Assassinos
da Lua das Flores narra a história da tribo osage em três partes.
Nos
anos 1920, a população mais rica per capita não era a parisiense ou a
nova-iorquina, mas a dos índios osage, no Oklahoma, EUA, graças à descoberta de
uma imensa jazida de petróleo debaixo da terra que lhes fora designada quando
deslocados do seu território original. Os cerca de 2000 osage recebiam uma
percentagem dos lucros das companhias petrolíferas. A tribo, cuja riqueza foi
largamente reportada em revistas e jornais, desafiava todos os estereótipos
relacionados com os americanos nativos: andavam de Cadillac com motorista,
construíam mansões e mandavam os seus filhos estudar na Europa.
Então, misteriosamente, os osage
começaram a ser assassinados: alguns, envenenados, outros, mortos a tiro ou
espancados. De um momento para o outro, passaram a ser, em simultâneo, a
comunidade mais rica e com o maior índice de assassínios do planeta. Muitos dos
que tentaram investigar estes crimes encontraram um destino semelhante: foram
mortos a tiro, estrangulados, tendo um advogado sido mesmo atirado de um
comboio em andamento.
Desesperados,
os osage viraram-se então para o Bureau de Investigação (BI) que tinha sido
acabado de criar, e o seu caso – um dos muitos, mas cheio de ramificações – tornou-se
o primeiro grande caso de homicídios do FBI. Porém, o dinheiro do petróleo
estava infiltrado no próprio FBI e até na Casa Branca.
A
primeira parte da obra detalha os acontecimentos à medida que se desenrolavam durante
a década de 1920, localizando as mortes de mais de vinte e quatro membros da
nação osage no contexto da época. A primeira seção centra-se numa mulher osage chamada
Mollie Burkhart, que perde a maior parte da sua família durante o período que ficou
conhecido como o Reinado do Terror. A segunda secção foca-se na investigação
dos assassinatos por parte do governo dos EUA, a qual é liderada pelo agente Tom
White, do emergente Bureau of Investigation. A equipa de agentes que ele dirige
consegue solucionar alguns dos assassinatos, e a secção acompanha os seus
esforços para apurar os factos e levar os perpetradores à justiça. Na sua
secção final, o livro avança para o século XXI enquanto o autor investiga
crimes que não foram resolvidos quase um século antes, trabalhando para esclarecer
os crimes e trazer paz às famílias osage que ainda sofrem com as suas perdas.
No meio
das várias mortes ocorridas, os falecimentos da mãe, das irmãs e do cunhado de
Mollie Burkhart constituem o objeto da primeira parte. Em 1921, Anna Brown,
irmã mais velha de Mollie, é baleada dentro de um carro, após ter sido levada
para casa depois de uma reunião na casa da mana. Pouco tempo depois, outros
membros da família encontram igualmente a morte: Lizzie, a mãe de Mollie,
definha repentinamente, enquanto Rita, outra irmã, e o seu marido Bill Smith
são mortos quando a casa onde vivem explode. A terceira irmã de Mollie, Minnie,
também faleceu abruptamente de uma doença desconhecida antes do início da ação
relatada no livro. Apoiada pelo marido Ernest, Mollie promete descobrir o que
está a acontecer à sua família. Esta passagem da obra torna clara a forma como
a aplicação da Lei na área rural do estado de Oklahoma durante a década de 1920
é extremamente deficiente. Por exemplo, a investigação das mortes fica a cargo
de amadores ou de detetives contratados. Por outro lado, a corrupção no condado
e que se espraia pelo sistema de Justiça do estado impede a investigação.
William
Hale, tio de Ernest e um importante empresário local, oferece apoio à
investigação. Deste modo, contrata detetives a expensas pessoais detetives com
o único objetivo de descobrir a verdade e fazer justiça. A expansão da nação norte-americana
para oeste despojara sistematicamente os osage e outros povos indígenas do seu
território e das condições básicas necessárias para sustentar o seu modo de
vida tradicional. Assim, os osage acabaram por comprar um pequeno lote de
terras rochosas imprestáveis no Oklahoma. A sua sorte madrasta muda aparentemente
quando é descoberto petróleo nas terras que tinham adquirido. Ao arrendar as
suas terras aos pesquisadores de petróleo, os membros da tribo tornaram-se as
pessoas mais ricas do mundo no início do século XX, considerando o seu
rendimento per capita. Porém, em simultâneo, essa riqueza faz deles alvo
perfeito para a ganância e o crime: vinte e quatro pessoas morrem num período
de tempo que ficou conhecido como Reinado do Terror. Ninguém consegue explicar
as mortes e muito menos descobrir o que se passou, pelo que representantes dos
osage deslocam-se a Washington, com o intuito de dirigir uma petição ao governo
federal.
A segunda parte debruça-se sobre
a atuação do Bureau of Investigation, de J. Edgar Hoover, seu diretor, e de Tom
White, o agente que o primeiro incumbe de investigar e solucionar o crime, numa
fase em que o Bureau se vê abalado por escândalos e por uma péssima reputação.
Neste contexto, Hoover espera que a resolução dos assassinatos dos osage contribua
fortemente para reparar a sua imagem. Embora White, um ex-ranger do Texas, não
corresponda ao modelo de agente que Hoover pretende para o Bureau moderno que
ambiciona construir, a sua integridade e o seu conhecimento daquela área do
país tornam-no a pessoal adequada para liderar a investigação. Acresce o facto
de White ser originário de uma família texana de homens da lei e se sentir
confortável com uma arma na mão, apesar de preferir não a usar. Deste modo, o
agente forma uma força-tarefa constituída por agentes secretos e dá o sinal de
partida para a investigação.
Deste
modo, procura separar cuidadosamente os factos da ficção, construindo
lentamente a perceção da existência de uma conspiração no seio do condado de
Osage, no centro da qual moram William Hale e os seus sobrinhos, Ernest e
Bryan, acolitados por vários outros cidadãos caucasianos importantes, incluindo
médicos e comerciantes locais. Reunidas as provas, procura levar Hale a
julgamento, mas há forças poderosas que se interpõem no seu caminho, como o
racismo ou a influência do réu. A promotoria tenta, sem sucesso, levar o caso ao
tribunal federal, quando o primeiro julgamento termina num empate do júri. No
entanto, o governo insiste e, desta vez, Ernest Burkhart, provavelmente movido
pela morte da sua filha mais nova, Anna, declara-se culpado da sua participação
nos crimes e testemunha contra Hale e Ramsey, o braço direito deste, que são
considerados culpados e condenados a prisão perpétua. A esposa de Burkhart, que
o apoiara ao longo de todo o processo, após a condenação divorcia-se dele e
conquista o direito a conduzir a sua própria existência. Com o caso
aparentemente resolvido, White abandona o Bureau e torna-se diretor da prisão
de Leavenworth, onde supervisiona o encarceramento de Hale e Ramsey durante
algum tempo, até se ver forçado a mudar para outra penitenciária depois de ter
sido ferido durante uma tentativa de fuga.
Depois
de colaborar com os descendentes das vítimas, David Grann apercebe-se de o
número de mortos durante o Reinado do Terror é, com certeza, muito superior à
contagem oficial e que os crimes começaram antes da década de 1920 e se
prolongaram até à seguinte, portanto depois da prisão de William Hale em 1926.
Depois de analisar os registos e os arquivos da investigação, Graan conclui que
os padrões de moralidade em Osage na época em questão superam largamente a
média nacional, o que significa que a conspiração extravasou a teia tecida por Hale.
O escritor crê que poderá decifrar o que aconteceu a algumas vítimas, porém não
consegue reunir provas que iluminem o que sucedeu a algumas delas. A obra
termina com Grann a prometer a mais uma pessoa que irá tentar solucionar um
mistério que moldou a sua vida, citando o Livro do Génesis.