:
----------* Discurso político;
----------* Sermão de Santo António aos Peixes.

-----. Compreensão oral:
----------* Documentários;
----------* Extractos do Sermão em CD;
----------* Filme.

-----. Expressão oral: Exposição.

-----. Expressão escrita:
----------* Textos expositivo-argumentativos;
----------* Textos de apreciação crítica.

-----. Funcionamento da língua:
----------* Processos fonológicos;
----------* Interacção disursiva (força ilocutória);
----------* Texto (continuidade; progressão; coesão; coerência);
----------* Protótipos textuais;
----------* Processos interpreativos inferenciais (figuras);
----------* Tempo e aspecto;
----------* Modalidade.



. Sequência 3

-----. Leitura: Frei Luís de Sousa.

-----. Compreensão oral:
----------* Filme;
----------* Documentários.

-----. Expressão oral: Dramatização.

-----. Expressão escrita:
----------* Textos rgumentativos;
----------* Textos expositivo-argumentativos;
----------* Resumo.

. Funcionamento da lingua:
----------* Texto (continuidade; progressão; coesão; coerência);
----------* Tipologia textual (protótipos textuais);
----------* Tempo e aspecto; modalidade;
----------* Ordem de palavras; função sintáctica;
----------* Figuras de sintaxe.



. Sequência 4

-----. Leitura:
----------* Caricaturas;
----------* Desenhos humorísticos;
----------* Romance de Eça de Queirós.

-----. Compreensão oral:
----------* Documentários;
----------* Excertos de filmes ou séries;
----------* Programas humorísticos.

-----. Expressão oral: Debate.

-----. Expressão escrita: Síntese.

-----. Funcionamento da língua:
----------* Texto (continuidade; progressão; coesão; coerência);
----------* Tipologia textual (protótipos textuais);
----------* Processos interpretativos inferenciais;
----------* Tempo e aspecto; modalidade.



. Sequência 5

-----. Leitura:
----------* Textos dos «media»:
---------------> Editorial;
---------------> Artigos de apreciação critica;
---------------> Imagens e textos publicitários
----------* Cesário Verde.

-----. Compreensão oral: Produções áudio e audiovisuais diversas.

-----. Expressão oral: Textos publicitários.

-----. Expressão escrita:
----------* Artigos de apreciação critica;
----------* Textos publicitários.

-----. Funcionamento da língua:
----------* Texto(continuidade; progressão; coesão; coerência);
----------* Tipologia textual (protótipos textuais);
----------* Paratextos;
----------* Expressões nominais.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

A minha palavra favorita

-----Nunca tinha pensado em qual seria a minha palavra favorita; já pensei qual é a minha comida preferida, a minha cor preferida, a minha música preferida..., mas nunca na minha palavra preferida.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Correcção do Teste - 05/06/2009

Grupo I

1.
-----. Lena
-----Fisicamente, Lena estava vestida de luto (calçava uns sapatos pretos e vestia meias, bibe e um grande laço igualmente pretos), tinha os cabelos claros e a pele branca ("... o colo muito branco que formava com o rosto uma mancha alva no meio do luto."). Psicologicamente, era viva ("... os seus movimentos eram leves e cheios de vivacidade."), airosa e bonita ("Parece uma andorinha..."; "É bem bonita..."). Por outro lado, procurava chamar a atenção de Luciano, podendo depreender-se que gostava dele, daí que corresse em círculos largos e se exprimisse de forma exagerada sobre o carreiro de formigas.

-----. Luciano
-----Luciano é orgulhoso, impulsivo e um pouco arrebatado. De facto, gosta de Lena, mas, como não aprecia a família dela, usa esse facto como pretexto para dizer que também não gosta da jovem, agindo como se ela lhe fosse indiferente. No fundo, não tem coragem para assumir os sentimentos que nutre por Lena.

-----. Júlio
-----Júlio gosta também de Lena, como ele próprio confessa e como é visível através de várias atitudes. No entanto, como está convencido de que Lena gosta de Luciano, não lhe declara o seu amor. Quando dialoga com o amigo, é manifesta uma certa tristeza, pois gostari ade estar no seu lugar, isto é, ser objecto do amor da jovem.

2. Júlio e Luciano são amigos, brincam juntos e estão ambos apaixonados por Lena, que, por sua vez, está enamorado de Luciano, que tudo faz para a evitar.

3. No texto, são visíveis dois momentos de diálogo, ambos entre os dois amigos, Luciano e Júlio.
-----No primeiro momento, ficamos a compreender as relações estabelecidas entre as três personagens: embora o negue, Luciano gosta de Lena, mas não da sua família; Júlio gosta igualmente de Lena, mas reconhece que não é correspondido; Lena gosta de Luciano.
-----O segundo momento de diálogo torna visível o carácter / a personalidade de Luciano. De facto, "... com um ar superior...", toma uma série de atitudes relativamente a Lena que contrariam a paixão que sente por ela.
-----Em suma, o diálogo caracteriza indirectamente as personagens e contextualiza o narratário, isto é, o leitor.

4. A comparação utilizada por Júlio ("Parece uma andorinha...") resulta do contraste entre o negro do vestuário e a pele branca, bem como da forma viva, com movimentos leves e ágeis, como corria com os braços abertos, o que a aproximava do aspecto físico e dos movimentos de uma andorinha.
-----Por outro lado, a comparação revela o carinho, o amor e a admiração que o rapaz sente por Lena.

5. Lena corre em círculos cada vez mais largos, pretendendo, com esta atitude, aproximar-se de Luciano. Por outro lado, a forma como se refere ao carreiro de formigas ("... exclamou ela, numa exagerada surpresa...") demonstra o seu desejo de chamar a atenção do rapaz, que persistia na sua atitude de fingir que a ignorava.


Grupo II
1. O verbo «dizer» pode ser substituído, na primeira ocorrência, por «declarou» ou «comentou» e, na segunda, por «reagiu», «protestou» ou «exclamou».

2. Júlio disse a Luciano que não o percebia. Acrescentou que ela [Lena] andava sempre à volta dele e que ele corria com ela e que, naquele momento, [ela] tinha passado sem o olhar e ele tinha ficado danado.
-----Luciano cortou dizendo que tal não tinha acontecido / não era verdade.
3.1.1. Os exemplos de anáfora são os seguintes: «ela», «seus», «[abriu-]lhe».

3.1.2. Há diversos exemplos de elipse: «[Lena] vinha de sapatos pretos, [Lena vinha de] meias pretas...»; «... um grande laço preto.»; «[Lena / ela] passou...», etc.

4.1.1. Dois sinónimos de «espaço» são os nomes «sítio» e «lugar».

4.1.2. O hiperónimo de «Lisboa» é «cidade».

4.1.3. Os deícticos que remetem para o espaço em que o escritor se situa são «lá», «ali», «nela», «daqui»...

sexta-feira, 5 de junho de 2009

«Amizade»

----------A palavra de que eu gosto mais é a palavra «amizade», pois é com os meus amigos que me sinto feliz. A amizade é muito importante, é algo essencial na nossa vida... Um bom amigo é alguém que está sempre connosco, nos bons e maus momentos.
----------Antigamente, costumava dizer que «esta» ou «aquela» pessoa era a minha melhor amiga, mas neste momento sou da opinião que não há melhores amigos, são todos amigos, cada um à sua maneira. Há uma ou outra pessoa com quem desabafamos, a quem contamos coisas íntimas, com quem sorrimos e choramos, mas no fundo todos são bons amigos.
----------Afinal, é com os nosso amigos que somos felizes.
C. M.

domingo, 31 de maio de 2009

Matriz do teste de avaliação - 5/6/2009

GRUPO I
  • Questionário sobre um excerto de um conto literário.
GRUPO II
  • Transformação do discurso directo em indirecto;
  • Coesão textual: anáfora, catáfora e elipse; sinónimos e hiperónimos;
  • Deícticos.
GRUPO III
  • Elaboração de um texto expressivo - narrativo.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

«A Palavra»

----------Não conheço muitas palavras, mas todas de que gosto designo-as pelas minhas palavras favoritas. Porém, conheço muitas outras que prefiro deixar de lado do meu vocabulário, os palavrões.
----------Assim, digo que a minha palavra por execelência é a palavra «palavra». Esse vocábulo de apenas três sílabas, aparentemente tão pequeno e singelo, insere um grandioso número de outras palavras, uma vez que as agrupa.
----------Por vezes, não temos a percepção, mas utilizamos inúmeras vezes este pequeno vocábulo, é ele que anima o nosso discurso.
----------A palavra pode assumir os mais diversos significados; dizemos: «Aquele homem tem palavra!», ou «A palavra x, y ou z está mal escrita.», ou «Que palavra tão esdrúxula!».
----------Mas, para mim, as melhores palavras são as palavras mágicas, e essas nunca mais desaparecem do nosso coração. Também existem palavras que surgem do inesperado, como «fabulástico».
----------É claro que nem sempre utilizamos as palavras mais correctas, ou coloridas, mas são elas que nos acompanham, que preenchem a nossa vida.
----------Para mim, todas as palavras estão inseridas no pequeno vocábulo de apenas três sílabas, que nos envolve e acaricia, a «PALAVRA».

S.S.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

O conto e o senso comum


Profª Drª Madalena Machado (UNEMAT)

RESUMO: O homem literário na perspectiva de José Saramago, trava batalhas contínuas com o senso comum. Na medida em que temos uma transformação na maneira de olhar a vida, os personagens demonstram uma postura questionadora. Impõem-se pelo modo de ser, decisão irreversível.

PALAVRAS-CHAVE: Narrativa, homem, senso comum, questão

RESUMÉ: L'homme littéraire dans perspective José Saramago, retenue batailles continues avec le sens commun. Dans la mesure dans cela nous avons une transformation dans la façon de regarder la vie, les caractères démontrent un’attitude du controverser. Ils sont imposés à propos d'existence, décision irrévocable.

MOTS CLÉS: Narration, homme, sens commun, question

Ao colocarmos em debate a visão do homem literário enfrentando o senso comum, tomamos como centro de discussão o texto de José Saramago a fim de entendermos os artefatos utilizados pelo escritor ao construir essa imagem no livro O conto da ilha desconhecida (2006). O humano sai do título, mas, o desconhecido da ilha faz ver o outro lado do homem insatisfeito de si. Tanto é certo, pois a história inicia na voz do narrador a tratar da vida de um homem – o homem de todos os tempos ansioso por saber mais de seu potencial. Novamente na obra de Saramago o anonimato de lugares e nomes retorna com a força da liberdade em se fazer notar, entender acima do solicitado pela maioria ou requisitado como bem estar pessoal. Um homem e o rei. Entre o comum e o insigne prevalece a vontade do primeiro que tem no seu desejo o diferencial. O rei entediado por ouvir pedidos de toda ordem se depara com um homem que queria conhecer o desconhecido; há entre eles a mulher da limpeza, cumpridora de deveres igualmente inominada, igualmente ignorante não só dos desejos alheios também dos seus.

O homem queria um barco. Antes da manifestação deste desejo surpreende a atitude. Ele quer algo para além da obviedade e para isso se mostra disposto a fazer com que seu desejo se concretize, para espanto da mulher a transportar os pedidos, sobretudo da parte do rei. Se lançar às aventuras era algo impraticável àquela época e, no entanto, aparece alguém disposto a executar tal ação num tempo em que tudo tinha a aparência de explicado, publicado. Quando o gesto convicto do homem provoca descontentamento social, o rei resolve ir falar com ele tocado sobremaneira por uma inquietação maior. A singularidade daquele homem reticente a cumprir os trâmites burocráticos exigia medida exemplar. O fato do rei ir até aquele requerente do barco não foi surpresa a este, somente àqueles outros pedintes, dada a postura de quem sabe exatamente o que quer e aonde ir.
Repetido o pedido agora frente à frente com o imperador, o narrador se esmera em mostrar a imagem vacilante, intranqüila do poder diante de quem se mostra a configuração da paciência, pois, determinado em conseguir seu objetivo. Esperou pela pergunta inevitável em casos semelhantes: para quê? Subentendido nela o questionamento de servir a qual propósito, defendendo quais princípios? A que o homem no alto de sua serenidade responde: “para ir à procura da ilha desconhecida” (SARAMAGO, 2006, p. 16). Vejamos que o homem mais uma vez desnorteia sua majestade porque não fecha com idéias de um sistema, de uma vontade que não seja a sua. Supondo ter à frente um louco ou alguém digno de riso – outro Dom Quixote – o soberano resolve se divertir procurando detalhes, a razão secreta por trás daquilo cuja aparência é um disparate. Prepondera novamente a tranqüilidade do homem contrastada à postura de detentor do saber exibida pelo rei, dizendo não haver ilhas desconhecidas porque todas estavam presentes nos mapas. Nesse momento da narrativa é explícito o questionamento que o homem empreende concernente sobre a ilha – o desconhecido – não pode estar enquadrado num saber caso contrário deixaria de o ser. Importa acima de tudo a busca, se lançar à aventura embora não sendo mais a das grandes navegações ainda e sempre o é a de saber sem se pautar no que outros dizem assinalando a impossibilidade. O impossível bem-vindo para o homem com seu desejo de um barco para encontrar a ilha desconhecida é o de haver desconhecido.
Convencido de merecer o barco, o homem argumenta: ao rei só interessa as ilhas conhecidas e aquela em seu horizonte pode não se deixar conhecer. Diante do recuo do rei outra vez a firmeza do homem na certeza de sua intenção mesmo não sabendo aonde chegará, obriga o soberano a aceder naquele pedido; mesmo porque o restante da população já se impacientava vendo tanta atenção a um ilustre anônimo. Deu-lhe o barco, mas não a tripulação. Sozinho, deve arcar com as conseqüências de seu desejo.
Desde que se postou em frente à porta dos obséquios, o homem do barco foi observado pela mulher da limpeza. Contaminada com a determinação daquele sujeito sem atributos, resolve deixar a servidão da limpeza para acompanhá-lo, somar num sonho de hora em diante também o seu. Então os dois estão resolvidos cada um a sua maneira, a modificar a vida até então com aparência igual. Ela ainda não se manifestou, mas segue seus passos rumo ao porto onde tomará posse do barco sonhado. Na presença do capitão surge de novo a pergunta muito comum nessa situação no sentido de como proceder porque a empresa é no mínimo arriscada. Sabes navegar? O que equivale a sabes como lidar com o desconhecido para este deixar de o ser? Sabe as regras, os ditames para conseguir algo muito além de suas possibilidades? Como vimos, não é o resultado o interesse maior desse homem singular, a resposta não poderia ser outra: aprenderei no mar. Podendo ser também, aprenderei durante a travessia, saberei qual atitude tomar quando o problema aparecer. O barco com o qual ele quer se atrever é bem superior à ousadia do capitão que teme os perigos do desconhecido porque julga conhecer de antemão os percalços do caminho. Outro personagem detentor do saber, por isso se acomoda ao conhecido diametralmente oposto ao protagonista.

Diante dos obstáculos propostos pelo senso comum: não ser atendido pelo rei; não existe ilha desconhecida; não ir com qualquer barco; não saber navegar; não conhecer o trajeto; não ser marinheiro, o homem com sua vontade de um barco responde com a linguagem de marinheiro, linguagem de todo ser humano em busca de dignidade: o respeito pelo que se é. A ilha “onde nunca ninguém tenha desembarcado” (2006, p. 27) como o capitão critica, perfaz justamente por isso o interesse maior do homem. A dúvida da chegada, na perspectiva do capitão o maior empecilho, motiva ainda mais o pretendente do barco porque ao final não há garantia de certeza, do absoluto que provavelmente moldou sua vida até aquela decisão única num reino de mediocridades. Daí a consciência de às vezes se naufragar pelo caminho, se completa com o pensamento de sempre se chegar a algum lugar mesmo não sendo o pretendido.
O antigo aspecto do barco não assustou o homem. É como se ele desse um significado novo a algo fadado a ser o mesmo, atracado naquele cais sem partidas. Algo agradável também à mulher da limpeza que nesse exato instante da narrativa se apresenta com a mesma determinação do homem, a ser sua companhia naquela empreitada. Pela porta das decisões onde ela havia saído do palácio do rei, às portas abertas com o traçado em busca da ilha desconhecida, a mulher da limpeza é outra pessoa à procura.

Num segundo momento do conto após ter conquistado o barco, ter se imposto pelo sonho de ir em busca da ilha desconhecida e ter a seu lado a mulher da limpeza, o homem sai para recrutar a tripulação no intuito de encontrar pessoas a compartilharem de seu sonho. E, não à toa Saramago escolhe a hora em que o personagem retorna a seu barco; o sol havia acabado de sumir-se no oceano quando o homem retorna sozinho e cabisbaixo. É o momento do limiar. Instante no qual aflora a humanidade dos personagens; a presença da dúvida, de se questionar sobre a validade do querer; fraqueja o homem, mas não a mulher transformada ao se espelhar nas atitudes iniciais do dono do barco. Procura alternativas na fala contaminada do homem enquanto significa a opinião corrente, aquilo que todos ouvem, sem por reparo à maneira da fala dos marinheiros procurados: não há ilhas desconhecidas e se as houvesse não era algo a merecer sair do conforto das casas; sair da navegação segura dos barcos de carreira a ir em busca do impossível.
Temos aqui uma espécie de inversão, o homem antes inabalável pelo querer agora se mostra fraco diante do escárnio dos homens comuns, enquanto a mulher ocupante do barco – ocupa o mesmo sonho impossível – é quem questiona, se mostra indignada na argumentação pouco incisiva daquele que ela aprendeu a admirar. Enfatiza o objetivo da ilha desconhecida, da certeza de sua existência demonstrada pelo dono do barco. Entre uma indagação e outra acerca do que fazer, ainda perdura a vontade de encontrar a ilha desconhecida. Nesse momento da narrativa na fala do homem com seu antigo sonho de um barco, após realizá-lo para ir ao encontro de sua ilha, há a manifestação clara de qual sua pretensão maior em agir dessa forma: “quero saber quem sou eu quando nela estiver,” (SARAMAGO, 2006, p. 40). Vale retomar, O conto da ilha desconhecida foi publicado pela primeira vez em 1998 e nele já fica claro o direcionamento das futuras criações literárias do escritor. A busca de si discutida ao longo de suas produções posteriores a exemplo d’O homem duplicado de 2002, é de certa forma uma extensão dessa procura. No conto, quando perguntado sobre se ainda não sabia de algo aparentemente óbvio, o homem não se constrange mais diante do senso comum comentando a necessidade que cada um tem de sair de si para compreender quem é. Apesar disso acontecer de forma figurada no citado romance, permanece a dúvida, prevalece um encontro por se concretizar. A permuta não é apenas do lugar, é, sobretudo, a suspensão de uma significação cristalizada pelo mundo por outra, neste ponto, o absurdo e a ignorância aos olhos do homem se equivalem. É sobremaneira, o acolhimento destes últimos o divisor de águas para o homem sem respaldo para o saber de si.
A mulher no barco ao adotar novo estilo de vida, reconhece poder aprender com cada dificuldade, o ignorado perde o sentido quando se olha de frente e o medo é esquecido. Pelo exemplo do homem ao dizer-se marinheiro estando em alto mar, ela também se mostra prática ao cuidar do barco. Agora há uma comunhão do sonho fortalecida porque são duas vontades celebradas em detrimento daquilo que a opinião corrente decide como o certo a se fazer. Embora esta deixe rastros de si num conflito interior, por exemplo, na suposição de não encontrar tripulantes fazendo disso uma provável desistência, a outra parte desse duo demonstra o irreversível da transformação.
Se não encontrar os tripulantes necessários, a mulher se dispõe a ir sozinha com ele. O homem via tal decisão como loucura, não a estampada na porta do palácio do rei, mas, aquela visível nas atitudes de sua companheira, desta retira a serenidade em poder realizá-la.
No intervalo do sono no barco, as agruras também cessam ao serem tomadas pelo pensamento de ambos os futuros navegadores. Semelhante ao que o narrador do romance As intermitências da morte anuncia: “É o costume dessa gente, nunca acabam de dizer o que querem.” (SARAMAGO, 2005, p. 164) E, se não acabam é porque têm muito para viver, muito por saber da ilha a se distanciar a cada vez havendo desconhecimento. No sonho do homem em querer a ilha desconhecida, ele está feliz porque finalmente sai a navegar como um novo Noé com a missão de povoar a terra.
Formando um casal com a mulher, juntamente com os animais no porão eles finalmente atracariam naquela ilha ignorada pelos mapas. De leme nas mãos, o que fazer de si também, o homem no sonho, mas consciente de sê-lo, tem um pensar fingido e não se envergonha disso. Sabe de certeza apesar de não saber como o sabe que a mulher estava ao alcance dos olhos; ela, a terra, as plantas a bordo num significado maior de germinação, proliferação daquela maneira diferenciada de viver.
Mesmo no sonho a voz do senso comum ainda pretende se sobressair aos volteios do homem cujo leme tem firme nas mãos. Os pretensos marinheiros ao relatarem sobre o não avistarem nenhuma ilha conhecida ou seu contrário, manifestam a vontade de atracar na primeira terra povoada à vista. O porto, uma taberna e uma cama figuram como o desejo deles pelo estabelecido. Quando questionados sobre a ilha desconhecida – aquilo que eles mesmos são e não o reconhecem – o escárnio é inevitável; se os geógrafos do rei haviam afirmado a inexistência de ilhas desconhecidas, embarcaram na aventura pelo motivo de encontrar novas terras, sendo a viagem do homem, um subterfúgio. Sentindo-se abandonado, vítima da própria decisão, o homem agora proprietário de um barco e uma vontade, aprendeu da forma mais dura: o mar não ensina a navegar; não era detentor de um saber prévio para essa aventura.
Ao avistar terra longínqua quis ignorá-la para protesto dos falsos marinheiros à bordo. Sua intenção era fazer dela algo, tipo miragem daquela ilha desencadeadora da viagem. Essa terra alcançada pelos olhos dos homens a qual era o lugar onde desembarcariam conforme manifesto, se transforma em motivo de ameaça ao dono do leme. Aqueles companheiros de ocasião descem do barco com assentimento do proprietário, levando junto os animais do porão, ficando apenas as árvores, os trigos e as flores. As raízes das árvores se espalham, abrindo caminho como as caravelas vão aos poucos formando uma floresta, abrigo dos pássaros. A relação com o desfecho da história de Noé é inevitável. A nova terra, o canto dos pássaros anunciando vida – vida transformada – porque a seara está madura precisando apenas ceifá-la. No instante em que sai para fazer a colheita, o homem acorda abraçado à mulher da limpeza. É o momento no qual a transformação maior se opera. O barco com a terra do sonho espalhado sobre si, as árvores crescendo em seu interior é enfim a ilha desconhecida procurada por ambos. No encontro íntimo das consciências há maturidade, esta chega pela hora do meio-dia, metáfora do auge da razão iluminada pela emoção do conhecimento alcançado. Levados pela maré, no mar, os dois não atracam, seguem sem rumo traçado como a ilha desconhecida à procura de si mesma.
Esse conto de José Saramago contempla de forma abrangente a luta travada entre o homem e o senso comum. O gesto de ir contra o sentido armado, empreendido pelo protagonista ao querer de forma incontestável algo que possa dizer quem ele é, de enfrentamento das questões colocadas como impedimento, passa em primeiro lugar pela fase de nomeação. Não é demais repetir: primeiro manifestou de maneira clara e contundente seu desejo de um barco; depois qual era a intenção com aquilo; em seguida postou-se frente à porta onde o rei atendia os pedidos; por meio disso se faz ouvir; tem o barco mas a tripulação só existe em sonhos. Nisso surge a dúvida se o conhecimento almejado significava uma vida, ocasião na qual a mulher da limpeza retoma o ideal e o impele a consegui-lo. Durante toda a narrativa a começar pelo título o inominado predomina: não é uma ilha como outras, é a desconhecida; o homem do conto não é sinônimo de grandeza, alguém em quem se concentra os olhares por provocar a mudança de um estado de coisas. A metamorfose é dele mesmo junto da mulher igualmente sem nome. Quando o processo de nomeação ocorre na história – falar do desejo, se converter nele, enfim, entrar para dentro do espelho – é o momento de dar nome ao barco, não é mais um barco para ir ao encontro do ignorado, conforme solicitou ao rei. O barco que por iniciativa do homem e da mulher se chamará “ilha desconhecida”, não irá parar como o fez os acomodados quando avistaram a terra. A viagem continua como o sentido de si procurado.

Ao se abrirem para o problemático da vida, impulsionados pela maré, em alto mar, notemos, o homem não está mais ao leme e sim na proa do barco junto da mulher.
Na nossa interpretação isso amplia o sentido na medida em que o personagem – o homem levado pela vontade de ser – não se firma num lugar a assentar. Os percalços, o se sentir inseguros (a maré) não é algo para ser temido, é, por outro lado, um trajeto impossível de se desviar por estarem atentos à diversidade.
Os dois personagens, à maneira de um complemento assim como fazemos a leitura de Tertuliano Máximo Afonso e António Claro, protagonistas de O homem duplicado são a expressão de duas metades ímpares. O vazio experimentado no primeiro caso ao não encontrarem marinheiros para o barco, depois serem abandonados por eles e no segundo (o romance) ter a imagem atrelada a um desconhecido, em seguida ser convertido nela sem achar nova máscara, provoca sentidos. Se estão sozinhos, estão por outro lado no domínio do pensamento acerca de si. Todos eles a seu modo não se satisfazem mais com o concreto. Uma ressalva é preciso fazer com relação a este último ponto. O homem e a mulher uma vez dentro da ilha desconhecida, bem como o homem cuja imagem não é mais sua, perfazem o duplo. Todos eles se tornam dignos de si quando partem em busca do ignorado movidos pela vontade pensamentada cujo propósito é capturar o acontecimento.
Se os personagens das narrativas mencionadas se arriscam rumo à diferença num modo de viver, escolhem a terceira via ao se deslocarem. Ao pretenderem uma nova história para si mesmos, tomam junto da vontade decidida, o objetivo de afastar o senso comum procurando manter a serenidade em meio ao intempestivo dos acontecimentos.
Nisso são muito intensos a ponto de causar estranheza: vide o modo pelo qual os circundantes no palácio se surpreendem com a vinda do rei para ouvir o pedido de um homem do povo; o comentário do professor de Matemática sobre o de História n’O homem duplicado: “você não é mais o mesmo”.
Quando os anseios do mundo já não satisfazem os personagens, o inesperado se converte em atrativo de maneira tal a se transformar no motivo da busca por saber quem são. O erro no qual possivelmente se viram por obra e graça do senso comum é de ora em diante, a mola-mestra para fundar com a própria decisão um conceito mais condizente. Por isso percebemos, os desnorteios por se ver duplicado tem tanta validade para uma significação de si quanto a convicção da ilha desconhecida existir; apesar de não constar nos mapas, o impensado prevalece. Pressupostos estes no intuito de as questões existenciais serem colocadas, o homem literário sente, avalia e aceita o dilema em condições cabíveis de se enfrentar.
Na prevalência das emoções e sentimentos propostos na literatura de José Saramago, o eu dos personagens se sente parte de um conteúdo a ser desvendado, uma ilha. Ser primeiro neste contexto não significa determinar quem é original ou cópia, refere-se por outro lado a reconhecer e fazer valer o nada como experiência de vida.
Absorvidos pelo caminho, os personagens deixam de ser os espectadores e agem no sentido da auto-identidade à maneira de abertura. Em questionamento, o homem ao sujigar o senso comum pergunta sobre o próprio corpo, a relevância de si junto dos anseios mais recônditos que de repente não podem mais ser sufocados. É então a ocasião de serem tomados pelo desejo de conhecer. Com o auxílio do sonho/imaginação irreconciliáveis com o senso comum, o ser literário é compensado com os vãos obscuros de si.
O fato dos personagens anônimos de Ensaio sobre a cegueira (1995), A ilha desconhecida e As intermitências da morte terem os mesmos objetivos de conhecimento, ao serem nomeados n’O homem duplicado não significa o alcance da segurança ontológica. Com a perda da notoriedade pelo nome, os seres fictícios povoam esse último livro e incandescem a humanidade através da busca de algo sem causa, do específico entrando em vigor assim que um sonho se torna realidade. A subjetividade assume o primeiro plano, não é mais a mesma até pelo recurso da interpretação adotada.
O duplo e a ilha. Os personagens voltam a se perguntar: quem sou eu? Sem dúvida, essas narrativas são especiais porque apresentam o homem em plena manifestação de si. Tomando-se como a partida para um recomeço embora o duplo possa aparecer do outro lado, instiga o sujeito no papel de comandante sem subordinados, a estar atento ao porvir. Diferentes no conhecimento à vista, se com sentido ou sem ele, o corpo duplicado pelas emoções tece as arranhaduras e não mais se lamenta por elas. O inesperado contraria, tem agora a possibilidade de se situar na tensão apesar de não se incomodar com isso. Podemos dizer, funciona como uma espécie de desnomeação, sabendo com antecedência não ter a intenção de se impor. Isto tem cabimento, por exemplo, quando o homem dono do barco não se opôs na saída dos tripulantes afoitos pelo conhecido. Em pleno mar, a ancoragem se houver daí em diante será em espiral. Em condições semelhantes, sem nome, sem vida, o duplicado não consegue se impor nem para si, porém sai à procura, de uma escolha?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e ambivalência. Tradução de Marcus Penchel.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 1999
_____. O mal-estar da pós-modernidade. Tradução de Mauro Gama e Cláudia
Martinelli Gama. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 1998
COMPAGNON, Antoine. O demônio da teoria. Tradução de Cleonice Paes Barreto
Mourão e Consuelo Fortes Santiago. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2001
DELEUZE, Gilles. Lógica do sentido. Tradução de Luiz Roberto Salinas Fortes. São
Paulo: Perspectiva, 2003
_____. Diferença e repetição. Tradução de Luiz Orlandi, Roberto Machado. Rio de
Janeiro: Graal, 2ª ed., 2006
LIPOVETSKY, Gilles. A era do vazio: ensaios sobre o individualismo contemporâneo.
Tradução de Therezinha Monteiro Deutsch. Barueri, São Paulo: Manole, 2005
LYOTARD, Jean-François. A condição pós-moderna. Tradução de Ricardo Corrêa
Barbosa. Rio de Janeiro: José Olympio, 2004
SARAMAGO, José. O conto da ilha desconhecida. São Paulo: Companhia das Letras,
2006
_____.O homem duplicado. São Paulo: Companhia das Letras, 2002
_____. As intermitências da morte. São Paulo: Companhia das Letras, 2005
_____. Ensaio sobre a cegueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1995
SARTRE, Jean-Paul. O ser e o nada – Ensaio de Ontologia Fenomenológica.
Tradução: Paulo Perdigão. Petrópolis: Vozes, 2003

Resumo do "Conto da Ilha Desconhecida"

Um homem dirigiu-se ao palácio real para fazer um pedido ao rei: desejava um barco. A casa real tinha várias portas, dentre as quais a porta da petição e a porta do obséquio, tendo-se o homem dirigido à primeira, supondo que seria atendido pelo rei. No entanto, quem acabou por o receber foi a mulher da limpeza, pois sua alteza real estava muito ocupada na porta dos obséquios, pelo que enviou o primeiro-secretário, que por sua vez mandou o segundo-secretário, que enviou o terceiro e assim sucessivamente, até chegar a vez da mulher.

Ela abriu, pois, a porta da petição e perguntou ao homem o que desejava do rei, ao que ele respondeu que desejava falar-lhe e que só abandonaria o local quando fosse recebido. Tal «teimosia» fez com que a fila da petição fosse aumentando e a do obséquio diminuindo. Passados alguns dias, muito contrariado, o rei abandonou o seu trono e veio falar com o homem à porta. Quando este lhe explicou que desejava um barco, a personagem real perguntou-lhe porquê, tendo o homem explicado que desejava encontrar a ilha desconhecida. Inicialmente, o rei negou satisfazer o pedido, pois os geógrafos afirmavam que já não havia ilhas por conhecer, mas, perante tanta insistência e perante o apoio dos aspirantes que se encontravam junto à porta da petição, o pedido acabou por ser satisfeito.

Assim, foi-lhe dito que se dirigisse ao porto e que solicitasse aí o seu barco. A mulher da limpeza, cansada da vida monótona que levava, abandonou o palácio e o rei e acompanhou-o. Chegado ao porto, o capitão, duvidando da viabilidade da empresa a que o homem se propunha, deu-lhe uma caravela. Já na posse do barco, o protagonista deparou com outro problema: nenhum marinheiro o quis acompanhar, pois não o levavam a sério. Partiu, pois, acompanhado apenas pela mulher. Após discutirem o facto de não terem tripulação, durante o jantar, o homem reparou na beleza da mulher.

Durante a noite, o homem sonhou que tinha encontrado uma tripulação, animais a bordo, terrenos com plantas, faltando apenas a mulher, que tinha ficando em terra. Posteriormente, sonhou com uma terra, que não era a ilha desconhecida, e a tripulação quis sair, levando consigo as mulheres e os animais, deixando na embarcação somente as plantas destinadas à agricultura. Quando o homem do leme decidiu ir tratar das terras, que pareciam uma floresta (a navegar), o homem viu uma sombra ao lado da sua e acordou. Ao seu lado, encontrava-se a mulher da limpeza: sem saberem como, encontravam-se os dois no mesmo beliche.

Por fim, resolveram nomear o barco - "A Ilha Desconhecida" - e fizeram-se ao mar.

Apresentação da obra

O Conto da Ilha Desconhecida foi publicado em 1997/98 pelo escritor José Saramago, vencedor do Prémio Nobel da Literatura em 1998.

Nele, o escritor, residente na ilha espanhola de Lanzarote, descreve metaforicamente o mundo, bem como aspectos específicos da vida humana - os seus desejos, ambições e frustrações.

Supostamente, o conto retoma um mote do poeta Fernando Pessoa: «Para viajar, basta existir». Esta viagem metafórica é possível graças à ficção, à literatura, que leva o homem a viajar, usando o sonho e a imaginação, não saindo ele do lugar onde se encontra.
A personagem principal do conto é um «homem desconhecido» que, após grande insistência, consegue obter do rei uma embarcação para procurar uma ilha que, segundo ele, ainda não era conhecida dos homens.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Balada para D. Inês

Este tema musical surgiu no Festival da Canção de 1968 pela pena e voz de José Cid. Nesse certame, a canção obteve o terceiro lugar, o que deixou o seu intérprete extremamente insatisfeito, tendo mesmo afirmado «Nunca mais lá ponho os pés».
LETRA:
Chegou das terras de Espanha
Nobre dama de Castela
Na corte de Portugal
Diziam ser a mais bela
Seu nome ficou na história
Como símbolo de amor
Não mais tiveram perdão
Aqueles que a mataram
Dona Inês
Seus longos cabelos de ouro
Os olhos azuis mas morta
Sentada em trono real
Todos lhe beijam a mão
Seu nome ficou então
Como símbolo do amor
E um poeta trovador
A sua morte cantou
Dona Inês

domingo, 15 de março de 2009

Inês de Castro - V

Post-mortem


Apesar de ter perdido o grande amor da sua vida, D. Pedro voltou a casar-se e teve vários filhos, legítimos e ilegítimos. Dois deles chegaram a reis: D. Fernando e D. João I, Mestre de Avis.

sábado, 14 de março de 2009

Os túmulos



D. Pedro mandou construir o mosteiro de Alcobaça, onde fez um belo túmulo para D. Inês de Castro, em frente ao qual mandou construir o seu, onde foi enterrado em 1367. Diz-se que estão nesta posição para que, quando acordarem no dia do Juízo Final, olhem imediatamente um para o outro.

Rainha depois de morta

Segundo reza a lenda, D. Pedro elevou D. Inês de Castro a rainha de Portugal após a morte desta e obrigou, de seguida, a corte a beijar-lhe a mão, ou que restava dela, dado que a «rainha» tinha falecido há dois anos.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Quinta das Lágrimas

O local onde D. Inês foi morta situa-se na cidade de Coimbra e é hoje conhecido como Quinta das Lágrimas. É um lugar onde os namorados se encontram.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Cognomes de D. Pedro


D. Pedro I foi o 8.º rei de Portugal e ficou cohecido tanto por Justiceiro como por Cruel. Ambos os cognomes derivam da infeliz história de amor que viveu com Inês de Castro.

Com efeito, após a cruel execução de D. Inês de Castro, D. Pedro revoltou-se contra o pai e declarou-lhe guerra, tendo a paz sido mantida graças à acção da rainha-mãe, que evitou o encontro militar entre pai e filho.

Porém, quando D. Pedro subiu ao trono, embora tivesse sido muito cuidadoso no tratamento com o povo, que gostava bastante dele, estava inundado pelo sentimento de vingança e, logo que lhe foi possível, mandou executar, de modo cruel, os ex-conselheiros do pai, responsáveis pelo crime horrendo: ordenou que lhes arrancassem o coração! Dizia que era assim que se sentia desde que D. Inês tinha morrido.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Inês de Castro segundo Ary dos Santos

Soneto de Inês

Dos olhos corre a água do Mondego
os cabelos parecem os choupais
Inês! Inês! Rainha sem sossego
dum rei que por amor não pode mais.

Amor imenso que também é cego
amor que torna os homens imortais.
Inês! Inês! Distância a que não chego
morta tão cedo por viver demais.

Os teus gestos são verdes os teus braços
são gaivotas poisadas no regaço
dum mar azul turquesa intemporal.

As andorinhas seguem os teus passos
e tu morrendo com os olhos baços
Inês! Inês! Inês de Portugal.

José Carlos Ary dos Santos

Inês de Castro segundo Bocage

A lamentável catástrofe de D. Inês de Castro

Da triste, bela Inês, inda os clamores
Andas, Eco chorosa, repetindo;
Inda aos piedosos Céus andas pedindo
Justiça contra os ímpios matadores;

Ouvem-se inda na Fonte dos Amores
De quando em quando as náiades carpindo;
E o Mondego, no caso reflectindo,
Rompe irado a barreira, alaga as flores:

Inda altos hinos o universo entoa
A Pedro, que da morte formosura
Convosco, Amores, ao sepulcro voa:

Milagre da beleza e da ternura!
Abre, desce, olha, geme, abraça e c'roa
A malfadada Inês na sepultura.

Bocage

Romance entre Pedro e Inês


A ligação amorosa entre o futuro rei de Portugal e a aia de D. Constança não foi nada bem vinda. Todos tinham medo que D. Inês, filha de um poderoso nobre espanhol, pudesse influenciar negativamente o príncipe. Assim, quando D. Constança morreu, D. Afonso continuou a condenar o namoro dos dois apaixonados.
De início, D. Afonso tentou , simplesmente, afastá-los, proibindo D. Inês de viver em Portugal. Mas isto não resultou porque os dois apaixonados foram morar para a fronteira de Portugal e Espanha e continuavam a encontrar-se. Reza a lenda que se casaram nesta altura, mas não há provas documentais de que tal tenha acontecido.

Casamento de D. Pedro e D. Constança

O casamento de D. Pedro com a princesa espanhola D. Constança foi um casamento por conveniência. De facto, o enlace foi «arranjado» pelos pais, daí que não existisse amor entre ambos. Foi nessa altura que D. Pedro conheceu D. Inês de Castro, uma das aias (dama de companhia) de D. Constança, por quem se apaixonou.

Reinado de D. Afonso IV

O reinado de D. Afonso IV foi marcado por muitas dificuldades, nomeadamente pestes e maus anos agrícolas. Viveu também muitas guerras nas conquistas de África, por isso queria muito agradar ao povo. Por último, convém relembrar ainda os confrontos com o filho por causa do romance com D. Inês de Castro.

Cronologia de D. Pedro I

  • 1320: Em Coimbra, a 8 de Abril, nasce o príncipe D. Pedro, filho de D. Afonso IV, rei de Portugal.
  • 1340: D. Afonso IV participa na batalha do Salado ao lado de Afonso XI de Castela. O seu resultado constitui a vitória decisiva da cristandade sobre os mouros da Península Ibérica. Inês de Castro, dama galega, vem para Portugal no séquito de D. Constança, noiva castelhana de D. Pedro, com quem vive uma paixão adúltera e fulminante.
  • 1345: Nasce D. Fernando, filho de D. Constança e de D. Pedro.
  • 1349 (?): Morte de D. Constança.
  • 1354: Influenciado pelos Castro (irmãos de D. Inês), D. Pedro mostra-se disposto a intervir nas lutas dinásticas castelhanas.
  • 1355: A 7 de Janeiro, com o consentimento de D. Afonso IV, nos paços de Santa Clara (Coimbra), Diogo Lopes Pacheco, Pedro Coelho e Álvaro Gonçalves degolam Inês de Castro. Quando toma conhecimento, dá-se a revolta de D. Pedro contra o pai.
  • 1357: Morte de D. Afonso IV; D. Pedro sobe ao trono e manda executar os assassinos de Inês de Castro.
  • 1361: Do Mosteiro de Santa Clara (Coimbra) para o Mosteiro de Alcobaça, D. Pedro I manda trasladar os restos mortais de Inês de Castro.
  • 1367: A 18 de Janeiro morre D. Pedro I, em Estremoz.

segunda-feira, 9 de março de 2009

D. Pedro e Inês de Castro - Uma história de amor


(c) Fernando Patronilo D'Araújo

Niccolo Zingarelli

Esta é uma ária da ópera Inês de Castro, final do acto I, apresentada, pela primeira vez, em Setembro de 1803, em Milão. O seu autor foi o compositor Niccolo Zingarelli.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Biografia do romance

D. Pedro, filho de D. Afonso IV e de D. Beatriz de Castela, nasceu em Coimbra, em 8 de Abril de 1320, e faleceu em Lisboa, em 18 de Janeiro de 1367. Reinou por apenas 10 anos, de 1357 a 1367 (foi o oitavo rei de Portugal), como D.Pedro I. Como era da praxe na época, quando casamentos eram arranjados desde a tenra idade em função de estratégias e interesses políticos, D. Pedro I e D. Constança, princesa e filha do Infante de Castela, D. João Manuel, vieram a casar-se.
A noiva veio para Portugal em 1340, acompanhada por um séquito, do qual fazia parte uma aia galega, de seu nome Inês de Castro, que era filha do fidalgo Pedro Fernandez de Castro e, segundo os poetas, era uma mulher lindíssima, pelo que não é de estranhar que o príncipe D. Pedro se tivesse apaixonado perdidamente por ela, que correspondeu totalmente aos seus sentimentos de amor profundo. Por ela, D. Pedro deixou de lado as conveniências de Estado e as reprovações de todos, desprezando a corte e afrontando tudo e a todos.
De facto, a corte considerava uma afronta aquela ligação indecorosa pelos problemas morais e religiosos que levantava, bem como pelo perigo que a influência da família dos Castros (Galiza - Espanha) poderia trazer à coroa portuguesa. Apesar disso tudo, Inês de Castro e D. Pedro viviam trocando juras de amor eterno. No entanto, as intrigas que chegavam ao Rei D. Afonso IV apressavam o monarca a agir. Brando de costumes, mas firme de valores, o Rei enviou D. Inês para o exílio, próximo à fronteira espanhola, em 1344. A distância física, no entanto, em nada alterou a paixão de D. Pedro e D. Inês.
Pouco tempo depois, D. Constança faleceu ao dar à luz a D. Fernando, herdeiro do trono de Portugal. O Rei tentou, novamente, casar o seu filho com uma dama de sangue real, mas D. Pedro rejeitou a ideia e aproveitou para trazer Inês de Castro do exílio para com ela viver, despreocupadamente, o seu idílio nas bucólicas margens do Rio Mondego, no Paço de Santa Clara. Esta atitude criou grande tumulto na corte e deu um enorme desgosto a D. Afonso, tendo a relação entre os dois esfriado.
Desta relação de Pedro e Inês nasceram três crianças: D. Dinis, D. Beatriz e D. João, que só vieram a agravar o relacionamento entre Príncipe e Rei.
Para incendiar mais ainda a situação, fizeram crer a D. Afonso que os Castros queriam ver o Infante Fernando, filho de Pedro e Constança, assassinado, uma vez que era ele o legítimo sucessor de Pedro, e não os filhos resultantes da sua união com Inês. O monarca sentiu-se amargurado e no meio de uma trama que só ele podia resolver. Embora D. Afonso compreendesse as razões daquela ligação perigosa, todo o enredo político/social o levou a tomar uma decisão drástica, por influência de seus conselheiros Diogo Lopes Pacheco, Álvaro Gonçalves e Pêro Coelho. Assim, em reunião, na qual não esteve presente D. Pedro, ficou definida a execução de Dona Inês. Apesar de ser mãe de três filhos de D. Pedro, os executores régios, aproveitando a ausência de D. Pedro numa das suas habituais caçadas, entraram no Paço e, ali mesmo, apesar das suas súplicas, assassinaram-na. Era o dia 7 de Janeiro de 1355 e mela contava apenas 30 anos de idade.
Inconsolável com a perda de Inês, D. Pedro chegou a declarar guerra ao pai. Dois anos depois, aquando da morte de D. Afonso IV e da sua subida ao trono, aos 37 anos, D. Pedro I diligenciou a captura dos assassinos de D. Inês. Dois deles foram encontrados e executados, mas o terceiro logrou escapar.
Procurando dignificar o nome de Inês de Castro, D. Pedro declarou solenemente, apresentando como testemunhas Don Gil, Bispo da cidade de Guarda, e Estêvão Lobato, seu criado, que sete anos antes casara com ela em Bragança em dia “de que não se lembrava”, tendo esta afirmação pública sido proferida em 12 de Junho de 1360. Diz a lenda, não documentalmente provada e aparentemente obra de poetas da época, que D. Pedro fez coroar D. Inês como rainha, obrigando a nobreza, que tanto os tinha desprezado, a beijar-lhe a mão, depois de morta.
Cumprida a sua vingança, D. Pedro I ordenou a translação do corpo de Inês, da campa modesta no Mosteiro de Santa Clara, em Coimbra, onde se encontrava, para um túmulo delicadamente lavrado, qual renda de pedra, que mandou colocar no Mosteiro de Alcobaça. Mais tarde, D. Pedro I mandou esculpir outro túmulo semelhante ao da sua amada, colocando-o em frente ao da sua Inês, para, após a sua morte, permanecer ao lado do seu grande amor.
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