Português: Análise do 2.º parágrafo do conto «A Aia»

terça-feira, 8 de outubro de 2024

Análise do 2.º parágrafo do conto «A Aia»

 ● Ação


    A ação do segundo parágrafo gira em torno de dois acontecimentos: a derrota do rei numa batalha e a notícia da sua morte.
    O rei partiu em busca de conquistar terras e da consequente fama obtida no campo de batalha, porém a derrota destruiu esses sonhos.


Personagens


    O rei é apresentado como alguém sonhador e ambicioso, pois partiu para a guerra em busca de fama e de novas terras e reconhecimento. Os seus sonhos e esperanças, porém, são estilhaçados pela derrota na guerra, redundam em fracasso trágico. A sua morte simboliza o fim das ambições de conquista e fama, gerando uma sensação de perda profunda.
    A outra personagem focada no segundo parágrafo é o cavaleiro que traz a notícia da derrota na batalha e da morte do rei. A sua única função no texto é a de mensageiro, a do portador de más notícias, as quais introduzem uma mudança nos acontecimentos. A sua descrição física dá conta do seu estado deplorável: “com as armas rotas, negro do sangue seco e do pó dos caminhos”. Ele está exausto, passou por grandes dificuldades, sobreviveu a uma batalha sangrenta, que lhe trouxe um grande sofrimento físico e emocional. O seu aspeto físico e as armas danificadas representam a violência da batalha: o sangue seco, por exemplo, sugere claramente que o combate foi brutal, causando inúmeras mortes e destruição. Ele é um sobrevivente, o único do exército do rei, mas traz consigo a marca da derrota e da tragédia; é um homem vitimado pelos horrores da guerra, refletindo o fracasso das expectativas de conquista e glória.


Tempo e espaço

    A esmagadora maioria dos acontecimentos do conto ocorre à noite, como se pode comprovar neste parágrafo, pois quer a partida do rei quer a sua morte têm lugar nesse momento do dia.
    No caso do espaço físico, há referência ao “pó dos caminhos” percorridos pelo cavaleiro desde o campo de batalha até ao palácio e à margem de um grande rio, o local onde o rei tombou e cuja simbologia é abordada no ponto que reflete sobre os elementos simbólicos do parágrafo.

Elementos simbólicos

     Quer a partida do rei para a guerra, quer a sua morte estão intimamente ligadas à Lua. De facto, quando embarca em busca do “seu sonho de conquista e fama”, a Lua está na fase cheia, o que simboliza o seu sonho e a ilusão da conquista e da fama; porém, a sua morte ocorre quando a mesma Lua está a minguar. Ora, a fase minguante é a que antecede os três dias em que não brilha, em que «morre», portanto o minguar da Lua simboliza / reflete exatamente a derrota das tropas do rei e a sua morte. Ou seja, o ciclo lunar constitui uma metáfora da trajetória do rei: um período breve de glória e ambição desagua na derrota e na morte.
    Por outro lado, o monarca pereceu trespassado por sete lanças, sendo que este número está associado à tragédia, à morte, neste caso, do rei, morte essa que é indiciada pelas armas rotas do cavaleiro e acentuada pelo sangue e pelo facto de regressar sozinho ao reino. Além disso, a morte tem lugar “à beira de um grande rio”, o qual representa o limiar entre a vida e a morte, neste caso concreto, do rei e da elite da sua nobreza guerreira.

Linguagem

    Neste parágrafo, a Lua é personificada, como se fosse uma testemunha muda da partida do rei: “A Lua cheia que o vira marchar…”. Posteriormente, já minguante, reflete a perda e a derrota. Os nomos «sonho», «conquista» e «glória» sugerem a ambição e o ideal do rei, o que contrasta com, por exemplo, o adjetivo «perdida» e o nome «morte», que dão conta da derrota do monarca e da destruição do seu ideal, sonhos e ambição.
    Por outro lado, as descrições pautam-se por um grande visualismo, como é o caso da do cavaleiro (“Com as armas rotas, negro do sangue seco e do pó dos caminhos.”), que enfatiza a violência da batalha e o desgaste físico e o cansaço da personagem, motivados pela longa jornada que teve de fazer e que é refletida pela longa jornada que teve de fazer e que é refletida pelos nomes presentes na expressão «pó dos caminhos».
    Na expressão «trespassado por sete lanças», podemos eventualmente vislumbrar uma hipérbole, que enfatiza a violência que rodeou a morte do rei. Por seu turno, a metáfora “a flor da sua nobreza” sugere que os que pereceram na batalha eram a elite da nobreza, os melhores e mais nobres cavaleiros dentre os melhores, reforçando a magnitude da derrota e da perda.

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