Abel, que não
gostava de trabalhar, era, todavia, gastador, instável, amante do luxo e da
aventura, e gostava de frequentar ambientes requintados, de preferência onde
houvesse "meninas para casar" (p. 52). O gosto pela aventura e pelo
luxo, a superficialidade aproximavam-no do pai e, quiçá por isso, da simpatia
da mãe (pp. 61-62).
Casou rico e,
inicialmente, não era muito exigente com Quina relativamente à quota que esta
lhe devia pagar anualmente pela exploração dos bens. Mantinha na vida e nos
negócios o espírito de jogo de azar, como o pai (p. 88).
Dado que Quina
não tinha descendentes, Abel, duma forma perspicaz, chama a atenção de Germa
para a necessidade de ser agradável à tia e ele próprio age de uma forma que
considera adequada para que a filha seja a herdeira de Quina (p. 123).
O materialismo
de Abel (evidente na "caça à herança" da irmã) contrasta com o
pensamento de Germa (p. 142), mas manter-se-á sempre "um diletante da
experiência", que encara a vida como um jogo, à semelhança do pai e da
irmã, Quina (p. 150).
Ao contrário de
João, que não queria que lhe falassem de Quina, Abel preocupa-se imenso com a
herança e inquieta-se com a presença de Custódio e o carinho que a irmã lhe
dedica, aponto de discutir com ela. Também a sua situação familiar e económica
é diferente da de João. Na verdade, é lógico que dele provenha a herdeira
universal de Quina. Só Germa dava garantias de continuidade e respeito pelo
«sangue». Todavia, o que ressalta é a ambição desmedida de Abel.
João era,
sobretudo, caçador, trabalhava pouco, mas, ao contrário do irmão, não era
gastador.
Casou com uma
mulher burguesa, proprietária com pretensões fidalgas, feia e bronca, que
desagradou muito a Maria da Encarnação: "Ela é uma lorpa, nem do campo nem
fidalga, que não sabe ser nem uma coisa nem outra" (p. 69). O que lhe
desagradava sobretudo na noiva do filho era a falta de autenticidade, o
artificialismo, a pobreza do espírito.
É por
influência da esposa que João vai viver para a cidade e vende a Quina a sua
parte da herança. Esta mudança para a cidade e a troca dos bens rurais por
dinheiro traduzem o seu aburguesamento. Mas a vida citadina será medíocre e
João rapidamente se arrependerá do negócio. A mulher está cada vez mais feia e
ridícula. (pp. 122-123)
Aproximadamente
quinze anos depois, quando Abel o procura, João vive no último andar (84
degraus) de um prédio velho, propriedade da mulher, numa situação económica
débil ("uma quase pobreza" – p. 149).
À medida que o
tempo passa e se reconhece pobre, enquanto Quina enriquece, João começa a
odiá-la por se sentir ludibriado: "Parecia gravemente ofendido (...), mas,
mesmo na indignação, era mais sofredor do que agressivo (...). Era um homem
fraco, conciliador e liberal na fartura, mas sujeito à inveja e a torturada
maledicência quando o êxito de alguém lhe revelava mais profundamente a própria
impotência". (pp. 151-152)
A fraqueza e o
carácter "sofredor" revelam-se também no acervo (ultra-)romântico da
sua biblioteca. Não tendo filhos legítimos [simbolicamente, a esposa era
estéril, como a sua opção pela cidade, a recusa da terra (= fecundidade), o
artificialismo, a falta de autenticidade], João, em consonância com as suas
leituras "românticas", teve dois bastardos de uma criada.
Tendo sido
sempre um indigente, que ocupa o seu tempo na caça e, mais tarde, no quintal,
João acaba por ser dominado pela mulher, intelectualmente medíocre, pretensiosa
e ridícula, que o torna ainda mais amorfo e irresponsável. (pp. 154-155)
Em suma,
estamos perante um esboço que aproxima Germa e Quina: solteiras, independentes,
insolentes. Este estado de espírito opõe-se diretamente ao do pai, ambicioso e
materialista: "Ele entretinha-se, às vezes, a depreciar os seus dotes, com
simulado intuito de desafio, para a ver reagir e demonstrar uma atividade útil
das suas qualidades – casando-se depressa, procurando um partido indiscutível,
ainda que fosse como vingança.". (p. 155)
É uma
intelectual, aristocrata de espírito, que um grande afastamento da mentalidade
burguesa citadina do pai e de Bernardo e a aproximação da «aristocracia
"ab imo" da terra»: "Tenho espírito demais (...)" até
"sessenta dias". (p. 155)
A posição
tomada para com Custódio compreende-se pelo ascetismo a que Quina aspira: elevação humana, abandono da vulgaridade dos
que a rodeiam, vaidade absoluta e egocentrismo, ostentação dos seus méritos,
enternecimento por uma causa humana.
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