sexta-feira, 1 de setembro de 2023
quinta-feira, 31 de agosto de 2023
Séries de animação do meu tempo: "Tom Sawyer"
Passava aos sábados de manhã, logo depois de o pão fresco chegar a casa. Trata-se de uma versão sensacional da obra imortal de Mark Twain. A acompanhar a série, além de produtos diversos, era imprescindível fazer a respetiva coleção de cromos
E, assim, chega ao fim a recordação de várias séries de desenhos animados que marcaram a nossa infância e princípio da adolescência. Não couberam aqui todas, pelo que houve que fazer uma seleção. Se abrimos com Jacky, finalizamos com o inigualável Tom. Como ele, vivemos aventuras, não no Mississipi, mas na ribeira do Coval; como ele, construímos uma casa de madeira no cimo da enorme carvalha que o progresso destruiu já neste século; como ele, sonhámos, brincámos e crescemos. Uns gostavam tão pouco da escola como ele, outros fizeram carreira a partir dela; todos chegaram a adultos e encontraram um rumo na vida.
Cronologia de Aquilino Ribeiro
1885 – Nasce em Carregal de Tabosa
(concelho de Sernancelhe), no dia 13 de setembro.
1895 – Muda-se para Soutosa,
concelho de Moimenta da Beira. Faz exame de instrução primária. Entra no
Colégio de Nossa Senhora da Lapa.
1900 – Entra no Colégio de Lamego.
Estuda Filosofia em Viseu. Entra depois no Seminário de Beja, obedecendo a um
desejo da sua mãe, que queria fazê-lo sacerdote.
1904 – Expulso do Seminário,
regressa a Soutosa.
1906 – Vai para Lisboa. Colabora
no jornal republicano A Vanguarda.
1907 – É preso por ser anarquista
na sequência de uma explosão no seu quarto na Rua do Carrião, a 28 de novembro,
em Lisboa, na qual morre um carbonário.
1908 – Evade-se da prisão em 12 de
janeiro e, durante a clandestinidade em Lisboa, mantém os contactos com os
regicidas, refugiado numa casa de Meira e Sousa, na Rua Nova do Almada, em
frente da Boa Hora.
1910 – Estuda na Faculdade de
Letras da Sorbonne. Vem a Portugal após o 5 de outubro e regressa a Paris, onde
conhecera Grete Tiedemann.
1912 – Reside alguns meses na
Alemanha.
1913 – Casa com Grete Tiedemann e
regressa a Paris.
1914 – Nasce o primeiro filho,
Aníbal Aquilino Fritz Tiedemann Ribeiro. Declarada a Primeira Guerra Mundial,
Aquilino regressa a Portugal, sem ter terminado a licenciatura.
1915 – É colocado como professor
no Liceu Camões, onde ficará durante três anos.
1919 – Entra para a Biblioteca
Nacional de Portugal, a convite de Raul Proença.
1921 – Integra a direção da
revista Seara Nova.
1927 – Entra na revolta de 7 de
fevereiro, em Lisboa. Exila-se em Paris. No fim do ano, regressa a Portugal,
clandestinamente. Morre a primeira mulher.
1928 – Entra na revolta de Pinhel.
Encarcerado no presídio de Fontelo (Viseu), evade-se e volta a Paris.
1929 – Casa em Paris com Jerónima
Dantas Machado, filha de Bernardino Machado. Em Lisboa, é julgado à revelia em
Tribunal Militar e é condenado.
1930 – Nasce-lhe o segundo filho,
Aquilino Ribeiro Machado, que viria a ser o 60.º Presidente da Câmara Municipal
de Lisboa – (1977-1979).
1931 – Vai viver para a Galiza.
1932 – Volta a Portugal
clandestinamente.
1933 – Recebe o Prémio Ricardo
Malheiros da Academia das Ciências de Lisboa, pelo seu livro As Três
Mulheres de Sansão.
1935 – É eleito sócio
correspondente da Academia das Ciências de Lisboa.
1952 – Faz uma viagem ao Brasil,
onde é homenageado por escritores e artistas, na Academia Brasileira de Letras.
1958 – Publica Quando os Lobos
Uivam. É nomeado sócio efetivo da Academia das Ciências de Lisboa. É
militante da candidatura de Humberto Delgado à presidência da República.
1960 – É proposto para o Prémio
Nobel da Literatura.
1962 – Nasce-lhe a primeira neta,
Mariana, a quem dedica O Livro da Marianinha.
1963 – É homenageado em várias
cidades do país por ocasião dos cinquenta anos de vida literária. Morre no dia
27 de maio. Nessa mesma hora, a Censura comunicava aos jornais não ser mais
permitido falar das homenagens que lhe estavam a ser prestadas. É sepultado no
Cemitério dos Prazeres.
1974 – É publicado o livro de
memórias Um Escritor Confessa-se. Como escreve José Gomes Ferreira no
prefácio, Aquilino sabe mentir a verdade.
1982 – A 14 de abril é agraciado a
título póstumo com o grau de Comendador da Ordem da Liberdade.
2007 – A Assembleia da República
decide homenagear a sua memória e conceder aos seus restos mortais as honras de
Panteão Nacional.
quarta-feira, 30 de agosto de 2023
Análise de O Malhadinhas
Intertextualidade em O Delfim
Em O Delfim, existem diversas
manifestações de intertextualidade:
1. Citações: “(…) As paredes estão na Andaluzia…
/ De repente todo o espaço para / Para, escorrega, desembrulha-se…, (…) Chuva
Oblíqua, edições Ática, Lisboa.”; «”Desta terra da Gafeira quis a
Providência fazer exemplo de castigo.”». O primeiro exemplo, o narrador
assinala com grafia diferente (o itálico) o texto, indica o seu título, nomeia
o autor (Fernando Pessoa) e refere o editor, bem como o local de edição, “é só
copiar”. O segundo é uma citação da Monografia do Termo da Gafeira, do
Abade Agostinho Saraiva, aceitando que esta obra, tal como o Tratado das
Aves / Composto por / Um Prático, os artigos de jornais e revistas, mesmo
sendo ficção, criam o efeito de real – é como se realmente existissem, passam a
fazer parte da realidade.
2. Transcrições: “Ofélia [Maria das Mercês] à flor das
águas como no sempre venerado Santo Shakespeare (…) Hamlet, Cena V…”; “Vem
tudo em Santa Teresa [d’Ávila], Las Moradas.”; “(…) a «irmã,
jardim fechado» das Escrituras (Salomão IV-3)”; “O regresso ao líquido
amniótico… Correto, doktor Freud?”. Nestes exemplos, estamos parenta
referências ao conteúdo de obras literárias (os três primeiros) e a teorias (o
quanto). Em todos os casos, a explicitação do autor e / ou da obra é um ponto
de contacto entre o texto e o intertexto. Trata-se, portanto, de alusões.
3.
Imitações declaradas: “Fiz-me entender, leitor benigno?”; “(…) esta Viagem
à Roda do Meu Quarto.” Estes exemplos constituem, de facto, imitações das Viagens
na Minha Terra, de Almeida Garrett, que, por sua vez, já se tinha inspirado
na Viagem à Roda do Meu Quarto, obra publicada em 1795 por Xavier de
Maistre. Note-se que as personagens-tipo da obra (o Cauteleiro, o Batedor, a
Estalajadeira) fazem lembrar as de Eça de Queirós ou de Gil Vicente.
4.
Paródias de passagens bíblicas: “No princípio era a água e a água estava nele.”;
“Porque, irmãos, é mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha do que
fazer entrar um bebedor no reino privado dos barmen.”; «”Alegrem-se os Céus e a
Terra…” Cantavam os querubins na Lagoa (…)».
5.
Intertextualidade homo-autoral (textos de um autor mantêm relações
intertextuais com outros do mesmo autor): em determinado passo, o narrador
alude a uma obra – O Anjo Ancorado – como sendo sua, quando, na realidade,
foi escrita por José Cardoso Pires.
Em
suma, o narrado, subtraindo passagens do seu contexto original, atualiza-as,
subverte-as, e o novo texto ganha quase sempre um tom humorístico ou satírico.
Outras vezes, a referência intertextual é sentida como uma ironia, mais ou
menos amarga, chegando mesmo a raiar o sarcasmo. Assim sendo, é necessário ser
furão, isto é, estar permanentemente, caso contrário, perder-se-á informação
nas entrelinhas.
Por
outro lado, a intertextualidade reflete o padrão cultural da época. As
referências a textos e autores assumidos como clássicos são os lugares-comuns
da literatura, característicos de uma política cultural e educacional instituída.
Pode interpretar-se a sua presença como uma desmistificação dessa ordem.
Atente-se nos seguintes exemplos, prenhes de ironia: “Pessoa, o obrigatório”, “o
sempre venerado Santo William Shakespeare”, “(…) e outros literatos menores,
sem esquecer os das estátuas.”
A verosimilhança em O Delfim
A verosimilhança é a qualidade do
que é verosímil, ou seja, aquilo que, neste caso, no romance se conta é crível,
dado que é semelhante à realidade.
No caso de O Delfim, o efeito
de verosimilhança é criado de diversas formas. Em primeiro lugar, convém ter
presente que estamos na presença de uma narrativa narrada na primeira pessoa.
De facto, o narrador conta uma história em que participa como personagem
(narrador homodiegético) e que se institui como tal desde a página inicial: “Cá
estou”. Desta forma, cria-se a sensação de que aquilo que o narrador relata é
supostamente verdadeiro, o que é reforçado pela focalização interna. Por outro
lado, o facto de a personagem-narrador percorrer os vários espaços e a
descrição da paisagem natural (os estratos e as relações sociais) transmitem
igualmente essa sensação de realidade. Além disso, ele contacta, de facto, com
as personagens que evoca, que também o (re)conhecem. Afinal, o Sr. Escritor tem
uma história de, pelo menos, um ano por aquelas bandas, que depois narra a
partir da memória.
Em segundo lugar, são introduzidos
constantemente na narrativa referentes espácio-temporais históricos e universais.
Essa introdução de referentes históricos, políticos, sociais e culturais –
nacionais e universais –, localizados no espaço e no tempo, tornam crível que
tudo é verdade. No entanto, convém ter presente que alguns referentes espaciais
são fictícios. São os casos da Gafeira, da Lagoa e da Urdiceira.
Esta coexistência de referentes
reais e fictícios tem um papel importante na obra. De facto, ela faz com que a
Gafeira seja um local e exista. Por exemplo, na obra consta que a localidade
vem no mapa do ACP e que se situa a 135 km de Lisboa, mais concretamente no
distrito de Leiria, tal como sucede com a Lagoa e a Urdiceira.
Outro aspeto a ter em conta é a
intertextualidade, ou seja, a inserção de citações e documentos na narrativa.
Esses documentos têm várias proveniências: património oral, património
tradicional (como, por exemplo, os provérbios e sentenças populares), citações
ou alusões a obras e autores mais ou menos consagrados. Há ainda os casos da Monografia
do Termo da Gafeira, do Abade Agostinho Saraiva, e o Tratado das Aves,
composto por um Prático. Serão estas obras mais ou menos ficção? A mesma dúvida
se coloca a propósito dos títulos e notícias de periódicos.
O próprio narrador, nalguns casos,
admite que determinados elementos são pura ficção da sua autoria. É o que
acontece, por exemplo, neste passo: “Esta canção, October sigh, nunca
existiu. Nem jamais alguém a poderá repetir, incluindo eu que acabo de a
inventar e que não me hei de lembrar dela por muito tempo”. Noutros momentos,
ele cita passagens do seu caderno de apontamentos, algumas das quais não se
lembra onde as colheu (“li isto algures”, “Onde diabo fui eu buscar isto?”) e
que, por vezes, surgem a título de nota de pé de página, a qual pretende garantir
a veracidade, dado que a nota (quer do autor, quer do editor), por definição,
tem como finalidade complementar ou esclarecer algum aspeto mais ou menos
equívoco, mas sempre sobre algo que é real ou se tornou real.
Em terceiro lugar, temos a
alternância entre falar e mostrar, que é dada pela inserção alternada de
discurso direto e indireto e pela pluralidade de pontos de vista. Relativamente
ao discurso, o narrador prefere apresentar o discurso das personagens na sua
forma mais pura: o discurso direto. Em vez de dizer o que elas disseram,
dá-lhes voz no texto. No entanto, noutras ocasiões, resume as falas das
personagens por uma questão de economia narrativa ou por motivos estilísticos.
No que diz respeito à pluralidade de pontos de vista, a reconstituição de
acontecimentos (à frente das quais as mortes) baseia-se em grande medida nos
depoimentos / versões das várias personagens. Deste modo, a versão que o leitor
constrói parece-lhe credível e ele sente que participa na construção do
raciocínio.
Provérbios e outras expressões populares em O Delfim
Os provérbios contribuem para o
enriquecimento da linguagem do romance. Alguns deles, pelo seu uso constante,
colam-se às personagens, tipificando-as. É o que sucede, por exemplo, com a
frase “Para a cabra e p’ra mulher, rédea curta é o que se quer”, que traduz o
marialvismo de Tomás Manuel.
Outros, quando aplicados a Tomás
Manuel da Palma Bravo, caracterizam-no indiretamente como o burguês sem
lucidez, opressor e poderoso que não merece possuir esse poder: “Estes tipos
quanto mais nos olham menos nos querem ver”; “tal senhor, tal cão”, “um homem
dá tudo menos os cães e os cavalos”; “quem trata mal os criados é porque não me
pode tratar mal a mim.”
Outro conjunto de provérbios
aplicados a esta personagem, de caráter social, comprova que a grande maioria
dos mesmos é adulteração do narrador, imitando os genuínos. Os que Tomás Manuel
usa são todos inventados, o que atesta uma falsa erudição da personagem.
Pelo já exposto, estes provérbios
contribuem para a crítica de cariz social e económico, para a construção de um
retrato da sociedade da época. Por exemplo, no que diz respeito à mulher, essas
frases retratam-na de forma depreciativa. Atentemos nos seguintes: “Rédea curta
e porrada na garupa”; “Fazer filhos em mulher alheia é perder tempo e feitio.”
Os mesmos sugerem o machismo da época, bem como a prepotência, a falta de
liberdade e a violência a que a figura feminina estava sujeita. Por outro lado,
apontam para a prepotência de Palma Bravo face a Maria das Mercês, apenas
contrariado por um dito do Cauteleiro: “quem muito fornica acaba fornicado.”
A falta de vocabulário do Engenheiro
é especialmente evidenciada pelo recurso frequente ao advérbio «positivamente»,
que funciona como uma espécie de muleta, na qual ele se apoia sempre que lhe
faltam as palavras ou como suporte de uma afirmação, à partida insustentável, e
que ele procura instituir concluindo como o referido advérbio.
A linguagem popular de Tomás Manuel
é evidenciada também pelas expressões que usa para se referir às suas regras de
ouro para a caça e a pesca: “na caça cão e batedor”, “os cães são a memória dos
donos”, “Água para os Peixes, Vinho para os Homens (y mierda si no te gusta”).
O caráter pitoresco da linguagem
estende-se a todas as personagens, visível nos seguintes exemplos: “cala-te
boca”; “quem se mata leva destino”; “preparou a cama deitou-se nela”; “toda a
abundância traz castigo”; “quem não se sente não é filho de boa gente”;
“mexericos do povo que onde não vê põe ouvidos”; “imaginação e velhacaria fazem
boa companhia”. Pela observação destes exemplos, facilmente se comprova que
muitos dos provérbios introduzidos na obra são adulterados e/ou parodiados,
todavia respeitam a estrutura que lhes é inerente.
Por seu turno, o povo, no seu
conjunto, acredita em lendas, mitos, parábolas e outras historietas povoadas de
fantasmas, lobisomens, cães-manetas e almas penadas. Essa crença permite ocupar
o tempo, que se arrasta e demora a passar, tardando em trazer a tão ansiada
mudança, a acabar com as profecias e maldições que pairam sobre a aldeia, tal
como consta na Monografia do Dom Abade.
Deste modo, podemos concluir que,
por detrás da aparente simplicidade da linguagem, há uma mensagem só acessível
aos leitores mais atentos, àqueles a quem o narrador se dirige, uma forma de
ironizar com a censura.
Por outro lado, o coloquialismo (“se
me permitem”, “mas continuemos”, “fiz-me entender leitor benigno? fui claro
monge amigo? e nós minha hospedeira?”) tem uma dupla função. Por um lado, aproxima
o leitor do texto; por outro, alerta-o para a mistura de planos, para a ironia
fina que está presente ao longo das páginas e para a necessidade de saber ler
nas entrelinhas e não ser “alguém desprevenido”. Expressões como “a dar com um
pau”, “a pata que o pôs”, “atrás de saias”, “quem o mandou ser parvo”, “que me
tem feito a vida negra”, etc., tornam-se clandestinas e constituem um ferrete
para o leitor que as partilha com o narrador.
A linguagem popular em O Delfim
A Gafeira é uma aldeia situada
algures na costa portuguesa, cujos habitantes são, em grande parte, rurais,
simples e modestas, pelo que a linguagem que usam também se caracteriza pela
simplicidade, mas não em demasia.
A escrita coloquial do romance, em
jeito de conversa com o leitor, ao jeito de Almeida Garrett nas Viagens na
Minha Terra, não cai no exagero do pitoresco ou do calão, não faz uso de
regionalismos, mas a expressões quotidianas. Se o narrador não tivesse tomado
esta opção, a atenção do leitor poderia ser desviada do que é realmente
importante: retratar as mudanças da Gafeira e não a linguagem dos seus
habitantes que, tal como eles, se vai tornando clandestina. Como exemplo, podem
citar-se as referências à crendice popular e à religião: “Jesus, o que são as
coisas!”, ou a alusão a lendas, lengalengas, profecias, mitos, superstições e
parábolas.
Séries de animação do meu tempo: "Charlie Brown"
Charlie Brown é o protagonista de uma série de animação cujas personagens e histórias provêm das tiras de banda desenhada de Charles M. Schulz, intitulada Peanuts, que passou originalmente na cadeia de televisão CBS entre 1983e 1985, produzida por Bill Melendez e Lee Mendelson.
A personagem principal é uma criança generosa, mas tímida e desastrada, apaixonada por uma menina ruiva que não lhe presta atenção. O seu animal de estimação chama-se Snoopy e é um cão que joga basebol, ténis, golfe, vê televisão e adora biscoitos de chocolate. Lucy é outra menina, autoritária e egoísta, que resolve os conflitos à base do grito e que derruba qualquer oponente com os seus comentários verrinosos e sarcásticos. Linus é o irmão mais novo de Lucy e o melhor amigo de Charlie Brown, tem problemas emocionais e nunca larga o seu cobertor azul. Shroeder, a paixão de Lucy, é o artista do grupo: toca, num piano de brincar, as grandes obras de Beethoven, o seu ídolo. Peppermint Patty é uma rapariga com sardas e cabelo castanho, que interpreta de forma errada conceitos e ideias básicos que a generalidade das pessoas considera óbvios.
O léxico de O Delfim
A primeira nota a ter em
consideração é o facto de o autor privilegiar o uso do nome em detrimento do
adjetivo. Por outro lado, deita mão de diversos empréstimos, isto é,palavras e
expressões de línguas estrangeiras, bem como latinas (“Ad usum Delphini”,
“naturae vitae delphini”, etc.). O recurso aos latinismos é sinónimo de
erudição, um reflexo de uma herança cultural e um traço característico de muita
literatura portuguesa: “Como se dissesse: «Quod scripsi, scripsi» – e fosse um
imponente eco romano”. No entanto, periodicamente o narrador adultera o seu
sentido, transformando-as em humorísticas ou irónicas, como sucede com a
seguinte: “Ecce Homo, este é o meu whisky”.
No que diz respeito aos empréstimos,
o maior conjunto pertence ao inglês, com cerca de quinze ocorrências, seguida
do francês com doze e do castelhano com seis. Este traço significa que o
narrador conhece múltiplos idiomas, o que se concretiza quer no discurso do
narrador, quer no diálogo com Palma Bravo. Por outro lado, quer dizer que a
personagem do Engenheiro domina o vocabulário básico dessas línguas (inglês,
francês, italiano, alemão, castelhano), bem como os lugares comuns da cultura
livresca. Em terceiro lugar, relaciona-se com o tema e o clima das conversas,
quer as que ocorrem no bodegón, quer na lagoa, com o grau de álcool, com
os «bons» ou «maus vinhos» do Engenheiro. Além disso, tenha-se presente que,
nas várias conversas que o narrador-personagem recorda, existem modas, isto é,
ora se fala inglês, ora francês, ora castelhano.
Outro recurso utilizado é a chamada polinomásia,
ou seja, o mesmo indivíduo ou entidade é designado por vários nomes: o próprio,
o apelido, o do seu estatuto social, profissão e situação. É o que acontece, por
exemplo, com Palma Bravo, com o Cauteleiro e com a dona da pensão (hospedeira,
estalajadeira, patroa, formiga-mestra, Santa hospedeira, Santa Dona Hospedeira.
Narratário de O Delfim
Uma narrativa implica a existência de um narratário, comummente o leitor, a quem aparentemente o narrador se dirige e que o escuta, mas também participa ativamente. Por exemplo, há momentos em que o narrador se dirige ao leitor, interpelando-o diretamente: “A sério, palavra de senhor escritor”; “Fiz-me entender, leitor benigno?”. Neste último exemplo, encontramos semelhanças com o que sucede nas Viagens na Minha Terra.
Registos de língua de O Delfim
N’ O Delfim, existem diversos
registos de língua.
O romance constrói-se sobre o
discurso do narrador, que dilui a fronteira que separa a escrita da oralidade
logo a partir da página inicial da obra: “Cá estou”. A coloquialidade impera ao
longo do texto, nomeadamente na interação verbal (isto é, os diálogos) e no
discurso do próprio narrador, que explora todas as potencialidades da língua ao
nível do léxico, da sintaxe, da semântica e da estilística.
O narrador privilegia o registo
culto, literário, produzindo um discurso literário quando se institui como
poeta e ensaísta ou quando combina os registos das várias personagens. Por
outro lado, ele socorre-se também da língua culta não literária, faz uso de um
registo quase policial sustentado na lógica e valorizador de uma suposta
objetividade, deixando a tarefa da pesquisa para o leitor. Outro momento ocorre
quando o narrador se apresenta como autor de um texto publicitário ou quando
procura imitar o estilo pretensamente documentalista do Abade, ou seja, quando
se aproxima da “toada dos doutores da água benta”.
O registo popular, por seu turno,
ocorre nas falas da Estalajadeira, do Cauteleiro, do Batedor e de Tomás, que
são exemplificativas da coloquialidade. Assim, o discurso da Estalajadeira é
caracterizada por um tom familiar, ora confidente, ora discreto, afetado pelo
pudor: «”Ai, ai… cala-te boca.”». Note-se, nesta fala, uma grande vontade de
falar e até uma certa fluência. Já nos casos do Cauteleiro, do Batedor e de
Palma Bravo, o seu discurso é pautado por meias frases, termos mais ou menos
boçais, alusões obscenas, injúrias, anátemas e alguns enunciados com segundos
sentidos.
No romance, encontramos também a
gíria dos caçadores de Palma Bravo, no Batedor, no Regedor e no narrador, as
suas arteirices e preparativos. No entanto, nalguns passos, este registo dará
lugar a outro mais técnico-científico, exemplificado pelas citações do Tratado
das Aves. Igualmente técnico-científico é o registo estereotipado do Regedor:
o dos autos, porque acima de tudo está a “verdade dos factos”: “Altercaram as
partes… envolveram-se em desordem da qual resultaram ofensas morais e corporais…”.
A personagem-narrador, autor e
escritor, possui um fino espírito crítico, bem como um grande poder de
observação que se foca em variadíssimas coisas, como, por exemplo, os atos de
fala das personagens, traços recorrentes, tiques, em suma, uma idiotice, ou
seja, a maneira de falar própria de um indivíduo. O próprio escritor irá imitar
vários idioletos através do chamado discurso estilizado. Vejamos exemplos dos
mesmos: “Tu é que sabes. Tu é que és escritor. Possivelmente”; “E quanto ao
automóvel «não há hipótese», como diria o Engenheiro. Positivamente”; “Absolutamente.
Ou antes, positivamente…”; “Positivamente, Engenheiro Anfitrião”; “Duas
silhuetas de moeda [Tomás e Maria das Mercês], dois infantes do meio-dia. Dois
quê?”; “Sorrio. Infante nunca foi um termo meu. Saltou-me à ponta da
frase porque desde que cheguei que o tenho ouvido”.
Relativamente à imitação do idioleto
das personagens, poder-se-á tratar de uma paródia ou de uma contaminação do
discurso do narrador, também ele preso ao cosmos da Gafeira.
Assim, é lícito concluir que, n’ O
Delfim, coexistem harmoniosamente diferentes registos linguísticos: ao lado
de uma comunicação simples, quotidiana, pautada por frases batidas, bordões
linguísticos, provérbios e sentenças populares, encontramos o registo erudito e
até poético do narrador.
Quanto à norma linguística, o
romance reflete a língua padrão, dado que o seu vocabulário é corrente e
acessível, a construção sintática é relativamente simples, observando-se as
regras de correção gramatical. Sucede que, na obra, o complicado não é o texto
das linhas, mas o das entrelinhas.
Autorreflexividade em O Delfim
Exceto no caso da autobiografia, é
raro um autor afirmar que ele e o narrador são a mesma pessoa.
O narrador é a entidade que conta
uma narrativa, pelo que só existe no espaço da escrita. Qualquer escritor de
ficção precisa dele para poder escrever, salvaguardando-se, assim, a identidade
civil do escritor e a sua libertação, visto que o narrador é uma entidade que
finge criar. Trata-se de uma invenção que narra uma ficção, isto é, uma
«estória» inventada. Ora, o facto de o narrador ser uma entidade fictícia,
virtual, poliédrica e múltipla, faz com que a sua figura se torne esquiva, mas
ao mesmo tempo muito densa. É o que sucede, por exemplo, com os narradores das Viagens
na Minha Terra ou a prosa de Camilo Castelo Branco, os quais dominam
totalmente a narrativa, devido precisamente à chamada autorreflexividade, isto
é, toda a escrita que não se dirige ao leitor, mas para o interior da
identidade que escreve, que se movimenta como que em diálogo consigo própria,
observando-se, pensando-se, refletindo sobre a sua própria escrita, o seu
conceito de arte, analisando o seu mundo [“(…) meu lado crítico, minha voz
independente”].
Existem diversas formas de um
narrador mudar o tom da sua narração. Uma delas é o recurso aos parênteses, que
se tornam um «espaço» de onde emerge uma segunda voz, com pendor crítico, que
interrompe momentaneamente a narrativa, criando um novo espaço, à laia de
mostra de outras áreas do ego, nas quais reflete sobre si próprio e emite
juízos de caráter íntimo.
Por outro lado, esta figura só
existe no presente, é ela quem conta a história, todavia, sempre que dialoga
consigo própria, o narrador dirige-se indiretamente ao leitor, isto é, sempre
que recorre ao presente para falar de si próprio, ele utiliza as suas reflexões
para criar um efeito no leitor, o que vai ao encontro do conceito de «obra
aberta» de José Cardoso Pires, que torna imprescindível a presença do leitor, já
que cabe a este dar sentido à narrativa.
Em terceiro lugar, algumas
referências literárias, certa intertextualidade e até determinada ironia são
também autorreflexivas, ao contrário do que sucede com as falas das outras
personagens, bem como certas respostas do narrador, que, apesar de revelarem
algum do seu mundo pessoal, não contribuem para a autorreflexividade, visto
que, nestes casos, o narrador não reflete de si para si.
terça-feira, 29 de agosto de 2023
Ciência do narrador de O Delfim
O narrador não se estabelece no
plano da posição de focalização zero, ou narrativa não focalizada, que lhe
permitiria saber tudo sobre todos – omnisciente, portanto. Pelo
contrário, ele sabe tanto quanto as outras personagens. Talvez um pouco mais
porque procura a informação, recolhe-a e analisa-a – daí o escritor-furão. Ou
seja, estamos perante um caso de focalização interna.
Não obstante, se o narrador não é
omnisciente, como se explica a longa e pormenorizada descrição do espaço íntimo
de Maria das Mercês no capítulo XXV? Trata-se de pura imaginação.
O narrador sabe muitas coisas, mas
ignora outras tantas. De facto, os mistérios subsistem n’O Delfim, como,
por exemplo, as mortes de Domingos e de Maria das Mercês, e que constituem a
intriga mais evidente (ao nível mais superficial). Assim sendo, factos, etc., o
que coloca o romance na esfera do romance policial, constituindo o narrador o
detetive. Não é por acaso que se fala de «crime perfeito», de enigma da Dama
das Unhas de Prata e no diálogo que o narrador e Palma Bravo travam.
Frequentemente, aquele invoca, mesmo que ironicamente, o nome de Sherlock
Holmes. Também não é por acaso que surge no texto uma transcrição da revista
«Merkur» que relata um crime. Em suma, não é por acaso que o ritmo da narrativa
se faz com frequentes alternâncias, encaixes e elipses.
No entanto, os mistérios não ficam
por aqui. Maria das Mercês morreu acidentalmente, foi assassinada ou quis, de
facto, suicidar-se? Quem é estéril: Maria das Mercês ou Tomás, que sempre se
recusou a fazer testes? Ou seriam os dois? Ou seria Tomás um macho orgulhoso,
mas impotente? Seria homossexual? O que é que se passou na noite do bar da
Shell?
O narrador não é propriamente um
detetive, mas parece sê-lo, tendo em conta que é um escritor-furão, curioso,
insaciável, permanentemente em busca de uma verdade. Ele recolhe as versões de
todos os informantes, confronta-as e vai formulando hipóteses. Parece
aproximar-se da verdade, muda de pista, debruça-se sobre pormenores. Neste
contexto, o discurso é modalizado por expressões de dúvida como «talvez», «é de
crer», «supõe-se», «conta-se», e várias formas verbais no modo conjuntivo. A
sua «investigação» é constantemente dificultada pelo surgimento de boatos,
preconceitos e mitos (as versões distorcidas da Estalajadeira, do Batedor e,
sobretudo, a do Cauteleiro). Além disso, há a verdade sobre a última noite dos
Palma Bravo, guardada pelo zelo do Regedor (que não quer alimentar intrigas) e
pelo laconismo do Padre Novo. Apenas eles, juntamente com o médico que fez a
autópsia, sabem o que aconteceu (veja-se o capítulo XVIII).
Mas há outros mistérios, segredos
íntimos, informações confidenciais, sobre os quais pouco se sabe em concreto,
dado que as provas e os testemunhos ora são omissos, ora inconcludentes.
Instaura-se um nível de incerteza a partir dessa realidade polissémica:
“Interessa mais a suspensão do facto do que a sua decifração”. Deste modo, o
narrador envolve o leitor numa teia de incertezas, sendo frequentemente chamado
a participar na decifração. Estaremos na presença de uma estratégia para
suscitar a atenção do leitor?
Basicamente, a estrutura do romance
assenta no percurso do caçador que chega à Gafeira e se instala numa hospedaria
conhecida. “Cá estou” é a expressão inaugural que institui o tempo da narração:
o presente do indicativo, o tempo da pseudo-objetividade. Trata-se de uma
narração que ocorre em simultâneo com o percurso do narrador, que
frequentemente dá notícia do tempo que corre. A outra parte são excursos, as
divagações e as lembranças, que dão densidade à obra. Neste âmbito, desempenha
um papel importante a memória, uma memória seletiva que transporta o narrador
no espaço e no tempo – e o leitor com ele. A memória ganhará mais relevância
ainda quando é instigada pela insónia das personagens: a recapitulação de
acontecimentos, a reconstituição de factos, as lembranças espontâneas e as
divagações preencherão esse vazio doloroso causado pela insónia.
Um outro elemento importante na
estrutura do romance é o quarto, o espaço onde o narrador passa grande parte do
seu tempo e de onde frequentemente se evade por meio do pensamento. Primeiro,
do ponto de vista logístico, porque permite um olhar distanciado, sobranceiro.
Fica num primeiro andar e tem uma janela («vigia», «postigo») sobre o largo, a
rua e o café – espaços de confluência, conhecimento, comunicação. Ao longo,
avistam-se os montes e a Lagoa, vê-se o céu.
Por outro lado, o quarto é, por
excelência, um lugar de introspeção, de onde ele parte para reflexões,
associações (“De raciocínio em raciocínio irei longe”), evade-se em recordações
obsessivas através do seu reflexo nas vidraças espelhadas da janela (como no
espelho de Alice?), vendo-se e revendo-se no passado, transfigurando-se
noutros. No quarto, existem outros pontos de fuga: o caderno de apontamentos, a
Monografia, a aguardente no cantil; as distrações exteriores (passos,
vozes, ruídos), o fumo e o nevoeiro (a bruma como fator encantatório). Há, em
suma, um acordar e a transição, transformação ou metamorfose é quase
impercetível. O narrador sente-a, pressente-a.
Outro elemento a ter em conta é o
jogo, também ele associado à decifração de enigmas, à interpretação de símbolos
e metáforas. Todavia, apresenta-se também sob outras formas: os jogos verbais
(o “jogo do olho-vivo”), os provérbios e trocadilhos); o jogo de “bridge” no
café, protagonizado pela jovem das calças de amazona e os caçadores; a caça,
jogo de vida ou morte.
Em suma, o narrador, deste modo,
gere a narrativa de forma artificiosa jogando com o tempo (anacronias:
analepses, prolepses, elipses, digressões) e com o espaço (interiores,
exteriores, enquadramentos, perspetivas, panorâmicas, pormenores), confundindo
até as coordenadas.
O Senhor Ventura, de Miguel Torga
O Senhor Ventura é um alentejano de Penedono que, aos vinte anos, vai cumprir o serviço militar para Lisboa, onde se distingue pela sua irreverência e pela habilidade para desenrascar pequenas situações ou ocorrências e pelo assassínio de um homem numa taverna, ato que não se consegue provar, mas todos suspeitam de si. Por isso, é enviado para África, onde se envolve, amorosamente, com a filha de um oficial e, descoberto, acaba por desertar e envolve-se no tráfico de ópio por mar. Após assassinar um fiscal britânico quando este se preparava para abordar o barco (mais uma vez sem testemunhas) decide voltar a terra, deslocando-se para a cidade de Pequim, para uma garagem da casa Ford. Aí, encontra outro desertor, um minhoto de nome Pereira, dono de um «local» onde serve refeições, até ao dia em que se envolvem numa rixa com soldados americanos e são obrigados a fechar o «estabelecimento».
Decidem então ir para a Mongólia entregar duzentos camiões da Ford ao governo chinês. A aventura seguinte é o rapto do velho milionário Chung Lin. O desejo de regressar à pátria é suspenso pela montagem de um arsenal que forneça armamento às várias fações em guerra na China, após umas febres que o afetaram e das quais foi salvo graças aos esforços tenazes de Pereira. Durante um assalto feito pela fação rebelde do exército chinês, o Sr. Ventura perde tudo menos a vida. Menos afortunado é Pereira, que morre e é enterrado no deserto.
De novo em Pequim, um mês depois, apaixona-se por Tatiana, com quem casa. No entanto, ela é uma mulher rebelde, que não o ama, não é prendada (nem cozinhar sabe), e os dois agridem-se regularmente. Ao amor dele corresponde apenas a atração física dela.
O nascimento do filho Sérgio leva-o a procurar uma vida economicamente mais estável e menos feita de expedientes, daí que resolva distribuir por vários locais da cidade máquinas de jogo. De seguida, monta uma garagem de táxis e aprende a ler e o dinheiro começa a crescer.
Intuindo que algo está para mudar na China, vende os carros, pega fogo à garagem, recebe o dinheiro do seguro e monta, num bairro discreto, uma fábrica de heroína. Denunciado o negócio da heroína, o Sr. Ventura é repatriado, deixando na China o filho e a mulher, esta com uma procuração para gerir o que resta da sua fortuna.
Em Penedono, aluga a herdade do Farrobo por cinco anos com intenções de a fazer render bom dinheiro e descreve à sua mulher, a russa Tatiana, a notícia, mas a resposta demora um ano a chegar. Acumulando graves prejuízos na exploração da herdade durante os primeiros anos, chega a Portugal o filho de oito anos pela mão do Sr. Gomes, que lhe relata o que sucedeu nesses quatro anos na China. Em suma, a mulher levara uma vida de dissipação com amantes, primeiro um turco e depois um inglês.
A colheita do quinto ano é abundante. O Sr. Ventura paga as dívidas reparte os lucros entrega a herdade, uma chave ao filho, que entretanto colocara num colégio de Lisboa, e retorna à China para se vingar. Passado meio ano de procura obstinada e obsessiva por meio Oriente, encontra finalmente Tatiana em Xunquim, ou melhor, encontra-o ela a morrer num hospital, vitimado por um cancro no fígado.
Enterrado nessa cidade, o filho é expulso do colégio por falta de quem pague as mensalidades, para o Farrobo, onde o velho Gaudêncio o acolhe e põe a guardar ovelhas. "Pastor, que foi por onde o Senhor Ventura começou."
Subscrever:
Mensagens
(
Atom
)