Português: Estrutura da ação de Senhora

quinta-feira, 20 de julho de 2023

Estrutura da ação de Senhora


    O romance Senhora está dividido em quatro partes:

= 1.ª parte: O preço.

= 2.ª parte: Quitação.

= 3.ª parte: Posse.

= 4.ª parte: Resgate.

    O título de cada uma corresponde ao seu conteúdo.

 
1. “O Preço”: o título é muito significativo e refere-se a dois aspetos:

=> Atitude de Aurélia, que cotava cada homem que dela se aproximava com um certo preço, um valor monetário e eles correspondiam a essa atitude com gracejos, mas ela fazia-o com desprezo. Era uma forma de reagir contra uma sociedade onde imperava o dinheiro, de reagir contra o casamento como transação negocial:

“Assim costumava ela indicar o merecimento relativo de cada um dos pretendentes, dando-lhes certo valor monetário. Em linguagem financeira, Aurélia cotava os seus adoradores pelo preço que razoavelmente poderiam obter no mercado matrimonial.” – pág. 13.

 
“Muito devia a cobiça embrutecer esses homens, ou cegá-los a paixão, para não verem o frio escárnio com que Aurélia os ludibriava nestes brincos ridículos, que eles tomavam por garridices de menina, enão eram senão ímpetos de uma irritação íntima e talvez mórbida.” – pág. 15.

 
=> Mas o título tem um significado mais profundo, quando Seixas se vende por 100 contos de réis, mesmo sem saber a quem. O seu comportamento é influenciado pela sociedade. Este casamento é o fulcro de toda a intriga. Aurélia estabelece o casamento como um negócio. Mas logo a seguir, ela mostra que coloca nesse “negócio” muita afetividade: “… Desejo como é natural obter o que pretendo, o mais barato possível; mas o essencial é obter; e portanto até metade do que possuo não faço de questão de preço. É a minha felicidade que vou comprar.” – pág. 32.

    O casamento, que deve ser uma relação de amor, é aqui uma relação de compra e venda. Seixas, mais à frente, refere-se a Aurélia como Senhora e a ele como escravo – situação feudalizante. Ligada à ideia do casamento como negócio, está o testamento que Aurélia faz logo.

 
2. “Quitação”: esta parte é uma longa analepse, exceto o último capítulo, onde se retorna ao quarto nupcial, onde se dera o drama. A analepse é uma justificação das atitudes e comportamentos de Aurélia. Ao longo de 10 capítulos é descrita a vida de Aurélia antes de receber a herança de seu avô, como se apaixonou por Seixas (página 109) e como ele a traiu (pg. 112) e se vendeu a Adelaide por um dote de 30 contos de réis. A sua origem modesta e mesmo pobre, antes da herança, justifica a sua atitude para com a sociedade, onde pesa mais o dinheiro. É uma sociedade burguesa, onde os valores da velha educação brasileira são esquecidos em detrimento do dinheiro. É contra isto que Aurélia vai guiar a sua luta.

    Enquanto era pobre, sua família ignorava-a; agora que enriquecera era bajulada. Mas ela escolhe seu tio Lemos para tutor, porque o podia dominar (pág. 131).

 
3. “Posse”: Aurélia casa com Seixas e ambos vivem uma vida aparente de felicidade, o que é constrangedor. Esta parte descreve as atitudes e comportamentos que marcam a relação de ambos. As personagens são acompanhadas passo a passo e, por isso, a ação pouco avança. É fundamental a análise psicológica das personagens, que se pautam pela ironia.

    Várias são as passagens que ilustram esta ironia e tom sarcástico que domina as conversas de Aurélia e Seixas: pp. 153, 164-166; pp. 178-180; pp. 191-192; pp. 200-202.Aurélia propõe o divórcio, mas Seixas não aceita: “A Senhora fará o que for de sua vontade. A minha obrigação é obedecer-lhe, como seu servo, contando que não lhe falte com o marido que a senhora comprou.” É o orgulho de ambos que causa o conflito.

 
4. “Resgate”: há uma ligeira aproximação de Aurélia e Seixas, o que reflete na ligeira quebra da ironia que atinge os seus diálogos e que chega a ser referida pelas personagens. Isto é um sinal de que a ação se encaminha para um final feliz.

    Ao ciúme, motivado pelo desejo e pela posse, que os aproxima, contrapõe-se o orgulho e é este que faz com que a reconciliação se faça apenas no final. É Aurélia que cede, quando ele a deixa. Mas tinha de ser mesmo ela, pois foi ela que impôs a prova, logo tinha de ser Aurélia a reconhecer que ele já estava pronto para a merecer. Só assim se estabelece equilíbrio na relação.

    Na página 215, vemos que o desejo crescente é quebrado pelo orgulho e pela situação de submissão a que está submetido Seixas.

    É o ciúme que os começa a aproximar: o ciúme de Aurélia por Adelaide (pp. 223-228) e o ciúme de Seixas em relação a Abreu (pp. 230-232).

    A partir da cena da valsa (pp. 236-246), começam a sentir a necessidade de acabar com a ironia e, assim, se vai preparando um final feliz.

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