Dâmaso é retratado em termos disfóricos desde o primeiro momento em que surge nas páginas do romance: gordo e baixo («um rapaz baixote» - notar o diminutivo depreciativo), de mau gosto, o tipo do novo rico, de aspeto ridículo e maneira de vestir pretensiosa: frisado como um noivo de província, de camélia ao peito e plastrão azul-celeste.
Movido provavelmente por um complexo de inferioridade, faz tudo para se elevar ao nível de Carlos da Maia, procurando atrair, a propósito e a despropósito, a sua benevolência de admiração: «O senhor Dâmaso Salcede, que não despegava os olhos de Carlos...».
Gabarola e estúpido, declara-se sabedor da vida dos Castro Gomes e de ter um tio em Paris, mas não capta a ironia de Ega: «E que tio! (...) O tio do Dâmaso governa a França, menino!»; pelo contrário, «Dâmaso, escarlate, estoirava de gozo...». Tem a mania do chique («Uma gente muito chique (...) chique a valer!»), mas o ridículo que o envolve desmente essa pretensão de requinte:
- os seus critérios para avaliar o chiquismo são ridículos: «... criado de quarto, governanta inglesa para a filhita, femme de chambre, mais de vinte malas...»;
- à pergunta se queria vermute, responde: «Sim, uma gotinha para o apetite...»;
- caricata é ainda a forma como enaltece Paris: «Aquilo é que é terra! Isto aqui é um chiqueiro. (...) Aquele boulevarzinho, hem! Ai, eu gozo aquilo... E sei gozar, sei gozar, que eu conheço aquilo a palmo...»;
- tem um discurso profuso e deselegante, pontuado de calão de baixo nível.
Surgindo os dois retratos de forma consecutiva, é evidente o intuito do narrador fazer contrastá-los. Este facto explica-se pela imagem de dignidade que se pretende dar dela e por ser uma personagem de tragédia e, como tal, teria de ser nobre de caráter. Dâmaso, por seu turno, está marcado para figurante da crónica de costumes. É, portanto, uma personagem plana, uma caricatura, um tipo social, o representante do novo rico.