O poema é constituído por 29 versos
brancos ou soltos, distribuídos por seis estrofes, cujo título sintetiza
a ideia da beleza da africanidade, adjetivando as mãos como esculturais, isto
é, como mãos que são como obras de arte. Por outro lado, a mão simboliza o
trabalho e a manifestação, pelo que o título indicia a força, o valor do
trabalho e a força da união dos africanos.
As três primeiras estrofes compõem a
imagem de uma África aparente, a que é retratada pelos estrangeiros, pelo que
se trata de uma visão parcial do que é a identidade africana. O poema começa
por apresentar o olhar vencido e cansado que carrega a memória dolorosa da
época da exploração, bem como a imagem do mar em simbiose com o ser africano: “mares
negreiros”. Esta expressão traduz o sentimento de aprisionamento e o medo
vivido nos lares e o cansaço dos que foram para outros países africanos e que,
porque não sabiam se regressariam, se sentiam como estrangeiros, como estando
noutro continente. Pode também entender-se que estes versos sugerem que o homem
negro sai do seu continente para trabalhar e prosperar fora, mas, ainda assim,
carrega a África consigo. O mar é o elemento responsável pela separação e
distanciamento, pelo que guarda vivências dolorosas.
A segunda estrofe desnuda a miséria
de África (“Além desta África / de mosquitos”), os contrastes, quando se refere
às “almas negras” enfeitadas de “sorrisos brancos” e a caridades e medicinas
que matam, e as práticas de feitiçaria (“e feitiços sentinelas”). O dístico
seguinte prossegue a descrição das ideias negativas associadas ao continente africano:
“África de atrasos seculares e corações tristes”.
A quarta e a quinta estrofes retratam
a verdadeira África segundo os olhos do sujeito poético: possui beleza, força,
amor, trabalho e, portanto, produtividade. O «eu» afirma que vê além, ou seja,
vê o futuro e o que há de bom no continente explorado. Além disso, fala do amor
que nasce da boca virgem, indicando que vem da fala pura, das lianas, que
designam os laços com a natureza, com as origens, os quais podem ser
compreendidos como o amor que cresce e se difunde e floresce como uma planta
trepadeira.
De seguida, descrevem-se as mãos
esculturais, que estão ligadas contra “as catadupas demolidoras do antigo”. As
mãos são a metáfora do trabalho e as catadupas (a saída ou corrente impetuosa)
a metáfora da violência do passado. Deste modo, o trabalho coletivo constitui a
forma de extirpar o mal do passado e de fazer algo novo.
Na última estrofe, o sujeito poético
conclui a sua visão sobre África: além do cansaço vivido, ela está viva e o
sujeito poético sente-a nas mãos dos que resistiram (dos fortes) e fundem-se
com amor (rosa) e alimento (pão), sendo, portanto, o futuro.
Em suma, o poema trata o tema da
identidade africana e apresenta-se o passado de sofrimento como forma de
estabelecer povos fortalecidos, atribuindo-lhes a responsabilidade de construir
um futuro independente.
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