domingo, 10 de janeiro de 2021
Estoicismo
Epicurismo
quinta-feira, 31 de dezembro de 2020
O método científico
sábado, 26 de dezembro de 2020
segunda-feira, 21 de dezembro de 2020
domingo, 13 de dezembro de 2020
Análise dos capítulo X a XIV de A Guerra dos Tronos
Ned, nesta fase, já percebeu que Robert não é mais o homem que
conhecia, e as suas interações na estrada do rei destacam algumas das
diferenças entre eles. A decadência e a moralidade frouxa de Robert fazem
sobressair o comportamento sério de Ned e a adesão rigorosa a princípios como a
lealdade e a justiça. Enquanto Robert ri rápido e aproveita os prazeres da
vida, Ned é severo e reservado. O traço mais importante, porém, tem a ver com o
facto de os dois homens terem conceitos de justiça drasticamente diferentes.
Robert parece ser mais tolerante em relação ao desejo de Jorah de retornar a
Westeros, mas o compromisso de Ned com o dever e a honra não o deixará perdoar
o homem. No entanto, Ned pode perdoar os filhos Targaryen pelos crimes da sua
família, enquanto Robert prefere perseguir e matar o último membro da família dos
seus inimigos. Por outras palavras, Robert julga os indivíduos pelas ações da
sua casa e família mais amplas e, portanto, um Mormont merece perdão por um
crime e um Targaryen merece a morte, mesmo que ele ou ela não tenham feito nada
de errado. Ned julga os indivíduos pelas suas próprias ações. Embora Robert e
Ned tenham sido criados juntos, os dois homens atuam como contrapesos um do
outro.
A observação de Tyrion sobre a aversão das pessoas a
enfrentar verdades difíceis aplica-se a outras personagens, nomeadamente as
principais, além de Jon Snow. Robert não quer admitir que Ned tenha motivos
válidos para desconfiar dos Lannister e, por isso, opta por não ver os sinais
claros da sua traição. Ned, entretanto, tem dificuldade em admitir que Robert
se tornou um governante injusto, embora isso seja claro para si. Tyrion, por
outro lado, é extremamente honesto consigo mesmo e com os outros, confrontando as
suas verdades difíceis e apontando as homónimas com as quais vê os outros lutar.
Através dos seus olhos verdes e pretos, Tyrion vê as coisas como elas são, seja
literalmente dando uma bofetada em Joff ou lembrando a Jon que é um recruta
bastardo entre os fora-da-lei. Essa clareza de visão serve-lhe bem, e o romance
sugere que talvez seja a sua maior virtude. Isso permite-lhe conhecer os seus pontos
fracos, mas também os fortes, que ele pode usar em seu proveito. Também reitera
o motivo da visão: quando Tyrion pergunta a Jon o que vê quando olha para ele,
Jon responde que vê Tyrion Lannister, ao invés de dizer algo sobre ter visto um
anão ou um homem pequeno. Ao fazer isso, a conversa de Jon e Tyrion baseia-se
no vínculo simbólico entre a visão e a verdade que foi introduzido pela luneta
que Lysa Arryn enviou a Winterfell.
Ao lado da cama de Bran, Catelyn enfrenta o seu próprio conflito
entre amor e dever. Enquanto Ned escolheu o seu dever de servir a Robert ao
invés do amor pela sua família, Catelyn escolheu o amor por Bran, em detrimento
dos deveres como chefe da família Stark. Ela negligencia tudo para ficar com
Bran, permitindo que a administração do dia-a-dia da casa desmorone, até que
Robb se voluntaria para assumir essa responsabilidade. Apenas o atentado contra
a vida de Bran a traz de volta aos seus sentidos, levando-a a deixar Bran e
navegar para Porto Real para avisar o marido. Significativamente, são as mãos
de Catelyn que são feridas quando ela luta contra o assassino que tenta matar
Bran. As mãos são um símbolo do dever no romance, exemplificado no papel de Ned
como Mão do Rei. O principal dever de Catelyn, do seu ponto de vista, é
proteger a família, e as suas mãos feridas parecem fazê-la perceber que não
estava a cumprir esse dever. A partir daí, a sua prioridade muda e, como Ned,
resolve cumprir o seu dever, por mais incómodo que seja. Quando ela parte para
Porto Real, diz a Robb que abandona Bran para proteger a família.
Análise de A Guerra dos Tronos
Resumo do capítulo XIV de A Guerra dos Tronos
Resumo do capítulo XIII de A Guerra dos Tronos
Resumo do capítulo XII de A Guerra dos Tronos
Resumo do capítulo XI de A Guerra dos Tronos
Resumo do capítulo X de A Guerra dos Tronos
quinta-feira, 10 de dezembro de 2020
A nostalgia da infância em Fernando Pessoa
A nostalgia da infância
. A nostalgia
constitui um conceito diferente da saudade (por exemplo, a saudade de alguém
ausente). O sentimento da nostalgia é a lembrança de uma felicidade longínqua e
aparentemente perdida, como se o passado fosse, por natureza, melhor do que o
presente.
. Por
outro lado, a infância é um motivo literário muito antigo e diretamente
associado a valores como a pureza do ser humano e a inocência que o estado
adulto já não permite. Encarada como uma espécie de paraíso perdido, a
infância provoca muitas vezes atitudes nostálgicas.
. A
decetividade que caracteriza o presente do eu lírico leva-o frequentemente
a manifestar-se nostálgico em relação à infância.
. O
tempo da infância, porém, é idealizado, sendo apresentado como um símbolo
da inconsciência, ingenuidade, inocência e felicidade (ou seja, uma época
dourada que se associa à ausência da dor de pensar) e do sonho
(isto é, do refúgio num mundo de fantasia que permite ao eu libertar-se
das amarras da realidade).
.
Insatisfeito com o presente e incapaz de o viver em plenitude, o eu
poético refugia-se numa infância idealizada, regra geral, desprovida de
experiência biográfica e submetida a um processo de intelectualização. De
facto, trata-se de uma nostalgia imaginada, intelectualmente trabalhada e
literariamente sentida.
. O
próprio eu tem consciência de que a infância é uma época idealizada,
visto que, na realidade, nem enquanto era criança ele parece ter sido feliz: “E
toda aquela infância / Que não tive me vem, / Numa onda de alegria / Que não
foi de ninguém” (poema “Quando as crianças brincam”).
.
Deste modo, a evocação da infância não passa de uma tentativa infrutífera de
evasão da melancolia do presente através de um passado que, porque
concebido apenas ilusoriamente como um paraíso perdido, acaba por não
permitir ao eu libertar-se da tristeza, do tédio e da angústia que o
atormentam.
. Para
Pessoa, a infância é o passado irremediavelmente perdido, o tempo
longínquo em que era feliz sem saber que o era, o tempo em que apenas
sentia, inconsciente daquilo que sentia, sem pensar. Era o tempo em que ainda
não procurava conhecer-se e, por isso, era um ser uno, não fragmentado em
diversos «eus».
. A
passagem da infância à idade adulta não é um processo evolutivo e
tranquilamente natural; pelo contrário, é um processo de rutura, de corte, de
morte: “A criança que fui vive ou morreu?”. Frequentemente, sente-se habitado
por «outro», diferente da criança que foi: “Sou outro? Veio um outro em mim
viver?”.
.
Assim, o passado e o presente opõem-se, não se complementam. O
passado – da infância – é alegria, felicidade inconsciente, enquanto o presente
é nostalgia, ânsia, desconhecimento de si mesmo e do futuro.
Sonho e realidade em Fernando Pessoa
Sonho e realidade
. Quando
falamos de sonho, podemos referir-nos a duas dimensões. Por um lado,
sonho, em sentido literal, refere-se à vivência, por alguém adormecido, “de
recordações ou de traumas que nesse mundo (chamado onírico) se manifestam, às
vezes de forma aparentemente incoerente ou até absurda.” Por outro lado, “o
sonho pode referir-se também ao chamado «sonhar acordado»”, ou seja, aos
projetos orientados para um futuro que há de vir. Nesse futuro, o que foi
sonhado (isto é, desejado) vem a realizar-se ou não.
. Pessoa
faz contrastar o sonho e a realidade. O eu lírico não encontra a
felicidade na realidade do quotidiano, porque é dominado pela frustração,
pelo vazio ou pelo tédio existencial. Então, idealiza o sonho,
onde acredita conseguir realizar-se e atingir a plenitude, a felicidade ou o
equilíbrio.
. Na
sua poesia, o mundo do sonho (o espaço onírico) não funciona como forma de
evasão ou escape, mas como um lugar onde o eu acredita que pode
recuperar uma experiência perdida (a da infância) ou ser o que não se é no
mundo “real”.
. O eu
sonhado não é uma outra pessoa; é, sim, uma outra faceta do eu lírico:
“Não sei se é sonho, se realidade”. O sujeito sente-se, pois, dividido entre o
que é “realmente” e o que desejava ser. Está simultaneamente presente nestes
dois mundos: nós somos, de facto, a realidade e sonho que sonhamos; ou, recorrendo
às palavras de Shakespeare, “Nós sonhos a matéria de que são feitos os sonhos”.
. Se,
na situação anterior, não há uma distinção clara entre o real e o onírico,
noutros caso o eu lírico crê que ele próprio se encontra na fronteira
entre estes dois mundos: “Entre mim e o que em mim / É o que eu me suponho /
[…] corre um rio sem fim”.
. No
sonho, o eu lírico começa por se imaginar outro, um eu
idealizado. Esse eu sonhado pode viver num outro espaço (uma ilha, um
país, um palácio) onde, num primeiro momento, tudo parece perfeito e ele acredita
ter encontrado a felicidade e a harmonia: “Ali, ali [na ilha do sonho] / A vida
é jovem e o amor sorri.”. No entanto, num segundo momento, após uma reflexão
mais atenta, o sujeito lírico constata que esse estado de perfeição é ilusório
e que o sonho não é solução para os problemas existenciais que o minam: “Ah,
nessa terra também, também / O mal não cessa, não dura o bem”.
. Assim
sendo, o sonho não resolve as insatisfações e as ansiedades do eu
lírico. Isso sucede porque o sonho é uma ilusão ou porque não é
resposta para os problemas que se geraram: o tédio, o vazio existencial, as
saudades da infância perdida.
. Por
outro lado, o sonho pode ser, muitas vezes, uma forma de evasão para um eu
poético que se sente prisioneiro no interior de si mesmo: “Quem me amarrou a
ser eu / Fez-me uma grande partida. // Debaixo deste amplo céu, / Nem tenho
vinda nem ida”.
. O
poeta “passou a sua vida” a pensar e a sonhar. De facto, autoanalisa-se,
recorrendo permanentemente ao pensamento, tentou iludir a vida através dos
sonhos, mas, porque se entregou intensamente ao pensamento e se virou para o
sonho, acabou por se separar do mundo e não atingiu a felicidade.
. Em
“Não sei se é sonho, se realidade”, o poeta manifesta a esperança de alcançar a
felicidade através do sonho, no entanto acaba por duvidar da possibilidade de
viver tal forma de felicidade. E conclui mesmo que é impossível vivenciar a
felicidade no sonho, pelo caráter efémero do bem e permanente do mal, o que
gera um grande desânimo e desilusão.
. No
final, o eu poético conclui que não é no sonho, de facto, que
podemos encontrar a felicidade, mas no íntimo, no interior de cada ser
humano.
. No
poema “Entre o sono e o sonho”, o eu poético apresenta-se dividido
entre aquilo que é, na realidade, e o que desejava ser no sonho.
O real é pautado pela inatividade e pela inércia, enquanto o mundo onírico se
caracteriza pela idealização, pelo que o eu desejaria ser. O «rio»
constitui, no poema, a fronteira que separa a realidade do sonho; enquanto
aquele flui, o eu está parado. Sempre que o eu se tenta aproximar
da realidade, o rio já passou, pelo que nunca é possível aproximar o eu
real do eu sonhado.