A ação decorre entre o inverno e
a primavera, mas concentra-se num domingo de primavera, estendendo-se de manhã
até à noite.
O inverno está conotado com a
escuridão, a noite, o sono e a morte. É nessa estação do ano que nos são
apresentadas as personagens, envoltas na decadência económica, no isolamento
social e na degradação moral (“E a miséria tornara estes senhores mais bravios
que lobos.”)
Por sua vez, a primavera tem uma
conotação positiva: associa-se à luz, à claridade, à cor, ao aparecimento do
Sol. Esta estação significa o renascimento da natureza, sugere uma vida nova (a
descoberta do cofre é uma oportunidade dada às personagens de abandonarem a sua
miséria), que se poderia ter estendido ao renascimento espiritual dos três
irmãos, representado simbolicamente pelo domingo, um dia santo.
Assim, o período compreendido
entre o Inverno e a Primavera é vivido pelos três irmãos de uma forma miserável:
fome, frio, decadência, solidão. O início da primavera proporciona-lhes a
oportunidade de uma nova vida, a que corresponde a descoberta do tesouro.
A
ação central inicia-se na manhã de um domingo e progride durante o dia. Nessa
data, o seu percurso (de fome, privação…) inverte-se: "E assim refeitos
(...) subiram para Medranhos, sob a segurança da noite sem Lua." – domingo
→ manhã → tarde → noite.
À medida que a noite se aproxima,
a tragédia vai-se preparando. A essa aproximação corresponde a vontade de cada
um dos irmãos de reter para si próprio uma maior quantidade do dinheiro, que se
evidencia pelo desejo de subir à serra com o cofre. Quando tudo termina, com a
morte sucessiva dos irmãos, a noite está a surgir (“Anoiteceu.”). A purificação
surgirá como obra da providência: “Anoiteceu. Dois corvos, de entre o bando que
grasnava além nos silvados, já tinham pousado sobre o corpo de Guanes.” A
miséria física conduz à miséria espiritual.
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