Português

sábado, 9 de novembro de 2019

Os vícios dos peixes em particular

Capítulo V

Peixe
Roncador
Repreensões
. É pequeno, mas quer parecer grande, por isso ronca muito.
Argumentação
. Quer parecer maior e mais importante do que aquilo que é;
. quando tem de agir, acobarda-se.
Exemplos - Confirmação
. S. Pedro: afirmou estar disposto a morrer por Cristo, mas negou-o; prometeu ficar acordado e vigilante, mas adormeceu durante a vigia;
. Golias: soldado gigante filisteu, que muito se gabava da sua invencibilidade, mas foi vencido por um pequeno pastor, David, com um cajado e uma funda;
. Caifás: roncava de saber;
. Pilatos: roncava de poder.
Castigo
. Deus abate e humilha os que roncam.
Alegoria
. Presunção, arrogância, soberba e orgulho.
Provérbio
. “Presunção e água benta, cada um toma a que quer.”
. “As obras falam, as palavras calam.”
Atualidade/
Anacronismo
. Atualidade: figuras públicas, políticos…
Contraste com S. António
. “o verdadeiro conselho é calar, e imitar a S. António”;
. tinha muito saber e poder, mas não se vangloriava disso.

Peixe
Pegador
Repreensões
. Pequeno, pega-se ao maior;
. vive do maior de forma parasitária.
Argumentação
. Vive como parasita, alimentando-se e fazendo-se carregar pelo peixe maior;
. se algum dos peixes maiores morre, o pegador morre com ele.
Semelhanças com os homens
. Aprendeu o seu estilo de vida com os homens, nomeadamente os portugueses;
. os mais inteligentes despegam-se dos peixes maiores e continuam a sua vida; os mais ignorantes têm o mesmo fim dos maiores.
Exemplos - Confirmação
. Bajuladores dos poderosos, como o vice-rei ou o governador;
. Herodes: quando morreu, morreram com ele todos os seus pegadores;
. Tubarão: tem os seus pegadores que, quando morre, morrem com ele;
. Pegadores de Deus (David e S. António);
. Adão e Eva: comeram o fruto proibido e conduziram todos os humanos à mortalidade.
Alegoria
. Parasitismo, oportunismo e preguiça.
Provérbio
. “Anda meio mundo a enganar outro.”
. “Amigo disfarçado, amigo dobrado.”
Atualidade/
Anacronismo
. Atualidade: comitivas políticas; “amigos interesseiros; cargos políticos ou administrativos…
Contraste com S. António
. “António também se fez Menor, para se pegar mais a Deus” = Santo António “pegou-se” a Cristo, seguindo as suas palavras, a sua doutrina.

Peixe
Voador
Repreensões
. Usa os seus dotes naturais para se exibir;
. é peixe, mas também quer ser ave;
. possui grandes barbatanas e salta para fora da água como se voasse.
Argumentação
. Sendo peixe, quer ser ave;
. por isso, sofre os perigos dos dois elementos, o que o leva à morte.
Exemplos - Confirmação
. Simão Mago: ambicionava subir ao céu, fingindo ser filho de Deus, avisou toda a gente de Roma para que o admirassem e voou muito alto, mas caiu e morreu perante o olhar de todos;
. Ícaro: voou com asas de cera, mas foi demasiadamente ambicioso e aproximou-se do Sol; a cera derreteu e ele caiu no mar, morrendo.
Alegoria
. Ambição, vaidade, ostentação, presunção.
Provérbio
. “Quem tudo quer tudo perde”.
. “Quanto mais alto se sobe, maior é a queda.”
Atualidade/
Anacronismo
. Atualidade: pessoas que não olham a meios para atingir os fins; pessoas que vivem acima das suas posses…
Contraste com S. António
. “Não estendeu as asas para subir, encolheu-as para descer.”
. Foram-lhe dadas duas asas (a sabedoria natural e o poder da palavra), mas ele usou-as com humildade e comedimento e não com vaidade e ambição.

Peixe
Polvo
Repreensões
. Usa as suas defesas para trair as suas presas.
Argumentação
. Parece brando inofensivo;
. no entanto, ataca as suas vítimas de forma traiçoeira e sem escrúpulos.
Exemplos - Confirmação
. Judas, o símbolo da traição entre os homens, é menos traidor do que o polvo;
. Camaleão: muda de cor por «gala», por solenidade; é um artifício de defesa;
. Proteu: metamorfoseia-se por defesa, para escapar dos que o perseguem
Alegoria
. Traição, falsidade.
Provérbio
. “Trair e comer é só começar.”
. “Obra de vilão, deitar pedra e esconder a mão.”
Atualidade/
Anacronismo
. Todos os que parecem honestos e de confiança, mas são falsos.
Contraste com S. António
. “Mas ponde os olhos em António vosso Pregador, e vereis nele o mais puro exemplar da candura, da sinceridade, e da verdade, onde nunca houve dolo, fingimento ou engano.”


Chumbos


Análise do capítulo VI do Sermão de Santo António aos Peixes

PERORAÇÃO


Última advertência aos peixes: a sua exclusão dos sacrifícios consagrados a Deus.

§  Razões: nos sacrifícios rituais, só podem ser sacrificados animais vivos e os peixes chegariam mortos ao altar, «... e cousa morta não quer Deus que se lhe ofereça, nem chegue aos seus altares...».

§  Comparação peixes / homens: tal como os peixes os homens chegam ao altar mortos, ou seja, em pecado mortal crítica aos cristãos, acusados de desrespeitarem Deus.

§  Lado positivo da questão: «... melhor é não chegar ao sacrifício, que chegar morto...».


Autocrítica: auto-retrato do Padre Vieira como pecador
§  Melhor fora ser como os peixes e não tomar Deus nas suas mãos, no altar, porque não consegue cumprir verdadeiramente a sua missão de pregador.

§  Exemplo dos peixes:
Eu
. «falo»
. «lembro-me»
. «discorro»
. «quero»
não cumpre a missão que Deus lhe confiou, que é servir a Deus

Peixes
. não ofendem a Deus com palavras
. nem com a memória
. nem com o entendimento
. nem com a vontade
cumprem o destino que Deus lhes reservou, que é servir o Homem
ß
Conclusão a condição irracional dos peixes é preferível à sua racionalidade.


Hino de louvor a Deus: «Louvai, peixes, a Deus, os grandes e os pequenos...»
‑ «porque vos criou em tanto número
‑ que vos distinguiu em tantas espécies;
‑ que vos vestiu de tanta variedade e formosura;
‑ que vos habilitou de todos os instrumentos necessários para a vida;
‑ que vos deu um elemento tão largo e tão puro;
‑ que, vindo a este mundo, viveu entre nós, e chamou para si aqueles que convosco e de vós viviam;
‑ que vos sustenta;
‑ que vos conserva;
‑ que vos multiplica;
‑ enfim, servindo e sustentando ao homem, que é o fim para que vos criou.»


Proibido ser ignorante!


Intenção persuasiva e exemplaridade do Sermão de Santo António

1. Persuasão

O que significa persuadir?

            Persuadir significa convencer, mover, aconselhar.

Como se persuade alguém?

            Para persuadir alguém, é necessário que o discurso seja fundamentado em exemplos reconhecidos como válidos e verdadeiros e que o orador capte a atenção e o interesse do auditório durante a pregação.

O Sermão de Santo António (aos Peixes) é um texto com intenção persuasiva?

            O padre António Vieira, ao proferir o sermão, procura alertar os seus ouvintes para a necessidade e importância de alterar comportamentos incorretos, persuadindo-os a adotarem outros mais adequados e corretos.

Como se concretiza a intenção persuasiva no sermão?

            Para persuadir o seu auditório, o padre António Vieira socorre-se de diversas estratégias:
Inclusão de citações bíblicas, bastas vezes em latim;
Recurso a excertos da Bíblia;
Relato de episódios da vida de santos, nomeadamente de Santo António, e doutores da Igreja (por exemplo, Santo Ambrósio);
Exposição das características e dos comportamentos dos peixes;
Recurso à sabedoria popular e a provérbios;
Referência a figuras e acontecimentos da mitologia clássica;
Alusão à própria experiência de vida;
Uso de recursos expressivos, como a alegoria, a metáfora, a comparação, a apóstrofe, a interrogação retórica, etc.

Como se articulam as estratégias de persuasão do padre António Vieira com as características da oratória?

            A persuasão articula-se com os três objetivos da eloquência: delectare (captar a atenção e agradar ao auditório), docere (transmitir ensinamentos) e movere (fazer refletir o auditório, no sentido de mudar o seu comportamento).


2. Exemplaridade

Relação entre os exemplos dos peixes, a intenção persuasiva e a exemplaridade

            A apresentação do exemplo dos peixes, sejam os seus louvores sejam as suas repreensões, cumpre a intensão persuasiva do pregador, visto que se pretende com ele persuadir os homens a mudarem o seu comportamento.
            Assim,
. pretende-se que os homens adotem as virtudes dos peixes louvados, paralelas às ações de Santo António:
* aceitação da doutrina divina (Peixe de Tobias);
* moderação e refreamento de apetites (Rémora);
* arrependimento e mudança (Torpedo);
* distinção entre o Bem e o Mal, o Céu e o Inferno (Quatro-olhos);
. por outro lado, pretende-se que os mesmos homens abandonem a prática dos vícios exemplificados nos peixes:
* a presunção, a arrogância, a gabarolice e a soberba (Roncadores);
* o parasitismo e o oportunismo (Pegadores);
* a presunção, a vaidade, a ostentação e a ambição (Voadores);
* a falsidade e a traição (Polvo).
            Assim sendo, a caracterização dos peixes e os seus comportamentos e atitudes adquirem um valor de exemplaridade, isto é, estes animais servem de exemplo a seguir pelos homens nas suas virtudes, bem como de exemplo a evitar no caso dos vícios.

A exemplaridade no Sermão de Santo António

            O orador deve ser uma figura exemplar, um modelo de virtudes e de cumprimento dos preceitos cristãos. O padre António Vieira enquadrava-se neste perfil e procurou, neste sermão, exercer a sua função de «sal» e cativar o auditório com o seu talento e a sua integridade moral. No entanto, quer Santo António em Itália (Arimino) quer o padre Vieira no Brasil (S. Luís do Maranhão) encontram obstáculos ao cumprimento da sua missão evangelizadora, pois os ouvintes não se querem converter.

O exemplo de Santo António

            Tal como Santo António em Itália, o padre Vieira encontra obstáculos à sua pregação no Brasil, por isso decide adotar o seu exemplo, anunciado logo no Exórdio, e mudar de auditório, deixando os homens e pregando aos peixes.
            Por outro lado, o santo, as suas virtudes e a sua conduta irrepreensível constituem um exemplo humano, presente em todos os capítulos do Sermão, através de referências que permitem ao padre Vieira identificar-se com ele em virtude e na ação, tornando-se assim um modelo a seguir pelos homens seus contemporâneos.


Bibliografia:
. Andreia Sousa e Regina Carvalho, Arrumar ideias, Areal Editores (adaptado)


A crítica social e a alegoria no Sermão de Santo António

            A crítica é conseguida de diversas formas, nomeadamente através da denúncia dos vícios dos homens, simbolizados nos peixes e nas suas características físicas, as famosas alegorias.
            Assim, quando tece os seus louvores, o padre António Vieira está, por contraste, a denunciar a ausência das virtudes equivalentes nos homens:


Virtudes dos peixes
Vícios dos homens
Em geral
. São bons ouvintes.
. Escutaram Santo António com obediência, ordem, tranquilidade e atenção.
. Falta de devoção relativamente à palavra de Deus.
Em
particular
Peixe de Tobias
. As suas entranhas curam a cegueira e o coração expulsa os demónios.
. Heresia / ausência de conversão.
Rémora
. É pequena no corpo, mas grande na força e no poder.
. Fraqueza humana.
. Apatia, ausência de força de vontade.
Torpedo
. Produz descargas elétricas, fazendo tremer o braço do pescador e evitando ser pescado.
. Exploração do próximo.
. Corrupção.
. Ambição desmedida.
Quatro-Olhos
. Tem quatro-olhos, dois que olham para cima e dois que olham para baixo.
. Vaidade.
. Incapacidade de discernimento.

            Por outro lado, quando, nos capítulos IV e V, expõe os vícios dos peixes, o pregador está, por analogia, a criticar os defeitos equivalentes dos homens:


Vícios dos peixes/homens
Excertos textuais
Em geral
. A corrupção e a irracionalidade (cap. I, II, III).
. A exploração do homem pelo homem e a exploração dos mais fracos, a antropofagia social (cap. IV).
. A ignorância, vaidade e cegueira (cap. IV).
. “a terra se vê tão corrupta”

. “vos comeis uns aos outros”

. “notável ignorância e cegueira”
Em
particular
Roncador
. A presunção, a gabarolice e a arrogância.
. “É possível que, sendo vós uns peixinhos tão pequenos, haveis de ser as roncas do mar?”
Pegador
. O parasitismo.
. “Não só se chegam a outros maiores, mas de tal sorte se lhes pegam aos costados que jamais os desferram”.
Torpedo
. A ambição e a vaidade.
. “Não contente com ser peixe, quiseste ser ave”
Polvo
. A falsidade e a traição.
. “um monstro tão dissimulado, tão fingido, tão astuto, tão enganoso e tão conhecidamente traidor”.


Bibliografia:
. Noémia Jorge et alii, Encontros 11;
. Auxília Ramos e Zaida Braga, Sermão de Santo António aos Peixes;
. Francisco Martins, Para Compreender Padre António Vieira;
. Hernâni Cidade, Padre António Vieira.



quinta-feira, 7 de novembro de 2019

O discurso político


1. Definição

            O vocábulo «político» provém do latim «politicus», que, por sua vez, teve origem no grego πολιτικóσ («politikós»), que significa «dos cidadãos» ou do «do Estado» (ou seja, cidadão, pertencente à cidade), traduzindo Πóλισ («pólis») conceito de «cidade», mas também de «Estado», visto que «cidade», na Grécia clássica, correspondia a uma unidade estatal.
            Em termos de definição, um discurso político é um texto que pertence ao género argumentativo em que se expõe uma tese (isto é, defendem ideias e propostas sobre o rumo de um país ou de uma comunidade e sobre as medidas que devem ser adotadas para que essas propostas tenham sucesso), que se pretende provar, através de argumentos e exemplos.
            A sua finalidade é convencer o interlocutor e aderir a esse ponto de vista.
            O discurso político contém uma dimensão ética e social, apela ao bem comum e veicula valores de vária ordem (social, económica, cultural, etc.), assumindo-se como uma voz coletiva.

2. Objetivo

            O objetivo de um discurso político é convencer o interlocutor a aderir a uma ideia ou a uma causa, apoiando-as, socorrendo-se da retórica, a arte de bem discursar, por escrito ou oralmente e desencadeando uma reação do público: votar, apoiar, intervir, mobilizar-se para uma iniciativa, etc.

3. Estrutura

Introdução:
Apresentação da tese que se vai defender, para a adesão do interlocutor.
Desenvolvimento:
Apresentação dos argumentos;
Refutação dos contra-argumentos;
Apresentação de provas – exemplos.
Organização em parágrafos, contendo cada um uma ideia principal.
Conclusão:
Confirmação da tese.

4. Características – Marcas de género

Caráter persuasivo
Interação com o interlocutor – o locutor questiona, repete, usa o imperativo e a segunda pessoa verbal (singular e plural), e emprega o vocativo em apóstrofes, com o propósito de defender uma causa política, um rumo de ação para um país, uma comunidade, etc.
Argumentação
Estratégia: convencer os ouvintes a aderir às propostas do enunciador, mobilizando argumentos válidos e coerentes e guiando-se por princípios honestos e justos, ou contra-argumentos, se for necessário.
Registo expositivo
Articulação entre os registos expositivo e argumentativo: o orador apresenta factos (exposição) que fundamentam a argumentação e atestam as afirmações proferidas através de provas.
Dinamismo discursivo – nomeadamente entoação, ritmo, tom, pausas oportunas, expressividade e gestos.
Coerência e coesão
Informação significativa, encadeamento lógico dos tópicos, coerência e validade dos argumentos, contra-argumentos e provas.
Eloquência
Exploração dos recursos expressivos e da plasticidade da língua – nomeadamente metáforas, comparações, estruturas sintáticas paralelas, construções de imagens e jogos semânticos.
Mobilização de recursos expressivos
Metáfora, comparação, interrogação retórica, apóstrofe, enumeração, reiteração, ironia, etc.
Exploração de outros recursos
Postura do corpo, expressão facial, tom e volume da voz, etc.


Chumbar um aluno "não serve para nada"

«É absolutamente intolerável que esta nova vida de certas cliques ideológicas do terceiro quartel do século XX se faça à custa de acusar os professores pelo mau desempenho dos seus alunos, dando um ar de legitimação às teses economicistas que são o aspecto nuclear das preocupações do governo nesta matéria.
Quem sabe um pouco de História Comparada da Educação sabe que, com algumas nuances, o No Child Left Behind (que é, curiosamente, a inspiração retórica mais próxima da actual investida entre nós, sendo uma iniciativa do Bush Jr.) terminou em fiasco e acabou com o desempenho dos alunos americanos pior do que antes. Por lá demorou uma dúzia de anos a reconhecer nisso. Por cá, basta ficarem sempre os mesmos – ou os seus herdeiros – a dominar o CNE ou o ME e será sempre um sucesso.
Os erros do NCLB foram reconhecidos em plena era Obama (para que não restem dúvidas sobre o facto de não ter sido a “direita” a acabar com a coisa) e seria bom que aprendêssemos com eles. Caso exista ainda quem tenha vontade de aprender, após décadas de enquistamento intelectual em teses ultrapassadas.
A minha opinião, em resumo de sete minutos, ficou hoje no fim (a partir dos 42′) do Antena Aberta da Antena Um
Paulo Guinote, O Meu Quintal

terça-feira, 5 de novembro de 2019

sábado, 2 de novembro de 2019

Concordância de "a gente"


            Qual é a frase correta?
. A gente vai ao cinema?
. A gente vamos ao cinema?
            A regra informa-nos que o predicado concorda em pessoa e número com o sujeito.
            «Gente» é um nome coletivo que designa um conjunto de pessoas. Como se encontra no singular, o verbo (núcleo do predicado) tem de estar também no singular, em concordância com a expressão.
            Assim sendo, a frase correta é a primeira: «A gente vai ao cinema?».
            A talhe de foice, esclareça-se também um erro cometido por muitos: a confusão entre a expressão «a gente» e o nome «agente», que designa uma pessoa que age:
. A gente vai ao cinema.
. O agente da polícia prendeu o ladrão.


Teste para distinguir complemento indireto de complemento oblíquo


1. O complemento indireto não pode ser realizado pela sequência a + pronome pessoal tónico:
▪ * Entregou o livro a ele. (frase agramatical)

2. O complemento oblíquo admite a substituição por a + pronome pessoal tónico:
O Ernesto recorreu aos amigos. → O Ernesto recorreu a eles.
O padre obrigou o João a uma confissão. → O padre obrigou o João a isso.
O Eusébio cedeu ao sentimento. → O Eusébio cedeu a ele / a isso.

"Abaixo" ou "a baixo"?


            Ambas as formas estão corretas, pois existem na língua portuguesa. O que varia é o seu significado e uso.
            A expressão "a baixo" é uma locução adverbial que designa um ponto de chegada inferior, significando «para baixo» (nessa direção) e opondo-se a «do alto» ou «de cima».:
. O homem olhou a atriz de cima a baixo.
. Vamos alterar este projeto de cima a baixo.

 Por sua vez, a expressão "abaixo" pode enquadrar-se em duas classes de palavras:
1.º) Enquanto advérbio de lugar significa «em sentido descendente»:
. A minha tia caiu pelas escadas abaixo. (sentido descendente)
. As vendas da nova camisola do Sporting estão abaixo do que Varandas deseja. (nível inferior ao desejado)
. O meu cão dorme no andar abaixo do meu. (em baixo)
. O teu encarregado de educação tem de assinar a autorização abaixo. (na parte inferior da folha)
. O peso da Miquelina situa-se abaixo da média. (nível inferior)
2.º) Enquanto interjeição, significa «reprovação», «protesto», «contestação»:
. Abaixo este governo de primos e primas!

Coisas do arco da velha

     Coisas do arco da velha são coisas inacreditáveis, absurdas, espantosas ou inverosímeis.
     A expressão teve origem no Antigo Testamento: arco da velha é o arco-íris, ou arco-celeste, e foi o sinal do tacto que Deus fez com Noé: "Estando arco nas nuvens, Eu ao vê-lo recordar-ME-ei da aliança eterna concluída entre Deus e todos os seres vivos de toda a espécie que há na terra." (Génesis, ):16).
     Arco da velha é uma simplificação de Arco da Lei Velha, uma referência à Lei Divina.
     Há também várias histórias populares que defendem outra origem da expressão, como a da existência de uma velha no arco-íris, sendo a curvatura do arco a curvatura das costas provocada pela velhice, ou devido a uma das propriedades mágicas do arco-íris: beber a água num lugar e enviá-la para outro, pelo que a velha poderá ter vindo do italiano "bere"( (= beber).

Atentados e absurdos no ensino do Português: tudo em família

As sucessivas e absurdas alterações no ensino do Português, todas elas marcadas pelo oportunismo, pela ausência de debate, pela ignorância e pela arrogância intelectual, têm-no lesado profundamente.

     A ler com muita atenção este texto de Maria do Carmo Vieira, o qual exemplifica com grande clareza muitas das opções que têm sido tomadas ao longo das últimas décadas no que toca a programas e curricula.
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