● Em 1357, D. Pedro I subiu ao
trono, sucedendo a seu pai, D. Afonso IV, que, no anterior, tinha mandado matar
D. Inês de Castro, amante do então príncipe D. Pedro, que posteriormente a
declarou rainha, vingando-se de quem a assassinara.
● Em 1367, D. Pedro morreu,
deixando D. Fernando como herdeiro do trono, bem como vários filhos bastardos
(isto é, nascidos de relações fora do casamento). Um desses bastardos era o
futuro D. João I, Mestre de Avis.
● D. Fernando nasceu em Coimbra, em
31 de outubro de 1345. Quando subiu ao trono, aos 21 anos, herdou um reino em
paz e um erário muito rico.
● Durante o reinado ocorreram algumas
guerras com Castela, até porque D. Fernando cria que o novo rei de Castela, D.
João, seria um guerreiro fácil. Em 1371, casou com Leonor Teles, que vinha de
um primeiro casamento, entretanto anulado. Esta união causou grande desagrado e
movimentos de revolta popular em Lisboa.
● Em 1372, foi assinado um
tratado de proteção e apoio com a Inglaterra, o qual foi reforçado no ano
seguinte. Isto provocou outra guerra com Castela, da qual D. Fernando saiu
derrotado.
● Entre 1375 e 1380, D.
Fernando produziu leis de auxílio à agricultura (Lei das Sesmarias), à
construção de navios e ao comércio.
● Em 1381 e 1382,
Portugal foi invadido pelas tropas de D. João I de Castela. Depois do
restabelecimento da paz e para a reforçar, foi estabelecido o Tratado de Salvaterra
de Magos: a infanta D. Beatriz, herdeira do trono de Portugal, casaria com
o rei / herdeiro de Castela (casamento esse que estará na origem dos problemas
de sucessão dinástica que ocorreram pouco depois); se D. Fernando falecesse seu
filho varão, as coroas de Portugal e Castela, embora separadas, seriam cingidas
por D. João e D. Beatriz; quando estes falecessem, as coroas seriam herdadas
pelos seus sucessores; se não os possuíssem nem D. Fernando outro(a) filho(a),
ambas as coroas passariam para quem fosse rei de Castela; se D. Fernando
falecesse sem mais filhos nem netos maiores de 14 anos, D. Leonor Teles, a sua
viúva, ficaria como regente do reino.
● Passados 7 meses, em 1383, a
22 de outubro, D. Fernando morreu em Lisboa, nove dias antes de
completar 38 anos. Em conformidade com o Tratado de Salvaterra de Magos, na
falta de herdeiro masculino, D. Leonor Teles ficou como regente do reino. A
sucessão passou para a única filha legítima, D. Beatriz. As cláusulas do
matrimónio confiavam a regência e o governo do reino a Leonor Teles, até filho
ou filha nascer a Beatriz. Por ter casado com a herdeira do trono português, o
rei de Castela entendeu que tinha direito ao de Portugal, o que punha em causa
a independência nacional, e decidiu invadir Portugal e tomar conta do poder.
● A partir daí, o descontentamento
disparou, não propriamente contra D. Beatriz, mas contra o seu marido e contra
Leonor Teles, e as revoltas sucederam-se em diversos locais, sobretudo em
Lisboa. Num desses movimentos (que envolveu o povo, a burguesia e a pequena
nobreza), foi assassinado o conde João Fernandes Andeiro, no dia 6
de dezembro de 1383. D. João, Mestre de Avis, apesar de alguma hesitação,
afirmou-se então como líder dos que se opunham a Leonor Teles – Andeiro e D.
João I – Beatriz, acabando por ser designado como «Regedor e Defensor do
Reino», contra todos os tratados e à revelia de todo o direito. O próprio D. João
I ajudou a assassinar o conde Andeiro, obrigou D. Leonor Teles a fugir e a unir
forças com D. João I de Castela. Posteriormente, enviou embaixadores a
Inglaterra com o propósito de renovar a aliança política contra Castela e começou
a organizar a resistência.
● Em 1384, D. João de Castela
pôs cerco a Lisboa, que durou cerca de cinco meses, mas uma mortífera epidemia
de peste forçou-o a regressar a casa, em outubro, para reunir novas tropas.
Nesse ano, Nuno Álvares Pereira comandou as tropas portuguesas que venceram os
castelhanos na batalha de Atoleiros, no Alentejo.
● Segundo o professor Carlos Reis, a guerra
com Castela teve três fases principais: na primeira (entre
janeiro e outubro de 1834), D. João I de Castela invadiu Portugal e cercou
Lisboa; entretanto, os Portugueses, chefiados por Nuno Álvares Pereira, filho ilegítimo
do Mestre dos Hospitalários, derrotaram os Castelhanos em Atoleiros. Na segunda
fase (entre maio e outubro de 1385), D. João de Castela invadiu Portugal de
novo, mas foi derrotado em Aljubarrota por um exército português muito mais
pequeno, mas melhor organizado e apoiado por archeiros e por conselheiros
ingleses (além de outras batalhas menores, como Trancoso ou Valverde). Na terceira
fase (entre julho de 1386 e novembro de 1387), um tratado formal entre Portugal
e a Inglaterra trouxe o duque de Lancaster à Península Ibérica como pretendente
à coroa castelhana. Uma primeira trégua foi assinada em 1387.
● Em 1385, realizaram-se as Cortes
de Coimbra, onde D. João, Mestre de Avis, foi reconhecido e aclamado como
rei de Portugal, depois de se ter libertado de outros dois pretendentes (D. João
e D. Dinis, filhos ilegítimos do rei D. Pedro e de Inês de castro), com a ajuda
de um famoso legista, João das Regras, enteado de Álvaro Pais, que ele
prontamente nomeou seu primeiro chanceler.
● O rei de Castela voltou a invadir novamente
Portugal com um exército que incluía a maioria da nobreza portuguesa. Os dois
exércitos enfrentaram-se no dia 14 de agosto de 1385, em Aljubarrota.
Os Portugueses triunfaram, graças à ação de Nuno Álvares Pereira, já então
condestável do exército português. Esta derrota dos castelhanos teve
consequências políticas definitivas. As vitórias nas batalhas de Aljubarrota,
Trancoso e Valverde, com a ajuda de tropas inglesas, confirmaram aquele
reconhecimento e o início da dinastia de Avis.
● A partir de então, foi-se
estabelecendo uma certa normalidade na vida pública portuguesa. Em 1387,
o tratado de Windsor reafirmou a aliança com a Inglaterra, reforçada
pelo casamento de D. João I com D. Filipa de Lencastre, que pertencia à família
real inglesa. Em 1381, nasceu o príncipe D. Duarte, que sucedeu a D. João
I.
● Entre 1396 e 1402,
aconteceu uma nova guerra com Castela, ainda motivada pela ambição do
trono de Portugal. Só em 1411 o tratado de Segóvia terminou os
conflitos entre Portugal e Castela, que vinham praticamente desde o reinado de
D. Fernando.
● Em 1414, decidiu-se a
expedição e conquista de Ceuta, que teve lugar no ano seguinte,
em 1415, a 21 de agosto, data que marca o início da expansão portuguesa,
que se estendeu até ao século XVI.
● Em 1433, morreu D. João I, sucedendo-lhe
o seu filho D. Duarte, que no ano seguinte – 1434 – nomeou Fernão
Lopes cronista-mor do reino.
● O reinado de D. Duarte durou cerca
de cinco anos. Após a sua morte, em 1438, sucedeu-lhe D. Afonso V, passando a
rainha Leonor de Aragão regente até à maioridade do príncipe.
● Foi no reinado de D. Afonso V, em 1454,
que Fernão Lopes, já idoso, deixou de ser cronista-mor
do reino.
Todos estes acontecimentos estiveram na base de mudanças
sociais que anunciavam o fim de um modo de viver e de pensar, que era o da
Idade Média. Algumas dessas mudanças sociais e mentais foram as seguintes:
• A distinção entre nobreza e povo
vai perdendo significado na segunda metade do século XIV e na primeira metade
do século XV.
• As profissões lucrativas, como era
o caso dos mesteirais, começam a ganhar importância, pois têm um ofício com
alguma dignidade social. Este fenómeno ocorre essencialmente nas cidades e dá
origem a corporações: a dos sapateiros, a dos alfaiates, a dos ferreiros, a dos
pedreiros, etc.
• Os mesteirais não se confundem com
a chamada “arraia-miúda”, ou seja, vendedores ambulantes, lavadeiras, ajudantes
de mesteirais, serviçais, etc.
• Algumas (poucas) pessoas que tinham
origem em famílias de mesteirais estudam e podem ser consideradas letradas (os
juristas, os notários, etc.). Terá sido o que sucedeu com Fernão Lopes.
• Uma nova classe social vai-se
afirmando – a burguesia –, que ganha poder, graças ao comércio e à
produção de bens com valor material, que lhe permite intervir ativamente na
vida pública, designadamente nas Cortes. É a burguesia (os chamados «homens-bons»)
que afirma o patriotismo e a ideia de pátria como valores a defender em
momentos de crise. Foi o que aconteceu na crise dinástica de 1383-1385.