sábado, 15 de outubro de 2022
Análise do capítulo XVII de Iracema
sexta-feira, 14 de outubro de 2022
Análise do capítulo XVI de Iracema
Análise do capítulo XV de Iracema
Análise do capítulo XIV de Iracema
Análise do capítulo XIII de Iracema
Análise do capítulo XII de Iracema
quinta-feira, 13 de outubro de 2022
Análise do poema "Descreve com mais individuação a fidúcia..."
O poema abre com uma invocação
(apóstrofe) à Baía, humanizada e tratada de forma formal, evidenciando respeito
por ela, como se estivéssemos perante um diálogo entre um «eu» e um «vós».
Os primeiros quatro versos assentam
na antítese madrasta/madre: a cidade de Baía constitui o centro do discurso
poético e, desde já, o sujeito lírico expõe o tratamento dado àqueles que
exploram os bens do lugar: “Haverá duzentos anos, / (nem tantos podem
contar-se) / que éreis uma aldeia pobre, / e hoje sois rica cidade.” Estamos já
perante o foco da composição: a crise que a cidade enfrentava. De facto, por
causa das crescentes barreiras alfandegárias impostas à comercialização dos
açúcares brasileiros nos mercados europeus pela Inglaterra, França e Holanda,
que dominavam a produção nas Caraíbas e no Oriente, os estoques acumulavam-se
em Lisboa, que era incapaz de escoar o produto pelas razões apontadas. Para
tornar os preços competitivos, a partir de 1675, a Coroa portuguesa determinou
a redução dos preços, o que afetou os rendimentos da burguesia e do clero,
elevou o valor dos escravos e o do cobre, do ferro e do breu, fundamentais para
o funcionamento dos engenhos. Deste modo, os senhores ficam descapitalizados, o
que os leva a recorrer ao crédito, à incapacidade de saldar as dívidas, às
execuções, falências e ao fogo morto. Em simultâneo, a moeda petropolitana de
prata e ouro desvaloriza, cujo valor facial se torna inferior ao da moeda que
circula no Brasil, o que motiva a evasão do metal para Portugal, acompanhada da
alta dos géneros. Esta crise atinge o auge por volta de 1688, quando, após a
desvalorização da pataca espanhola em 20%, a moeda portuguesa de prata e ouro
se torna mais vulnerável ao contrabando e a outras práticas de desvio, como,
por exemplo, o corte dos seus bordos e a fundição das aparas, transformadas em
metal, prata ou ouro.
É este contexto que encontramos
neste poema-romance, não configurado em estrofes, mas aparentemente formado por
quadras. De facto, após cada conjunto de quatro versos, encontramos um ponto
final, que indica o final de um pensamento, ao qual se segue outro, iniciado no
verso seguinte.
Por outro lado, o texto descreve várias
personagens, cuja finalidade passas por envergonhar a cidade da Baía: “A essas
personagens vamos, / sobre elas será o debate, / e queira Deus, que o
vencer-vos / para envergonhar-vos baste.” A partir daqui, o sujeito poético
descreve as ações de três figuras específicas e de uma quarta com uma
configuração grupal, talvez a junção de todos num só. A transição entre a
descrição destas figuras é pontuada pelo estribilho “e eis aqui a personagem”.
Uma dessas personagens é “um pobrete
de Cristo” que sai de Portugal, despachado para conseguir sair da crise em que
se encontrava. Normalmente, esses homens que iam para o Brasil, nessa época,
eram, maioritariamente, pessoas pobres, miseráveis, bandidos, libertinos, em
suma, a escoriada sociedade europeia. Por isso, os jesuítas contam que era mais
difícil catequizar os índios, dado que os próprios cristãos, normal geral
pessoas brancas, não cumpriam as regras estabelecidas. De facto, as normas
obedecidas na Europa eram desrespeitadas no Brasil, como se fosse uma terra de
bárbaros. Esta primeira personagem é, portanto, um pobre que enriquece enganando
as outras pessoas: “Vendendo gato por lebre, / […] / já tem tantos mil cruzados,
/ segundo afirma Pasguates.” Estes são os idiotas, os que contam as vantagens
do seu enriquecimento e que, posteriormente, comporão o quadro político da
Baía: “Entra logo nos pilouros, / e sai do primeiro lance / Vereador da Bahia.”
As personagens seguintes são
descritas como falsas, embusteiras, ladras, hipócritas, usuárias, que
enriquecem com a desgraça alheia: “Nunca paga, e sempre come”. O poema, à semelhança
de outros, procura traçar um quadro da formação do povo brasileiro. Enquanto
uns enriquecem ilicitamente, a maioria afundava-se na miséria e, para lhe
escapar, estas pessoas vendiam os seus serviços a preços irrisórios ou
deixavam-se escravizar para simplesmente terem o que comer.
Outra personagem, imprescindível nas
obras da época, é um membro do clero: um “Clérigo idiota”. À semelhança das
demais, esta figura não possui nome próprio, ou seja, são todas
personagens-tipo. Deste modo, este Clérigo simboliza uma classe social que
tinha grande influência na época da colonização do Brasil e que foi decisiva na
formação da identidade brasileira. Por isso, a poesia de Gregório denuncia a
hipocrisia do clero, que frequentemente faziam o contrário do que pregavam.
Neste caso, o Clérigo representa a usura, a cobiça, a corrupção e,
metonimicamente, a Igreja católica: “Cresce em dinheiro, e respeito, / vai
remetendo as fundagens, / Compra toda a sua terra, / com que fica homem grande…”.
Na quadra seguinte, a sátira é ainda
mais acutilante: os clérigos são adjetivados como “mariolas”, “lacaios”, de “missal”
e “missa-cantante”, respetivamente.
Nos últimos vinte versos da
composição, o «eu» poético evoca de novo a Baía, agora com o objetivo de
denunciar a passividade dos “Filhos da terra”, que, diante das ações lesivas
dos estrangeiros que procuram fazer tortura na Baía, permanecem indiferentes à
situação: “Veem isto os Filhos da terra, / e entre tanta iniquidade / são tais,
que nem inda tomam / licença para queixar-se.”
Análise de "Lizongea finalmente a convalecencia de sua esposa", Gregório de Matos
Este soneto é dedicado à mulher do poeta, embora não se saiba exatamente qual, pois Gregório de Matos teve duas esposas oficiais. De acordo com alguns estudiosos, é provável que se trate de Maria de Povos.
O «eu» poético dirige-se a uma flor,
Rosa, qualificando-a como vaidosa. Aliás, na primeira quadra do soneto, são
evocadas quatro flores: “Rosa”, “Clavel”, “Açucena” e “Jasmin”. Por outro lado,
são referidas também cores, como o “branco”, o “enacarado” e “nevado”, com as
quais as flores se envaidecem, porque cada cor é característica de cada flor.
O tom de alegria e cor é
substituído, nos dois últimos versos da segunda quadra, pela tristeza: “Se de
la pompa el tiempo está acabado, / Vuestra pompa en retiros minorad”, os quais
apontam para outro tema querido da época: a efemeridade da vida. O eufemismo “Se
de la pompa das flores está acabado” sugere que a pompa das flores está a
acabar, não esquecendo que cada uma delas representa a esposa do poeta. Ora, é
nítida a ideia da perda de vitalidade por parte de “Açucena, Clavel, Jasmin y
Rosas”, embora se trate de uma mera sugestão, dado que o que se pretende é
exaltar a figura feminina, daí que o vocabulário seja positivo.
terça-feira, 11 de outubro de 2022
Análise de Os Lusíadas: Canto IX, estâncias 88-95
A Ilha constitui o prémio (“O prémio lá no fim, bem merecido” – est. 88, v. 7) pelos “feitos grandes” e pela ousadia (“Porque dos feitos grandes, da ousadia” – est. 88, v. 5) da “forte e famosa” (est. 88, v. 6) gente portuguesa e o reconhecimento pelos “trabalhos tão longos” (“Os trabalhos tão longos compensando” – est. 88, v. 4), que garantirão aos heróis lusitanos “fama grande e nome alto e subido” (est. 88, v. 8), honra, fama e glória (“Aquelas preminencias gloriosas, / Os triunfos, a fronte coroada / De palma e louro, a glória e maravilha: / Estes são os deleites desta Ilha.”).
▪ A fama: “Com fama grande…” (est. 88,
v. 8).
▪ A mitificação: “nome alto e subido”
(est. 88, v. 8).
▪ A imortalidade: o contacto dos humanos com as ninfas
confere-lhes um estatuto divino.
▪ Os prazeres da Ilha são os sucessos, as vitórias alcançadas
por mérito próprio (estância 89).
Trata-se,
em suma, do reconhecimento pelos “feitos grandes”, pela “ousadia” e pelo
esforço. Esta simbologia significa que a fama e a glória estão ao alcance de
qualquer ser humano que se destaque pelos seus feitos e conduta virtuosa.
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• Que prémio era esse?
A
imortalidade: os homens subiam ao Olimpo, tornavam-se, assim, deuses,
imortais: “Que as imortalidades que fingia / A antiguidade, que os Ilustres
ama, / Lá no estelante Olimpo, aquém subia / Sobre as asas ínclitas da Fama”.
Os
dois versos iniciais da estância 90 são muito expressivos, pois significam que,
à semelhança do que sucede com a Ilha dos Amores, os deuses da Antiguidade eram
apenas representações simbólicas do prémio que é sempre atribuído àqueles que
norteiam a sua existência pela virtude – a possibilidade de serem imortalizados
pela fama.
Os homens que realizavam feitos ilustres, grandes ações;
aqueles que percorriam um caminho árduo, difícil, cheio de perigos: “Por obras
valerosas que fazia, / Pelo trabalho imenso que se chama / Caminho da virtude,
alto e fragoso…”. Assim, encontravam o prazer, o deleite, a satisfação: “Mas,
no fim, doce, alegre e deleitoso”.
Atribuir a imortalidade.
A estância 91 serve como confirmação desta ideia: a
imortalidade era um prémio dado aos homens, devido aos “feitos imortais e
soberanos” (“Não eram senão prémios que reparte, / Por feitos imortais e
soberanos, / O mundo cos varões que esforço e arte / Divinos os fizeram, sendo
humanos”). Por isso, obtiveram nomes divinos: “Que Júpiter, Mercúrio, Febo e
Marte, / Eneas e Quirino e os dous Tebanos, / Ceres, Palas e Juno com Diana, /
Todos foram de fraca carne humana.”.
É uma estratégia para convencer os homens do seu tempo a
seguirem o exemplo dos clássicos. De facto, as figuras da Antiguidade citadas
(Júpiter, Mercúrio, etc.) surgem como argumento do Poeta para convencer os
contemporâneos a alterar a sua atitude, combatendo os vícios, bem como para
conferir importância ao caminho a percorrer para atingir a imortalidade.
A enumeração de nomes próprios dos versos 5 a 8 da
estância 91 indica-nos que antes de serem deuses, logo imortais, todos foram
humanos e mortais. De facto, as divindades começaram por ser humanos, tendo
ascendido ao patamar divino por “esforço e arte” e “feitos imortais e
soberanos”, o que lhes valeu a imortalidade. Assim, o Poeta sugere que os Portugueses
podem e merecem passar pelo mesmo processo de mitificação.
▪ Combater a preguiça: “Despertai já do sono do ócio ignavo”
(est.92, v. 7).
▪ Evitar a cobiça e a ambição: “E ponde na cobiça um freio duro,
/ E na ambição também…”.
▪ Evitar a tirania: “… e no torpe e escuro / Vício da tirania
infame e urgente.”.
▪ Promover a igualdade perante a lei, garantindo a
imparcialidade e a justiça: “Ou dai na paz as leis iguais, constantes”.
▪ Impedir a exploração dos mais fracos: “Que aos grandes não
deem o dos pequenos” (antítese).
▪ Combater contra os muçulmanos: “Ou vos vesti nas armas
rutilantes, / Contra a lei dos imigos Sarracenos”.
i) As “honras vãs, esse ouro puro”, obtidas
sem espaço e sem mérito, não dão “Verdadeiro valor” às pessoas.
ii) É melhor merecer a honra e os bens
materiais sem os ter, do que tê-los e não os merecer.
- Justiça;
- Igualdade;
- Fraternidade;
- Lealdade;
- Vontade;
- Honestidade.
i) O reino será maior e poderoso: “Fareis
os Reinos grandes e possantes”;
ii) Haverá igualdade na distribuição
dos bens: “E todos tereis mais e nenhum menos”;
iii) Todos terão honra e fama: “Possuireis
riquezas merecidas, / Com as honras que ilustram tanto as vidas.”;
iv) O Rei será mais ilustre e
esclarecido, devido ao apoio, aos conselhos sensatos e à lealdade: “E fareis
claro o Rei que tanto amais, / Agora cos conselhos bem cuidados, / Agora co as
espadas, que imortais”;
v) Tornar-se-ão imortais como os seus
antepassados: “Vos farão, como os vossos já passados”;
vi) Serão eternamente reconhecidos
como heróis: “Sereis entre os Heróis esclarecidos / E nesta «Ilha de Vénus»
recebidos.”
▪ Através da submissão das Ninfas aos navegantes, juntamente
com o tratamento concedido a Vasco da Gama, incluindo as revelações que lhe são
feitas acerca das consequências da viagem (est. 10 e seguintes).
▪ Pela comparação dos «varões» (incluindo os nautas) com os
deuses (Júpiter, Mercúrio, etc.) que, antes de serem divindades, foram também
humanos. Isto significa que também os homens podem ascender ao estatuto de
deuses, desde que o mereçam.
▪ Assim, é legítimo aspirar à Fama, se ela for conseguida pelo
esforço e pela superação do «ócio ignavo» (est. 92, v. 7).
▪ A procura da Fama não se coaduna com determinados comportamentos,
nomeadamente a ambição desmedida, a tirania, o culto da injustiça, etc., e que
caracterizam os homens do tempo do Poeta.
▪ O serviço prestado ao Rei (“fareis claro o Rei que tanto
amais”, est. 95, v. 1) tem de ser, então, a preocupação daqueles que, na paz ou
na guerra santa contra os infiéis, merecem ser recebidos na Ilha dos Amores.
segunda-feira, 10 de outubro de 2022
Análise do poema "O Poema", de Herberto Hélder
domingo, 9 de outubro de 2022
Análise do capítulo XI de Iracema
Análise do capítulo X de Iracema
quarta-feira, 5 de outubro de 2022
O tempo da história de O Delfim
O narrador-escritor visitou a Gafeira pela primeira vez em outubro de 1966, data da abertura da caça, e regressou um ano volvido, na mesma altura, com o mesmo propósito: “Cá estou. Precisamente no mesmo quarto onde, faz hoje um ano, me instalei na minha visita à aldeia e onde, com divertimento e curiosidade, fui anotando as minhas conversas com Tomás Manuel da Palma Bravo, o Engenheiro.”
Os acontecimentos da obra não seguem
uma ordem linear, antes são apresentados de forma pretensamente desorganizada e
deliberadamente equívoca ou multifacetada, para que o leitor não concentre a
sua atenção na história do adultério e se dedique, tal como o Escritor, à
análise e reflexão sobre outras mudanças que ocorreram na Gafeira.
Neste contexto, o Tempo assume
enorme relevância, desde logo porque é o responsável pela nova realidade que
vai surgindo. Para o narrador, o Tempo assume várias facetas: tanto pode ser
uma lagartixa, “um estilhaço sensível e vivaz debaixo daquele sono aparente”, “o
tempo, o nosso tempo amesquinhado”, como uma nora a girar, a escorrer pela
tarde. O Tempo é um relógio cego, um relógio de maquinismos perros. A roda vai
rodando minuto a minuto, sente-se, mas não se vê. Este tempo circular,
repetitivo, é tão subtil como as mudanças que traz à Gafeira.
De facto, o tempo da narrativa é
circular, contém em si o início e o fim de tudo; passado e presente tornam-se
iguais ao futuro e contribuem para a construção do vivido e, sobretudo, para
diluir e esbater as fronteiras entre a realidade e o imaginário. Por outro
lado, o tempo condensa os acontecimentos, mas não os esclarece, antes procura
passar uma mensagem subversiva, através de jogos de elipses, metáforas,
repetições. Além disso, ao fundir o presente com o passado, apontando já para o
futuro que se entrevê, as divagações do narrador permitem ao leitor compreender
os movimentos da Gafeira e dos seus habitantes, camponeses que o mesmo tempo
transformou também em operários.
O narrador, que é solidário com os
camponeses-operários e com a lagartixa, aparentemente imóvel, narra na primeira
pessoa do presente do indicativo, o que indica que pertence àquele tempo e
apoia a mudança: “Que é o tempo para estas mulheres? (…) E para o Regedor? (…)
E para mim que sou o Sr. Escritor? Pergunto e tenho comigo a resposta num
pedaço de papel que trouxe há pouco na loja do Regedor, uma licença passada por
ordem dos habitantes da aldeia e não por Tomás, o Engenheiro. O tempo, o bom
sentido do tempo, está nesta prova. A lagartixa sacudiu-se no seu sono de pedra.”
Esta referência positiva ao tempo (“o bom sentido”) está ligado à mudança,
representada pela licença de caça e em quem a passa, porque implica uma mudança
profunda ao nível da própria estrutura social e económica da Gafeira. É por
isso que a lagartixa se agita.
O presente veiculado pelo narrador, a
mistura entre passado e presente impede a identificação exata dos diversos
momentos da história dos Palma Bravo e da Gafeira. Será particularmente difícil
determinar com exatidão os acontecimentos relativos ao adultério e mesmo o
relacionamento entre o narrador e os habitantes da casa da lagoa.
Já no que concerne aos
acontecimentos ligados à lagoa propriamente dita, são claros e relatados pelo
Regedor, sem quaisquer omissões. Aqui o tempo foi inexorável. Trata-se de um
tempo diferente, um tempo que tem de conter em si elementos condizentes com os
habitantes da Gafeira, o Homo Lusitaniensis Sp., como lhe chama o
narrador, um tempo que tem de ser um retrato fiel da mudança entre a modorra
apática e a sociedade de consumo fielmente retratada nos blusões dos filhos dos
emigrantes. O tempo na Gafeira retrata uma realidade alienada da qual a ação
não é representativa, visto que peca por total falta de clareza e de movimento
criativo.
Para criar toda esta ambiência, o
autor vai recorrer à narrativa ulterior, anterior, intercalada e simultânea. No
que diz respeito à narrativa ulterior, ela é representada pelas recordações do
Escritor, pelas citações que faz de falas de outras personagens, pelas
reproduções dos seus apontamentos do ano anterior, algo que viu ou ouviu. A
intercalada, por oposição, apresenta a narração que se antecipa ao
acontecimento e nela se incluem tanto a mudança como o adultério. A narração
intercalada respeita àquela que ocorre entre vários momentos da ação; e
simultânea àquela que é feita ao mesmo tempo que acontece a ação.
Esta anacronia reflete-se na
aparente anarquia do tempo da história, que tão depressa nos transporta até ao
passado, através de analepses (“volto-me antes para o Largo e, sem querer,
torno à manhã do ano passado em que assisti à aparição do casal Palma Bravo
depois da missa.”) , como nos antecipa o futuro, por meio de prolepses (“«A
Barca do Inferno» – resumo da minha janela, pensando no triste fim que os
espera.”), da Gafeira.
Existe ainda o tempo da escrita,
transposto para o presente, mas que já existia no passado. Exemplo disso são os
apontamentos iniciados em 1966, aquando da primeira visita, e continuados na
segunda e que, eventualmente, se misturam com a própria escrita do romance.