1. Numa
entrevista dada ao Diário de Notícias, publicada a 25 de outubro de
2008, Luís Sepúlveda explica a origem deste conto e a razão da epígrafe que o
acompanha: “Na América do Sul quando conhecemos alguém dizemos o nosso
apelido. E um dia, na Patagónia, cheguei a uma cabana onde viveram os famosos
bandidos Butch Cassidy e Sundance Kid e vejo um homem muito velho, que me
estende a mão e diz «Sepúlveda». Não porque me conhecesse, mas porque era o seu
nome. Era óbvio que tínhamos o mesmo nome. Eu digo-lhe: «Devemos ser parentes,
qual é o seu primeiro nome?» E ele diz: «Aladino.» Aladino Sepúlveda. Isto é
uma maravilha. Isto dá um conto.”
2.1. O velho
tinha oitenta e alguns anos e era o sustento de uma numerosa família que
recorria a ele sempre que surgiam dificuldades.
2.2. As
expressões que evidenciam a dimensão da família são as seguintes: “filhos,
filhas, noras e genros”; “caterva indeterminada de netos”.
2.3.
a. Na
expressão “erráticos como o vento da estepe”, está presente uma
comparação, a qual evidencia o movimento constante das pessoas. A aproximação
semântica ao “vento da estepe”, o segundo termo da comparação, procura
transmitir a ideia de movimentação constante.
b. Na
expressão “quando os ventos (…) faziam soar as tripas”, encontramos uma
perífrase que denuncia a fome (“soar as tripas”) que, quando é muita,
provoca ruídos no sistema digestivo. A perífrase surge ainda associada aos
ventos do inverno, como se estes fossem a sua causa direta.
3.1. A outra
personagem é Cachupín, o cão do velho. O canino é um animal preguiçoso e
que dormia “com um olho aberto”, “sempre atento aos movimentos do
dono”. Apesar de ser preguiçoso e pachorrento, era também um animal que,
incitado pelo dono, assumia comportamentos de ferocidade.
3.2. A função
do cão era acordar todos os membros da família que se encontravam em casa e
expulsá-los.
4. A
expressão “vacas magras” tem origem na história bíblica de José do
Egito, presente no Génesis. Oriundo de uma família numerosa, José era o
preferido do pai, por isso os irmãos decidiram livrar-se dele, vendendo-o como
escravo a uns mercadores a caminho do Egito. Preso mais tarde, dedicou-se, na
prisão, à interpretação de sonhos, atividade que o tornou famoso e o levou à
presença do faraó, para interpretar um dos seus sonhos, no qual previu sete
anos de abundância, simbolizados em sete vacas gordas, e sete outros de fome,
simbolizados em sete vacas magras. Satisfeito, o faraó nomeou-o seu ministro.
Quando a sua previsão de fome se concretizou, José perdoou aos irmãos.
5. A sua
intenção era ficar apenas acompanhado de Cachupín.
5.1. O velho
esperava que a família se afastasse bastante, ao ponto de as pessoas serem
apenas “referências incertas no horizonte plano”, para entrar novamente
na cabana e esperar pacientemente, enquanto Cachupín guardava o lugar.
5.2. O
diminutivo “familória” tem um valor pejorativo.
5.3. A
expressão “esperava pela chegada das sombras” pode remeter para a noite
ou a escuridão.
6. O tipo
textual predominante é o descritivo. De facto, o narrador descreve personagens,
situações e ambientes, normalmente de forma dinâmica. Os recursos
característicos do texto descritivo presentes são o pretérito imperfeito
(“tinha”, “agarrava”, “faziam”), os adjetivos (“atento”, “colado”, “comprida e
fina”) e expressões caracterizadoras, muitas vezes expressivas (“erráticos como
o vento da estepe”, “que se agarrava a ele quando os ventos ainda mais
frios…”).
6.1. No
oitavo parágrafo, inicia-se uma sequência de tipo textual narrativo,
apresentando eventos que configuram o desenvolvimento da ação global
(“acendeu”, “levou”, “tirou”).
7. Dentro da
cabana, o velho acendeu um candeeiro de azeite e fez o que “vinha fazendo há
mais de trinta anos” (apesar de não se saber neste momento do que se
trata). Cortou um pedaço de charque e, depois de o mastigar, deu-o ao cão para
ele engolir. Saiu da cabana e foi-se afastando. Os seus familiares regressavam
então ao abrigo. Já distante, o velho, seguro de que ninguém o seguia, apagou o
candeeiro.
8. A ação do
excerto decorre na Patagónia argentina (“Cholila”; “Patagónia”), durante a
noite (“luminosidade cinzenta da estepe”); “vastidão da noite”).
Questionário 1: questionário.
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