Um dos
temas fulcrais da obra é a justiça, encarada como um sistema e como um conjunto
de valores filosóficos respeitantes ao modo de tratar as pessoas. Uma das
primeiras questões que emerge é a certeza de que o povo Osage não foi tratado
de forma justa, desde logo porque foi vítima de um racismo encardido que é
apresentado como parte do seu relacionamento com o governo dos Estados Unidos e
como um traço associado aos assassinatos de que são vítimas. Todo este bolo
cria um caldinho que os envolve em desigualdades que os forçam a lutar pelos
seus direitos básicos e pela sua dignidade enquanto seres humanos. Embora o
sofrimento da tribo constitua um aspeto central na obra, a questão da justiça,
ou da sua ausência, é generalizada. O próprio autor observa, de forma
profundamente irónica, o problema quando constata que, no início da década de
1920, o Departamento de Justiça norte-americano era conhecido como Departamento
da Virtude Fácil, expressão que se refere tanto à imodéstia sexual(o conceito
de ser «fácil») quanto à prática de escolher aquilo que é fácil ou conveniente,
o que leva, por exemplo, ao encobrimento de escândalos ou fazer vista grossa a
uma série de factos e acontecimentos, em detrimento da adoção de princípios
como a honestidade e a integridade.
A
secção central da obra foca-se na questão da Justiça, visto que a ação se
centra no sistema de justiça criminal, evoluindo da fase da investigação para a
acusação e, por último, a punição. Tom White é um homem íntegro que se dedica à
busca da verdade, à captura dos criminosos e a levá-los à Justiça. Não é
suficiente reunir provas que levem à condenação dos prevaricadores, embora White
o consiga em parte, mas é também fundamental saber navegar pelos caminhos
intrincados do sistema de justiça, escancarado à manipulação e à corrupção, traços
exemplificados pela adulteração do júri e da intimidação de testemunhas da
acusação. Deste modo, para que White consiga levar William Hale e os seus acólitos
a tribunal, necessita de proteger este da corrupção que caracteriza o sistema.
Em simultâneo, tem de combater o racismo para que se faça justiça, pois aquele leva
os homens brancos a acreditar que é injusto condenar outra pessoa branca por matar
um nativo americano, considerado um ser inferior.
A ideia
de que as pessoas têm valores e aptidões intrínsecas diferentes, ironicamente,
faz parte de um modelo de Justiça mais antigo, que vigorou durante séculos e
que moldou a política do governo dos EUA relativamente às populações indígenas
e que foi usado amplamente para justificar a escravatura, bem como o tratamento
desigual de mulheres e de outros grupos. De acordo com esta forma de pensar,
era injusto conceder às pessoas direitos e responsabilidades que elas não
seriam capazes de gerir. Ora, é precisamente este «princípio» que está base da
tutela forçada dos Osage. Tudo isto, em suma, escancara a fragilidade das
instituições encarregadas de salvaguardar e proteger os direitos humanos mais
básicos.
Sem comentários :
Enviar um comentário