Quando Romeu bate à sua porta e
exige “Uma dose de veneno” (V, I), o Boticário resiste, explicando que pode ser
morto por vender substâncias mortais. “Tais drogas mortais eu tenho”, diz o
farmacêutico a Romeu, “mas a lei de Mântua / é a morte para quem os profere” (V,
I). Romeu responde, comentando a aparência magra e desesperada do farmacêutico,
e pergunta por que razão o homem deve temer a morte ou defender a lei quando
parece tão infeliz:
Tu és tão nu e cheio de miséria,
E tens medo de morrer? A fome
está nas tuas bochechas;
Necessidade e opressão morrem de
fome nos teus olhos;
Desprezo e mendicância pairam
sobre as tuas costas.
O mundo não é teu amigo, nem a
lei do mundo.
O mundo não tem lei para
enriquecer. (V, I)
Romeu argumenta que a lei contra a
venda de veneno impede o Boticário de ganhar a vida. Assim, para sobreviver,
ele deve infringir a lei. O jogo de palavras que Romeu usa para transmitir essa
sugestão gira em trono da palavra “afford”, que significa “capaz de pagar” e
“capaz de oferecer”. Assim como o farmacêutico não se pode dar ao luxo (afford)
de viver bem, a lei não lhe permite (afford) que viva bem. Para romper
esse duplo vínculo, o farmacêutico tem de rejeitar a lei. O raciocínio de Romeu
apela ao estômago do Boticário, e ele concorda ressentidamente em receber o
dinheiro dele: "Minha pobreza, mas não minha vontade, consente" (V, I).
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