Este parágrafo
é dominado pela descrição da reação da rainha à morte do marido, caracterizada
por uma profunda dor e tristeza. A manifestação física visual dessa reação são
as lágrimas, o choro. Por outro lado, a dor é distribuída pelas várias facetas
da monarca. Assim, como rainha, chora o facto de o reino ficar sem um governo
forte, de forma intensa, mas também digna (atentar na expressividade do advérbio
de modo «magnificamente», refletindo a grandeza e o respeito que ela tinha
pelo esposo. Em segundo lugar, chora «desoladamente» (novo advérbio de modo
expressivo) o esposo, ou seja, como mulher, perde o marido, fica viúva,
ressaltando neste passo a perda pessoal do companheiro amado, cujos traços
físicos («formoso» e psicológicos («alegre») tornam a perda mais impactante e
difícil de suportar. Todavia, o que mais a angustia é, no papel de mãe, o facto
de o filho de ambos ficar desamparado e à mercê dos inimigos (atentar no valor
expressivo do terceiro advérbio de modo – «ansiosamente» –, que remete para um perspetivar
angustiado do futuro). Em suma, a rainha sente dor não apenas pela perda
pessoal do marido, mas, sobretudo, pela vulnerabilidade em que ficam o filho e
o reino.
Neste
parágrafo, conhecemos também mais duas características do rei, uma física
(«formoso») e outra psicológica («alegre»). Quanto ao príncipe, é enfatizado o
facto de ser uma criatura frágil (convém não esquecer que é um bebé de berço) e
ficar desamparado com a morte do pai, rodeado de inúmeros inimigos.
No que
diz respeito à linguagem, além da expressividade dos advérbios de
modo já abordada, destaca-se a linguagem elevada e solene
(«magnificamente») usada para descrever o luto e a reação da rainha à morte da
esposa, carregados de dignidade, apesar da tremenda tristeza e dor. Essa
linguagem, no fundo, adequa-se ao caráter nobre das personagens e do meio em
que se inserem.
A anáfora
e o paralelismo [“chorou (…) chorou (…) chorou”] enfatizam a intensidade
e a multiplicidade da(s) perda(s) sentida(s) pela rainha: primeiro, como
rainha, do rei; depois, como mulher, do esposo; por último, como mãe, do pai do
filho. Esta progressão de perdas reflete a profundidade crescente do seu
sofrimento. Neste contexto, podemos considerar também a existência de uma enumeração
dos diferentes papéis que o rei desempenhava, que enfatiza que a perda sofrida
pela rainha não é apenas política (a de um monarca, líder de um reino), mas
sobretudo pessoal (a do companheiro afetivo e do pai do seu filho).
Por sua
vez, a aliteração em «f», presente em “forte pela força e forte
pelo amor”, sugere a fragilidade do príncipe, que, com a morte do pai, não
tinha quem o protegesse e defendesse dos perigos e inimigos que espreitavam.
Por outro lado, a repetição do adjetivo «forte» reforça a ideia
de grandeza do reino, nascida não só da força, mas também do amor.
Em “o
braço que o defendesse”, podemos vislumbrar uma metáfora / sinédoque que
sugere a ausência de alguém que protegesse e defendesse o príncipe. Por último,
o quantificador «tantos» enfatiza, sem quantificar, a grandeza da ameaça
enfrentada pelo bebé, os perigos que o espreitavam. Além disso, nota-se aqui um
claro contraste (antítese) entre o elevado número e a força de inimigos
e a vulnerabilidade e fragilidade em que vivia.
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