Português: Bocage: pré-romântico (sua obra)

sábado, 6 de dezembro de 2025

Bocage: pré-romântico (sua obra)

    Não é por acaso que a crítica literária aponta Bocage como o maior poeta do século XVIII. A sua vida de permanente conflito reflete-se na sua obra. "A sua poesia é, em boa parte, a expressão rítmica de um tumulto interior e exterior, ao mesmo tempo que é a criação de um excecional artista."
    Grande parte da sua poesia apresenta um tom confessional. A sua poesia revela acentuadamente um mundo subjetivo; Bocage retrata-se nos seus versos autobiográficos e, nesse retrato, apresenta-se como um ser perseguido pelo destino, pela desgraça e pelo infortúnio, daí sentir-se identificado com Camões. É uma espécie de má fortuna que também se estende ao campo amoroso, que se sente perseguido e marcado pelo "Fatum" e pela desventura, mas paralelamente sente-se um ser destinado ao culto da poesia.
    Por vezes, este dramatismo interior objetiva-se na alegoria ou invenção alegórica: projeta os seus temores, receios, remorsos e pesadelos em figuras alegóricas (morte, noite) com quem fala e a quem confidencia esses tormentos interiores.
    O conflito de Bocage, porque é íntimo, traduz-se através de sentimentos contraditórios e, por vezes, alternativos: ora de melancolia, ora de folia; ora de confiança eufórica, ora de desespero; ora de abatimento, ora de prazer delirante.
    Um dos temas que reflete este conflito interior é o amor que, nas palavras de Jacinto Prado Coelho, em Bocage funciona como constelação, à volta da qual giram outros temas, como a morte, o ciúme, a ausência, o prazer. O tema do amor é o macro-tema, muito comum em Bocage.
    Em Bocage, é particularmente nítida uma das características do Pré-Romantismo: o domínio do egotismo, hipertrofia do «eu», que faz com que a própria natureza sirva de projeção do «eu», ganhando a natureza um estado de ama e assim surgem, em alguns textos, testemunhos de uma sensibilidade atenta que as paisagens oferecem.
    Por outro lado, Bocage sente necessidade de usar uma nova linguagem, uma linguagem que se adeque à violência das suas contradições interiores, dos seus impulsos. Apesar de alguns traços dessa linguagem manifestarem uma influência neoclássica, a maior parte dos temas denota uma sensibilidade nitidamente pré-romântica. Por exemplo, a paixão tortura-o e sente-se numa encruzilhada entre o amor, a culpa, o prazer carnal, etc.

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