Nesta ode, Ricardo Reis reflecte, mais uma vez, sobre a temática da efemeridade da vida / volatilidade do tempo.
Nos primeiros oito versos, que podemos considerar a primeira parte do poema, encontramos a tal reflexão sobre a brevidade da vida, a partir de um dos símbolos clássicos repescados por Reis: o da rosa. Neste caso, as rosas são as do jardim de Adónis, a figura mitológica jovem e extremamente formosa que nasceu do incesto de Ciniras, rei de Chipre, com Mirra, sua filha, e que se notabilizou por ser um caçador exímio. Graças à sua formosura, foi objecto da paixão de Vénus, a deusa do Amor, que acabou por o ver sucumbir às mãos de um javali. Este mito está ligado à origem da mirra e à origem da rosa, duas plantas que teriam nascido a partir de uma gota do seu sangue.
O sujeito poético, dirigindo-se a Lídia, começa por afirmar o seu amor pelas rosas do jardim de Adónis, que têm uma vida curta, pois nascem no início e morrem no fim do dia, característica que aponta para o seu simbolismo: a brevidade ou fugacidade da vida. Por outro lado, a sua associação à figura de Adónis remete para a alegria, para a felicidade e para a beleza efémeras [notar a expressividade do adjectivo «volucres», uma palavra de origem latina que traduz: a) os fundamentos clássicos da poesia deste heterónimo; b) o recurso a uma linguagem erudita, oposta à linguagem simples de Caeiro; c) a brevidade da vida].
Na segunda quadra, encontramos a referência a outra figura clássica, a de Apolo, o deus que tinha por missão conduzir o carro solar à volta do Universo, puxado por quatro cavalos, também considerado deus da poesia, da música e das artes. Neste caso, surge associado à luz e ao sol, símbolos do dia e da vida, por oposição à noite, símbolo da morte. O «eu» poético aproveita estas referências para expressar o seu desejo de um presente perpétuo, imutável, uma forma de ilusão de eternidade («A luz para elas é eterna» - v. 5).
Nos últimos quatro versos, em jeito de conclusão ou explicação («Assim»), o sujeito poético explicita a sua filosofia de vida. Começa por incentivar a «amada», Lídia, a, juntos, serem como as rosas de Adónis, isto é, a viverem o dia presente como se ele fosse a vida toda («façamos nossa vida um dia» - v. 9) e a ignorarem o passado (a «noite antes») e o futuro (o «após»).
E porquê? Em primeiro lugar, porque ele possui a plena consciência de que a vida é breve («O pouco que duramos» - v. 12). Depois, porque sente a necessidade de aceitar a morte, de a integrar no seu «projecto» de vida, de modo a evitar a dor e a angústia de se saber efémero (como as rosas de Adónis) e mortal. Notar, nestes versos, o recurso ao advérbio de modo «voluntariamente», que expressa o autodomínio, a autodisciplina do «eu» em seguir uma determinada filosofia de vida.
Formalmente, estamos perante um poema constituído por doze versos brancos, distribuídos por três quadras, de métrica que oscila entre o decassílabo (o primeiro par de cada estrofe) e o hexassílabo (o segundo par).
Como é usual nos textos de Reis, predominam as formas verbais no modo conjuntivo (com valor de imperativo), associadas aos apelos dirigidos a Lídia e à feição moral do poema.
A adjectivação traduz a formação clássica de Reis e reflecte os temas que pretende abordar na composição: «volucres» (efémeras, passageiras), «inscientes» (desconhecedoras), «eterna» (a brevidade da vida das rosas).
À semelhança do que sucede com outros textos, também neste é possível identificar um vasto conjunto de marcas clássicas:
. a simbologia das «rosas», da «luz» e do «sol»;
. os latinismos («volucres» e «inscientes»);
. os hipérbatos («As rosas amo dos jardins de Adónis»);
. o recurso a personagens da mitologia clássica (Adónis e Apolo);
. o nome Lídia;
. o princípio horaciano e epicurista do “carpe diem”: gozar o dia de hoje sem curar de saber o que o destino nos reservará para amanhã;
. o tema da efemeridade da vida a que estamos condenados pelo Tempo que tudo devora (como no mito grego de Cronos que devorava os próprios filhos).
O sujeito poético, dirigindo-se a Lídia, começa por afirmar o seu amor pelas rosas do jardim de Adónis, que têm uma vida curta, pois nascem no início e morrem no fim do dia, característica que aponta para o seu simbolismo: a brevidade ou fugacidade da vida. Por outro lado, a sua associação à figura de Adónis remete para a alegria, para a felicidade e para a beleza efémeras [notar a expressividade do adjectivo «volucres», uma palavra de origem latina que traduz: a) os fundamentos clássicos da poesia deste heterónimo; b) o recurso a uma linguagem erudita, oposta à linguagem simples de Caeiro; c) a brevidade da vida].
Na segunda quadra, encontramos a referência a outra figura clássica, a de Apolo, o deus que tinha por missão conduzir o carro solar à volta do Universo, puxado por quatro cavalos, também considerado deus da poesia, da música e das artes. Neste caso, surge associado à luz e ao sol, símbolos do dia e da vida, por oposição à noite, símbolo da morte. O «eu» poético aproveita estas referências para expressar o seu desejo de um presente perpétuo, imutável, uma forma de ilusão de eternidade («A luz para elas é eterna» - v. 5).
Nos últimos quatro versos, em jeito de conclusão ou explicação («Assim»), o sujeito poético explicita a sua filosofia de vida. Começa por incentivar a «amada», Lídia, a, juntos, serem como as rosas de Adónis, isto é, a viverem o dia presente como se ele fosse a vida toda («façamos nossa vida um dia» - v. 9) e a ignorarem o passado (a «noite antes») e o futuro (o «após»).
E porquê? Em primeiro lugar, porque ele possui a plena consciência de que a vida é breve («O pouco que duramos» - v. 12). Depois, porque sente a necessidade de aceitar a morte, de a integrar no seu «projecto» de vida, de modo a evitar a dor e a angústia de se saber efémero (como as rosas de Adónis) e mortal. Notar, nestes versos, o recurso ao advérbio de modo «voluntariamente», que expressa o autodomínio, a autodisciplina do «eu» em seguir uma determinada filosofia de vida.
Formalmente, estamos perante um poema constituído por doze versos brancos, distribuídos por três quadras, de métrica que oscila entre o decassílabo (o primeiro par de cada estrofe) e o hexassílabo (o segundo par).
Como é usual nos textos de Reis, predominam as formas verbais no modo conjuntivo (com valor de imperativo), associadas aos apelos dirigidos a Lídia e à feição moral do poema.
A adjectivação traduz a formação clássica de Reis e reflecte os temas que pretende abordar na composição: «volucres» (efémeras, passageiras), «inscientes» (desconhecedoras), «eterna» (a brevidade da vida das rosas).
À semelhança do que sucede com outros textos, também neste é possível identificar um vasto conjunto de marcas clássicas:
. a simbologia das «rosas», da «luz» e do «sol»;
. os latinismos («volucres» e «inscientes»);
. os hipérbatos («As rosas amo dos jardins de Adónis»);
. o recurso a personagens da mitologia clássica (Adónis e Apolo);
. o nome Lídia;
. o princípio horaciano e epicurista do “carpe diem”: gozar o dia de hoje sem curar de saber o que o destino nos reservará para amanhã;
. o tema da efemeridade da vida a que estamos condenados pelo Tempo que tudo devora (como no mito grego de Cronos que devorava os próprios filhos).
Um dos poemas mais lindo que li em minha curta vida, que vivamos mais e mais o dia de hoje.
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