O Canto X decorre na mesma noite que o IX, mas, ao nível do conteúdo, constitui uma pausa no combate. Em vez disso, Homero concentra-se sobretudo na questão da espionagem e da guerra psicológica. A única ligação de continuidade entre os dois cantos é o desespero dos Gregos, que é acentuado pela teimosia de Aquiles, que tira o sono de Agamémnon e Menelau e os deixa tão desesperado que estão dispostos a quase tudo para o fazer regressar à luta. No entanto, nessa noite existem duas embaixadas, uma de espionagem, efetuada em pleno território inimigo, e outra tendo como destino final a tenda de Aquiles. A primeira é caracterizada pelo êxito, enquanto a segunda redunda em fracasso. O dado comum às duas expedições é a figura de Ulisses.
O rei de Ítaca é caracterizado como
uma pessoa inteligente e astuta, no entanto também algo traiçoeiro, pois
promete falsamente a Dolon que não será morto. Algo parecido sucede com
Diomedes, que, logo depois de manifestar sentimentos de amizade com um inimigo,
executa um homem indefeso e se questiona sobre qual seria a pior coisa que ele
poderia fazer.
No que diz respeito ao desenlace da
incursão no território troiano, não é tanto a perda de um pequeno número de
lutadores e de uma carruagem que afetará o decurso da guerra em termos
materiais, mas antes o que o ataque representa em termos de desmoralização. Em
contraponto, este pequeno sucesso simboliza um impulso de motivação junto da
parte grega.
Por outro lado, as diferenças
linguísticas e de técnica compositiva entre este e outros cantos da Ilíada
levantam algumas questões sobre a autoria desta parte da obra. Foi composto por
Homero para mostrar uma perspetiva diferente da guerra, ou tratou-se de um
acrescento introduzido por um colaborador posterior? Seja como for, constitui
uma pausa na batalha e introduz uma nota diferente numa fase do conflito em que
os Gregos estão a sofrer grandes revezes.