Esta personagem
é apresentada em três fases sucessivas e contrastantes.
Quina é a
personagem central de uma família de uma aldeia do norte do país. Nascida numa
família onde o relacionamento dos pais era conflituoso, dadas as frequentes
aventuras extraconjugais do pai, teve uma infância pouco sadia. Obrigada pela
mãe aos trabalhos mais difíceis e duros da casa e das terras, encontrava no pai
o seu refúgio, com quem, aliás, estabeleceu mesmo uma espécie de aliança
secreta.
Uma misteriosa
e prolongada doença aos 15 anos alterou por completo a sua vida. Rodeada de
todas as atenções, de todos os cuidados, inclusive da própria mãe, Quina
apercebe-se da alteração e decide tirar todo o partido da situação, desse
facto. Por outro lado, o isolamento prolongado da doença permitiu-lhe descobrir
as suas capacidades. Curada, é uma personalidade diferente, forte, decidida,
empenhada numa dupla missão: reconstruir a casa da Vessada, destruída pelas
estroinices do pai e conquistar o prestígio espiritual na sua aldeia.
Interpretando a noção do povo sobre a propriedade, dedicou-se por inteiro à
tarefa de refazer a casa da Vessada, usando, para tal, toda a sua habilidade,
apanhando obliquamente a herança dos irmãos, feirando, comprando e vendendo,
enriquecendo rapidamente.
Não lhe foi
difícil, numa aldeia simples, destacar-se e rapidamente alcançar o estatuto
espiritual de vidente, conselheira e sibila. Dotada de uma vaidade insaciável,
regozijava de satisfação ao ser convidada para a casa dos ricos ou recebendo em
sua casa pessoas que lhe pediam conselhos.
Aos 58 anos de
idade, recebe em sua casa Custódio, um menino filho de um escudeiro de Elisa
Aida, a personagem que a apelidou pela primeira vez de sibila e que a
consultava frequentemente, e de uma prostituta. A adoção de Custódio desperta o
seu lado afetivo, adormecido e recalcado. Dedica-se a essa criança, dá-lhe o
carinho que não teve, mas rapidamente se deixa dominar por ela. O narrador
desnuda-nos, então, a sua alma, os escaninhos da sua consciência,
apresentando-nos uma pessoa vulnerável, interesseira, solitária, fiel à noção
de propriedade. Continua com o seu forte poder intuitivo, comungando os
segredos da natureza. Na sua lenta agonia, Quina vai ouvindo compreensivamente
as súplicas de Custódio, apesar do seu primitivismo, rudeza, anormalidade,
Revela-se muito tolerante para com a sua instintiva sinceridade, as suas
súplicas desajeitadas, a sua caça ao dote. Várias razões se podem encontrar
para este comportamento benévolo de Quina:
-» a sensação agradável de se
sentir adorada, numa posição de mando, de ter alguém dependente da sua decisão,
especialmente naqueles últimos dias de vida;
-» o prazer em sentir-se rogada
por um homem, provável compensação para frustração que constituiu o facto de
ter sido preterida por Adão em favor de outra rapariga com melhor dote.
Todavia, as
lágrimas e súplicas não a demovem nem a fazem perder a noção do
"sangue".
A sua morte é
apresentada como uma entrada triunfal no cosmos. Morre serenamente, não
obstante as lágrimas e rogos de Custódio, a insuficiência dos cuidados de
Libória, da indiferença da família. Desprende-se do seu comportamento no leito
de morte uma sugestão de humanidade, autossatisfação, consciência do dever
cumprido e toda a sua vida foi um combate cheio de astúcias e mediocridades,
mesquinhez e baixezas, sonhos e frustrações, algumas derrotas e muitas
vitórias.
Mas Quina não
foi uma verdadeira sibila, apesar de possuir traços comuns com as sibilas de
Apolo:
- o facto de ser a guardiã da
sua casa;
- o facto de ter por herói o
pai, o seu Apolo;
- o facto de possuir um
discurso sentencioso e sibilino;
- o facto de possuir um poder
medianeiro, interferindo na vida e ações das pessoas e captando os segredos da
existência;
- o facto de entrar, por vezes,
em êxtase.
Mas porque é
que não foi uma autêntica sibilina? O narrador apresenta-nos frequentemente as
razões:
* o apego ao triunfo imediato,
às coisas terrenas (o materialismo);
* a sua insaciável vaidade;
* as suas intrigas mesquinhas.
Outra das
questões interessantes é o facto de Quina não ter casado. As razões de tal ato
são também claras:
- a ideia negativa dos homens,
tomando como exemplo o comportamento do pai;
- reservando um intenso carinho
e amor pelo pai, mantém com ele uma aliança secreta;
- gostava muito mais de ser
admirada do que de servir;
- o casamento limitaria o seu
desígnio de aumento do património e da riqueza;
- embora sendo uma mulher e
ligada ao clã feminino da casa, age como um homem, recalcando a sua
feminilidade;
- considera-se superior ao
homem, um ser inferior, e, portanto, não poderia jamais submeter-se-lhe.