quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021
Reflexão existencial: a consciência e encenação da mortalidade
Reis tem uma consciência aguda de que a vida é efémera
e transitória, de que o Tempo passa de forma célere e de que qualquer ato
humano é pequeno e infrutífero perante estas realidades. Receia a velhice e a
morte, que é inevitável. Além disso, está consciente de que o Homem é débil
perante forças maiores que o oprimem. Assim, angustiado por tudo isto e pela noção de um Destino
inexorável, procura na sabedoria dos antigos um remédio para os seus males,
nomeadamente para a dor da caducidade e o peso da Moira cruel. Que
remédio é esse? Trata-se da aceitação com altivez do Destino que lhe é
imposto e que lhe proporcione a indiferença face à morte. Reconhecendo que a
vida de cada um, não obstante ser instável e contingente, é o único bem em
que podemos, até certo ponto, firmar-nos, souberam construir a partir dele
uma felicidade relativa, encarando com lucidez o mundo. |
O ser humano é uma vítima indefesa do Destino e
está sujeito à passagem do Tempo, que inevitavelmente traz o envelhecimento,
a doença e a morte a uma vida que é efémera. Consciente de que qualquer
esforço é inútil, renuncia e busca a aceitação calma do Destino. Em suma, a vida é fugaz, a morte é certa, o Destino
comanda-nos, daí que devamos recusar compromissos afetivos (“Desenlacemos as
mãos”) e sociais (“Antes magnólias amo / Que a glória e a virtude”) para
chegar à morte de mãos vazias e sem dor. |
• A vida como
«encenação» da hora fatal (previsão e preparação da morte): despojamento de
bens materiais, negação de sentimentos excessivos e de compromissos.
Reis, consciente do fluir inexorável do tempo,
aceita a efemeridade da vida, bem como a inevitabilidade da morte. Numa
atitude epicurista e estoica do equilíbrio interior pela busca de um prazer
relativo, o poeta sustenta que a própria vida deve ser encarada como encenação
da morte, através da autodisciplina, da abdicação, da renúncia a
compromissos afetivos e sociais, da aceitação calma e serena da vida, da
submissão ao Destino e da aceitação da inevitabilidade da Morte. |
• Intelectualização
de emoções e contenção de impulsos.
A filosofia de Reis resume-se num epicurismo
triste. Para ele, cada indivíduo deve viver a sua própria vida,
isolando-se dos outros e procurando apenas o que lhe agrada e apraz. Deve
renunciar às emoções violentas: o poeta racionaliza as emoções e recusa o seu
valor, face à realidade que descobre, através do pensamento. O Homem deve buscar o mínimo de dor e, sobretudo, a
calma e a tranquilidade, abstendo-se de esforços e da atividade útil. Deve
procurar dar-se a ilusão da calma, da liberdade e da felicidade, coisas
inatingíveis, pois, quanto à liberdade, os próprios deuses – também eles
comandados pelo Destino – não a têm; quanto à felicidade, não a pode viver
quem está exilado da sua fé e do meio onde a sua alma devia viver; e quanto à
calma, quem vive angustiado, sempre à espera da morte, dificilmente pode
fingir-se calmo. A obra de Reis, profundamente triste, é um esforço lúcido
e disciplina para obter uma calma qualquer. Epicurista, o homem de sabedoria conquista a
autonomia interior na estrita área de liberdade que lhe restou. Essa
conquista começa por um ato de abdicação, por uma atitude de autodisciplina.
O primeiro objetivo é submeter-se voluntariamente ao Destino, que deste modo
cumprimos altivamente, sem um queixume. O homem sábio chega mesmo a
antecipar-se ao próprio Destino, aceitando livremente a morte. O segundo
objetivo é depurar a alma de instintos e paixões que nos prendem ao
transitório, alienando a nossa vida. A ataraxia, note-se, não implica para
Epicuro ausência de prazer, mas indiferença perante todo o prazer que nos
compromete, colocando-nos na dependência dos outros ou das coisas. Além
disso, os prazeres epicuristas são tipicamente espirituais, como a leve
recordação melancólica dos bons momentos do passado. |
• Vivência
moderada do momento (o presente como único tempo que nos é concedido).
Na esteira da Antiguidade clássica, Reis confessa a
Lídia que prefere o presente precário a um futuro que teme porque o
desconhece. A sabedoria consiste precisamente em gozar o presente (carpe
diem) de forma moderada, pois o futuro é uma incógnita e a vida é
efémera. |
• Preocupação
excessiva com a passagem do Tempo e com a inelutável Morte (apesar do esforço
empreendido na construção da máscara poética).
Reis é um epicurista triste: faz a apologia do gozo
comedido, do carpe diem e da suprema indiferença, de acordo com o
Epicurismo. Por outro lado, apela à fortaleza de ânimo para enfrentar o
fatalismo da morte e a dor de viver, segundo o Estoicismo. Estes princípios
têm como finalidade atingir a (pouca) felicidade que é permitida aos seres
humanos: viver «sem desassossegos grandes», aceitando as leis do Destino, e
aguardar a morte de forma serena e digna. A efemeridade da vida e a
inevitabilidade da morte são temáticas obsessivas e geradoras de
grande angústia que o poeta procura superar através do domínio da emoção pela
razão, isto é, pela intelectualização das emoções. É uma lição de não-vida: não amar para não sofrer,
não desejar para não ser desiludido, não questionar para não encontra o
vazio. |
O fingimento poético: Ricardo Reis, o poeta «clássico»
▪
reaparecimento dos antigos deuses na arte ou na literatura – adoção de uma
visão pagã do mundo, em que o Homem vive em comunhão com a Natureza e em que
existem deuses, uma mitologia e o Fado/Destino e aqueles estão presentes no
seio da Natureza;
▪
renascimento da essência pagã, pela eliminação da racionalidade abstrata e pela
rejeição da metafísica ocidental;
▪ cosmovisão
hierarquizada e ascendente dos seres: animais, homens, deuses e Fado, que a
todos preside
▪ procura da
felicidade e do prazer relativos;
▪ atitude
imperturbável e de distanciação face aos males que atormentam a existência
humana (passagem do tempo, morte, etc.): ataraxia – ausência de
perturbação ou inquietação;
▪ altivez e
indiferença (egoísmo epicurista) – abdicação voluntária;
▪ fruição
tranquila do momento presente (carpe diem), de uma felicidade suave e
tranquila dos prazeres serenos e moderados;
▪ aceitação
de uma vida simples, sem grandes ambições e em contacto com a Natureza – aurea
mediocritas;
▪ aceitação
do Destino, da morte e das contrariedades da vida;
▪ perceção
direta da realidade e do ciclo da Natureza.
▪ aceitação
racional das leis do Tempo e do Destino;
▪ resignação
perante a frágil condição humana e o sofrimento;
▪ culto da
contenção, da autodisciplina, do autodomínio na vida e na escrita e
despojamento dos bens materiais;
▪ culto da
abdicação voluntária e da indiferença perante as paixões e os sentimentos
intensos e compromissos, como forma de evitar ceder à força dos impulsos;
▪ busca da apatia
(a = ausência de + pathos = sofrimento), um estado de indiferença
e de ausência de sofrimento e dor como forma de o indivíduo enfrentar com
determinação as contrariedades, a doença e a morte;
▪ procura,
também, da ataraxia.
▪ visão
estoico-epicurista da existência;
▪ perceção
aguda da transitoriedade do tempo, da brevidade da vida e da inevitabilidade da
morte e do Destino;
▪ inutilidade
do esforço e da indagação sobre o futuro;
▪ carpe
diem: fruição moderada do momento e entrega moderada ao prazer;
▪ culto da aurea mediocritas (preferência por uma vivência calma num local recatado, em contacto
com a Natureza);
▪ presença do locus amoenus (lugar
aprazível);
▪ autodomínio que evita as paixões e
aceitação voluntária do Destino.
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021
Da série as escolas são lugares seguros
domingo, 31 de janeiro de 2021
Análise de Causas da Decadência dos Povos Peninsulares nos Últimos Três Séculos
® espírito
de independência local:
.a
dificuldade da dominação romana, que nunca chegou a completar-se;
. a introdução no latim de “um estilo e uma feição inteiramente
peninsulares, e singularmente característicos”;
. a descentralização e o federalismo político: a multiplicidade
de reinos e condados soberanos na Península;
. o espírito independente, autonómico e democrático das
populações: as comunas e os forais;
. a inexistência (única na Europa Central e Ocidental) na
Península do feudalismo;
. a união da Nobreza e do Povo (por interesses e sentimentos);
. a consciência instintiva do Direito;
. a virilidade de acções e caracteres;
. a repugnância pelo despotismo religioso e político;
. a natureza religiosa dos peninsulares;
® a
originalidade do génio inventivo – criador e independente:
. a
independência das igrejas peninsulares face a Roma;
. “a atitude altiva das
coroas da Península diante da cúria romana”;
. o
aparecimento de rituais indígenas;
. a
liberdade de pensamento e interpretação;
. o
sentimento de cristão:
- a caridade;
- a tolerância.
-» o nível
intelectual da Península em nada era inferior ao das nações cultas;
-» a filosofia
escolástica:
. grandes figuras, como Raimundo Lúlio, Afonso X (espírito
universal, filósofo, político, legislador), Averrois, Ibn-Tophail, Maimónides,
Avicebron;
. a celebridade e fama das universidades de Coimbra e Salamanca,
nas quais estudavam muitos estrangeiros, “atraídos pela fama dos seus doutores”;
. a reforma da escolástica, nos séculos XIII e XIV, pela
renovação do aristotelismo, obra quase exclusiva das escolas árabes e judaicas
de Espanha – os mouros e os judeus foram uma das glórias da Península;
-» a teologia: a doação, pela Península, à Igreja,
de teólogos e papas (um deles português, João XXI);
-» a poesia – as criações nacionais dos ciclos épicos:
. o Romancero
. as lendas do Cid em oposição aos ciclos
épicos da Távola Redonda,
. as lendas dos Infantes de Carlos Magno e do Santo Graal
de Lara, entre
outros
. os
trovadores peninsulares, em oposição aos trovadores provençais;
.
grandes trovadores nobres como Beltrão de Born e o conde de Tolosa;
-» a
arquitetura gótica produziu obras imortais:
. o
mosteiro da Batalha;
. a
catedral de Burgos;
-» a inovação e liderança da Península nos estudos
geográficos e nas grandes navegações, que exigiram grande trabalho intelectual
e científico:
. a escola de Sagres do Infante D. Henrique, geradora de grandes
personalidade como Bartolomeu Dias, Fernão de Magalhães, Colombo;
. a descoberta do Novo Mundo;
-» como consequência, os povos peninsulares tinham
a admiração e exerciam influência nos restantes países europeus.
-» primeira geração (até meados do século XVI),
espírito brilhante destruído pelas gerações seguintes:
– ensino:
. época
extraordinária de criação e liberdade de pensamento;
. a
renovação dos estudos universitários;
. a fundação de novas universidades (catorze em Espanha) e a
reforma de outras;
. o estudo das grandes obras literárias da Antiguidade, por vezes
na língua original;
. a filosofia neoplatónica substituiu a escolástica medieval,
velha e gasta;
. o surgimento de um estilo e uma literatura novos com Camões,
Cervantes, Gil Vicente, Sá de Miranda, Lope de Veja, António Ferreira;
. grandes sábios (Miguel Servet) e filósofos (Sepúlveda e
Sanches, mestre de Montaigne);
. grandes humanistas: André de Resende, Diogo de Teive, bispo de
Tarragona, António Augustín, Damião de Góis, Camões, grande poeta e erudito;
– arte:
.
arquitetura: criação do estilo manuelino;
. pintura: criação da escola de pintura espanhola (Murillo,
Velázquez, Ribera);
– grandes
feitos guerreiros.
-» a perda da
independência de Portugal (1580-1640);
-» a decadência surge em vários domínios: política, influência,
ciências, economia, sociedade, indústria, costumes – a ignorância, a opressão,
a miséria, a depravação dos costumes:
. nos “grandes”: - a corrupção faustosa da vida da corte;
- o vício;
- a
brutalidade;
- o adultério;
. nos “pequenos”: - a corrupção hipócrita;
- a miséria;
- o
adultério;
- a
prostituição;
- a
desagregação da família;
. a
falta de crença e autenticidade na prática religiosa;
-» em suma, “tais
temos sido nos últimos três séculos: sem vida, sem liberdade, sem riqueza, sem
ciência, sem invenção, sem costumes”.
– de ordem moral: o catolicismo posterior ao Concílio de Trento, que
desvirtuara a essência do cristianismo e atrofiara a consciência individual;
– de ordem política: a monarquia absoluta, que reprimia todas as
liberdades individuais e nacionais, gerando um espírito de submissão na raça
ibérica;
– de ordem económica: as conquistas ultramarinas, que tinham
esgotado as energias do país e criado hábitos de ociosidade.
-» causas:
. a liberdade moral conquistada pela Reforma ou pela filosofia ¹
catolicismo do Concílio de Trento;
. a elevação da classe média, instrumento do progresso ¹
absolutismo;
. a indústria, promotora de nova concepção do Direito,
substituindo o trabalho à força e o comércio à guerra de conquista ¹
espírito de conquista, obstáculo ao trabalho e ao comércio.
1. Do
catolicismo do Concílio de Trento:
– retirou a liberdade moral, que apelava para o exame e a consciência
individual – fomentou a decadência moral;
– o progresso das outras nações em oposição à nossa decadência;
– fomentou o despotismo religioso e a intolerância, cujas origens,
porém, vinham já de longe: “...
nem a Reforma significa outra coisa senão o protesto do sentimento cristão,
livre e independente, contra essas tendências autoritárias e formalísticas.”;
– neste passo, Antero sente necessidade de distinguir entre
cristianismo e catolicismo:
. o
cristianismo é um sentimento ¹ o catolicismo é uma instituição;
. o cristianismo vive da fé, do sentimento e da inspiração ¹ o
catolicismo vive do dogma e da disciplina;
. conclusões:
-» o catolicismo surge como desvirtuamento, degeneração, perversão do
cristianismo;
-» o catolicismo revelou-se inimigo da razão, do saber, da liberdade,
do corpo, do próprio homem;
-» o catolicismo revelou-se autoritário, absolutista, adepto do poder,
da compreensão, da perseguição, da intolerância, da manipulação;
-» a sua influência criou em nós raízes tão profundas que “há em todos nós, por
mais modernos que queiramos ser, Alá oculto, dissimulado, mas não inteiramente
morto, um beato, um fanático ou um jesuíta! Esse moribundo que se ergue dentro
de nós é o inimigo, é o passado. É preciso enterrá-lo por uma vez, e com ele o
espírito sinistro do catolicismo de Trento.”;
– no domínio da
política europeia:
.
fomentou as lutas político-religiosas;
.
fomentou a criação de um estado forte em Itália;
.
favoreceu a oposição à liberdade política na Polónia;
. foi “o
maior inimigo das nações e verdadeiramente o túmulo das nacionalidades”;
– na economia
portuguesa:
. afetou o comércio, a indústria e a agricultura com a expulsão
dos judeus e dos mouros;
. levou ao desaparecimento dos capitais, com a perseguição aos
cristãos-novos;
– na sociedade
portuguesa:
.
fomentou o terror, com a Inquisição;
.
fomentou a hipocrisia;
.
promoveu a delação;
.
corrompeu o carácter nacional;
.
intensificou o fanatismo;
– no domínio
colonial:
.
contribuiu para a hostilidade aos índios;
.
dificultou a fusão entre conquistadores e conquistados;
.
impediu uma colonização sólida e duradoura;
.
aterrorizou as populações indígenas.
Û
durante a Idade Média, os reis não eram absolutos e havia um equilíbrio entre
os privilégios da nobreza, do clero e as instituições populares: “A liberdade era então
o estado normal da Península.”;
– “No
século XVI, tudo isto mudou.” (passa a dominar a monarquia absoluta que
resultou de uma longa transformação das monarquias peninsulares):
® no
domínio político:
.
arruinou as instituições locais:
-» terminou com
a repartição de poderes;
-» acabou com a política local de municípios, na sua “contínua vigilância”
ao poder real;
-» o povo perdeu a liberdade, a vida municipal “afrouxou”,
acabou com as comunas espanholas e com os foros populares;
. abateu
a nobreza em proveito próprio;
.
centralizou o poder;
.
corrompeu o rei;
. impediu o desenvolvimento da burguesia, governando-se pela
nobreza e para a nobreza:
-» a agricultura caiu, graças à vinculação de terras, à criação de
imensas propriedades, que conduziram à anulação da classe dos pequenos
proprietários e ao desaparecimento da pequena agricultura;
-» metade da Península tornou-se numa charneca em virtude do
decréscimo da população;
-» o espírito aristocrático da monarquia impediu o desenvolvimento da
burguesia, “a
classe moderna por excelência, civilizadora e iniciadora, já na indústria, já
nas ciências, já no comércio.”;
-» obliterou-se o sentido da liberdade;
-» adormeceu o povo, fê-lo cair na passividade de quem tudo espera do
poder;
-» cerceou-se o espírito de iniciativa;
. o Estado absoluto aliou-se à Igreja, o despotismo entendeu-se
com a teocracia, entendimento esse que se refletiu na política externa (reis
peninsulares, como D. Sebastião e D. Carlos V, em vez de se inspirarem num
sentimento nacional, tornaram-se instrumentos da política católica romana) –
esta aliança foi um dos fatores que mais contribuiu para a decadência;
® no
plano educacional:
-» os jesuítas utilizam métodos de ensino brutais e requintados que
esterilizam as inteligências, dirigindo-se à memória, com o fim de matarem o
pensamento inventivo;
-» procuram alhear o espírito peninsular do grande movimento da
ciência moderna, essencialmente livre e criadora: a educação jesuíta faz das
classes elevadas máquinas ininteligentes e passivas; do povo, fanáticos,
corruptos e cruéis;
® arte
e literatura:
-» odes ao
divino;
-» arquitetura
jesuítica;
-» poesia
académica convencional;
-» discurso
fradesco;
-» destruição
de toda a criatividade popular;
-» os livros devotos revelam pobreza de ideias e de sentimentos e uma
estilística pueril;
® no
plano da moral:
-» depravação
dos costumes;
-» os reis dão
o exemplo do vício, da brutalidade, do adultério;
-» a época é de
amantes e de bastardos;
-» documentos e
tradição remetem para os escândalos no seio do clero e da aristocracia.
-» panorama
económico anterior às descobertas:
.
crescimento da população;
.
abundância;
.
arborização do país;
. exportação de muitos produtos (azeite, cereais, peixe salgado,
frutas secas),
. prosperidade agrícola;
. desenvolvimento do comércio;
. desenvolvimento de todas as classes;
-» as conquistas ultramarinas foram um brilhante relâmpago que perdura
há dois séculos nos nossos livros, memória e tradições, cantado n’Os Lusíadas
de Camões, mas tiveram efeitos muito negativos:
-» efeitos das descobertas – panorama económico posterior aos Descobrimentos:
. impediram o desenvolvimento político, pois o espírito que lhes
presidiu dois séculos antes está deslocado nos tempos modernos: “... as nações modernas
estão condenadas a não fazerem poesia, mas ciência.”;
. impediram o desenvolvimento do trabalho e da indústria: “... a riqueza e a vida
das nações têm de se tirar da actividade produtora, e não já da guerra
esterilizadora.”;
. a população rural (proprietários e agricultores), atraída pela
miragem da riqueza, abandonou a terra e afluiu/emigrou para os grandes centros
urbanos e para os territórios ultramarinos, o que fez com que, por um lado, o
campo e o próprio país ficassem despovoados e, por outro, nos centros urbanos
surjam a miséria, a fome, a mendicidade, a ociosidade, o vício e a
criminalidade – metade da população morria de fome;
. a cultura diminuiu;
. os preços dos produtos subiram drasticamente e, porque a
concorrência de outros países nos esmagava, deixámos de exportar e passámos a
importar produtos do estrangeiro – o afluxo de riquezas do Oriente e da América
fez esquecer e descurar a produção nacional;
. a agricultura decaiu, num reino essencialmente agrícola, facto
comprovado pelo cognome dos reis D. Sancho I, o Povoador, e D. Dinis, o Lavrador;
. Camões é o paradigma desta miséria;
. a população decresceu;
. introduziu-se o trabalho servil, a escravatura;
. a indústria decaiu:
- não se
fabricava, não se produzia;
- importávamos
diversos produtos;
. a vida
concentrou-se na corte;
. a fidalguia fez-se cortesã, entregou-se ao luxo, ao lucro
fácil, ao vício, à corrupção, à libertinagem, ao jogo, às aventuras amorosas,
ao adultério; a família desagregou-se;
. nas colónias:
- criou-se um
fosso entre conquistadores e conquistados;
- as populações
foram aterrorizadas;
- as religiões
indígenas foram perseguidas (papel da Inquisição);
- a colonização caracterizou-se pela ferocidade, a ponto de terem
surgido eloquentes protestos contra as atrocidades praticadas.
–» fazer um
corte com o passado (respeitar os nossos avós, mas sem os imitar);
–» opor ao
espírito velho o espírito moderno;
–» opor ao catolicismo a consciência livre, a ciência, a filosofia e
a crença no progresso da humanidade;
–» opor à monarquia centralizada a criação de uma federação
republicana e democrática;
–» opor à inércia industrial a organização do trabalho livre, sem
interferência do Estado, como forma de transição para o socialismo.
l
Exposição do conceito de Revolução: a acção pacífica, norteada pela
ordem e pela liberdade – “Longe
de apelar para a insurreição, pretende preveni-la, torná-la impossível...”.
Obras de Antero de Quental
- 1861 - Sonetos de Antero de Quental.
- 1862 - Beatrice.
- 1865 - Odes Modernas.
- 1872 - Primaveras Românticas.
- 1875 - Odes Modernas (2.ª edição).
- 1881 - Sonetos.
- 1886 - Sonetos Completos.
quinta-feira, 28 de janeiro de 2021
Vida de Antero de Quental
Análise de "Antes de nós nos mesmos arvoredos"
- a Natureza
e o «nós» fazem parte da mesma realidade perene e estão sujeitos às mesmas
condições, neste caso, à passagem do tempo e do vento (vv. 1 a 4);
- neste caso,
há uma relação de semelhança entre o Homem e a Natureza (vv. 6 a 8);
- no entanto,
há uma diferença: a passagem do tempo faz parte do ciclo habitual da Natureza,
que dela não tem consciência; já para o Homem, porque é consciente da passagem
do tempo, é motivo de agitação e perturbação – ou seja, ele é caracterizado pela
constatação da finitude e da transitoriedade, bem como pela consciência do
tempo (“Passamos” – v. 5) e da inutilidade do esforço humano (“agitamo-nos
debalde” – v. 5).
- associa-se
ao destino do Homem e ao mito das três parcas, as irmãs que determinam o
destino dos deuses e dos seres humanos: Cloto segura e tece o fio da vida – é a
deusa dos partos e nascimentos; Láquesis fia (a vida do Homem na Terra);
Átropos corta o fio da vida (momento que equivale à morte);
- relaciona-se
também às nereidas, deusas filhas do Oceano, que personificavam as ondas e que
fiavam, teciam e cantavam;
- liga-se,
igualmente, às três fases da vida do Homem: nascimento, vida e morte.
- a brevidade
da vida;
- a passagem
do Tempo;
- a
consciência da morte;
- o contraste
entre a fragilidade do ser humano e a grandiosidade do Tempo.
- “ruído”
e “vento” sintetizam a ideia central do poema: o Homem não constrói o
seu destino, antes cumpre um que lhe é imposto;
- “ruído”
representa a palavra humana, por oposição à do Fado / Destino;
- “vento”:
por um lado, associa-se ao Homem, remetendo para a efemeridade que caracteriza
a sua vida; por outro, remete para o sopro divino, com significado oposto;
- “areia”:
representa o mundo da aparência, que é uma cópia do mundo da Essência;
- “[alta]
praia”: representa o mundo da Essência. Estes elementos (areia e praia)
remetem para a conceção platónica da existência humana, através da oposição
entre a “areia” que o sujeito poético vê e a “alta praia”.
- “debalde”:
traduz a inutilidade do desejo humano, pois o Destino é inexorável e nada
escapa à sua lei;
- “inutilmente”:
traduz a oposição entre a imagem que o Homem criou de si mesmo e a função real
que ele desempenha no Todo universal, pois terá sempre de se submeter a uma
vontade que lhe é superior, daí a inutilidade do seu esforço.
Análise de "Mestre, são plácidas"
• habitualmente, na poesia, o Tempo
constitui uma metáfora do saber, do amadurecimento, da experiência;
• neste texto, o Tempo tem uma
conotação negativa: passa, destrói, produz o envelhecimento;
• o tempo passa e a vida é breve, por
isso há que desvalorizar a sua passagem, dado que é esta que nos atormenta;
• por isso ainda, há que aceitar a
efemeridade da vida e a inevitabilidade da morte;
• deste modo, o sujeito poético
aceita a passagem do tempo, o envelhecimento e a morte de forma voluntária,
porque não vale a pena combater o inevitável.
▪ o uso da ode;
▪ o bucolismo: “À beira-rio”,
“Colhamos flores”;
▪ a “aurea mediocritas”: “Molhemos
leves / As nossas mãos / Nos rios calmos”;
▪ o paganismo: a referência aos
deuses greco-latinos;
▪ a aceitação do Tempo e do Destino;
▪ a consciência da vida e da
inevitabilidade da morte;
▪ a vivência moderada do momento:
“Para aprendermos / Calma também”;
▪ o uso dos modos imperativo e
conjuntivo com valor exortativo.
▪ Palavras que se inscrevem no campo
lexical de Natureza (“flores”, “girassóis”, “rio”, “Sol”).
▪ A «aurea mediocritas».
▪ A referência às crianças como
modelo de existência tranquila a seguir.
▪ A atitude de contemplação da
Natureza.
▪ A atitude panteísta de
identificação com os elementos da Natureza.