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segunda-feira, 7 de julho de 2025

Análise de O Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos

 I. Vida de José Mauro de Vasconcelos


II. Obras


III. Obra


IV. Época


V. Ação

        1. Resumo

        2. Estrutura

        3. Resumo dos capítulos

                3.1. Primeira parte

                        3.1.1. Primeiro capítulo

                        3.1.2. Segundo capítulo

                        3.1.3. Terceiro capítulo

                        3.1.4. Quarto capítulo

                        3.1.5. Quinto capítulo

                3.2. Segunda parte

                        3.2.1. Primeiro capítulo

                        3.2.2. Segundo capítulo

                        3.2.3. Terceiro capítulo

                        3.2.4. Quarto capítulo

                        3.2.5. Quinto capítulo

                        3.2.6. Sexto capítulo

                        3.2.7. Sétimo capítulo

                        3.2.8. Oitavo capítulo

                        3.2.9. Último capítulo


VI. Análise dos capítulos

        1. Título da 1.ª parte

        2. Capítulo I

                2.1. Título


Resumo do capítulo VII - 2.ª parte - de O Meu Pé de Laranja Lima

    É neste capítulo, intitulado “O Mangaratiba”, que tem lugar a última peripécia da obra. Numa aula, já perto do final do ano letivo, enquanto Zezé brilha no quadro e encara, entusiasmado, a proximidade das férias, um colega, Jerónimo, entra atrasado e explica que tal se deveu a um acidente entre o comboio Mangaratiba e o automóvel de Manuel Valadares. O narrador fica perturbadíssimo e sai da sala a correr, guiado pela urgência de confirmar com os próprios olhos o que acontecera ao seu querido Portuga. Ao chegar à confeitaria, procura com o olhar o automóvel, mas não o vê. Volta a correr, até ser intercetado por seu Ladislau, que o impede de prosseguir. Convém recordar que a amizade entre Zezé e Valadares era praticamente um segredo, por isso, com exceção de seu Ladislau da confeitaria, todas as outras pessoas estranham a reação da criança, nomeadamente quando entra de tal forma em choque que adoece gravemente. Entretanto, o homem procura acalmá-lo, afirmando que o português está internado no hospital e que o levará a vê-lo quando for possível. Desorientado e arrasado, o menino recusa voltar para casa ou para a escola e vagueia sozinho pela cidade, chorando, até que chega a um lugar simbólico – a estrada onde o Portuga o deixara chamá-lo assim e o deixara «morcegar». Aí, dirige um lamento profundo ao Menino Jesus, questionando por que razão está a ser castigado. De facto, ele sente-se injustiçado, visto que tem tentado ser um bom menino, mudou o comportamento, estudou, deixou de dizer palavrões e, ainda assim, continua a sofrer. Recorda então outra perda que se avizinha: o corto do pé de laranja lima. Imerso na sua dor, exige ao Menino Jesus que lhe devolva o Portuga. É nesse momento que ouve uma voz doce e suave, talvez saída da própria árvore onde se sentara, que lhe diz que o seu amigo foi para o céu.

    É encontrado por Totoca sentado nos degraus da casa de Dona Helena Villas-Boas, completamente esgotado, febril, sem forças nem para chorar. Totoca tenta confortá-lo e levá-lo para casa, mas Zezé recusa, afirmando que já não tem mais nada em sua casa, pois tudo na sua existência perdeu sentido. O irmão, preocupado, leva-o ao colo até casa e deita-o na cama, percebendo a gravidade do seu estado. Inicialmente, Jandira desvaloriza a situação, pensando que o menino está a fingir, porém, durante três dias e três noites, mergulha num estado de febre alta. Glória, a irmã que mais o acarinha e o protege, muda-se para o seu quarto, mantém a luz acesa e permanece sempre ao seu lado. Toda a família, normalmente ríspida, passa a tratá-lo com doçura. O Dr. Faulhaber é chamado e conclui que Zezé sofre de um choque traumático intenso. A família e os vizinhos associam erradamente o estado de Zezé ao comentário feito por Totoca sobre o eventual abate do pé de laranja lima. A própria vizinhança, antes crítica, mobiliza-se para o apoiar: trazem-lhe doces, ovos, orações e palavras de afeto. A criança sente-se tocada, mas continua entregue à dor, até que recebe a visita de Ariovaldo, o vendedor de folhetos, que lhe implora que não morra. Esta visita comove o menino e marca o início da sua lenta recuperação.

    Zezé começa a conseguir reter alimentos, mas continua a ser assolado por imagens do Mangaratiba esmagando o Portuga, e pede a Deus que ele não tenha sofrido. Glória continua a tratar dele com todo o carinho e chega a oferecer a sua mangueira do quintal, mas o irmão responde que nem a planta dela nem o pé de laranja lima serão mais importantes. Totoca sente-se culpado por ter contado a notícia que, supostamente, desencadeou a crise e chega a emagrecer com o remorso. A vida da família volta, gradualmente, à normalidade, mas Glória não abandona a cabeceira da sua cama, pois o narrador continua a ostentar um estado de debilidade, oscilando entre momentos de melhora e outros de recaída e sempre mergulhado numa sonolência.

    Num dos momentos de febre alta, Zezé tem um sonho que marca o fim da doença. Nesse sonho, o seu pé de laranja lima aparece pela última vez no texto, iluminado: entra no quarto com um presente – Luciano, o pássaro, todo enfeitado com penas prateadas – e leva-o a cavalo pelas ruas, até chegar aos locais que partilhara com o Portuga e, em particular, até encarar o sinistro som do Mangaratiba e enfrentar definitivamente  a morte do seu amigo. De facto, Minguinho transforma-se num cavalo voador e Luciano acompanha-os alegremente ao ombro do narrador. O percurso traz uma breve sensação de alegria e a tristeza afasta-se por instantes. No entanto, um som familiar e assustador irrompe à distância: é o apito de um comboio. Zezé reconhece imediatamente o ruído do Mangaratiba e o pânico apodera-se dele, convencido de que o comboio quer agora matar o seu outro amigo, Minguinho. Grita desesperadamente e tenta impedir que a árvore seja esmagada também. O trem passa com um enorme barulho, fumo e violência e a criança grita várias vezes «Assassino!», revivendo o trauma da morte do Portuga. A certa altura, o próprio Mangaratiba parece falar, repetindo entre risos e gargalhadas o seguinte: “Eu não sou culpado... Eu não fui culpado...”.É neste momento que Zezé acorda, como se despertasse também para a realidade, em sobressalto, gritando, a vomitar. A mãe abraça-o, tentando confortá-lo, dizendo que foi apenas um pesadelo. Glória, em lágrimas e esgotada, relata que acordou com os gritos do irmão a chamar «assassino» a alguém e a falar de morte e destruição.

    Poucos dias depois, a doença chega ao fim. Numa manhã, Glória entra no quarto com uma flor na mão – é a primeira flor de Minguinho, símbolo de que a árvore está a crescer, mas também marca o fim da inocência de Zezé, que compreende que a flor representa uma despedida simbólica – o pé de laranja lima deixa de pertencer ao mundo da imaginação e passa a fazer parte do mundo real e doloroso. Depois, Glória propõe-lhe tomar um pequeno-almoço leve (um mingau) e dar uma volta pela casa, o que simboliza o regresso à normalidade. Luís convida o narrador a brincar: quer visitar o jardim zoológico, a Europa, a selva amazónica, e brincar com Minguinho. Zezé não quer desiludir o irmão e aceita. Glória observa, emocionada, a cena, aliviada por o ver regressar ao mundo da fantasia. Quando Luís pergunta pela pantera negra, símbolo de uma das fantasias partilhadas entre ambos, o narrador hesita, mas acaba por manter viva a ilusão do irmão e responde que o animal foi passar férias na Amazónia. Por dentro, todavia, tem consciência da realidade, isto é, que nunca houve pantera nenhuma, apenas uma galinha velha que acabou num caldo. A selva do Amazonas, por outro lado, não passava de algumas laranjeiras do quintal.

    Por fim, Zezé, cansado, decide terminar a brincadeira, prometendo retomá-la no dia seguinte. Luís, por causa da sua tenra idade, não compreende que aquela flor branca que Glória trouxe representa o adeus definitivo a Minguinho – e, com ele, à infância, à fantasia e à inocência do narrador.

Resumo do capítulo VI - 2.ª parte - de O Meu Pé de Laranja Lima

    O início deste capítulo é marcado pela continuação do diálogo entre Zezé e o Portuga. Este explica ao menino que, na sua infância, não teve árvores que falassem consigo, e fala-lhe com carinho das vindimas e das tradições rurais de Portugal, evidenciando, assim, toda a ligação afetiva que mantém com o torrão natal, nomeadamente a Trás-os-Montes. A partir deste momento, a narrativa é marcada pela perda e pela tristeza. O primeiro coincide com a confissão do desejo, por parte de Manuel Valadares, de um dia regressar a Portugal (mais concretamente a Folhadela) para viver a sua velhice. Esta revelação entristece profundamente Zezé, que só então percebe que o amigo é mais velho que o próprio pai. Além disso, a criança é invadida por uma sensação de vazio, decorrente da consciência de que o construiu com o amigo poderia desaparecer. Em resposta, o Portuga assegura-lhe, com ternura, que o menino estará sempre nos seus sonhos, porém também o alerta, com tristeza e realismo, que não se deve apegar demasiado às pessoas, porque tudo é passageiro.

    A sequência seguinte é caracterizada por um diálogo entre Zezé e o pé de laranja lima. A criança revela-lhe que o pai, agora, o trata der forma mais carinhosa e próxima e acrescenta que gostaria de ter 24 filhos – os primeiros 12 seriam sempre crianças e nunca seriam castigados, enquanto os restantes cresceriam escolhendo livremente o que queriam fazer. O narrador imagina-se a oferecer-lhes objetos simbólicos das profissões que escolherem: machados, fardas, selas, bonés. Minguinho interrompe-, questionando sobre como seria o Natal. A criança fantasia que será muito rico, ganhará a lotaria e comprará toneladas de castanhas, brinquedos, nozes e doces para os filhos e também para os vizinhos pobres.

    Outro momento representativo da perda e da tristeza é suscitado por Totoca, que pede 400 réis ao irmão. Este, porém, recusa o empréstimo, mesmo tendo o dinheiro e só aquiesce quando Totoca elogia o pé de laranja lima, comparando-o com o seu próprio pé de tamarindo. Em troca, o irmão dá duas notícias: o pai conseguiu trabalho como gerente na fábrica de Santo Aleixo, o que permitirá à família sair da miséria; por outro lado, anuncia a possibilidade de Minguinho ser cortado, visto que a prefeitura projetava obras de alargamento da estrada, o que implicaria destruir alguns quintais. Esta segunda notícia atinge profundamente Zezé, que chora, entrega a Totoca uma moeda de quinhentos réis para que este vá ao cinema ver um filme do Tarzan, usando o troco para comprar rebuçados, e suplica-lhe que o ajude a impedir o abate do pé de laranja lima, chegando até a falar de guerra.

    Zezé regressa para junto de Minguinho, ainda bastante emocionado. Recorda que já viu o filme do Tarzan e decide contar a Manuel Valadares. Este pergunta-lhe se queria ir ao cinema, mas o menino responde que não pode entrar no Cinema Bangu durante um ano como castigo por uma travessura passada e que tal só poderá suceder se for acompanhado por um adulto. Quando chegam à bilheteira, a moça que atende o público diz-lhes que tem ordens para não deixar entrar o narrador. O Portuga assume a responsabilidade pelo menino, argumenta que agora está mais maduro. A jovem, hesitante, acaba por ceder, especialmente pelo gesto de carinho da criança, que lhe sopra um beijo e lhe sorri com ternura, mas adverte-o de que, se ele se comportar mal de novo, ela perderá o emprego.

Resumo do capítulo V - 2.ª parte - de O Meu Pé de Laranja Lima

    Zezé precisa de cerca de uma semana para começar a recuperar fisicamente. Psicologicamente, fica devastado e interioriza a ideia de que não tem qualquer valor e de que talvez nem devesse ter nascido, pois todos à sua volta o castigam e insultam. Perde a vontade de brincar e sente-se vazio, passando o tempo a observar, em silêncio, Luís a brincar. Decide então mudar os seus interesses: deixa de se interessar por filmes de cowboys e passa a ver apenas películas de amor, os quais lhe mostram pessoas que se amam e são felizes. Trata-se, no fundo, de uma forma de compensar a falta de afeto que sente.

    Mal sente forças para sair de novo, procura o seu amigo português. Encontra-o numa confeitaria. Zezé mostra-se triste e, ao aperceber-se dessa tristeza, Manuel Valadares convida-o para dar uma volta de carro. No trajeto, o narrador desabafa toda a dor acumulada dentro de si, dando nota da violência sofrida em casa, da pobreza da família, e chega a confessar que tinha decidido atirar-se para baixo do Mangaratiba nessa noite, para terminar com todo o seu sofrimento. O Portuga, profundamente comovido com o que acabar de ouvir, consola-o, dizendo-lhe que é uma criança inteligente, sensível e querido. Além disso, promete-lhe um passeio a dois até ao Guandu, no sábado, para pescar. Preocupado com a desculpa que terá de inventar para justificar a sua ausência e com as possíveis consequências se for descoberta a mentira, Valadares questiona-o sobre o assunto, mas Zezé tranquiliza-o, dizendo-lhe que toda a família prometeu a Glória não lhe bater até ao final daquele mês.

    No dia combinado e durante o caminho, a criança reflete sobre o seu próprio comportamento: apesar de se mostrar carinhoso e bem-comportado quando está na companhia do amigo português, por exemplo, reconhece que é travesso e que gosta de pregar partidas e fazer travessuras. Para ilustrar o que acaba de dizer, conta uma das suas traquinices mais ousadas: um dia, ao ver Tio Edmundo a dormir numa rede nova que acabara de comprar, aproveitou um momento de distração do homem e, com fósforos e pedaços de jornal, fez uma pequena fogueira debaixo da rede, causando um enorme susto no indivíduo, que acordou sobressaltado, pensando que o responsável pelas chamas tinha sido ele mesmo e o seu cigarro.

    Chegados ao destino, escolhem um espaço aberto, com uma árvore enorme e imponente, para assentar arraiais. Manuel Valadares diz que a planta se chama Rainha Carlota e que deve ser tratada com respeito e reverência, como se fosse uma majestade, no que parece ser uma alusão à rainha D. Carlota Joaquina. Juntos, deixam os seus objetos à sombra da árvore, preparam os apetrechos de pesca, e o Portuga explica ao narrador onde poderá brincar sem perigo, enquanto ele se dedica à pescaria. A criança delicia-se com o ambiente que o rodeia, mergulha os pés na água, observa os sapos, as folhas e os seixos arrastados pela corrente e, enquanto o faz, recorda os versos ditos por Glória, compreendendo que a poesia se manifesta nas pequenas coisas.

    Quando chega a hora do almoço, Valadares pede-lhe que se lave antes de comer, porém Zezé mostra-se renitente, porque não quer que o novo amigo veja as marcas e cicatrizes deixadas pelas sovas que tem levado. O homem percebe a hesitação da criança, por isso não o força e apenas lhe diz, com a voz embargada, que, se a higiene lhe causa dor, não precisa de entrar na água, porém o menino retorque que as feridas já não lhe doem.

    Terminada a refeição simples (pão, salame, ovos, mariolas e bananas), aproveitam a sombra da grande árvore. Manuel Valadares deita-se para dormir a sesta, com o narrador preso nos seus braços, visto que receia que, endiabrado como é, se envolva nalguma confusão. Nesse momento, Zezé pergunta-lhe se é verdade que gosta muito dele, como afirmara na confeitaria a seu Ladislau. Perante a resposta afirmativa, levanta a possibilidade de ser adotado, ou mesmo comprado, pelo português. Na sua opinião, a família aceitaria bem a ideia, visto que seria uma boca a menos para alimentar, tal como já tinha sucedido com uma irmã, que fora «dada» para viver com uma prima no Norte. Manuel Valadares fica profundamente emocionado, com lágrimas a escorrer dos olhos, e explica-lhe que isso não será possível, que a vida não se resolve dessa forma e que ele não poderá tirá-lo à família, mas, em contrapartida, promete-lhe que, a partir daquele momento, passará a tratá-lo como se fosse, realmente, seu filho. Ao contínuo, Zezé beija-lhe o rosto, selando, desta forma, um vínculo profundo entre ambos.

domingo, 6 de julho de 2025

Resumo do capítulo IV - 2.ª parte - de O Meu Pé de Laranja Lima

    Zezé aprende com Totoca a fazer balões de papel, mas o irmão cobra-lhe a ajuda prestada nas etapas mais difíceis, nomeadamente querendo que o narrador lhe dê bolas de gude ou figurinhas. Determinado a fazer o seu balão sem depender de Totoca, a criança vai pelas ruas tentando vender as suas bolas e figurinhas para angariar dinheiro e comprar papel de seda. Porém, apesar de todo o esforço que emprega, ninguém lhe compra nada. Já desanimado, encontra Biriquinho, que, após uma breve negociação, adquire alguns dos itens à venda. Deste modo, a criança consegue parte do dinheiro (duzentos réis) de que necessitava para concretizar o seu objetivo. De imediato, vai â venda do Miséria e Fome e compra papel de seda cor-de-rosa e cor de abóbora, mesmo não sendo as que queria. Animado, volta para casa e começa a construir o seu balão, na companhia do irmão Luís. No entanto, demora-se a descer para o jantar e a sua irmã Jandira descontrola-se, não só pelo atraso, mas pela reação de Zezé, que a insulta, chamando-lhe puta. Com efeito, a rapariga chamara-o diversas vezes, mas, focado em terminar o balão, ele demorara-se e não atendera ao seu chamado. A irmã perdera a paciência, puxara-o pelas orelhas, arrastara-o e destruíra o balão, rasgando-o em pedaços. Desesperado e dominado pela raiva e pela dor, o narrador insulta-a repetidamente, o que, por sua vez, desencadeia uma reação violenta da parte dela: espanca-o sem piedade com uma correia. Entretanto, chega Totoca e, em vez de defender o irmão mais novo, bate-lhe também no rosto, especialmente na boca, para o tentar calar. A situação só termina com a chegada de Glória, que separa os irmãos e leva o menino para o quarto, onde trata os ferimentos e o tenta acalmar. Ao mesmo tempo, revolta-se contra Totoca, humilhando-o ao revelar que ainda faz xixi na cama. Por seu turno, Zezé, profundamente magoado, lamenta não apenas as dores do corpo, mas sobretudo a perda do seu balão, que queria construir para impressionar os seus dois amigos, o Portuga e Minguinho. Glória tenta consola-lo e promete ajudá-lo no dia seguinte a comprar novo papel de seda para fazer um balão ainda mais bonito, no entanto o irmão acredita que o encanto do que estava a construir e fora destruído nunca mais seria recuperado. A irmã promete-lhe, então, que um dia fugirão para um lugar melhor, onde possam viver felizes, livres e sem violência.

    Novo episódio de violenta agressão sucede dois dias depois, quando o pai, que continuava desempregado e deprimido, não compreende a intenção do filho quando este começa a cantar uma música de Ariovaldo para o animar. De facto, o que sucedeu foi o seguinte: após a violenta sova que levou de Jandira e de Totoca, Zezé passa dois dias sem sair de casa, tendo sido inclusive impedido de ir à escola, para que ninguém visse os seus ferimentos e se apercebesse da brutalidade de que tinha sido vítima. Ocupa esse tempo na companhia de Luís e de Minguinho, encontrando refúgio e proteção na sua imaginação, nas figurinhas que Manuel Valadares lhe dera e nas brincadeiras com o irmão. Não obstante, sente saudades do português, de quem não se conseguiu despedir e que certamente estranhará a sua ausência.

    Certa noite, com a casa quase vazia, o menino apercebe-se de que o pai está pensativo e triste, sentado numa cadeira de baloiço, olhando fixamente para a parede. Ao observar aquele quadro, o menino sente pena de seu Paulo, compreendendo o quão é difícil a sua vida, desempregado, dependendo da esposa, que chega tarde a casa por causa do seu trabalho no Moinho Inglês. Numa tentativa de o animar, começa a entoar um tango que aprendeu com Ariovaldo, porém, a música, de conteúdo impróprio para uma criança, irrita profundamente o pai, que entende que a letra é uma provocação e o obriga a repetir a canção. A cada repetição castiga-o com sucessivas bofetadas e Zezé, dominado pela dor e pela revolta, deixa de cantar e enfrenta o progenitor, chamando-o «assassino». Louco de raiva, o pai tira o cinto e espanca brutalmente o filho e só para após a chegada de Glória, que segura o braço paterno, pedindo-lhe que pare e oferecendo-se para ser sovada no lugar do irmão. Nesse instante, o pai toma consciência da sua atitude, atira o cinto para cima da mesa e, cheio de remorsos, chora.

    Glória levanta a criança do chão , mas esta desmaia devido à dor e ao cansaço. Quando acorda, está a arder de febre, rodeado pela mãe, por Glória e Dindinha. As dores são tão intensas que mal se consegue mexer ou engolir a sopa que a irmã lhe preparou. O ambiente é de grande preocupação, porém a família decide não chamar o médico, para não expor a situação publicamente. A mão vela-o toda a noite, até sair para o trabalho. Antes, o narrador confessa-lhe que não deveria ter nascido, que lhe deveria ter acontecido algo semelhante ao que sucedeu ao seu balão – algo que não chegou a concretizar-se, que não veio ao mundo. A mãe, emocionada, não sabe o que lhe responder, acaricia-lhe a cabeça e apenas murmura que todas as pessoas nascem por algum motivo.

sábado, 5 de julho de 2025

Resumo do capítulo III - 2.ª parte - de O Meu Pé de Laranja Lima

    Este capítulo abre com uma longa conversa entre Zezé e Minguinho. O menino conta-lhe que descobriu onde mora o Portuga, concretamente na Rua Barão de Capanema. Ao chegar lá, encontra-o a fazer a barba no quintal, bate as palmas para lhe chamar à atenção e oferece-se para lhe engraxar os sapatos. Simpaticamente, Valadares convida-o a entrar enquanto acaba de se barbear. Ao ser questionado sobre a escola, responde que é feriado e que aproveitou o feriado para ganhar algum dinheiro. O português convida-o para entrar e tomar café, o que dá a oportunidade ao narrador para observar a organização e a limpeza do espaço, que contrasta com a sua casa, pobre e menos bem cuidada. A criança interrompe o assunto, ao notar o silêncio do pé de laranja lima, e questiona-o. A árvore responde que se sente desprezado pelo menino desde que passou a encontrar-se com Valadares.

    Zezé retoma a descrição do encontro com o Portuga, nomeadamente o momento em que lhe confessou que não estava realmente a trabalhar e que só tinha levado os apetrechos de engraxador como pretexto para sair de casa, já que apenas tinha autorização para se ausentar para longe para trabalhar. Isso evita que lhe batam tantas vezes, visto que a família acredita que, trabalhando, não fará travessuras. Valadares fica admirado com tanta malícia vinda de uma simples criança, e Zezé começa, então, a listar as suas traquinices e maldades, afirmando que é mau e que alguém como ele nem deveria ter nascido, segundo ouviu da boca de uma irmã, e acrescenta que é sovado constantemente. Dessa lista fazem parte as seguintes maldades: incendiou a cerca da vizinha Nega Ifigénia, ofendeu outra mulher chamando-lhe Pata Choca, partiu um espelho com uma bola de pano, quebrou lâmpadas com a baladeira, apedrejou a cabeça de um miúdo, arrancou mudas de plantas de outra vizinha e fez o gato de Dona Rosena engolir uma bola de gude. O português procura esconder o riso, mas repreende-o pela traquinice feita ao gato. De seguida, narra o episódio mais embaraçoso: no cinema, para não perder a parte de um filme, urinou num canto da sala. Todavia, as outras crianças aperceberam-se e imitaram-no, criando um «rio» dentro do cinema. Descoberto, foi culpado pelo incidente e foi proibido de entrar no Cinema Bangu durante um ano. Para piorar a situação, o dono contou tudo ao pai, que lhe deu uma sova com um tamanco, mesmo estando a criança já a dormir.

    No final, Minguinho continua amuado por se sentir rejeitado. Zezé tenta convencê-lo de que há espaço no seu coração para todos. Perante o silêncio da árvore, decide ir jogar bola de gude, dizendo que ela está muito enjoada.

    Zezé e Manuel Valadares passam a encontrar-se frequentemente, crescendo entre eles uma amizade com contornos familiares. De facto, o narrador aproveita todos os momentos e oportunidades para estar com o português, que, por sua vez, lhe proporciona algumas das coisas com as quais a criança poderia apenas sonhar. De início, porém, mantém a amizade entre ambos em segredo, primeiro por vergonha, depois por diversão. Durante os seus encontros, Zezé fala sobre a sua família, as suas dificuldades e os seus sonhos. Tudo isto faz com que a relação entre ambos se fortaleça, a ponto de o menino lhe pedir para o tratar por «você», pois soa mais íntimo e carinhoso entre amigos e o chamar «Portuga», que considera mais carinhoso e representativo da amizade entre ambos, em vez de «senhor» ou «Manuel». Valadares aceita, demonstrando um afeto paternal. Ele emociona-se com os relatos da criança acerca da sua miséria familiar (conta que a mãe é filha de índios, trabalha muito para sustentar a casa e sofre com uma hérnia; apesar de ser rígida e, às vezes, lhe bater, Zezé reconhece que é uma boa mãe, apenas cansada demais; fala também sobre a irmã mais velha, que vive a fugir para encontrar namorados, contrariando as ordens maternas), e ela fica impressionada com o carinho, a preocupação e o afeto que o português lhe dedica, em todos os momentos. Os dois combinam que tudo o que é do Portuga, incluindo o carro, pertence também, de certa forma, ao menino, que lhe conta que pensava que Valadares era um antropófago (um canibal), coisa que ouvira por aí, e explica o significado do termo com surpreendente clareza para a sua idade.

    Zezé revela que tem oficialmente cinco anos, mas diz ter seis para poder frequentar a escola. Além disso, mostra ao português uma medalhinha antiga, na qual está escrita a palavra «carborundum» e que fazia parte do relógio de seu pai, o qual teve de ser vendido para fazer face às dificuldades económicas da família. A medalha constitui, para a criança, a herança que restou do progenitor. Para o deixar ainda mais feliz, Valadares deixa-o pendurar-se no pneu sobressalente na traseira do carro enquanto conduz devagar, realizando, assim, o sonho da criança. Para terminar, conversam sobre o modo como Zezé justificaria junto da família o tempo passado fora de casa – astuto como habitualmente, diz que inventará que estava no catecismo. No caminho de regresso, muito emocionado, o narrador encosta-se ao braço do Portuga e faz-lhe uma declaração tocante: nunca mais se quererá afastar dele, porque, na sua companhia, sente-se protegido, amado e feliz.

    Enquanto a amizade entre Manuel Valadares e o narrador evolui e se cimenta, passa existir algum distanciamento entre este e Minguinho.

Áudio do Exame Nacional de PLNM 2025 - 1.ª fase

Correção do Exame de PNLM 2025 - 1.ª fase

"Will You Love Me Tomorrow", The Shirelles


1960

Exame de Português Língua Não Materna - 12.º ano - 2025 - 1.ª fase

quarta-feira, 2 de julho de 2025

A origem dos dias da semana

Estrutura interna de O Fantasma de Canterville

    O Fantasma de Canterville é um conto fantástico com elementos e paródias do chamado romance gótico.

    No que diz respeito à sua estrutura interna narrativa, segue o modelo comumente aplicado aos contos tradicionais.


Situação inicial: este é o início da história, da sua contextualização:
• localização no tempo;
• apresentação das personagens;
• localização no espaço;
• apresentação da ação.
A situação é equilibrada, o que significa que não há razão para que mude.
 
● O fantasma de Sir Simon assombra a mansão de Canterville (Canterville Chase) há séculos e é universalmente temido.

Acontecimento perturbador: é um acontecimento / problema que altera a situação inicial e desencadeia a história.

● A família Otis muda-se para Canterville Chase e não se deixa intimidar pelas tentativas de Sir Simon de a assustar. Este aspeto contraria o que é normalmente esperado de uma história de fantasmas.

Peripécias: é o conjunto de acontecimentos causados pelo acontecimento perturbador, que levam o herói a tomar medidas para resolver o problema.

● O fantasma de Sir Simon sofre por causa da indiferença da família e das piadas e travessuras das crianças da família, sem renunciar ao desejo de as assustar, e começa a ficar desesperado. É nesta fase que a dimensão paródica do texto é mais visível.

Resolução: é o evento que põe fim ao problema.

● Sir Simon conquista Virgínia, que o ajuda a encontrar a paz. Com esta resolução, o fantástico triunfa sobre o paródico, uma vez que os sentimentos e o mistério dominam o desfecho da ação.

Situação final: é o desfecho da ação, com o restabelecimento do equilíbrio. A situação é novamente estável, ta como a situação inicial, mas sofreu algumas alterações.

● O fantasma é libertado e agora repousa em paz no cemitério de Canterville. Muitos anos depois, Virgínia, que entretanto casara, continua a honrar a memória do homem que salvou.


segunda-feira, 30 de junho de 2025

Resumo do capítulo II - 2.ª parte - de O Meu Pé de Laranja Lima

                Nos dias seguintes, Zezé toma precauções (por exemplo, sair mais cedo de casa, caminhar pela sombra) para não se encontrar com o Portuga, figura que lhe provocava uma grande raiva, a ponto de desejar matá-lo futuramente, porém, com a passagem do tempo, o medo e a hostilidade diminuem, sobretudo porque o português desaparece por alguns dias, o que lhe traz alívio.

                O tempo vai passando, a vida da rua segue o seu curso normal. A estação muda e o menino afasta-se um pouco de Minguinho, que continua a crescer, assim como a criança, que se aproxima dos seis anos. A cumplicidade entre ambos continua a estreitar-se e as conversas tornam-se sobretudo relevantes após as sovas que Zezé apanha. O narrador detalha o modo como decora a árvore, usando tampinhas de garrafa e pedaços de linha, e admira como o vento as faz baterem umas nas outras, dando uma imagem poética e vívida. Por outro lado, a vida na escola decorre bem: já conhece vários hinos nacionais de cor, destacando o da Liberdade como o seu preferido. Todas as terças-feiras falta às aulas para se encontrar com Ariovaldo e venderem, juntos, os folhetos do músico. Durante os recreios, gosta de jogar bola de gude, jogo que lhe granjeou o epíteto de «rato» por causa da sua boa pontaria, que lhe permitia ganhar muitas bolinhas. A professora vê-o como um menino especial e sente grande carinho por ele. Conhecedora da pobreza em que vive, à hora do lanche, chama-o à parte e dá-lhe dinheiro para ele ir comprar um sonho recheado. Além disso, não acredita que seja travesse ou diga palavrões. Em contrapartida, ele porta-se bem nas aulas (“... eu era um anjo.”), não tem qualquer repreensão e torna-se o oferecido das professoras por ser um dos alunos mais pequenos.

                Certo dia, Manuel Valadares regressa, passa lentamente por ele de carro e buzina-lhe, enquanto sorri. A partir daí, diariamente, a caminho da escola, Zezé continua a cruzar-se com o veículo do Portuga, que continua a buzinar-lhe, porém o menino não quer dar-lhe importância, visto que mantém o desejo de se vingar no futuro. Como é evidente, corre a contar estes eventos ao amigo Minguinho, que continua a crescer, daí que a criança necessite de um caixote para lhe subir.

                Numa tarde, não consegue resistir ao aroma das goiabas que lhe chega da casa da vizinha Ifigénia e decide tentar roubar alguma. No entanto, é surpreendido pela mulher, que lhe grita da janela da cozinha. Ato contínuo, ele foge e salta para dentro do valão, porém magoa-se num pé com gravidade (espeta um pedaço de vidro no pé), mas omite as dores intensas que sente com medo de ser castigado. Astutamente, procura Glória – Godóia – na cozinha, a irmão de quinze anos, que fica muito preocupada não só com a profundidade do corte, mas também com as palavras de desalento do irmão, que chega a referir a possibilidade de se suicidar ao atravessar a Rio – São Paulo. Ao jantar, Glória disfarça a ausência da criança, dizendo que se fora deitar, porque tinha dor de cabeça, em resultado das sovas constantes que apanhava (naquele dia tinham sido três).

                Na manhã seguinte, ao ir para a escola, cruza-se novamente com o português, que se apercebe do ferimento no pé e se oferece para o ajudar. Zezé, inicialmente, ignora-o e procura seguir o seu caminho, mas Manuel Valadares corta-lhe a passagem com o automóvel, desce e fala-lhe docemente, o que deixa o narrador espantado com aquela atitude de alguém que, alguns dias antes, lhe tinha batido. De seguida, oferece-se para o levar à escola, mas Zezé só aceita depois de o Portuga lhe prometer que o deixará antes de chegar à escola, pois a criança sentirá vergonha se os colegas – que sabem da sova que o homem lhe deu – o virem na sua companhia. Esta é a peripécia que irá transformar o curso da ação, na opinião de Miguel Neves Santos (op. cit., p. 20), dado que o português o leva a uma farmácia para tratar a ferida, antes que apanhe tétano, dá-lhe força e coragem para enfrentar as dores e leva-o até perto de casa. Zezé fica tão impressionado com a atitude do antigo inimigo que passa a nutrir um forte apreço e gratidão por ele: “O Português tinha se tornado agora a pessoa que eu queria mais bem no mundo.”

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