Esta cena
recupera a personagem de Fortinbras, para o fazer contrastar com Hamlet,
fornecendo a este um exemplo da vontade de ação que lhe escasseia. De facto,
mostra-se espantado e impressionado com a obstinação com que o príncipe
norueguês mobiliza um exército, correndo o risco de condenar centenas ou
milhares de vidas e arriscando até a sua, para conquistar um pedaço de terra
sem valor. Esta constatação faz com que Hamlet se sinta fraco e inútil, porém a
mesma estimula-o a agir na sua busca de vingança contra Cláudio, encontrando
inspiração, portanto, na figura contrastante de Fortinbras, um homem decidido,
confiante e agressivo. Curiosamente, a sua situação presente parece a oposta da
que lhe possibilitaria tal desiderato, visto que ele está prestes a partir para
Inglaterra.
Interiormente,
Hamlet sempre pareceu relutar relativamente ao uso da violência, daí o
constante adiamento da vingança, todavia a sociedade em que vive celebra os
jovens ambiciosos e determinados como Fortinbras. Nada disto é novo ou
surpreendente, pois são inúmeros os exemplos da História que celebram a
ambição, o poder, o desejo de conquista. Assim sendo, a determinação do
príncipe norueguês e a consciência de que a sua postura é amplamente celebrada
constituem uma pressão extra para Hamlet, para vingar o assassinato do seu pai.
À medida que
a peça se vai desenrolando, o jovem príncipe ganha consciência da sua fraqueza
e incapacidade de agir, e o solilóquio que finaliza esta cena mostra-o claramente,
quando constata que todos os acontecimentos da sua vida enfatizam a sua indecisão
e inação. Deste modo, não há grande distinção relativamente aos animais, pois a
linha que os separa prende-se com o sentido de propósito e motivação. Por outro
lado, Deus deu ao ser humano o uso da razão, que lhe permite viver de forma
elevada.
Estas
reflexões são, obviamente, espoletadas pelo encontro com o emissário de
Fortinbras, que reuniu vinte mil homens para conquistar a Polónia, um
território sem valor, porém ele, que tem razões para agir (o pai assassinado e
a mãe desrespeitada), nada fez, não obstante toda a sua ira e ressentimento. O
seu único ato foi o assassinato de Polónio, um alvo fácil e não intencional.
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