quarta-feira, 10 de março de 2021
Estada ou estadia?
quinta-feira, 4 de março de 2021
"Amor é um fogo que arde sem se ver": análise e interpretação do poema de Camões
| ▪
  verso 1: | Amor é um fogo que arde ↓ um sentimento intenso (a intensidade da paixão) |  | sem se ver ↓ mas invisível | 
| ▪
  verso 2: | é ferida que dói ↓ causa sofrimento / dor | 
 | e não se sente ↓ mas insensível (é impercetível aos sentidos) | 
| ▪
  verso 3: | é um contentamento ↓ alegria, satisfação, felicidade | 
 | descontente ↓ e infelicidade | 
| ▪
  verso 4: | é dor que desatina ↓ dor intensa, que perturba ou faz perder a razão | 
 | sem doer ↓ mas insensível, não se sente [o desatino aplaca a dor, por conter em si o impulso
  vital, ou por iludir a consciência] | 
| ▪
  verso 5: | É um não querer mais ↓ | 
 | e que bem querer ↓ | 
| anulação dos desejos daquele que ama | |||
| Se
  o amor não se concretizar, a insatisfação mantém-se, perpetuando o
  sentimento. Em
  contrapartida, a concretização do desejo pode levar à diminuição ou até à extinção
  do sentimento amoroso. | 
| ▪
  verso 6: | é um andar solitário ↓ isolamento e solidão | 
 | entre a gente ↓ no meio da gente | 
| Aquele
  que ama anda de tal modo absorvido pelos seus pensamentos que, mesmo quando
  se encontra no meio da gente, fica concentrado nas suas vivências interiores,
  como se estivesse só. | 
| ▪
  verso 7: | é nunca contentar-se ↓ insatisfação constante | 
 | de contente ↓ e satisfação / contentamento | 
| Aquele
  que ama sente-se contente por amar, mas, por mais contente que se sinta,
  mostra-se insatisfeito, pois aspira sempre a aumentar a sua satisfação / o
  seu contentamento. | 
| ▪
  verso 8: | é um cuidar que ganha ↓ ilusão (vitória) | 
 | em se perder ↓ e frustração (derrota) | 
| O
  verso remete para as vantagens e desvantagens do amor. O proveito liga-se à
  posse do objeto amado, enquanto que a perda traduz o falhanço dessa posse ou os
  danos que daí resultam ao nível moral, psicológico e religioso. | 
| ▪
  verso 9: | É querer estar preso ↓ dependência/sujeição/privação de liberdade | 
 | por vontade ↓ voluntária | 
| ▪
  verso 10: | é servir a quem vence ↓ | 
 | o vencedor ↓ | 
| é serviço amoroso à pessoa amada | |||
| O
  vencedor serve, paradoxalmente, quem ele próprio venceu. Esta metáfora [do
  amor como servidão] exprime a submissão absoluta ao objeto de amor. Reenvia
  para a poesia occitânica e para o conceito de amor como serviço, que
  encontramos, entre nós, nas cantigas de amor. | 
| ▪
  verso 11: | é ter com quem nos mata ↓ morrer de amor | 
 | lealdade ↓ e ser / continuar leal/fiel | 
| Amar
  alguém implica fidelidade absoluta, apesar de o amor não ser correspondido
  pelo outro. Este
  tópico da morte de amor encontra-se também na cantiga de amor. Aquele
  que ama sente lealdade pelo objeto do seu amor, apesar de este o fazer
  sofrer. | 

terça-feira, 2 de março de 2021
Análise de "Se Helena apartar"
 Os campos são verdes, porque Helena
está presente e os seus olhos também possuem essa cor.
     Os campos são verdes, porque Helena
está presente e os seus olhos também possuem essa cor. Os gados beneficiam indiretamente da
cor dos olhos de Helena, pois o seu alimento é a verdura dos campos, que existe
graças àquela.
     Os gados beneficiam indiretamente da
cor dos olhos de Helena, pois o seu alimento é a verdura dos campos, que existe
graças àquela. Os versos 4 a 7 apresentam um
discurso de 2.ª pessoa (“pasceis”, “sabei”), enquanto os restantes contêm um
discurso de 3.ª pessoa. Além disso, no verso 5 está presente uma apóstrofe
aos gados, que apascenta nos campos (eles são verdes devido à presença de
Helena e à cor dos seus olhos), notando-se como a ação da mulher é muito
abrangente, dado que têm influência direta na verdura e indireta nos animais
que dela dependem.
     Os versos 4 a 7 apresentam um
discurso de 2.ª pessoa (“pasceis”, “sabei”), enquanto os restantes contêm um
discurso de 3.ª pessoa. Além disso, no verso 5 está presente uma apóstrofe
aos gados, que apascenta nos campos (eles são verdes devido à presença de
Helena e à cor dos seus olhos), notando-se como a ação da mulher é muito
abrangente, dado que têm influência direta na verdura e indireta nos animais
que dela dependem. Além disso, tornam a beleza bela e
trazem-lhe paz e sossego.
     Além disso, tornam a beleza bela e
trazem-lhe paz e sossego. Helena é uma figura graciosa,
inatingível, espiritualizada, divinizada (“Com graça inumana”), pertencente a
outro mundo. O amor que inspira é um amor espiritualizado, inefável.
     Helena é uma figura graciosa,
inatingível, espiritualizada, divinizada (“Com graça inumana”), pertencente a
outro mundo. O amor que inspira é um amor espiritualizado, inefável. Helena é tão bela que o próprio Amor
(Cupido) tem para com ela uma atitude de vassalagem, ajoelhando-se na sua
frente.
     Helena é tão bela que o próprio Amor
(Cupido) tem para com ela uma atitude de vassalagem, ajoelhando-se na sua
frente.sábado, 27 de fevereiro de 2021
É possível atacar um avião através do wifi
Análise de "Ulisses"
Classificação de Mensagem
Desde logo, é possível referenciá-la como uma obra lírica (sobretudo na terceira parte):
» é um livro de poemas;
» a forma é fragmentária (ao contrário, por exemplo, de Os Lusíadas);
» o sujeito lírico evidencia uma atitude introspectiva;
» o sujeito lírico exprime os seus sentimentos, sonhos, desejos, crenças
(relativamente ao presente, ou ao futuro da Pátria);
» há uma postura de interiorização e de contemplação da alma humana;
» o simbolismo;
» a inquietação, a ânsia, o constante interrogar-se («'Screvo meu livro à beira-
mágoa»);
» o presente de sofrimento e mágoa;
» o tom menor;
» a visão subjectiva do enunciador.
Contudo, especialmente na segunda parte, a obra é também de carácter épico:
» os poemas, juntos, formam um todo integrado;
» os heróis portugueses do passado possuem um valor simbólico e mitológico;
» há um apelo à glorificação lusíada no século XX e demais;
» o heroísmo:
. os heróis (os marinheiros que percorreram os mares e se imortalizaram)
agem pelo instinto, sem terem a visão do sentido e alcance dos seus actos
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021
Título: Mensagem
- foi alterado, a conselho do seu amigo Cunha Dias;
- razão: o nome da pátria estava muito associado a textos publicitários, que promoviam, por exemplo, marcas de sapatos e marcas de hotéis;
- exemplo de um slogan da época: «Portugalize os seus pés».
- o título é constituído por 8 letras:
- 8 é o número do equilíbrio cósmico que simboliza a palavra criadora;
- 8 é o símbolo da ressurreição, da mudança e do anúncio de um novo tempo.
. 2.ª explicação:
- mensagem = comunicação, missiva;
- o vocábulo pressupõe a existência de um emissor e de um recetor, desde logo sugeridos na epígrafe da obra - «Benedictus Dominus Deus Noster qui dedit nobis Signum» («Bendito Deus Nosso Senhor que nos deu o Sinal»);
- emissor da mensagem: Deus;
- recetor: o Poeta, que, pelo seu génio, foi eleito por Deus, para dar conhecimento da mensagem à tribo de que será guia e profeta, transformando-se também, em emissor.
- o título Mensagem teria tido origem na afirmação feita por Anquises, personagem da Eneida, quando explica a Eneias, descido aos Infernos, o sistema do Universo - Mens agitat molem = a mente move a matéria;
- Mensagem será, assim, um anagrama da afirmação mens + ag(itat mol) + em;
- o objetivo da obra seria mover as «moles» (a matéria) humanas através da poesia;
- simbologia da descida aos Infernos:
- poder associado às ideias de decadência e subsequente renascimento, sendo esse o processo cíclico apontado como condição necessária ao ressurgimento da pátria num estado ideal;
- aceitando a morte do passado, o poder fecundador do mito trará um futuro perfeito.
. 4.ª explicação:
- o título poderá ainda estar ligado à expressão «ens gemma», isto é, ente em gema, ovo;
- tal significaria Portugal em essência, gema;
- associação à ideia de encantamento, de magia: para os alquimistas, o ovo filosófico é o embrião da vida espiritual, do qual eclodirá a sabedoria;
- no ovo, concentram-se todas as possibilidades de criar, recriar, renovar e ressurgir. Ele é a prova e o recetáculo de todas as transmutações e metamorfoses.
- a palavra mensagem pode ser «recortada» e construir as expressões mea gens ou gens mea, isto é, «minha gente» ou «gente minha», remetendo para a raça de heróis nomeados ao longo da obra;
- outra hipótese remete para mensa gemmarum, isto é, o altar ou mesa onde repousam as gemas portuguesas - Portugal é onde se procede ao sacrifício necessário à realização do sagrado;
- Portugal seria, assim, o altar onde os sacrifícios em nome do divino foram realizados.
Enquadramento cultural de Mensagem
dos valores;
► Futurismo: movimento, velocidade, energia explosiva e máquinas como demonstração
da força do indivíduo;
► Cubismo: fraccionamento da realidade;
► Abstraccionismo: recusa de representação do real;
► Surrealismo: apelo à imaginação, ao sonho e à loucura; escrita automática.
Circunstâncias de produção de Mensagem
● A obra integra-se na corrente modernista, transmitindo uma visão épico-lírica do destino português, nela se salientando um conjunto vasto de símbolos e de mitos, como, por exemplo, o Sebastianismo, o Quinto Império, as Idades, etc.
● De acordo com o próprio Pessoa (Páginas Íntimas), a obra é um livro «abundantemente embebido em simbolismo templário e rosacruciano», ao mesmo tempo marcado por tonalidades épicas e messiânicas.
● Na Mensagem, Pessoa assume-se como o cantor do fim do império português (Camões foi o cantor do seu início e auge). De facto, a Pátria, no tempo do poeta, encontrava-se num estado de decadência e desagregação, circunstância que faz despertar nela a ânsia de renovação e regeneração que procura plasmar na sua obra. Ele acreditava que, através dos seus textos, poderia despertar as consciências e fazê-las acreditar e desejar a grandeza de outrora. Por isso, as duas partes iniciais de Mensagem assinalam o passado histórico e grandioso de Portugal, enquanto a terceira descreve o presente decadente e anuncia a vinda do Encoberto, representado na figura mítica de D. Sebastião, o pilar do Quinto Império.
● O projecto de Fernando Pessoa relaciona-se, em parte, com o ideal da Renascença Portuguesa, antevendo o «ressurgimento assombroso de Portugal, um período de criação literária e social como poucos o mundo tem tido, em que a alma portuguesa encerraria a alma recém-nascida da futura civilização europeia, que será uma civilização lusitana.»
● Pessoa preconizava para Portugal a construção de um novo império, já não de carácter material, como o fora o dos descobrimentos, mas de natureza espiritual, capaz de elevar os Portugueses ao lugar de destaque que outrora tinham ocupado a nível mundial. Seria, assim, um império da língua e da cultura portuguesas, um império do modo de ser português, do culto da liberdade e da solidariedade, da capacidade de adaptação às situações mais imprevistas.
● Em várias ocasiões, o poeta designou esse seu desígnio de «nova Índia», uma «Índia que não há» ("E a nossa grande raça partirá em busca de uma Índia nova, que não existe no espaço, em naus que são construídas daquilo que os sonhos são feitos. E o seu verdadeiro e supremo destino, de que a obra dos navegadores foi o obscuro e carnal anterremedo, realizar-se-á..." - in A Nova Poesia Portuguesa) e que seria projectada / cantada por um Super-Poeta, um Super-Camões (provavelmente, o próprio Pessoa), que cantará a genialidade do seu povo e a espalhará por todo o mundo. No fundo, considera-se investido no cargo de anunciador do tal novo império (na sequência dos textos do Padre António Vieira), o Português.
● O conteúdo enaltecedor da maioria dos poemas contrasta com o contexto em que foram produzidos:
» acompanham alguns dos factos principais da História de Portugal;
» retratam as suas figuras centrais;
» recuperam os seus símbolos, as suas lendas e o essencial da sua mitologia;
» criam o destino de uma super-nação mítica que faltaria cumprir.
● Intencionalidade comunicativa da obra:
» regenerar o orgulho português;
» cantar o passado histórico glorioso de Portugal de uma forma emblemática e simbólica,
transformando-a num mito, a partir do qual seja possível reinventar o futuro;
» anunciar o renascer de uma pátria grandiosa, um novo império civilizacional, uma
Super-Nação mítica.
Enquadramento histórico de Mensagem
valores para viver a vida na sua plenitude;
► Freud demonstra a complexidade do Homem e o seu lado inconsciente;
► Einstein põe em causa grande parte do conhecimento científico.
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021
Análise de "Aquela cativa"
| NOTAS | 
® a suavidade da sua beleza (vv. 5-8);
® a singularidade do rosto e o sossego do olhar
(vv. 13-16);
® a sua doce figura que suscita na neve o desejo
de mudar de cor (vv. 25-28);
® a mansidão, a alegria e a sensatez (vv. 29-30);
® a serenidade da sua presença bonançosa que
refreia a dor e tranquiliza o sujeito.
            Esta
figura de mulher
oriental, exótica, indefinida, quase inefável, surge-nos
assim num retrato em que todo o sortilégio vem de qualidades espirituais:
"doce figura", "presença serena", "leda
mansidão". Note-se que estas qualidades sugerem um porte senhorial,
em oposição à sua condição de escrava ("parece estranha, mas
bárbara não").
            Não
obstante o retrato de Bárbara, marcadamente espiritual, se revista de
qualidades que se enquadram dentro do tipo da mulher
petrarquista, no entanto, a cor dos olhos e dos cabelos (preta) está
longe de pertencer ao tipo da mulher petrarquista – Laura. Na verdade, contra
as convenções do petrarquismo, que via na mulher loira a formosura ideal,
Camões canta uma beleza oriental, indígena, atribuindo-lhe, todavia, um porte
senhorial, o que a distancia menos da mulher cantada por Petrarca (Laura).
            Bárbara
aparece como mulher clássica, perfeita, inacessível,
mulher deusa: "Ua graça viva / que
neles lhes mora, / mera ser senhora / de que é cativa".
            A
adjetivação caracterizante do rosto
("rosto singular") e dos
olhos ("olhos sossegados, pretos
e cansados") apresenta Bárbara
como uma mulher exótica, de olhos moderadamente românticos, mas sem serem
fatais ("... mas não de matar"). A adjetivação em geral realça as
características físicas e psicológicas de Bárbara: os seus traços psicológicos
são típicos da mulher petrarquista, mas fisicamente afasta-se desse modelo.
            O
retrato psicológico é também conseguido pela enumeração de nomes abstratos.
            O
determinante indefinido
"ua" realça a graça indefinível e misteriosa desta mulher, graça essa
vincada pela forma verbal mora, de aspeto durativo. A mudança do determinante demonstrativos aquela (v. 1) para esta (v.
37) traduz uma ideia de aproximação sentimental entre o sujeito poético e a
mulher amada.
            O
aumentativo Pretidão exprime a intensidade da cor e, simultaneamente,
intensifica o afeto que liga o sujeito à escrava.
            A
antítese (versos 19 e 20) entre a
posição de dependência (cativa) e a superioridade na relação amorosa –
senhora  ¹  cativa –
aponta para a relação feudal da cantiga de amor. Por outro lado, destaca o
facto de, sendo escrava, se comportar como uma senhora. Outras antíteses se encontram no poema para
realçar a beleza de Bárbara: a beleza dos cabelos pretos suplanta a dos louros;
a sua pretidão é mais bela que a brancura da neve; parece estranha
(= exótica) mas não bárbara (= não civilizada, selvagem – trocadilho entre este adjetivo bárbara e o nome próprio Bárbara); a sua presença serena
acalma a tormenta e o sofrimento (pena) do sujeito.
            Outras
figuras de estilo que realçam a beleza singular da mulher são a personificação ("que a neve lhe jura / Que trocara a cor"); as metáforas ("Eu nunca vi rosa";
"Nem no campo flores / Nem no
céu estrelas"; "Presença
serena / Que a tormenta amansa";
"tão doce a figura") e a hipérbole ("que a neve lhe jura / Que trocara a cor";
"Presença serena / Que a tormenta
amansa").
            Referência
por último para as construções negativas:
"Eu nunca vi rosa / Nem no campo flores, / Nem no céu
estrelas".
-» idealização da mulher amada, valorizando
a sua beleza espiritual, psicológico- moral, e exprimindo o seu fascínio;
-» as características psicológicas e
morais da mulher.
- atitude de vassalagem amorosa do
sujeito face à mulher;
- o amor platónico;
- a imagem da mulher ideal, perfeita
e divinizada.
 
 
