Fernando Gullar, Prémio Camões 2010 |
Não há vagas
O preço do feijão
não cabe no poema.
O preço do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabem no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
- porque o poema, senhores
está fechado:
"não há vagas"
Só cabem no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira
Antologia Poética, Rio de Janeiro, 1977
Singela homenagem às medidas apresentadas, ontem, pelo Primeiro-Ministro de Portugal.
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