Português: Análise dos capítulo X a XIV de A Guerra dos Tronos

domingo, 13 de dezembro de 2020

Análise dos capítulo X a XIV de A Guerra dos Tronos

 
Os presentes de casamento que Daenerys recebe revelam um pouco sobre cada uma das figuras que lhos ofereceram. Viserys oferta os seus escravos fornecidos por Illyrio e gaba-se de que nãos e trata de servos comuns, revelando, assim, todo o seu orgulho e egoísmo, apesar da sua incapacidade de comprar um presente para a irmã que ele vendeu para se casar. Jorah humildemente apresenta uma pilha de livros sobre a história dos Sete Reinos, escritos na Língua Comum. As obras refletem o seu desejo, compartilhado com Daenerys, de voltar para casa. Illyrio oferece-lhe três ovos de dragão fossilizados. Daenerys sabe que são muito caros, mas também tem consciência de que Illyrio poderia pagá-los facilmente. Os ovos são as formas imaturas e não nascidas dos dragões, o símbolo (ou “sigilo” na linguagem do romance) da família Targaryen. Ao oferecê-los a um Targaryen imaturo que acabou de se casar com um homem poderoso, Illyrio pode querer significar que espera grandes coisas de Daenerys. Ela tornar-se-á um dragão um dia. O último presente que lhe é dado, da parte de Dorog, é um cavalo de prata. Entre a tribo de cavalos Dothraki, a bela jovem fêmea pode ser um sinal de respeito ou uma ferramenta necessária para cavalgar com a tribo.

Ned, nesta fase, já percebeu que Robert não é mais o homem que conhecia, e as suas interações na estrada do rei destacam algumas das diferenças entre eles. A decadência e a moralidade frouxa de Robert fazem sobressair o comportamento sério de Ned e a adesão rigorosa a princípios como a lealdade e a justiça. Enquanto Robert ri rápido e aproveita os prazeres da vida, Ned é severo e reservado. O traço mais importante, porém, tem a ver com o facto de os dois homens terem conceitos de justiça drasticamente diferentes. Robert parece ser mais tolerante em relação ao desejo de Jorah de retornar a Westeros, mas o compromisso de Ned com o dever e a honra não o deixará perdoar o homem. No entanto, Ned pode perdoar os filhos Targaryen pelos crimes da sua família, enquanto Robert prefere perseguir e matar o último membro da família dos seus inimigos. Por outras palavras, Robert julga os indivíduos pelas ações da sua casa e família mais amplas e, portanto, um Mormont merece perdão por um crime e um Targaryen merece a morte, mesmo que ele ou ela não tenham feito nada de errado. Ned julga os indivíduos pelas suas próprias ações. Embora Robert e Ned tenham sido criados juntos, os dois homens atuam como contrapesos um do outro.

A observação de Tyrion sobre a aversão das pessoas a enfrentar verdades difíceis aplica-se a outras personagens, nomeadamente as principais, além de Jon Snow. Robert não quer admitir que Ned tenha motivos válidos para desconfiar dos Lannister e, por isso, opta por não ver os sinais claros da sua traição. Ned, entretanto, tem dificuldade em admitir que Robert se tornou um governante injusto, embora isso seja claro para si. Tyrion, por outro lado, é extremamente honesto consigo mesmo e com os outros, confrontando as suas verdades difíceis e apontando as homónimas com as quais vê os outros lutar. Através dos seus olhos verdes e pretos, Tyrion vê as coisas como elas são, seja literalmente dando uma bofetada em Joff ou lembrando a Jon que é um recruta bastardo entre os fora-da-lei. Essa clareza de visão serve-lhe bem, e o romance sugere que talvez seja a sua maior virtude. Isso permite-lhe conhecer os seus pontos fracos, mas também os fortes, que ele pode usar em seu proveito. Também reitera o motivo da visão: quando Tyrion pergunta a Jon o que vê quando olha para ele, Jon responde que vê Tyrion Lannister, ao invés de dizer algo sobre ter visto um anão ou um homem pequeno. Ao fazer isso, a conversa de Jon e Tyrion baseia-se no vínculo simbólico entre a visão e a verdade que foi introduzido pela luneta que Lysa Arryn enviou a Winterfell.

Ao lado da cama de Bran, Catelyn enfrenta o seu próprio conflito entre amor e dever. Enquanto Ned escolheu o seu dever de servir a Robert ao invés do amor pela sua família, Catelyn escolheu o amor por Bran, em detrimento dos deveres como chefe da família Stark. Ela negligencia tudo para ficar com Bran, permitindo que a administração do dia-a-dia da casa desmorone, até que Robb se voluntaria para assumir essa responsabilidade. Apenas o atentado contra a vida de Bran a traz de volta aos seus sentidos, levando-a a deixar Bran e navegar para Porto Real para avisar o marido. Significativamente, são as mãos de Catelyn que são feridas quando ela luta contra o assassino que tenta matar Bran. As mãos são um símbolo do dever no romance, exemplificado no papel de Ned como Mão do Rei. O principal dever de Catelyn, do seu ponto de vista, é proteger a família, e as suas mãos feridas parecem fazê-la perceber que não estava a cumprir esse dever. A partir daí, a sua prioridade muda e, como Ned, resolve cumprir o seu dever, por mais incómodo que seja. Quando ela parte para Porto Real, diz a Robb que abandona Bran para proteger a família.

 

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