sábado, 18 de maio de 2024
quinta-feira, 16 de maio de 2024
Personagens da tribo Osage
Anna (Wah-hrah-lum-pah) Marrom
Anna é
a irmã mais velha de Mollie, desaparecida em 21 de maio de 1921. Alegre e
animada, a jovem é a filha favorita da mãe. Gosta de beber álcool e há rumores
de que estaria grávida no momento do seu desaparecimento.
Minnie (Wah-sha-ela) Smith
Minnie
é a quarta irmã de Mollie. Apesar de se tratar de uma pessoa bastante jovem e
de gozar aparentemente de boa saúde, morre súbita e celeremente de uma doença
misteriosa em 1918. Embora as circunstâncias que rodeiam o seu passamento sejam
suspeitas, ninguém é acusado de a assassinar. Era casada com Bill Smith.
Rita (Me-se-moie) Smith
Rita é
outra das irmãs de Mollie. Casa-se com William Smith, um homem branco, após a
morte de Minnie. O casal acaba por ser assassinado quando a casa que ambos
habitam explode em 1923. Estamos na presença de uma mulher inteligente e
apaixonada pelo marido, não obstante a violência doméstica de que é vítima,
dado que ele a agride ocasionalmente
Lizzie
Lizzie
é a mãe de Anna, Mollie, Minnie e Rita. Suspeita-se que a sua morte prematura
em julho de 1921 tenha sido causada por envenenamento.
Ne-kah-e-se-y
Ne-kah-e-se-y
é o pai de Mollie. O homem prefere usar o seu nome Osage, mas os comerciantes locais
chamam-no habitualmente Jimmy e é assim que é conhecido localmente. A sua morte
ocorreu num tempo anterior ao retratado no livro de David Graan, ainda assim a
referência à sua pessoa é importante, visto que se tratava de um membro muito
importante e influente no contexto da tribo, conhecido pela seu caráter
atencioso e inteligência.
James Big Heart
Big
Heart é um importante chefe osage multilíngue. No início da década de 1900, adiara
com sucesso o esquema de distribuição do governo dos EUA e depois negociou
termos que se revelaram muito mais favoráveis aos membros tribais. É tratado
por alguns como “Osage Moses”.
George Big Heart
George
é sobrinho de James Bigheart. Enquanto estava no hospital, em junho de 1923,
compartilhou evidências cruciais acerca dos assassinatos com W. W. Vaughan
antes de morrer por suspeita de envenenamento.
John Palmer
John é
um jovem advogado que auxilia James Bigheart na negociação de verbas com o
governo dos EUA. Filho de uma mulher Sioux e de um comerciante branco, Palmer é
criado por uma família Osage e casa-se com uma mulher da tribo.
John Flower
John
Flower é o nativo Osage que descobre petróleo nas terras que pertencem à tribo,
mais de uma década antes do acordo de regulação negociado com o governo dos
EUA.
Charles Whitehorn
Charles
desapareceu em 14 de maio de 1921, uma semana antes de o mesmo suceder com Anna,
mais tarde descoberta assassinada. David Grann investiga o crime e sugere que a
viúva do homem, Hattie, poderá estar envolvida no seu desaparecimento.
Henry Roan
Henry é
um homem de 40 anos, casado e com dois filhos, assassinado em 1923. Desposou
Mollie na juventude numa cerimónia tradicional dos Osage, facto que ambos
esconderam quando atingiram o estado de adultez.
Rose Osage
Rose,
como o nome indicia, é uma mulher nativa que terá confessado o assassinato de
Anna por tentar seduzir o seu namorado, Joe Allen. Mais tarde, foi inocentada das
suspeitas.
William Stepson
Pais de
dois filhos, foi assassinado por uma injeção de veneno em fevereiro de 1922.
Bacon Rind
Bacon
foi um chefe Osage na década de 1920 que lamentou a ironia de que os colonos
brancos terem expulsado os Osage para as terras aparentemente mais pobres e
indesejadas dos emergentes Estados Unidos, porém terem ficado extremamente
interessados nelas quando perceberam o quão valiosas eram.
Katherine Cole
Estamos
na presença de uma mulher Osage e ex-eposa de Kelsie Morrison. Ela concorda em
testemunhar pela acusação e quase morre em virtude de tal. Felizmente para si,
o assassino decide não disparar sobre ela no último segundo.
John Cobb
John é
o segundo marido de Mollie, depois de terminado o enlace com Ernest. Parte
Creek e parte branco, ele e Mollie mantiveram um relacionamento amoroso que
redundou em casamento em 1928.
Kathryn Red Corn
Kathryn
é a diretora do Museu da Nação Osage. Trata-se de uma mulher mais velha e culta,
cuja família recebeu um headright em 1906.
Margie Burkhart
Margie
é neta de Mollie e Ernest e está casada com um membro da Creek Seminole Nation.
Desempenhou um papel de uma personagem não dançante no balé que representou o
Reinado do Terror.
Martha Vaughan
Martha
é neta de W. W. Vaughan e auxiliou o autor da obra a conhecer detalhes da vida
e da morte do seu avô.
Melville Vaughan
Melville
é primo de Martha Vaughan. Tem um conhecimento apreciável sobre a vida do avô,
que acaba por partilhar com David Graan.
Hlu-ah-to-me
Hlu é um
membro do julgamento Osage, que morre de tuberculose quando o seu tutor lhe
nega acesso a cuidados médicos.
Eves Tall Chief
Eves
morre também em circunstâncias misteriosas, tendo sido a bebida apontada como a
causa da sua morte, o que é posto em causa por múltiplas testemunhas, que
afirmaram que o homem não bebia.
Maria Elkins
Maria é
uma figura trágica, como tantas outras, neste caso por ser torturada pelo
marido, tortura a que, no entanto, consegue sobreviver.
Sybil Bolton
Sybil é
uma bela jovem que morre com um ferimento de bala nopeito.
Marvin Stepson
Marvin
é o neto de William Stepson, que compartilha igualmente informações com Grann.
Mary Jo Webb
Mary é
uma professora aposentada, ansiosa para saber o que aconteceu com o seu avô,
Paul Peace, falecido em 1927, por isso pede a Grann que investigue o caso.
Wah'Kon-Tah
Wah é a
força vital que envolve tudo e todos no sistema de crenças Osage.
domingo, 12 de maio de 2024
quinta-feira, 9 de maio de 2024
Análise do poema "A violência", de Bruna Beber
O «eu»
poético abre o poema exprimindo o seu desejo insistente e constante de
expressar o seu amor profundo pelo «tu»: “vontade constante / de dizer te quero
tanto”. Estamos na presença da expressão de um sentimento profundo e intenso.
Por vezes,
o sujeito poético distrai-se dessa vontade, todavia o contacto físico da pessoa
amada, o seu abraço, trazem-no de volta ao desejo inicial, evidenciando, assim,
a força e o poder desse contacto íntimo. Não podemos descartar a sensação de
segurança e carinho que um abraço transporta para a pessoa que o recebe.
Por
outro lado, esse gesto de afeto tem um enorme efeito no «eu» poético,
configurando um momento de transcendência. De facto, a presença física e o
contacto com a pessoa amada são tão importantes e poderosos que o mundo desaparece,
nada mais importa. O facto de, nessa ocasião, “o mundo não tem [ter] membros
superiores” sugere que há um desapego desse mundo físico, que, sem eles, não
pode intervir ou interferir.
É,
então, que se atinge o clímax da relação entre o «eu» e o «tu», concretamente
através do beijo: “e então me beija.” É o ápice da união física e emocional
entre ambos, o momento supremo. Segue-se a alusão a uma possibilidade ou
hipótese: o «eu», se quisesse, poderia cometer os atos mais violentos (“matar”)
sob a influência do amor intenso. A antítese entre o afeto expresso nos versos
anteriores e estes dois últimos pode traduzir, na esteira, por exemplo, de
Petrarca ou Camões (“Amor é um fogo que arde sem se ver”), os efeitos
contraditórios do amor, ou ser o símbolo de um amor tão intenso que pode
destruir.
Enigmaticamente,
o sujeito declara-se possuidor de muito ar, sugerindo talvez ima sensação de
plenitude, o resultado da intensidade emocional experimentada. Subitamente, ele
sente “na ponta dos dedos / a coragem de dizê-la”, ou seja, encontra coragem
para, finalmente, expressar a vontade manifestada inicialmente, o seu amor,
através da “ponta dos dedos” (da escrita?).
O
título – “A violência” – parece, pois, apontar para violência, a
intensidade, do sentimento amoroso, bem como para a luta interna do «eu»
travada entre a vontade de expressar sentimentos e emoções intensos e o receio
de o fazer, isto é, para o impacto que aqueles / aquelas têm em si, tanto
física como emocionalmente. O amor, recorrendo novamente a Camões, é um
sentimento intenso e contraditório, mas, ainda assim, desejado pelos corações
humanos.
quarta-feira, 8 de maio de 2024
Contexto de O Fantasma de Canterville
A ação
de O Fantasma de Canterville decorre em plena época vitoriana. Nesse
tempo, o império britânico continuava a usufruir de grande poder, porém, em
contramão, o poder tradicional da monarquia em Inglaterra estava em contração,
perante a ascensão do poder parlamentar, cujos representantes eram eleitos
democraticamente.
Durante
o reinado da rainha Vitória, a Inglaterra transitou para uma monarquia
constitucional, um sistema em que a monarquia operava sob mandatos estabelecidos
por uma constituição. A partir de 1832, o Parlamento inglês começou a aprovar
uma série de leis de reforma que, entre outras coisas, conferiam direito de
voto a um número crescente de cidadãos, de tal modo que, na época em que O Fantasma
de Canterville foi publicado, meio século depois, o número de homens
britânicos que podiam votar tinha passado de quinhentos mil para mais de cinco
milhões. Quanto às mulheres, só teriam direito de voto a partir de 1918 e
apenas se fossem proprietárias de imóveis com mais de trinta anos. Com esta alteração
na estrutura do poder, proporcionado ao homem comum, e a subsequente ascensão
da classe média, a aristocracia – juntamente com o seu poder e riqueza –
começou a diminuir. É neste momento social e político crucial que a família
norte-americana Otis, no conto, decide comprar uma propriedade que pertencera
durante seculos a aristocratas.
Convém
não esquecer que a obra foi publicada e provavelmente ambientada por volta de
1887. A ação desenrola-se em Canterville Chase, uma antiga mansão fictícia
algures na Inglaterra, anteriormente pertença da família Canterville. A mansão
localiza-se na zona rural do país. A propriedade contém um grande parque, no
qual o Sr. Otis permite que grupos de ciganos acampem ocasionalmente e, como
Sir Simon refere a Virgínia, possui igualmente uma floresta de pinheiros e um
cemitério de família. A certa altura, quando Virgínia desaparece, o Sr. Otis e
o jovem namorado da rapariga tem de cavalgar quilómetros para chegar à estação
de caminho de ferro, o que evidencia a distância a que a propriedade distava de
qualquer vilarejo.
Por
outro lado, Canterville Chase tem pelo menos trezentos anos, conclusão a que se
pode chegar a partir da informação de Lady Eleanore Canterville foi
assassinada em 1575 e que a casa é assombrada desde 1584. Tal como sucede com
várias outras propriedades ancestrais em Inglaterra, Canterville Chase possui
armaduras antigas, vitrais com brasões de família e uma sala secreta com um esqueleto.
terça-feira, 7 de maio de 2024
Caracterização de William Hale
William
Hale é um criador de gado que está por trás de muitos dos assassinatos ocorridos
no seio dos Osage. Trata-se de um homem que evolui da pobreza para a riqueza e
que, com o seu rosto gentil, consegue ganhar a confiança da tribo, no entanto,
como a investigação liderada por White demonstrará, dirige uma rede criminosa
dedicada a enganar, roubar e assassinar o povo nativo. Por causa destes crimes,
acaba por ser julgado e condenado por assassínio, passando duas décadas preso.
Aparentemente,
William Hale encarna os ideais americanos tradicionais. De facto, através do
trabalho árduo e da sua determinação, sai da pobreza até chegar a uma posição
de destaque na região. No início da sua carreira, sofre um revés que o poderia
ter levado a desistir (o fracasso do primeiro empreendimento), porém a sua
determinação e persistência conduzem-no ao sucesso. Ascende socialmente, casa
com uma professora, de quem uma filha que lhe é profundamente devota. Por outro
lado, é bastante generoso com a sua família, ajudando, por exemplo, os
sobrinhos, Ernest e Bryan, e apoiando, aparentemente, os Osage. Por exemplo,
quando Anna Brown é assassinada, promete ajudar Mollie a resolver o crime e
chega mesmo a contratar detetives privados para o investigarem.
Contudo,
tudo isto não passa de uma monumental fachada para encobrir a sua atividade
criminosa, no sentido de usufruir da riqueza dos Osage, através do mero roubo,
da manipulação e do assassinato, em última análise. Hale faz acordos com um
contrabandista local para envenenar bebidas alcoólicas, uma das formas
preferenciais para assassinar pessoas. Anna Brown, com quem poderia ter tido um
relacionamento amoroso, foi morta por ordem sua. Assim sendo, a promessa feita
a Mollie e a contratação de detetives privados para investigar esse crime
evidenciam todo o seu cinismo e maquiavelismo. Além disso, tenta encontrar
repetidamente alguém disposto a fazer explodir a casa de Rita e Bill Smith.
Outro exemplo: Henry Roan crê que Hale é o seu melhor amigo, porém este planeja
cuidadosamente a sua morte, para, tal como sucede com os outros assassinatos,
lucrar com ela. Todos estas casos demonstram que é um homem violento e cruel,
em suma, um indivíduo mau. A confirmar estes dados, já depois de preso, Hale
escreve uma carta aos Osage, na qual se afirma grande amigo da tribo, uma mentira
macabra.
Ocasionalmente,
William Hale é chamado «Rei» do Condado de Osage, um epíteto que releva outro
traço do seu caráter: não tem qualquer compromisso real com os princípios da
justiça e da democracia. Quando é preso, mostra-se arrogante e confiante na sua
não condenação. Graças à sua vastíssima rede de influência pessoal, está
convicto de que não será condenado. Aparentemente, tem razão, pois o seu
primeiro julgamento resulta num impasse. O seu longo braço chega até ao Senado
dos Estados Unidos: o senador William Pine, do estado do Oklahoma, pressiona o Bureau
of Investigation para despedir White e a sua equipa, sob a acusação falsa
de terem torturados os réus durante os interrogatórios. Por tudo isto, a
surpresa de Hale é enorme quando é considerado culpado e condenado, pois os
jurados ficam convencidos pelo depoimento de Ernest. Porém, isto não significa
que a sua influência tenha terminado: ele pode ter sido punido por todos os
seus crimes, porém os Osage continuam a sentir na pele os efeitos nefastos e
persistentes das suas ações. De facto, no museu tribal, a figura de Hale foi
recortada de uma imagem da época. Com efeito, tinha ficado no centro da mesma e
foi removido porque, para os nativos americanos, se trata da encarnação do Mal.
domingo, 5 de maio de 2024
sábado, 4 de maio de 2024
quinta-feira, 2 de maio de 2024
Enredo / Resumo da ação de O Fantasma dos Canterville
Hirsham
B. Otis, um ministro americano, muda-se com a família para Inglaterra, onde acaba
de comprar uma velha propriedade – Canterville Chase – que pertencia há séculos
aos Canterville, uma velha família inglesa aristocrática. Porém, a aquisição
não está isenta de problemas, visto que o próprio Lorde Canterville adverte o
Sr. Otis para não a comprar, afirmando que é assombrada pelo fantasma do seu
antepassado, Sir Simon, desde o século XVI. No entanto, o americano, que diz
vir de um país moderno demais para acreditar em fantasmas, não crê na história
e declara que esta não passa de uma superstição europeia.
Algumas
semanas depois, em julho, o Sr. Otis e a família, composta pela esposa – a Sr.
Otis – e pelos quatro filhos – Washington, Virgínia e os gémeos – mudam-se para
a casa. A viagem entre a estação de caminho de ferro e a propriedade é demorada
e, à medida que se aproximam dela, acontecem alguns fenómenos estranhos,
levando a que aquela bela noite de verão se torne desagradável, com o céu
coberto de nuvens e algumas gotas grossas de chuva a caírem. À chegada, a
família é recebida pela Sr. Umney, a governanta. Na biblioteca, deparam com uma
mancha de sangue no chão, junto à lareira. Questionada, a governanta informa-os
que a mancha não pode ser removida e que se tornou uma atração turística, pois
está ali desde que Sir Simon assassinou a esposa três séculos atrás, mais
concretamente desde 1575. O marido assassino desapareceu pouco tempo depois do
crime e, embora o seu corpo nunca tenha sido encontrado, o seu fantasma
assombra Canterville Chase desde essa época.
A
família reage ao relato da Sr. Umney com a mesma descrença que o Sr. Otis
evidenciou inicialmente quando Lorde Canterville lhe falou pela primeira vez no
espectro. Washington, o filho mais velho do casal, não se impressiona com a
mancha e rapidamente a elimina, usando produtos de limpeza modernos.
No dia
seguinte, contudo, a mancha reaparece, facto que se repete todas as manhãs,
apesar da sua diligente e diária remoção por parte de Washington.
Estranhamente, a mancha muda constantemente de cor. Assim, a família começa a
acreditar na existência do fantasma, mas sem nunca revelar medo. Certa noite, o
espectro aparece: o Sr. Otis ouve-o passar diante do seu quarto e oferece-se-lhe
algo para lubrificar as correntes que lhe prendem os membros, o Lubrificante
Tammany Rising Sun, de modo a parar o rangido produzido por aquelas e permitir
que a família durma em paz. O fantasma, cuja aparição tinha como objetivo
assustar os Otis, fica indignado, quebra a garrafa do lubrificante e prossegue
o seu caminho, porém, logo de seguida, é abordado pelos gémeos, que lhe atiram
um travesseiro à cara. Sir Simon esconde-se no seu esconderijo secreto, uma
câmara escondida numa ala da casa, completamente chocado e escandalizado. Para
se acalmar, recorda o seu maior sucesso, a maneira como aterrorizou a família
Canterville e os seus amigos, deleitando-se com os sustos que infligiu a
diversos aristocratas ingleses do passado. Essa memória deixa-o mais confuso e
intrigado sobre a reação daquela família estrangeira e jura a si mesmo
vingar-se dela.
Durante
alguns dias, Sir Simon limita-se a fazer a mancha reaparecer todas as manhãs e
mantém-se afastado da família, enquanto magica uma forma de a assustar. Assim,
decide vestir a sua velha armadura e passear-se pela casa com ela. Uma noite,
espera que os Otis adormeçam, para pôr em prática o seu plano, no entanto acaba
por despertar a atenção da família quando deixa cair a armadura enquanto a
tenta vestir. Rapidamente, vê-se rodeado pelos Otis e os gémeos atacam-no com
as suas zarabatanas de brincar, enquanto o pai lhe aponta uma arma verdadeira, como
se o espectro fosse um simples ladrão. Sir Simon tenta ainda assustá-los com o
seu riso maléfico, contudo a Sr. Otis, pensando que está doente, surpreende-o
sugerindo-lhe que tome um remédio para a indigestão. Todas estas humilhações
deixam-no doente, pelo que ele se retira para o seu esconderijo e nele
permanece durante algum tempo, para recuperar a coragem e restaurar a saúde.
A
terceira tentativa de intimidação é a mais elaborada de todas: decide vestir o
seu traje mais assustador e oferecer um tratamento individual a cada membro da
família, à exceção de Virgínia, pois esta nunca o insultou e é naturalmente
gentil. No entanto, a família tem outros planos e, quando ele se prepara para
lançar o seu ataque, envergando o traje mais assustador, complementado por uma
velha adaga enferrujada, depara, no corredor, com um espectro aterrorizador
montado pelos Otis (um fantasma falso constituído por uma vassoura, um lençol e
um nabo oco), que o assusta terrivelmente. O pobre Sir Simon esconde-se
novamente e não ousa regressar para observar melhor esse outro fantasma antes
de amanhecer. Quando, finalmente, o faz, descobre que não passava de um mero
boneco criado pelos gémeos para troçar dele.
Diminuído
por mais uma humilhação, Sir Simon permanece no seu esconderijo e nem sequer se
preocupa em fazer reaparecer a mancha de sangue. Limita-se a sair de vez em
quando para continuar a assombrar a casa – e até começa a usar o óleo
lubrificante para impedir que as correntes façam barulho e, assim, os gémeos as
ouçam –, mas procura permanecer o mais discreto possível. No entanto, apesar
desta nova postura, não consegue evitar as partidas preparadas por membros da
família. Depois de escorregar num pedaço de manteiga deixado pelos gémeos,
magica uma nova vingança: veste um disfarce que não usa há setenta anos – Reckless
Rupert ou Headless Earl – e prepara-se para assustar a família, no
entanto os gémeos estão prontos para ele. Assim, mal entra no cómodo dos
miúdos, aciona uma armadilha que lhe prepararam e um balde de água colocado por
cima da porta cai sobre si. Humilhado pela quarta vez, foge de novo para o seu
quarto, simultaneamente assustado, derrotado e indignado. O impacto físico
deste último fracasso é tão grande e ele fica tão debilitado que não sai da
cama durante semanas e desiste de assustar a família para sempre.
Como
deixou de ver o fantasma, a família Otis acredita que desapareceu. Quando
recebem a visita da família do jovem Duque de Cheshire, pretendente à mão de
Virgínia, por quem está apaixonado, a qual já se cruzou com o espectro no passado,
este decide visá-lo, contudo está com tanto medo dos gémeos que decide nada
fazer.
Alguns
dias depois, Virgínia encontra o fantasma por acaso, que está tão desesperado
que não lhe presta atenção. A jovem fica tocada pelo seu sofrimento e procura
confortá-lo. Em simultâneo, repreende-o por ter assassinado a esposa e por ter
roubado as suas tintas para renovar a mancha no chão da biblioteca (o que explica
as mudanças de cor) e a impossibilitou de pintar o que desejava. Além disso,
garante-lhe que os gémeos regressarão à escola no outono, o que lhe trará algum
alívio. Sir Simon conta-lhe que os irmãos da sua esposa o puniram com a morte
por inanição e que foi amaldiçoado a errar sem descanso por séculos. Acrescenta
ainda que, de acordo com uma profecia, a sua maldição será quebrada pelas
lágrimas e orações de uma jovem por si. Além disso, declara que os habitantes
de Canterville Chase saberão que o seu martírio terá terminado quando a
amendoeira da propriedade, há muito tempo estéril, florescer de novo. Como
Virgínia é jovem e boa, Sir Simon acredita que ela será a rapariga predita pela
profecia e pergunta-lhe se o irá ajudar. Ela, corajosamente, aceita rezar pelo
descanso dele e ajudá-lo a escapar à maldição. Assim, segue o fantasma e os
dois desaparecem numa área secreta da casa.
Rapidamente,
a família nota a ausência de Virgínia, fica preocupada e procura-a pela casa e
pelo jardim. Como não a encontram, começam a desconfiar de um grupo de ciganos
que tinha, com o seu consentimento, acampar na propriedade. Decidem, então,
prosseguir as buscas no dia seguinte, porém, à meia-noite, quando todos estão
prestes a retirar-se para os seus aposentos, ouve-se um barulho terrível na
casa e Virgínia aparece por detrás de um painel no cimo da escada. A jovem está
exausta e transporta consigo um estranho cofre contendo as joias com que Sir
Simon a tinha presenteado. De seguida, conduz a família até a um esconderijo,
onde Sir Simon foi morto de fome pelos seus cunhados e onde o seu corpo se
encontra, acorrentado à parede com um prato de comida e um jarro de água
colocados à sua frente, mas fora do seu alcance. Esta foi a forma encontrada pelos
irmãos da sua esposa para vingarem o seu assassinato. Deste modo, o fantasma,
com a ajuda de Virgínia, parece ter encontrado a paz, o que é confirmado quando
os gémeos observam a amendoeira em flor.
A família
Canterville é notificada dos últimos acontecimentos e o corpo de Sir Simon é
sepultado no pequeno cemitério. O Sr. Otis manifesta a vontade de devolver as
joias dadas a Virgínia pelo fantasma, pois parecem ser muito valiosas, porém
Lorde Canterville recusa, considerando o extraordinário serviço que a jovem
prestou ao seu antepassado e que o fantasma fazia parte da venda / compra da
casa.
No final
da obra, ficamos a saber que, muito tempo depois, Virgínia se casou com o Duque
de Cheshire. Após a lua de mel, o casal presta homenagem a Sir Simon colocando
flores no seu túmulo. O marido pergunta-lhe o que fez para libertar o fantasma,
mas a jovem responde-lhe que prefere manter isso em segredo, decisão que o
Duque aceita, certo do amor da esposa. Quanto às joias, Virgínia usa-as quando
conhece a rainha de Inglaterra.
quarta-feira, 1 de maio de 2024
segunda-feira, 29 de abril de 2024
Resumo do capítulo I de "O Fantasma de Canterville"
Hirsham
B. Otis, um ministro norte-americano, acaba de comprar a propriedade
Canterville Chase a Lord Canterville, contrariando quem o avisa de que aquele local
está assombrado e que, portanto, está a cometer um erro. Lord Canterville
explica-lhe que a casa é o lar da família Canterville há várias gerações e
informa-o que está totalmente mobilada, mas inclui também um fantasma que a
assombra há três séculos, o que deixa os habitantes da propriedade muito desconfortáveis.
Atualmente, esta ato pode parecer uma simples transação comercial, porém, na
época, a aristocracia simplesmente não vendia as suas propriedades, o que
mostra estarmos a entrar numa era de algumas mudanças. O dono da casa
acrescenta que a duquesa viúva de Bolton teve um ataque de medo quando um esqueleto
colocou as suas mãos no ombro da senhora enquanto ela se vestia e explica que
outras pessoas viram o fantasma. No entanto, o Sr. Otis ri das crenças de Lord
Canterville, afirmando que a sua família vem dos Estados Unidos, um país
moderno onde ninguém acredita nessas coisas. Se existissem fantasmas, diz, o
assunto seria tratado nos jornais e ele saberia disso, além de serem colocados
em museus. Assim sendo, efetiva a compra da propriedade.
Em julho,
a família Otis (pai, mãe e quatro filhos) muda-se para Canterville Chase. Ao
aproximarem-se da casa, alguns fenómenos sucedem: o céu fica subitamente coberto
de nuvens, a atmosfera enche-se de uma quietude estranha, um grande bando de
gralhas passa silenciosamente sobre as suas cabeças e algumas gotas grossas de
chuva caem. Eles são recebidos à porta pela governanta, a Sr.ª Umney, que se
apresenta envergando um vestido preto.
Quando
a família se prepara para tomar chá na biblioteca da nova residência, a Sr.ª Otis
nota uma mancha vermelha no chão, junto à lareira. A Sr.ª Umney esclarece que
se trata de uma mancha de sangue está ali há três séculos e que é uma
verdadeira atração turística, já que marca o local onde Sir Simon de
Canterville assassinou a sua esposa em 1575, e é impossível eliminá-la. A
governanta acrescenta que o próprio Sir Simon desapareceu da casa em
circunstâncias misteriosas e desconhecidas nove anos depois do crime, nunca o
seu corpo tendo sido encontrado. O seu fantasma, porém, tem assombrado a
moradia desde então.
O filho
mais velho, Washington, não se mostra
impressionado com a narrativa da Sr.ª Umney e procura, de imediato, remover a
mancha de sangue do chão, usando o “Super Tira-nódoas Pinkerton e o Detergente
Paragon”. A nódoa centenária desaparece, todavia de imediato um relâmpago ilumina
a sala e a governanta desmaia. O casal dialoga sobre a forma como lidar com a
senhora desmaiada, sugerindo o Sr. Otis que eles deduzam do seu salário o tempo
despendido em desmaios, algo que ele crê ter como efeito acabar com esses
achaques. Quando desperta, a mulher avisa a família que coisas mas irão suceder,
porém os Otis tranquilizam-na e a mulher vai deitar-se.
domingo, 28 de abril de 2024
Análise do poema "Água suja", de Bruna Beber
O
título do poema aponta, desde logo, para algo desagradável. De facto, o grupo
nominal «água suja», nomeadamente o adjetivo, sugere sujidade, impureza,
poluição, uma imagem visualmente desagradável que constitui uma metáfora da
degradação da vida e/ou do ambiente. Note-se que a água, tradicionalmente,
representa a pureza ou a purificação. Basta pensar no simbolismo do batismo
cristão ou da lavagem de roupa ou outros objetos. No entanto, nesta composição
poética perde esse significado, essa essência.
Apesar
de se tratar de um poema muito breve (o título, seguido de quatro versos), a
sua interpretação está longe de ser «fácil». O primeiro verso aponta para o
futuro («Ano que vem»), mas com que sentido? Algo que vai acontecer ou que se
espera que aconteça? Ou estaremos perante a ideia do adiamento de algo? Ou,
ainda, sugerirá a esperança depositada em algo ou alguém?
O
segundo verso não é menos complexo: «fantasia de carne». O nome «fantasia»
aponta para a ideia de imaginação, ilusão, mas o que significa aqui o outro nome
(«carne)? Tratar-se-á de uma imagem representativa do corpo humano? Ou será da
realidade crua e visceral? Por outro lado, essa «fantasia de carne» é «de sol
temperada». Temperar carne ao sol significa curá-la ou secá-la ao sol. Se assim
for, estaremos na presença de uma alusão a uma tradição cultural, algo que não
é incomum na poesia de Bruna Beber. Porém, o último verso acrescenta outro
tempero: o ódio. Deste modo, temos uma fantasia de carne, temperada de sol com
ódio. Ou seja, há aqui um contraste entre o simbolismo do sol – vida, energia,
calor – e do ódio, um sentimento carregado de negatividade, porém, a estrela e
o sentimento surgem associados. Convém também ter presente que o ódio é um
sentimento poderoso e extremamente destrutivo.
Associando
o verso final ao título, podemos inferir que o poema aborda a deterioração de
algo que é / era puro, ou que o tempo transforma ou afeta as nossas
experiências e perceção das coisas e do mundo que nos rodeiam.
Caracterização de Tom White
Tom
White é o agente responsável pela investigação respeitante aos Osage e, posteriormente,
o diretor da penitenciária de Leavenworth. Um investigador cuidadoso e um
diretor corajoso e determinado, White é o protagonista da obra e a sua bússola
ética, mesmo que a investigação que lidera deixe muitas mortes por solucionar.
O modo
como Graan descreve White aproxima-o da figura de um pistoleiro do Antigo
Oeste, um homem do passado. Ele mesmo parece ter consciência disso e é por essa
razão que se junta ao Bureau of Investigation em 1917. O romance do
Velho Oeste, muitas vezes associado ao caso Osage, é pouco apelativo para o
agente, que sabe que a realidade difere imenso dos mitos. Criado no Texas juntamente
com três irmãos, o seu pai era o xerife do condado de Travis e, como a família
morava nas instalações que compreendiam a prisão, Tom cresceu fazendo perguntas
sobre a justiça. Desde bastante jovem, acreditava que a pena capital era um
homicídio judicial, o que revela desde logo muito do seu caráter.
Face ao
que foi exposto, é fácil concluir que White não corresponde à imagem de agente
ideal do Bureau, porém estamos na presença de um investigador cuidadoso
e persistente. Na década de 1920, os agentes não tinham autorização de porte de
arma, todavia, familiarizado com os perigos típicos dos condados rurais
remotos, White ignorava regularmente essa proibição, não obstante preferir
evitar empregar a violência. Do progenitor herdou a noção de que era importante
tratar as pessoas com igualdade, o que coloca em prática durante a investigação
que lidera, desde logo selecionando uma equipa que inclui um agente nativo
americano e trabalhando diligentemente para resolver o caso. Além disso, dá
instruções à sua equipa para destrinçar os factos da ficção e procurar
evidências que possam sustentar acusações e levar a condenações efetivas. A sua
tenacidade e determinação acabam por produzir resultados. Outro traço relevante
que mostra o seu caráter é o facto de não ceder ao suborno ou a qualquer forma
de corrupção. É um homem íntegro, honesto, sério.
Estas qualidades
acompanham-no quando deixa o Bureau e se torna diretor de prisão,
primeiro em Leavenworth, uma penitenciária federal, e depois em La Tuna, no
Texas. A atestá-lo estão os depoimentos de presidiários, que o recordam como um
homem que procurava o melhor nas pessoas, incluindo os criminosos mais empedernidos,
buscando sempre a sua reabilitação e redenção. Isto não significa, porém, que
se tratava de um homem mole ou brando: a sua coragem e a sua bravura levaram-no
a acalmar sozinho um motim na prisão e, com prejuízo para si mesmo, salvou
vários reféns durante uma fuga da penitenciária.
Além
disso, apesar do seu comportamento heroico em diversas situações, não era
narcisista ou egocêntrico, evitando chamar a atenção para a sua pessoa. Também
não passava informações sobre os presos para a imprensa e empenhou-se em dar
destaque aos agentes que trabalharam consigo no caso dos Osage. Quando se deu
conta de que os Estados Unidos estavam a esquecer a provação a que a tribo
nativa tinha sido sujeita, procurou escrever um livro sobre o problema, no
entanto viu-se confrontado com a falta de colaboração de J. Edgar Hoover, que,
ao contrário de White, tinha um ego bastante inflado e desejava que a atenção
ficasse centrada na própria pessoa ou na agência, por isso não lhe forneceu
qualquer material, pelo que a obra ficou na gaveta.
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