Como
foi referido a propósito do título, a obra apresenta características de uma
fábula (os animais falam e agem como seres humanos, representando cada um deles
uma determinada característica humana, e o texto aponta para uma moralidade),
chegando o próprio Jorge Amado a classifica-la como tal. Todavia, o caráter
didático e pedagógico da narrativa não é muito evidente; por outro lado, os
animais não são exatamente os “clássicos” animais das fábulas tradicionais, nem
os seus defeitos e virtudes os tradicionais desta tipologia: aqui não há lobos
maus nem raposas matreiras e astutas, por exemplo. Ou seja, os bichos não
preenchem os “tipos” das fábulas tradicionais. É verdade que a Velha Coruja
simboliza a sabedoria trazida pela experiência, porém o Sapo Cururu é um sábio
e erudito que se evidencia pelos seus conhecimentos, bem como pela vaidade que
ostenta por causa disso; o Papagaio é um fariseu religioso; a Vaca Mocha
salienta-se pela bisbilhotice e má língua, etc.
A obra
contém também traços de um romance breve (a introdução, a divisão em capítulos,
a existência de ação e personagens), bem como de um conto e até laivos
poéticos. A fórmula introdutória (“Era uma vez, antigamente”) é típica do conto
tradicional popular, todavia a estrutura da história do Gato e da Andorinha não
tem nada de tradicional. A apresentação de um “capítulo inicial atrasado e fora
do lugar”, os vários parênteses introduzidos e o modo como o narrador se dirige
ao leitor são elementos que fogem aos padrões da narratologia e que tornam o
texto algo revolucionário para a época em que foi escrito. O próprio autor
esclarece isto, afirmando que, nos tempos modernos, se usam técnicas narrativas
diferentes daquelas a que os leitores estavam habituados.
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