Português: Alencar e Senhora

quinta-feira, 20 de julho de 2023

Alencar e Senhora


    Este é um dos melhores romances de Alencar. No entanto, não há muito estudos sobre a obra, ao contrário do que seria de esperar. Foi de tal modo valorizada a “vertente indianista” de Alencar que as suas outras vertentes (vertente urbana, histórica, regionalista) foram descuradas.
    Grande parte dos romances de Alencar têm como elemento fulcral o índio, elemento típico brasileiro. Alencar busca, assim, um passado que corresponde à necessidade de busca da nacionalidade e um passado heroico, o que é típico do Romantismo.
    No entanto, a composição dos seus romances, a nível de forma, estrutura, abundância de adjetivos, metáforas, descrições estão presentes com muita força na sua última fase, quando as obras passam a refletir sobre a sociedade urbana. A globalidade da sua obra, apesar de dividida em diferentes vertentes (indianista, urbana, histórica, regionalista) tem, contudo, um motivo unitário: a profunda necessidade de evasão no tempo e no espaço, a par de um radical egotismo, traços visceralmente românticos.

 
    A sua vertente urbana ou citadina, onde se destacam obras como Diva, Sonhos d’Ouro, Lucila, Senhora, desenvolve um novo núcleo temático centrado em alguns tópicos:

- Relacionamento entre homem e mulher, que quase nunca é calmo, mas entrelaçado de conflitos.

- Tratamento do “Eu” e neste o que mais salta à vista é o orgulho, suscetibilidade, ciúme, dualidades, etc.

- Intimismo.

    Senhora retoma, de forma satírica e irónica, a vida em sociedade da segunda metade do séc. XIX. O seu estudo é importante não só para um maior equilíbrio na abordagem da obra de Alencar, mas também no estudo de uma fase muito importante na literatura brasileira: Romantismo. É nesta fase que a literatura do Brasil se afirma como independente de qualquer outra literatura e é também no Romantismo que se definem as linhas mestras de uma literatura que se quer peculiar de um povo.
    Senhora já anuncia a atitude e o modo de escrever de Machado de Assis e impõe uma nova dimensão à ficção brasileira.
    Das Memórias (1853) se disse que já anunciavam o Realismo. Quanto à Senhora, as opiniões divergem: uns dizem que já anuncia o Realismo; outros que o realismo da descrição não é sequer realismo. Esta é, sem dúvida, uma obra romântica, embora seja publicada na mesma época em que surgem as primeiras obras de Machado de Assis (1875).

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