Um pai dá uma moeda de vinte e cinco tostões para comprar doces, aparentando normalidade, enquanto se prepara para partir, levado por homens num carro. Em Vilar Formoso, o subchefe informa-o que será levado para Coimbra e dá-lhe conselhos como se comportar aí.
Chegado à cidade dos estudantes, é brutalmente interrogado, sendo sujeito a tortura física, após a qual é conduzido para um calabouço subterrâneo, um local escuro onde passará quarenta e dois dias e quarenta e duas noites. O prisioneiro permanece em silêncio, tentando dormir. Passado algum tempo, é novamente retirado da cela e interrogado, mas continua a não responder, pelo que é acusado de se fazer passar por valente e é ameaçado com mais agressões. Cinco homens cercam-no e começam a espancá-lo intensamente, como se ele não passasse de um saco de pancada para pugilistas.
A descrição da violência que é exercida sobre ele é profundamente gráfica: o rosto incha, o sangue escorre, cambaleia, quase perde a consciência. Até dos ouvidos sai sangue. Mesmo sujeito a tão extrema violência, o protagonista resiste. Um dos cinco torturadores exige que confesse, ameaçando mesmo matá-lo, porém ele continua a insistir que não conhece os homens de que falam e que nada tem a ver com qualquer negociação ou conspiração. O espancamento só termina quando o chefe manda parar.
Alguns dias depois, é levando novamente à sala de interrogatório, onde se encontra outro detido. Perguntam-lhe se conhece o outro homem e a resposta é negativa. O interrogador volta-se então para o outro prisioneiro, repetindo a pergunta. Este, completamente debilitado por sucessivos espancamentos brutais, diz que conhece o protagonista e recorda-lhe os homens que passaram para Espanha, mas ele nega. Perante a continuação da negação dos factos que desejam que confesse, segue-se nova cena de violência, marcada por mais um espancamento, tão intenso que chega a perder a consciência.
Horas depois, desperta, com dificuldade para abrir os olhos e com o corpo coberto de equimoses e inchaços. Lentamente, tenta recuperar-se, levanta-se com esforço e vai para o chuveiro. Enquanto isso, os agentes torturadores observam-no secretamente por trás de um espelho falso. Quando se apercebem de que não toma banho, um deles confronta-o com agressividade, gritando que a água custa dinheiro e ameaça-o de que, se não se banhar, o matará. Mesmo perante esta ameaça, o protagonista não cede e responde que lhe é indiferente morrer naquele dia ou no seguinte.
Com o corpo entregue e o olhar perdido, parece ver uma nuvem negra de aves necrófagas, uma metáfora da aproximação da morte. Os agentes atiram-no para a tarimba e deixam-no aí. De seguida, entra num sono profundo e, no meio da escuridão, surge uma luz intensa. Uma figura angelical surge e aproxima-se dele. Toca-o e ele sente-se envolvido por uma sensação de felicidade celestial. De mãos dadas, partem juntos, simbolizando a sua morte e libertação espiritual. Sobre a tarimba, uma moeda de vinte e cinco tostões brilha e transforma-se em pó, o que simboliza a transitoriedade da vida e o valor efémero das coisas materiais perante a morte.
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