Como é característico de alguma
poesia contemporânea, este poema pauta-se pela liberdade formal, nomeadamente
ao nível da rima (versos brancos ou soltos) e da métrica.
O título da composição remete
para a solidão, a tristeza, a melancolia e a desolação de alguém. No entanto, o
primeiro verso do texto aponta numa direção diferente, isto é, essa figura já
amou e se apaixonou no passado, talvez na juventude (“dizem que a paixão o
conheceu”), de acordo com a informação dada por um sujeito indeterminado (“dizem”).
Todavia, o presente é de solidão, ideia veiculada pela imagem “vive escondido
nuns óculos escuros”, que significa que essa pessoa se fecha em si mesmo, se
recolhe, se esconde de «tudo» – sentimentos,
pessoas e até de si mesmo.
Além disso, essa figura reflete
durante a noite, procurando perceber o que restou do jovem que fora, dos sonhos
que tivera e do amor que vivera, do rosto adolescente que a velhice turvou.
Esse ser conhece, como ninguém, coisas como a solidão, a tristeza, a melancolia
e a inversão nos seus próprios sentimentos, como alguém que permanece acordado,
consciente da sua posição enquanto pessoa.
Por outro lado, sente a passagem do
tempo, o avançar da idade e a aproximação da velhice, por isso olha-se ao
espelho, o que pode simbolizar o olhar sobre si mesmo, uma reflexão interior,
sobre a sua vida. E o espelho dá-lhe como resposta (“devolve”) o medo, que
norteia a sua existência.
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